Introdução
A questão básica para o autor de Eclesiastes é esta: O que dá sentido à vida humana? Ou seja, qual é o sentido da vida sobre a face da Terra?
Para responder a essa crucial e inquietante questão, ele descreve os caminhos pelos quais percorreu, que são os caminhos buscados por aqueles que ainda não encontraram a resposta última - Deus -, na tentativa de se sentirem plenamente realizados.
Em sua viagem em busca do sentido da vida, o Pregador percorreu vários caminhos e vivenciou diversas situações.
O ponto de partida dessa viagem foi a busca incessante do conhecimento. Entrando pelo caminho da sabedoria, ele percebeu que quanto mais se conhece e se desvendam os mistérios da vida debaixo do sol, mais conturbado fica o coração humano; pois, toma consciência de que o saber, por mais sábio que alguém seja, é limitado e há muito que aprender.
Portanto, a busca do conhecimento pleno não é o caminho para a realização plena. Aumentar o conhecimento, na experiência do protagonista de Eclesiastes, é aumentar as frustrações.
Assim, ele prossegue a sua viagem, descortinando também os caminhos do prazer. Se não é na sabedoria que está o sentido da vida, quem sabe é no império dos prazeres e dos sentidos que a vida se realiza?
Acompanhando o Pregador em sua viagem, é possível constatar as conclusões às quais ele chega sobre essa questão. Vejamos, então:
1. A inexistência de referenciais morais e espirituais
Na ânsia de encontrar o sentido da vida nos prazeres ilimitados, percebe-se que o autor de Eclesiastes abandona completamente os referenciais morais e espirituais. Ele se entrega ao álcool, à riqueza e ao luxo, a uma vida sexual desregrada e a tudo o que seus olhos desejam.
Torna-se um adepto da filosofia hedonista, isto é, a doutrina que ensina a busca do prazer como o caminho para se encontrar o sentido da vida e a felicidade. Nessa corrida desenfreada pelo prazer, vale tudo - ensina a referida doutrina.
Em seu livro: As Lições de Godofredo - um ensaio lúdico sobre a vida e seu propósito, Gabriel Lacerda, pregando uma espécie de hedonismo cristão, afirma que um mundo livre de proibições, onde todos se comportassem conforme indicasse o seu desejo genuíno, seria um lugar mais agradável para se viver.
Na verdade, o que esse autor propõe é uma vida sem referenciais. É por essa razão que ele declara que “o homem é o único animal que ainda não descobriu que o propósito da vida é gozá-la.” Na prática, é assim que vive grande parte da humanidade, fazendo da busca pelo prazer a razão de viver.
Jesus contou a parábola sobre a avareza, destacando um homem que, depois de enriquecer-se, perdeu os referenciais morais e espirituais, fazendo do prazer um fim em si mesmo.
Esse homem disse: “Tenho muito dinheiro. A partir de agora, a vida para mim constituir-se-á em comer, beber e divertir.” (Lc 12.19). Ao concluir a parábola, Jesus declara que ele teria de prestar contas de tudo o que havia feito da vida.
O Senhor diz: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lc 12.20). Essa é a mesma conclusão do autor de Eclesiastes, quando afirma que “Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.” (Ec 12.14). Deus pedirá contas de tudo o que se faz (Ec 11.9).
Outro exemplo bíblico é o do filho pródigo, que buscou nos caminhos do prazer, o sentido para a vida. Viveu sem absolutos morais e espirituais durante um bom tempo. Porém, viu que a vida não poderia ser vivida daquela maneira. Caiu em si, arrependeu-se e voltou para casa, disposto a viver uma nova vida, sob referenciais seguros (Lc 15.11-24).
2. O prazer sem limites é egocêntrico
Os caminhos do prazer percorridos pelo Professor no Eclesiastes, de modo desenfreado e sem qualquer limite, revelam que o hedonismo é extremamente egocêntrico.
