Introdução
Uma das mais importantes cidades do mundo com relação a religiosidade é, sem dúvidas Jerusalém. Quase sempre ouvimos falar de Jerusalém, seja num livro, no estudo da história, nas religiões e até mesmo nos noticiários da TV.
Isso porque Jerusalém é centro das três principais religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. E essa co-existência de diferentes grupos religiosos, infelizmente tem feito de Jerusalém o palco de intolerância religiosa.
O que acontece lá não é um caso isolado. Acontece quase em todos os lugares, é uma mentalidade que vem crescendo e dominando muitas pessoas.
Basta a gente ter curiosidade e pesquisar na Internet a respeito das torturas, vandalismo, mortes e perseguições – tudo isso conseqüência da intolerância religiosa.
E isso não afeta apenas os que possuem religiões diferentes. A intolerância pode também acontecer até mesmo dentro da Igreja Cristã, quando não sabemos conviver com certas diferenças em nosso meio.
Explicação
O texto que acabamos de ler aborda esse tema: a importância da tolerância na igreja. Naquela época a igreja estabelecida em Roma era bastante heterogênea, ou seja, havia nela pessoas com diferentes tendências.
E não eram poucas questões que geravam desentendimento entre cristãos, principalmente nos judeus e gentios convertidos, que confundiam a fé com os usos e costumes de sua cultura.
Este choque cultural existia e era de certa forma inevitável. Se formos ler atentamente as cartas do Novo Testamento veremos como os líderes tiveram que trabalhar estas questões para que a igreja não dividisse por causa disso.
E é isso que Paulo está fazendo nestes versículos. Ele sabia que a intolerância de alguns poderia comprometer a comunhão de toda a Igreja. Paulo toma conhecimento do problema e passa a orientar os cristãos sobre o assunto.
Estas instruções de Paulo continuam atuais e são necessárias à Igreja em todas as épocas. Uma das características das cidades é que elas reúnem um grande grupo diversificado de pessoas. São diferentes idades, diferentes culturas, todas num lugar só, num só bairro.
Por isso é normal que haja tanta gente de origem e costumes diferentes dentro de uma igreja, mesmo que ela seja pequena. É por isso necessário ter tolerância!
1 - A tolerância é sinal de espiritualidade
Romanos 15:1
1 - Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.
Quando o apóstolo fala “nós, que somos fortes”, ele está se referindo aos que são fortes na fé. Entendemos isso pela oposição que existe com o capítulo 14, onde fala dos fracos na fé:
Romanos 14:1
1 - Ora, ao que é fraco na fé, acolhei-o, mas não para condenar-lhe os escrúpulos.
Portanto, a tolerância surge como fruto de uma verdadeira espiritualidade.
Naquele tempo os romanos estimulavam a religiosidade de aparência. O que tinha força eram os hábitos, os usos e costumes.
Mas o apóstolo Paulo ensina que ninguém pode ser julgado, nem tampouco condenado por causa de comida, bebida, dia santo etc. Isto é problema individual, de foro íntimo, que diz respeito a cada um.
Romanos 14:2-6
2 - Um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come só legumes.
3 - Quem come não despreze a quem não come; e quem não come não julgue a quem come; pois Deus o acolheu.
4 - Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é o Senhor para o firmar.
5 - Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente.
6 - Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. E quem come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.
Medir a espiritualidade das pessoas, ou julgá-las, através dos pesos e medidas da aparência, é desprezar a espiritualidade do coração, que é íntima e pessoal. Muita gente preocupa-se excessivamente com as formas e ignora o conteúdo.
Cuidado! Por trás de um frasco bonito pode haver um veneno mortífero. Aliás, muita gente se esconde na aparência de hábitos religiosos, ostentando uma (falsa) espiritualidade, que encobre até mesmo pecados secretos.
O apóstolo mostra que a intolerância encobre a falsa espiritualidade.
O hino 180, Amor Fraternal diz a certa altura: "com simpatia os erros de um irmão, cuidando de ajudá-lo com branda compaixão". Ser tolerante não é ser conivente com os erros ou pecados das pessoas; mas sim, amá-las e aceitá-las, apesar de suas limitações e fraquezas.
