Vença a competitividade: 3 princípios para cristãos em um mundo injusto

Salmos 37:1-10

Introdução

Quando falamos em competitividade, falamos de um assunto que abrange várias áreas de nossa sociedade: Comércio, indústria, estudo, emprego e até vida pessoal.

Um exemplo disso é o que acontece com as empresas. Para se firmar no mercado é necessário ser competitiva, tem que conseguir produzir bons produtos e serviços para vencer a concorrência.

Outro exemplo ocorreu no Brasil em 2011. Com a os Estados Unidos endividados até o pescoço, o valor do dólar foi caindo. Isso é bom para quem quer comprar ou viajar no exterior. Mas não é extremamente ruim para as empresas que vivem de exportação, e até para a indústria nacional.

Isso porque os produtos que chegam aqui importados, ou seja, de outros países, vêm com um preço bem mais baixo, e a indústria brasileira acaba não tendo meios de competir.

Em agosto de 2011 o governo decidiu tirar vários impostos para tentar conter essa tendência, ou seja, impedir que as indústrias saiam do país.

Tudo isso por causa de competitividade!

E como isso nos atinge? Uma vez que o comércio, as empresas e as indústrias têm que ficar mais competitivos, há necessidade de funcionários qualificados, gente com mais estudo e especialização. E aí vem o problema, porque o Brasil tem falta de mão de obra qualificada.

E é aí que a competitividade começa a atingir a nossa vida pessoal, a nossa qualidade de vida. Porque somos um país desigual. Nem todas as pessoas tem a mesma oportunidade de estudo.

A pessoa que estudou desde criança em escola particular e não precisou ficar sem aula por causa das frequentes greves da escola pública, fruto do descaso do governo com os professores, vai ter muito menos dificuldade em um vestibular.

E por falar em vestibular, há alguns que tem 30 mil inscritos para 3.000 vagas! E certos concursos públicos? 20 mil inscritos para 200 vagas!

Mas existem outras áreas onde também há competitividade, devido à má gestão política. Em hospital público é normal terem 20 leitos para 300 pacientes! 2 médicos atendendo 50 pessoas de uma vez. E quem tem plano de saúde paga muito em retorno de um mínimo.

Talvez você esteja pensando: "de fato, os maiores problemas do Brasil são a educação, o desemprego e a saúde". De fato, sim. Mas o pior é o condicionamento psicológico a que nos submetemos ao estarmos inseridos neste caos.

Porque neste mundo competitivo a gente começa a olhar para o outro que convive conosco como um inimigo, alguém que deseja ocupar o meu espaço, tomar a minha chance.

Então, quando a gente pensa na competitividade, temos a tendência a pensar apenas do lado de “quem ganha”, de quem “é melhor” ou “mais qualificado”. Mas não pensamos muito do outro lado. De quem “não ganha”, de quem “não consegue ser tão bom”, de quem “não teve oportunidade de se qualificar”.

E apesar de ser algo que faz parte do mundo e da sociedade, a competitividade traz uma série de problemas para a nossa vida.

Produz o individualismo, a insensibilidade, o egoísmo e a ambição. A competitividade estimula a irritabilidade e a contrariedade, principalmente quando você é deixado de lado injustamente. Especialmente quando o outro conseguiu não porque é mais esperto, mais sagaz; mas porque teve um ‘QI’ (quem indique) melhor.

Isto é duro de aceitar!

1 – O que a Bíblia diz sobre a competitividade

Quando olhamos para os salmos, e os usamos principalmente no momento da liturgia, vemos que um dos temas predominantes é o louvor. Isso não é à toa, afinal os salmos eram por assim dizer o “hinário” de Israel.

Hoje nós os lemos, mas naquele tempo eram cantados com beleza de harmonia e poesia.

Todavia há outros temas presentes nos Salmos. E um que podemos destacar para nosso estudo é o tema da guerra espiritual. O grande conflito dos séculos é a luta entre o ímpio e o justo, entre os pagãos e a nação escolhida e, finalmente, entre Deus e Satanás.

O primeiro Salmo contém a declaração definitiva sobre este conflito e é o fundamento de todos os demais.

Salmos 1:1,4
1 - Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
4 - Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa.

No Salmo 37 especificamente temos a disputa entre o ímpio e o justo, quanto à prosperidade material.

Por que isso ocorria?

Porque no Antigo Testamento, o sinal mais evidente que havia do favor de Deus era a prosperidade material, individual ou coletiva. E é por isso que o salmista se desespera ao contemplar a prosperidade dos malfeitores em comparada às adversidades dos justos.

