Textos da lição: Lucas 7.36-50; 19.1-10; Mateus 13.44
Introdução
Alguns, para ser crentes, só faltam se converter. Várias vezes encontramos pessoas que definimos assim: parece crente. Outras vezes é o contrário. Fazemos uma lista de uma raça de gente que fica fora do nosso esforço evangelístico.
São os "pecadores" que mencionamos no estudo bíblico anterior. Mas eles podem ser convertidos mesmo. E, quando isso ocorre, demonstram muitas vezes uma mudança e uma alegria que edifica a igreja. A propósito, como é que nós todos fazemos isso?
I. A conversão de Zaqueu (Lc 19.1-10)
O relato acerca dessa conversão aparece unicamente em Lucas. Este apresenta Jesus entrando em Jericó. Uma multidão acompanha Jesus. Um homem de baixa estatura procura ver quem era Jesus.
Seu nome: Zaqueu. Assim rapidamente somos apresentados a Zaqueu. Mas quem é ele? Seu nome significa "Deus se recorda". O homem era chefe dos publicanos. O publicano era um agente comercial privado, que executava a cobrança de impostos. Roma fixava a soma a ser coletada com base em estimativas das rendas.
O publicano retinha para si o excedente. Os abusos cometidos pelos publicanos eram evidentes. Eram detestados duplamente. Em primeiro lugar por extorquirem o povo e em segundo por serem funcionários do governo estrangeiro opressor. Os publicanos eram considerados traidores de seu próprio povo. Zaqueu era chefe dos publicanos, isto é, possuía auxiliares.
A. Quer ver Jesus
Zaqueu procura "ver" Jesus (Lc 19.3). Anteriormente, um cego que só podia "ouvir" chega a ver (Lc 18.35-43). A chegada da salvação é "vista" e "ouvida" (Lc 7.22). Zaqueu em seu desejo de ver o Salvador sobe em um sicômoro (Lc 18.4). Não se importa com a ironia de que pode ser alvo.
O importante é chegar próximo de Jesus. Mas para sua surpresa, Jesus é que o vê e se convida para ficar em sua casa (Lc 19.5). Tal atitude de Jesus provoca em Zaqueu profunda alegria (Lc 19.6).
Essa é uma reação natural diante de tão grande salvação. O tema da alegria da salvação é constante no evangelho de Lucas (Lc 1.14, 28, 47; 2.10; 8.40 10.20). Aqueles que recebem Jesus são inundados por uma alegria indizível.
Muitas pessoas tiveram a experiência de conversão querendo encontrar Jesus. Quantas experiências são contadas de pessoas que após um contato com algum crente, desejaram conhecer com mais profundidade o Senhor. Mas após algum tempo, depois de convertido, aquele que queria ver Jesus percebe que na verdade ele é que foi visto por Jesus.
Ao Senhor Jesus sempre cabe a iniciativa. Paulo escreve aos coríntios: "...tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo (...) Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo..." (2 Co 5.18-19).
Essa foi a experiência de Zaqueu. Essa é a nossa experiência. Quando vistos pelo Senhor, o nosso coração se enche de alegria. E não é para menos. Experimentamos um encontro com Deus!
B. Mas Jesus tem comunhão com pecadores?
O ato de Jesus não passa despercebido. As críticas mordazes aparecem na boca dos murmuradores: "Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador" (Lc 19.7).
Por ser publicano, Zaqueu era um excluído. Não participava do culto. Era irremediável pecador. Seu maior amor era pelo dinheiro. Por sua gana participava da opressão praticada pelos romanos sobre o povo de sua terra. Um homem dessa estirpe não se regenera.
Esses poderiam ser os pensamentos dos críticos de Jesus em relação a Zaqueu. Por outro lado, o comportamento de Jesus escandaliza. Ele se hospeda com um homem pecador. Será que Jesus aprova o comportamento de Zaqueu?
Esse tipo de suspeita sempre acompanhou Jesus. Vemos isso quando participa do banquete na casa de Levi - Mateus (Ver Lc 5.27-30). E quando pronuncia a parábola do filho pródigo (Lc 15.1-2).