É saber que como nós, os nossos Irmãos também erram e precisam ser ajudados para evitar erros futuros. A intolerância impede a prática do perdão por parte da Igreja, impossibilitando o crescimento do faltoso, que passa a carregar consigo a marca do erro.
Quando Jesus lidou com a pecadora que foi surpreendida em adultério, Jesus ofereceu uma preciosa lição contra qualquer tipo de intolerância:
João 8.7
7 - Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a primeira pedra
O único que não tinha pecado, diz à pecadora: "ninguém te condenou? (...) Nem eu tampouco te condeno; vai, e não peques mais" (João 8.19,11).
Na cruz, Ele orou em favor dos seus acusadores: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23.34).
Um outro exemplo Instrutivo é o do apóstolo Pedro, uma pessoa intolerante (At 10.9-16); que, em seu preconceito religioso, separava alimentos puros e impuros. Deus lhe concedeu a visão de um lençol com todo tipo de alimento.
Após se recusar a comer "impurezas", Pedro ouviu do Senhor: "não consideres impuro o que Deus purificou".
Aquela experiência abriu a mente de Pedro e depois foi útil ao crescimento da Igreja (Atos 15).
2 - A tolerância é capaz de conviver com diferenças
Romanos 15:2,7
2 – Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação.
7 – Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.
Romanos 14:19
19 – Assim, pois, seguimos as cousas da paz e também as da edificação de uns para com os outros.
Todos nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus, mas ao mesmo tempo somos também profundamente marcados pela nossa individualidade.
Cada um de nós é um! Único, distinto, insubstituível, inimitável. A gente até brinca que Deus quando nos fez jogou o molde fora!
Em meio a tantas diferenças, se nós não desenvolvermos uma tolerância capaz de conviver com as diferenças, a nossa vida será bem conturbada.
E este é um aspecto importante, porque nós fomos criados diferentes para que nestas diferenças aconteça uma unidade especial que é fruto da obra de Deus.
Por isso que aprendemos que na igreja deve haver unidade e diversidade. Unidade porque em Cristo somos um. Diversidade porque o fato de sermos diferentes enriquece o mundo e a igreja – cada um tem um talento, um dom, e assim dependemos uns dos outros para tudo!
Mesmo que uma pessoa diga: não dependo de ninguém! – ela está equivocada. Quando a gente usa a água, a luz em casa, a gente não pode esquecer que tem gente trabalhando para que isso aconteça.
Quando a gente abre a geladeira e pega uma fruta, a gente deve se lembrar que alguém plantou e colheu aquela fruta.
A diversidade nos completa!
Na igreja também funciona assim. Embora existam diferentes pessoas, nós devemos usar essa diversidade como oportunidade para o crescimento.
Romanos 12:4-6
4 - Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função,
5 - assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros.
6 - De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
Na igreja todas as pessoas devem ser bem-vindas: negros, brancos, amarelos, vermelhos; crianças, jovens, adultos e anciãos; intelectuais e técnicos; ricos e pobres, enfim todos, independentemente de serem tradicionais ou inovadores; ou de serem politicamente de esquerda ou de direita; ou com as diversas concepções de avivamentos, serviços, ministérios etc.
E preciso acreditar que o Deus que nos fez diferentes, tem o poder de nos unir.
O choque das gerações, os conflitos de opiniões ou de comportamento, devem dar lugar a um ambiente fraterno de convivência respeitável que tolera e celebra a diversidade.
Para isto, é importante aprender a respeitar a consciência e a opinião do próximo. Cristo foi o maior exemplo, porque ele não buscou o que agradava a si mesmo.
3 - A tolerância caminha junto com a liberdade
Como cristãos, somos chamados à liberdade. Aliás, a Igreja é a comunidade dos libertos. E onde há o Espírito, há liberdade.