Salmos 37:12, 14 e 32
12 - Trama o ímpio contra o justo e contra ele ringe os dentes.
14 - Os ímpios arrancam da espada e distendem o arco para abater o pobre e necessitado, para matar os que trilham o reto caminho.
32 - O perverso espreita ao justo e procura tirar-lhe a vida.

Na competição da vida os ímpios levaram a melhor sobre os justos. O salmista achava-se indignado a ponto de sentir inveja dos que praticavam a iniquidade. Surge então a advertência.

Salmos 37:1
1 - Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.

O tema da prosperidade dos maus trouxe questionamentos sérios para dois outros servos de Deus: Asafe e Habacuque.

No Salmo 73, Asafe afirma:

Salmos 73:2-3
2 - Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos.
3 - Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos.

A saúde física, a ausência de preocupações e canseiras, a blasfêmia, a violência, a soberba dos malfeitores não eram punidas imediatamente por Deus.

Salmos 73:7-12
7 - Os olhos saltam-lhes da gordura; do coração brotam-lhes fantasias.
8 - Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez.
9 - Contra os céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra.
10 - Por isso, o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos.
11 - E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?
12 - Eis que são estes os ímpios; e, sempre tranquilos, aumentam suas riquezas.

Por outro lado, o salmista é continuamente afligido e castigado, o que pode fazer as pessoas perguntarem: será que a pureza e a santidade são úteis?

Salmos 73:13-14
13 - Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência.
14 - Pois de contínuo sou afligido e cada manhã, castigado.

Em outras palavras, do ponto de vista existencial, será que vale a pena ser justo?

A experiência de Habacuque

O profeta Habacuque viveu experiência semelhante. Olhando ao redor, viu o pecado espalhado por todas as direções. Ele então ora, mas Deus não responde. Ele se desespera! O silêncio, a aparente inatividade e despreocupação de Deus em punir o pecado era um enigma para aquele profeta.

Habacuque 1:1-4
1 - Sentença revelada ao profeta Habacuque.
2 - Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?
3 - Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita.
4 - Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida.

Habacuque 1:13
13 - Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?

Percebe como a competitividade está presente na Bíblia? Hoje talvez seja esse o problema que você está enfrentando, ou sabe de alguém que enfrenta. No entanto, lembre-se que Deus sempre responde no tempo determinado por sua vontade.

2 - Como vencer a competitividade?

Meu irmão, se você está vivendo uma situação de competição com alguém que não possui o temor de Deus, preste bem atenção. O salmista Davi, que viveu situação semelhante à sua, apresenta no Salmo 37 três princípios que o ajudarão a vencer essa competição:

A) Em primeiro lugar, tenha uma atitude cristã

Salmos 37:1
1 - Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.

"Não fique zangado", "Não te esquentes" é a melhor tradução literal do verso hebraico deste primeiro versículo. Observe também que o versículo 7 e 8 também dizem: "Não te irrites" e "Não te impacientes" (vs.8).

Parece simples, mas não é! Todavia diante destas situações devemos cultivar uma atitude cristã. Até porque a nossa ira, a ira humana, não promove a justiça de Deus. Não é assim que diz em Tiago 1.20?

A ira humana produz sim gastrite, dor de cabeça, falta de sono ou mesmo uma úlcera.

Diante da competitividade, seja construtivo, pratique o bem. Salomão diz que devemos praticar o bem até mesmo para com aqueles que nos odeiam.

Provérbios 25:21-22
21 - Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber,
22 - porque assim amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça, e o SENHOR te retribuirá.

Lucas 6:27
27 - Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam;

Mas talvez o grande problema nosso em relação às pessoas que competem conosco de forma injusta e perversa, é que não conseguimos automaticamente querer o bem delas.

Porque a gente liga o mandamento de Deus muito a sentimento. E quando eu dependo apenas do que eu sinto para expressar meu amor, eu não vou conseguir de fato ter atitudes construtivas para o bem daquele que me prejudica.

Mas quando a gente entende que amar não é só sentimento, mas é ter atitudes bondosas em relação a pessoa, aí sim, conseguimos superar esta barreira. Por isso diante da competitividade, tenha em primeiro lugar uma atitude cristã.

B) Em segundo lugar, olhe para o futuro e exercite a paciência

O cristão não olha para o futuro da mesma ótica que o ímpio. Enquanto o ímpio blasfema e duvida de Deus, crendo que “aqui se faz, aqui se paga”, o cristão sabe que virá o grande dia do Juízo Final.

