Efésios 4.1-6
1 - Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,
2 - com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3 - esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz;
4 - há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação;
5 - há um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
6 - um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
Introdução
Podemos afirmar, sem nenhuma dúvida, que conviver uns com os outros é uma arte. E ela precisa ser aprendida e desenvolvida dia-a-dia.
O motivo é que relacionar-se bem, caminhar de mãos dadas, viver em paz com pessoas que agem e pensam de maneira diferente de nós, não é uma tarefa nada fácil.
Nem todas as pessoas, por exemplo, compreendem os limites do relacionamento e isso acaba sendo um motivo para uma convivência cheia de conflitos e tumultos.
Muitas vezes, criam-se expectativas irreais em relação ao outro, esperando-se de alguém aquilo que ele não pode dar ou que ele seja aquilo que não é.
Por essa e outras razões não é uma tarefa fácil se relacionar. Sempre haverá uma situação onde sem querer magoaremos alguém, ou mesmo seremos feridos.
Para refletirmos nessa questão, vamos dividir nosso estudo em duas partes.
Na primeira, veremos o que nos torna tão diferentes uns dos outros. Na segunda, passaremos a falar de princípios básicos para uma boa convivência.
1. Compreendendo as diferenças
Não é fácil fazer uma distinção clara ou apresentar definições precisas sobre o que sejam o temperamento, o caráter e a personalidade.
Do ponto de vista médico e psicológico, entre os vários autores, não há um consenso sobre o preciso significado de cada um deles.
No entanto, sem termos a pretensão de explicar definitivamente esses termos, podemos dizer que as pessoas são diferentes em seu tipo físico, inclinações naturais, caráter e personalidade.
Isso é o que faz com que a pessoa seja ela mesma e não outra.
Uma leitura da Bíblia já nos mostra quão diferentes eram os discípulos de Jesus.
- João era mais afetivo, andava sempre perto de Jesus, era chamado de “discípulo amado”.
- Pedro era impulsivo – a ponto de dizer que morria por Jesus, mas também a ponto de negá-lo.
- Tomé já era uma pessoa mais racional, cética, que precisava de provas concretas. Jesus teve que lhe mostrar as cicatrizes da cruz para que ele cresse.
- Tiago e João receberam de Jesus o nome de “Filhos do Trovão”, provavelmente por causa de um zelo intenso e poderoso em sua forma de agir.
Embora existam várias teorias, a psicologia moderna nos ajuda a entender essas variações sem nos colocar em "caixas" rígidas.
Em vez de tipos fixos, ela sugere que nossa personalidade é formada por diferentes dimensões.
Vamos explorar cinco delas de forma simplificada, para nos ajudar a compreender melhor a nós mesmos e aos outros.
- Extroversão vs. Introversão (De onde tiramos nossa energia?) - Essa dimensão descreve como interagimos com o mundo. Pessoas mais extrovertidas sentem-se energizadas na companhia de outros, são comunicativas e gostam de ação. Já as mais introvertidas recarregam suas energias no silêncio e na reflexão, preferem interações mais profundas com poucas pessoas e são ótimas ouvintes.
- Amabilidade (Como lidamos com os outros?) - Refere-se à nossa tendência a cooperar e ser compassivo. Pessoas com alta amabilidade são geralmente confiantes, prestativas e empáticas, valorizando a harmonia. Pessoas no outro extremo do espectro tendem a ser mais diretas, objetivas e competitivas, o que pode ser útil em situações que exigem decisões difíceis.
- Nível de Organização (Como lidamos com nossas tarefas?) - Também chamada de "conscienciosidade", esta dimensão envolve disciplina e planejamento. Pessoas mais organizadas são metódicas, detalhistas e responsáveis, gostam de seguir um plano. Já as mais espontâneas são flexíveis, adaptáveis e capazes de improvisar, lidando bem com mudanças inesperadas.
- Estabilidade Emocional (Como reagimos à pressão?) - Descreve nossa capacidade de lidar com o estresse e a adversidade. Pessoas com alta estabilidade emocional são geralmente calmas, seguras e resilientes. Aqueles que são mais sensíveis (ou com menor estabilidade) tendem a ser mais reativos emocionalmente, sentindo as alegrias e as tristezas com maior intensidade.
- Abertura a Novas Experiências (Como vemos o mundo?) - Essa dimensão reflete nossa curiosidade e criatividade. Pessoas com maior abertura são imaginativas, gostam de novidades, arte e ideias abstratas. Pessoas mais pragmáticas preferem o familiar, o tradicional e o concreto, encontrando conforto e eficiência na rotina e em métodos já testados.
Conseguiu se identificar com algumas destas dimensões?
A beleza dessa abordagem é que não somos um "tipo" ou outro, mas uma combinação única desses traços. Alguém pode ser um introvertido muito organizado, enquanto outro é um extrovertido muito espontâneo.
É fundamental entender que não há um lado "certo" ou "errado" em cada uma dessas dimensões.
A extroversão traz energia social, mas a introversão traz profundidade. A alta organização traz confiabilidade, mas a espontaneidade traz flexibilidade. Todos esses traços possuem aspectos positivos e negativos.