Os bons costumes diziam: "Um judeu piedoso não se recosta à mesa em companhia de publicanos e pecadores públicos". Mas uma coisa é certa, os pecadores que se encontram realmente com Jesus têm sua existência transformada. O mesmo acontecerá com Zaqueu.
C. Hoje houve salvação nesta casa!
Por causa de sua função Zaqueu era um homem rico. O que o tornava um caso difícil (Lc 18.24-30). Do ponto de vista dos fariseus, um publicano não podia ser salvo, visto que se tornava impossível restituir os bens fraudados.
Mas Zaqueu fez uma declaração pública. A sua boca revela a obra de Deus feita em seu coração: "Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais" (Lc 19.8).
A autenticidade da conversão revela-se na vontade de observar radicalmente as prescrições da lei. Zaqueu não quer restituir apenas 120% do valor daquilo que adquiriu ilegitimamente (Lv 6.1-7), mas além disso, o quádruplo em reparação (Êx 22.1; Nm 5.5-6).
Os escribas exigem que se dê também uma determinada soma em dinheiro aos pobres, como prova de que a contrição é autêntica. Zaqueu se propõe a dar metade de seus bens, mais do que se esperava. O publicano se dispõe a cumprir a lei! O milagre aconteceu. Um camelo passou pelo fundo de uma agulha.
O que era o impossível dos homens é possível para Deus (Lc 18.24-27). Ao contrário do homem rico, que cumpria a lei mas não era capaz de colocar seus bens à disposição de Deus, Zaqueu coloca seus bens à disposição e cumpre a lei.
O episódio segue para o seu fim com Jesus declarando: "Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão" (Lc 19.9).
É surpreendente notar que a ação de Jesus se resume em hospedar-se na casa do publicano e em declará-lo salvo. Jesus é assim. A sua presença é suficiente para transformar a vida de um pecador.
II. A pecadora que ungiu os pés de Jesus (Lc 7.36-50)
O texto de que agora nos ocupamos, mostra três personagens: Jesus, Simão (o fariseu) e a mulher pecadora. Apesar de três pessoas, só há diálogo entre Jesus e o fariseu. A mulher permanece em silêncio do início ao fim da cena. Mas sua atuação é o motivo da conversa de Jesus com o fariseu.
A. O agir silencioso da mulher
Jesus é convidado para um jantar na casa de um fariseu (Lc 7.36). Aparentemente o convite é uma cortesia do fariseu. Naquele local entra uma conhecida pecadora do lugar. Por pecadora pode-se incluir uma prostituta ou alguém cujo marido, ou ela própria, exercia profissão desonrosa tal como publicano, curtidor etc... Podemos estranhar esse fato.
Como um fariseu cheio de escrúpulos permite a entrada de tal pessoa em sua casa? "A casa na qual se realizava um banquete estava aberta também aos não convidados. Eles podiam olhar, apreciar o espetáculo, tomar parte nas conversas à mesa" (A. Stöger).
Compreende-se, portanto, como a mulher poderia estar ali. Mas essa mulher age. Quebra um vaso de alabastro e unge os pés de Jesus (Lc 7.37). O tempo todo chora (Lc 7.38).
Além disso, desata os cabelos publicamente, ato vergonhoso para uma senhora casada. Mas a mulher está totalmente compenetrada, esquecida de si. Não precisa tomar parte na conversa. Não precisa se defender. Importa somente estar ali aos pés de Jesus.
B. Jesus interpela o fariseu
A cena da mulher aos pés de Jesus chama a atenção do fariseu. Em seu coração faz julgamento de Jesus e da mulher: "Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora" (Lc 7.39).
Na concepção farisaica, profeta era aquele que penetra os corações. Sabe discernir quem é quem. Para Simão está claro, Jesus não é profeta, pois não reconhece aquela que está aos seus pés.
De repente Jesus inicia uma conversa com o fariseu. Propõe uma parábola (Lc 7.40-43): um credor, dois devedores. Um devia 500 denários, o outro 50. Nenhum dos dois pode pagar.
O credor perdoa a ambos. Quem ama mais? A resposta de Simão é correta: "Suponho que aquele a quem mais perdoou" (Lc 7.43). Mal sabe Simão que os dois devedores são ele e a mulher. Seus perversos pensamentos se voltaram contra ele. Jesus é profeta, sondou o seu coração.