Desapontamento e destruição aguardam os ímpios:

Salmos 37:2,10
2 - Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde.
10 - Mais um pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás.

Então, diante do desejo de vingança que muitas vezes invade a nossa vida, é preciso ter calma e deixar nas mãos de Deus. O tempo está marcado.

O mal jamais triunfará, pois existe em funcionamento no mundo um princípio de retribuição:

Gálatas 6:7
7 - Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.

O próprio salmista diz que o fim do ímpio é a destruição. O fim dos justos é a paz.

Salmos 37:34-40
34 - Espere no Senhor e siga a sua vontade. Ele o exaltará, dando-lhe a terra por herança; quando os ímpios forem eliminados, você o verá.
35 - Vi um homem ímpio e cruel florescendo como frondosa árvore nativa,
36 - mas logo desapareceu e não mais existia; embora eu o procurasse, não pôde ser encontrado.
37 - Considere o íntegro, observe o justo; há futuro para o homem de paz.
38 - Mas todos os rebeldes serão destruídos; futuro para os ímpios, nunca haverá.
39 - Do Senhor vem a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza na hora da adversidade.
40 - O Senhor os ajuda e os livra; ele os livra dos ímpios e os salva, porque nele se refugiam.

C) Em terceiro lugar, lembre-se da verdadeira segurança

Você sabia que todo cristão é rico? Mas não estou falando da prosperidade material. Fique certo de que o melhor sinal do favor divino não é a prosperidade material, mas a comunhão com Cristo no íntimo do coração.

1 João 1:3
3 - Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.

A verdadeira segurança e riqueza se acham não "na instabilidade da riqueza, mas em Deus", como ensina 1 Timóteo 6.17. Por outro lado, o servo de Deus tem uma herança eterna, e já aqui na terra sabe que o Senhor não o abandonará.

Salmos 37:18
18 - O Senhor cuida da vida dos íntegros, e a herança deles permanecerá para sempre.

No caminho para essa herança, Deus ordena os seus passos. Você pode tropeçar, às vezes, mas Deus está sempre presente para socorrê-lo.

Salmos 37:23-24
23 - O Senhor firma os passos de um homem, quando a conduta deste o agrada;
24 - ainda que tropece, não cairá, pois o Senhor o toma pela mão.

Por isso o justo, por mais pobre que seja, é mais rico que o ímpio, pois conta com o amparo do Senhor em todas as suas necessidades materiais e espirituais. Deus sempre lhe dará o necessário.

Salmos 37:25
25 - Já fui jovem e agora sou velho, mas nunca vi o justo desamparado, nem seus filhos mendigando o pão.

Na sua experiência de vida o salmista nunca viu um justo passar necessidades. É claro que isso não significa que não passemos por momentos de provações. Mas o que está sendo ensinado aqui é o princípio de que Deus cuida de nós.

Em um mundo competitivo, no qual nos sentimos cada vez menos qualificados e menores, a insegurança do desemprego, ou qualquer outro problema que nos visite, não podemos esquecer de que Deus cuida de nós.

Por isso, exercite a confiança em Deus e continue a viver com atitude cristã.

Salmos 37:3-7
3 - Confia no SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade.
4 - Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração.
5 - Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.
6 - Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia.
7 - Descansa no SENHOR e espera nele...

Repare nos verbos: CONFIAR, AGRADAR, ENTREGAR, DESCANSAR.

Confiar é saber que Deus cuida de você.
Agradar-se de Deus é um estímulo para que você tenha sonhos. Entretanto eles devem ser de acordo com a vontade de Deus.
Entregar é lançar sobre Deus a nossa ansiedade, na certeza que ele tem cuidado de nós, conforme ensina 1 Pedro 5.7. Tenha certeza que Deus fará tudo aquilo que você não pode fazer.
Descansar é basicamente “ficar em silêncio”. É o silêncio do que espera e não de quem desespera. Cale-se diante de Deus e seja submisso. Evite a petulância, a ira, a temeridade.

Conclusão

Na competição da vida, no dia-a-dia, os justos não devem inquietar-se por causa da prosperidade dos ímpios. Há uma dupla razão: a prosperidade do ímpio é passageira e o fim dele é indesejável.

Levante a cabeça, olhe para cima, busque uma orientação nova para sua vida. O galardão e a felicidade aguardam os justos. Deus está a favor dos justos.