Do Império das Trevas para o Reino da Luz: A Anatomia da Sua Conversão – Estudo Bíblico sobre o Antes e o Depois


Texto da lição: Carta aos Efésios

Introdução

Qual é a sua opinião sobre a programação de sua igreja? Para que ela serve? Como você a aproveita? Como resultado dela os crentes estão mais unidos e mais santificados? De qualquer forma, qual é a importância dessas perguntas? O que isso tem a ver com a conversão? É o que aprendemos na carta aos Efésios. Vejamos como.

I. Antes mortos, agora vivos (2.1-10)

O texto de Efésios 2.1-10 expressa as duas realidades do convertido ao evangelho de Jesus Cristo. A primeira realidade é passada, diz respeito ao que éramos antes da conversão. A segunda realidade é presente. Diz respeito ao que nos tornamos a partir de nossa conversão.

A. A nossa realidade antes da conversão (2.1-3)

A realidade do ser humano sem Deus é de morte. O termo "mortos" (grego= nekrós) tem o sentido de quem se encontra à mercê da morte, em estado de corrupção e de decomposição por ela (Cl 2.13; Rm 6.11,13).

A causa original da morte são os "delitos e pecados". O pecado produz a morte e o estado de estarmos mortos produz pecado. Trata-se de um círculo vicioso e contínuo. Portanto, por natureza os seres humanos são "almas mortas".

Essa realidade era a realidade do cristão. Veja a ênfase de Paulo ao usar todos os verbos no tempo passado: "andastes" (v.2), "andamos outrora" (v.3). No v.1 Paulo focaliza a atenção exclusivamente nos gentios; no v.2 sua exposição inclui os judeus também ("entre os quais também todos nós andamos outrora...").

Nesse estado de morte éramos conduzidos por três agentes a pecar cada vez mais:

1. Segundo o curso deste mundo

O primeiro agente listado por Paulo é o que poderíamos chamar de "ideologia". Trata-se das ideias próprias veiculadas na sociedade secular. 

Devemos nos lembrar que toda atividade humana possui sua própria ideologia. Por exemplo, um determinado programa de televisão não é neutro, isto é, possui um quadro de valores que pretende nos transmitir.

Uma novela que enfatiza os princípios do espiritismo não quer somente entreter, mas quer ganhar nossa simpatia para tal doutrina religiosa. Um outro exemplo podemos ver claramente ocorrido no dia 12 de janeiro no "Fantástico", quando se veiculou chamadas dentro do programa mostrando pessoas sendo reeleitas em diversas associações.

O objetivo dessas chamadas é induzir o telespectador a aderir à posição ideológica do dono da emissora, que no caso é a favor da reeleição do Presidente da República

Não é o caso de discutir aqui o conteúdo da informação, mas apenas chamar a atenção para um fato. O dono da emissora queria que o telespectador se posicionasse a favor da reeleição.

Nada vem de graça nos meios de comunicação, tudo possui um objetivo. Quando determinado refrigerante é anunciado, passa-se uma ideologia que visa mais consumo do produto. E assim por diante.

A moda também é carregada de ideologia. Pretende-se transmitir com ela uma variedade de valores que na realidade não são. Um exemplo é a ênfase no tipo de mulher idealizado pela sociedade ocidental contemporânea. A mulher deve ser magra, quase esquálida.

Aí então a indústria das dietas enfatiza esse pensamento e as mulheres se tornam escravas de uma série de atividades físicas e regimes alimentares para se alcançar o ideal em voga. Não se respeita a constituição física das pessoas, nem seu próprio metabolismo. Tudo para se encaixar na moda.

Esses são alguns exemplos apenas. Mas o campo mais grave é o da moralidade e dos conceitos de Deus. 

A moralidade de hoje não é a mesma de ontem. Francis Schaeffer escreve que se você dissesse há algumas décadas passadas para uma jovem para que ela se comportasse, ela saberia o que você estaria dizendo. Mas se você diz a mesma coisa nos tempos atuais, a resposta é uma expressão de interrogação.

O que significa "comportar-se" nos tempos atuais? Assim, vê-se que os padrões mudaram. O maior problema que percebemos é a respeito do pecado. Pecado é uma palavra que não existe mais na sociedade atual. Foi banida do vocabulário humano. Nada é pecado. Tudo é permitido. Faz-nos lembrar o refrão utilizado pelos coríntios: "Todas as coisas me são lícitas" (1 Co 6.12).