C. Uma mulher amorosa
Nos versículos 44 a 47 Jesus aplica o ensino da parábola à mulher e a Simão. Apesar do fariseu ter convidado Jesus para jantar, de modo algum foi cortês com ele. Não expressou os atos mais triviais propostos pelas regras da hospitalidade palestina: não ofereceu água para Jesus lavar os pés (Jo 13.5); não deu o beijo na face do convidado (Gn 29.13; Êx 4.27; 18.7); nem ungiu com óleo a cabeça de Jesus (Sl 23.5).
A pecadora, por sua vez, fez tudo isso e de um modo muito mais profundo. Qual a razão? "...ela muito amou" (7.47). Os atos da mulher expressam seu amor àquele que pode perdoá-la totalmente. Ela percebeu que Jesus traz a salvação ao pecador e por isso se desmancha em lágrimas aos seus pés. Jesus declara justamente isso.
Ela devia muito por isso ama muito. Simão deve pouco por isso ama pouco, se é que ama. Jesus declara à mulher e para quem quiser ouvir que os pecados dela estão perdoados. Ela pode ir em paz.
Quanto ao fariseu, fica nas entrelinhas a sugestão para olhar menos para os outros e mais para si. Deve se preocupar com a trave diante de seus olhos e depois tirar o cisco dos olhos do outro (Lc 6.41-42).
O texto tem também uma séria advertência. Aqueles que se acham justos podem não ser. O que se acha dentro do reino pode não estar. Triste coisa é quando o sujeito extremamente religioso não recebe a salvação. Isso acontece porque sua religiosidade se tornou empecilho para converter-se.
III. A parábola da pérola de grande valor (Mt 13.44)
A parábola em foco é muito simples. Um homem encontra um tesouro no campo e depois o esconde. Vende tudo o que tem e compra o campo. A conversão é isso aí.
O que tem olhos para ver reconhece que o reino de Deus proclamado por Jesus vale mais do que tudo. Vale mais do que a própria vida. Investe tudo o que é e o que tem para receber o dom precioso de Jesus, assim como Zaqueu fez.
Todas as coisas se tornam relativas diante da proximidade do reino de Deus e do seu Messias. Esquece-se de si mesmo e ama muito, como a mulher aos pés de Jesus. Converter-se é achar o tesouro e comprar o terreno onde foi achado. Converter-se é se achar pecador e perdido para ser achado por Jesus que se "lembrou de nós".
Aplicação
- Não existem impossíveis para Deus. Até o maior pecador pode converter-se. Zaqueu é um exemplo de que "um camelo pode passar pelo fundo de uma agulha".
- Um coração convertido expressa isso de maneira palpável, seja querendo restituir a quem se lesou, seja chorando de contrição e comoção. Aquele que foi alcançado pela graça de Jesus ama muito, porque ele muito amou.
- A alegria se torna presente no que recebeu a salvação. E a alegria de se encontrar um grande tesouro. Registramos aqui a letra de um hino que expressa essa grandeza:
Jesus é melhor, sim, que ouro e bens, Jesus é melhor do que tudo que tens, Melhor que riquezas e posições, Melhor, muito mais do que milhões.
Pode ser um rei com poder nas mãos, Mas do mal escravo sim. Mil vezes prefiro o meu Jesus E servi-lo até o fim.
Jesus é melhor que qualquer valor, Amigo leal no prazer e na dor, Melhor do que tudo ele é para mim, Melhor do que qualquer amigo enfim.
Jesus é mais puro que a linda flor, Jesus é melhor, Ele, sim, satisfaz. Jesus é melhor, sim, ele é amor, Caminho, luz, verdade e paz.
Autor: Rev. José Roberto Corrêa Cardoso
Lista de estudos da série
1. Arrependei-vos e Crede: Entendendo o Chamado Original de Jesus – Estudo Bíblico sobre a Conversão
11. De Escravo a Irmão: Como o Evangelho Derruba Barreiras Sociais – Estudo Bíblico na Carta a Filemom