Nos corredores da satisfação pessoal não há lugar para a preocupação com o bem-estar do próximo. No texto que está sendo estudado, aparece com clareza o egoísmo do personagem.
As expressões: “edifiquei para mim”, “fiz para mim”, “amon toei para mim”, etc., que aparecem várias vezes, refletem a vida egocêntrica daquele que faz do prazer a razão da existência. Ele não busca a felicidade do próximo, não se importa em saber se o outro está feliz ou não.
Tudo gira em torno de si. Esse é um caminho por demais estranho ao caminho de Deus. O homem rico, da parábola sobre o rico e o mendigo, vivia encastelado em seu egocentrismo, buscando apenas os prazeres que o dinheiro lhe proporcionava, não se importando com a miséria de Lázaro (Lc 16.19-31).
O ditado “cada um por si e Deus por todos” é a triste realidade que os nossos olhos contemplam. As pessoas estão vivendo cada vez mais para si. Justifica-se a busca do prazer como a única forma de se aproveitar a vida. Argumentam que os dias “debaixo do sol” são poucos; portanto, é preciso usufruir ao máximo tudo quanto pode produzir gozo e satisfação.
3. O prazer promete mais do que dá
No livro Muito Além da Futilidade (Missão Editora), David A. Hubbard declara o que está nesse título. Ele afirma acerca do prazer: “sua agência de publicidade é mais eficiente que seu departamento de produção.
Ele acena com a possibilidade de um fino deleite, mas o melhor que pode oferecer é a pura estimulação. Procura acariciar o espírito do homem, mas não consegue atingir seu âmago.”
Não são poucos os que realizam uma fuga, seguindo os caminhos do prazer. Fogem, imaginando que vão esquecer e resolver os problemas. Mas, ao final de cada experiência prazerosa, vem a frustração e a incômoda sensação de vazio.
Por aumentar sempre o vazio, o que se cria é um círculo vicioso: buscam-se os prazeres para superar a sensação de vazio; aumenta-se a sensação de vazio, então volta-se à busca dos prazeres, muitas vezes, em dosagens cada vez mais fortes.
A busca pelo prazer é insaciável. A frase “tudo é vaidade e correr atrás do vento” revela que não se alcança o sentido da vida no prazer. David A. Hubbard adverte: “Se você procura um fundamento para edificar sobre ele a sua vida, não conte com o prazer.”
No entanto, a visão da Palavra de Deus é outra: é preciso ter disciplina e domínio próprio, pois isso faz parte do fruto do Espírito: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.” (G1 5.22-24).
Concluindo, pode-se dizer que o caminho do viver hedonista, que aos olhos do homem natural parece ser o melhor, ao final será caminho de morte (Pv 14.12).
Ter vida prazerosa e buscar a felicidade e a alegria é legítimo. Deus criou o homem para ser feliz. Ele deseja que tenhamos prazer na vida. Porém, quando essa busca ignora os referenciais morais e espiritual, as consequências podem ser desastrosas e dolorosas.
A vida egocêntrica, centrada no prazer, é incompatível com os princípios cristãos; ofende a Deus, prejudica o próximo e pode levar o próprio indivíduo à destruição.
Para pensar
- Que recursos o cristão deve utilizar para manter-se fiel a Deus em meio a uma sociedade em que prevalece o estilo hedonista de vida?
- Ser crente em Jesus é incompatível com uma vida prazerosa?
- Você conhece casos que confirmam que os caminhos do prazer desembocam em sofrimento e morte?
Lista de Estudos da série
1. Vença 5 Desafios Cruciais da Vida Espiritual – Estudo Bíblico sobre Crescimento Cristão
7. Vença a Inveja: 3 segredos poderosos para libertar seu coração – Estudo Bíblico sobre Inveja
8. Vença a Mentira: 3 lições essencias para uma vida cristã autêntica – Estudo Bíblico sobre Mentira