Essa maneira de pensar liga-se de modo inextricável com o conceito que se tem de Deus. Para o homem pecar à vontade precisa construir uma "teologia" (utilizada aqui em sentido depreciativo) que legitime seu comportamento. Isso não é novo. 

Nos tempos de Paulo o homem rejeitou a realidade de Deus enunciada pelas coisas criadas e "criou" seus próprios deuses (Rm 1.18-32).

Lemos no Salmo 14.1: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus." Como consequência: "Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem". Para praticar toda a sorte de procedimentos morais escusos, o ser humano precisa criar determinados conceitos de Deus que adaptem ao seu modo de agir.

O cristão, antes de sua conversão, também seguia o mesmo rumo da maioria. Era alguém que concordava com o que se veiculava na sociedade. Concordava com o modo de pensar e agir presente no mundo. Mas esse viver levava a mais pecado.

2. Segundo o príncipe da potestade do ar

O segundo agente do pecado e consequentemente da morte que agia na existência passada do cristão é um ente pessoal. Não se trata de uma força ou construção mítica, mas de um ser espiritual. É o diabo. Na vida dos "filhos da desobediência" ele atua livremente.

As pessoas são cativas dele. Não precisam estar possessas. Só o fato de não estarem com Deus faz delas campo de atuação do maligno. O pecado sempre foi uma indução do inimigo. Sua própria rebeldia pessoal não basta. Ele também quer que os seres humanos sejam rebeldes contra Deus.

No conceito da religiosidade popular é comum pensar que o diabo é o contrário de Deus. Ele é colocado, na mentalidade popular, na mesma altura de Deus, só que é do mal.

C.S. Lewis ensina corretamente que Satanás não é o oposto de Deus, mas o oposto dos anjos. Seu poder, apesar de grande, não se equipara ao de Deus, mas ao dos anjos. Portanto, é errôneo entender o maligno como oposto de Deus.

Porém, devemos estar cientes de que esse inimigo age, e age com ferocidade. Seu intento é manter os seres humanos alheios a Deus. Ele não quer que as pessoas se convertam e consequentemente se tornem livres de suas mãos. Seu objetivo é fazer com que homens e mulheres continuem a pecar e pecar, mantendo assim seu estado de morte espiritual.

Quando uma pessoa se converte a Cristo fica livre dessa escravidão (Cl 1.13).

3. Segundo as inclinações da nossa carne

Muitos devem ficar pasmos, mas a verdade é que o terceiro agente que nos leva a pecar é nossa carne. Carne aqui significa a nossa humanidade natural. O que somos por natureza. O "eu quero" existente no ser humano.

Atualmente em muitas igrejas evangélicas enfatiza-se a atuação do inimigo como o único responsável pela ação pecaminosa no homem. Mesmo quando se pratica determinados pecados, na verdade não é o homem o responsável, mas um espírito disso ou daquilo.

Paulo é bastante consciente da própria inclinação humana. Pecamos porque nos deixamos levar pelas inclinações da nossa própria carne. É verdade que os agentes do inimigo podem nos motivar para o pecado, mas ainda assim, a última palavra está conosco. Foi assim no Éden e será assim até a consumação dos séculos.

Quando falamos de inclinações de nossa carne devemos ter em mente as nossas próprias tendências para o pecado.

Não temos o direito de nivelar todos debaixo da mesma classe de pecado. Cada um sabe onde é mais vulnerável. O que não devemos esquecer é que somos responsáveis pelos pecados que cometemos.

O quadro exposto a pouco nos revela qual era o passado do cristão. Um passado de morte espiritual, no qual a morte física é apenas uma expressão desse relacionamento quebrado com Deus. Todos aqueles que confessam a Cristo como Senhor e Salvador estavam antes nessa situação terrível. Esse passado incluía tanto gentios como judeus, afinal "todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3.23).

II. A nossa realidade a partir da conversão (2.4-10)

A. Ressuscitados em Cristo Jesus (2.3-7)

No momento de nossa conversão ao Senhor, uma nova realidade se descortina em nossa existência. Um milagre acontece. Somos ressuscitados "juntamente com Cristo" (Ef 2.6).