Como comunidade da liberdade, a Igreja entende que há uma responsabilidade individual que compromete cada um diante de Deus, o único juiz, diante de quem todos nós prestaremos contas. E quando, naturalmente, muitas questões que nos incomodam serão resolvidas.
Romanos 14:10
10 – Tu, porém, porque julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus.
Romanos 14:12
12 – Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.
Lógico que liberdade não é irresponsabilidade, nem tampouco libertinagem. Vamos lembrar de outro texto bíblico:
Gálatas 5:13
13 - Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros.
É importante tolerarmos os mais fracos na fé, os mais jovens, os mais carentes. Devemos ser tolerantes com os que pensam diferente ou creem de outra maneira, como irmãos de outra igreja por exemplo.
É preciso tomar cuidado com a intolerância, especialmente em questões de menor importância.
Efésios 4:15
15 - antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Conclusão
Na história da igreja, vemos trágicos exemplos de intolerância. Pessoas que ao invés de discordarem de opiniões civilizadamente, optaram pela violência e até morte.
Tomas Muntzer
Durante a Reforma Protestante, enquanto Lutero e outros Reformadores romperam com a Igreja Católica Romana sem incitar a violência, houve um sacerdote chamado Tomas Muntzer que liderou um movimento que ficou conhecido como a “Guerra dos Camponeses”.
Muentzer encorajou os camponeses a se revoltarem contra os ricos proprietários com base nas suas interpretações da literatura apocalíptica, especialmente a luta do bem contra o mal. O movimento certamente cresceu e chegaram a morrer 100.000 pessoas.
Noite de São Bartolomeu
Outro exemplo de intolerância foi o massacre ocorrido no “Massacre da noite de São Bartolomeu”. Por questões de disputa política, os reis franceses, que eram católicos, lideraram uma repressão sangrenta contra os protestantes.
Tudo começou na noite de 24 de agosto de 1572 – o dia de São Bartolomeu. Dezenas de líderes protestantes (huguenotes) foram assassinados em Paris numa série coordenada de assassinatos planejados pela família real.
Um desses líderes teve seu cadáver jogado pela janela e cair no chão foi zombado mutilado, arrastado pela lama, jogado no rio, repescado, e finalmente pendurado em uma forca sob a qual foi acendida uma fogueira.
Os protestantes foram massacrados pelo povo, encorajado pelos padres. Eles matavam porque criam estava fazendo a obra de Deus, purificando as cidades das heresias.
Esse massacre durou vários meses, espalhando-se por outras cidades francesas, vitimando cerca de 70 mil a 100 mil protestantes franceses. De acordo com os relatos históricos, a cidade amanheceu repleta de cadáveres. Havia corpos nos rios durante meses de modo que ninguém comia peixes.
É vergonhoso, mas é verídico.
Tolerância zero
Tinha um personagem em um programa humorístico e ele tinha um bordão: tolerância zero. Tudo o que faziam ou falavam para ele, se tivesse o português errado ou alguma imprecisão, ele já passava mal.
Parece até brincadeira, mas se a gente não tomar cuidado a gente fica igual àquele sujeito. Se a gente não aprender a ter um mínimo de tolerância, nossa vida será amarga e solitária, pois a intolerância afastará as pessoas de nós.
Além disso, não teremos qualidade de vida, porque haverá também insatisfação no nosso coração.
Tolerância não é algo que usamos apenas dentro da igreja. Usamos ela na nossa família, no relacionamento marido e mulher, pai e filho, entre irmãos, no emprego, na escola, com os vizinhos!
Que nos lembremos:
- A tolerância é sinal de espiritualidade
- A tolerância é capaz de conviver com as diferenças
- A tolerância caminha junto com a liberdade
Lista de Estudos da série
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5. Vença a mágoa: 3 verdades bíblicas para te ajudar a perdoar – Estudo Bíblico sobre Perdão
6. Vença a ira: 4 passos incríveis para controlar sua raiva e não pecar – Estudo Bíblico sobre Ira
9. Vença a Inimizade: 3 Passos Urgentes para Reconciliação – Estudo Bíblico sobre Inimizade