Todos necessitam da graça maravilhosa de Jesus para que possam usar suas inclinações naturais de conformidade com a vontade de Deus.
Todos têm a necessidade de melhorar e fazer ajustes, adequando-se a uma convivência fraterna, amiga e cristã.
Que lembremos sempre disso. Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, porém, com personalidade e constituição física diferentes.
Ninguém é totalmente igual ao outro. Neste universo de mais de sete bilhões de pessoas, todos são diferentes.
Já pensou que muito da nossa incapacidade de conviver com as pessoas está ligado à nossa incapacidade de aceitarmos as diferenças uns dos outros?
2. Em busca de uma convivência saudável
Precisamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para vivermos em paz com todas as pessoas. Há várias referências bíblicas a esse respeito, mas vamos destacar as duas principais.
Romanos 12.17-18
17 - Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;
18 - se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens;
1 Pedro 3.11
11 - aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.
Como podemos colocar essas realidades em prática?
Existe um livro cristão chamado A Arte de Relacionar-se, de autoria de Onofre A., do qual é possível extrair e adaptar algumas dicas de como nos relacionarmos melhor uns com os outros.
Vejamos então as dicas para melhorarmos nossa convivência:
1. Admitir os próprios erros
Há sempre a tendência de se culpar os outros, atribuindo os fracassos e desentendimentos às outras pessoas. Já diziam os antigos: "É mais fácil derrubar uma muralha do que o errado reconhecer seus próprios erros".
É difícil dizer como o filho pródigo: "Pequei, errei, perdoa-me". Um bom relacionamento se desenvolve quando nós reconhecemos que não somos perfeitos, mas temos muitas falhas.
2. Conhecer a si próprio e o outro
Conhecer o nosso caráter é extremamente importante. Quando conhecemos a nós mesmos, temos condições de dominar os nossos impulsos, nossas palavras, nosso agir e pensar em relação aos outros.
É preciso que nos vejamos como de fato somos. Não podemos ser uma coisa e pensar que somos outra. Além disso, conhecer o outro como ele é, com suas qualidades e fraquezas, é condição básica para compreendê-lo e aceitá-lo.
3. Respeitar as diferenças e a liberdade dos outros
Cada um tem a liberdade de pensar, agir e sentir como quiser. Respeitar não significa concordar. Por outro lado, a liberdade de um vai até onde começa a do outro.
Nas diferenças há muito que aprender. Se todos fossem iguais a vida seria uma rotina terrível.
4. Comprometer-se com a verdade, sem ser agressivo e mal-educado
É preciso amar a verdade, mas ter cuidado com aquilo que se pensa ser a verdade. Não se tem a obrigação de falar tudo o que se pensa. Até mesmo a verdade deve ser dita em amor, conforme Efésios 4.15.
5. Ouvir mais e falar menos
Mesmo que se tenha uma grande capacidade de argumentação, é melhor refletir se o momento é mais oportuno para se opor ao outro.
O que vai ser dito fará bem ou mal à pessoa? Em muitas ocasiões é melhor ouvir do que falar, ou então, falar somente depois de ouvir atentamente.
Provérbios 18.13
13 - Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha.
Eclesiastes 5.1-2
1 - Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.
2 - Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.
Tiago 1.19
19 - Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.
6. Ser humilde
A humildade pode ser considerada a mãe das virtudes. No trato uns com os outros ela é fundamental para a sustentação da amizade e do relacionamento.
Colossenses 3.12
12 - Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.
7. Colocar-se na posição do outro
Muitas discussões e desentendimentos poderiam ser evitados se as partes em conflito conseguissem colocar-se nas circunstâncias uma da outra. Quando isso acontece estabelece-se um diálogo e encontra-se uma forma que satisfará às duas partes.
8. Amar como Jesus amou
A partir do momento em que amamos o nosso próximo é que passamos a compreendê-lo melhor. Quando a pessoa se sente amada, também começa a compreender-nos e aceitar-nos.
O amor é fundamento de tudo. Não deve ser um amor de palavras apenas, mas de fato e de verdade, assim como Cristo nos amou.
1 João 3.18
18 - Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.
Esse amor implica em amar também os inimigos (Mt 5.44).
Mateus 5.44
44 - Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem;
Porém, a base de tudo é o amor a Deus. Somente quando amamos a Deus com todo o nosso ser é que temos condições de amar o nosso próximo.
Mateus 22.37-38
37 - Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
38 - Este é o grande e primeiro mandamento.
Conclusão
Certa vez um pastor pregou sobre o reconhecimento dos amigos no céu.
Quando o culto terminou ele foi abordado por uma mulher que falou:
Eu agradeço muito por este sermão sobre o reconhecimento dos amigos no céu. Agora eu gostaria de solicitar que o senhor fizesse uma pregação sobre o reconhecimento dos amigos na terra. Eu tenho frequentado este lugar por vários domingos e jamais alguém se aproximou para falar comigo.
Como pudermos perceber neste estudo, os relacionamentos são muito importantes nas nossas vidas, nas nossas famílias, na igreja.
Como tem sido sua convivência com as pessoas? Temos deixado a luz de Cristo brilhar em nossas vidas através de nossas atitudes? Temos praticado o amor que o Senhor nos ensinou através das Escrituras?
Lista de Estudos da série
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