Aquilo que aconteceu em termos físicos com Lázaro, aconteceu conosco em termos espirituais. Numa linguagem mais teológica, fomos regenerados, nascemos de novo.

A motivação para o Senhor fazer isso conosco pode ser vista a partir de três termos utilizados por Paulo que nos dão uma visão dos atributos do maravilhoso caráter de Deus: "misericórdia", "amor" e "graça". Vejamos com mais atenção:

1. Deus é rico em misericórdia (2.4a)

O que é misericórdia? Eis uma definição bastante simples e didática: Misericórdia é quando Deus não nos dá o que merecemos. Deve ficar bem claro que nesse contexto particular o que merecemos é a ira de Deus por causa de nossos pecados (Ef 2.3c). A única coisa que merecíamos era a ira de Deus sobre nós. E essa ira deveria recair sobre nós com toda justiça.

Mas descobrimos que a ira de Deus não exclui a sua misericórdia. E devido à sua misericórdia não somos destruídos (Lm 3.23-24,32-33). Aprendemos também que não são nossas obras de justiça que levam Deus a nos salvar, mas a sua misericórdia (Tt 3.5). Percebemos assim, que somos regenerados "para uma viva esperança" (1 Pe 1.3).

2. Com grande amor nos amou (Efésios 2.4b)

A misericórdia se relaciona com o amor de Deus. Devemos sempre ter na memória que Deus nos vivificou "por causa do grande amor com que nos amou" (Ef 2.4b). O ato concreto desse amor é exposto por Paulo em Efésios 5.2,25: "...como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós".

O amor de Deus se mostra na atitude de Jesus ao entregar a sua própria vida para nos salvar. Para sermos vivificados, o Senhor Jesus Cristo teve que entregar a sua vida, para então Deus nos vivificar juntamente com o seu Filho (Ef 2.5).

3. Graça salvadora (2.5c)

O terceiro termo é tão conhecido de nós como os outros dois. Quantas vezes o utilizamos? Quantas vezes o proclamamos? "A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens" (Tt 2.11).

Enquanto misericórdia é não dar o que merecemos, a graça é dar o que não merecemos. E o que é que não merecemos? A salvação. Mas Deus nos salva. Paulo afirma: "...pela graça sois salvos". A maravilhosa graça de Deus é motivo de louvor (Ef 1.6). Agradecemos a Deus pela riqueza de sua graça.

Somos assim ressuscitados com Cristo. Mas não somente ressuscitados; somos também elevados aos lugares celestiais. A obra de Jesus Cristo em toda a sua extensão é aplicada aos crentes. Mortos, ressuscitados e exaltados.

Mas por que Deus fez tudo isso? O texto responde que foi para mostrar por toda a eternidade como ele é rico em graça e em bondade (Ef 2.7). E tudo acontece em Jesus Cristo. Não existe qualquer possibilidade à parte de Jesus Cristo. Quem compreende a salvação que vem de Deus, só pode entender a partir de Jesus Cristo.

B. Salvos pela fé para produzir boas obras (2.8-10)

Em Efésios 2.8-10, o apóstolo se volve a falar da salvação pela graça, para desenvolvê-la um pouco mais. O elemento novo expresso no texto é o de que apropria-se da salvação somente pela fé.

A fé, de acordo com Colossenses 2.12, é o caminho pelo qual se chega à ressurreição com Cristo, e de acordo com Efésios 3.17, o caminho para que Cristo habite em nossos corações. Pela fé somos justificados (Rm 3.22; Fp 3.9) e chegamos à condição de filhos de Deus (Gl 3.26). Deve ficar claro que a fé é um dom, ou melhor, "dom de Deus". E isto quer dizer duas coisas:

  1. Esta salvação pela graça, que vem da fé, não procede de nós;
  2. Ninguém pode jactar-se de ser salvo por obras. Por obras de justiça ninguém será salvo. A glória pela salvação é exclusividade de Deus.

Porém, somos salvos para boas obras (Ef 2.10). As boas obras não são a causa de nossa salvação. Isso já foi dito no versículo anterior (2.9); somos salvos para produzir boas obras. No momento de nossa conversão somos regenerados e recriados por Deus. Somos novas criaturas.

E como novas criaturas, somos destinados por Deus para dar frutos, ou usando a terminologia do texto, "para boas obras". Não ficamos confusos ou desorientados no que concerne a boas obras, pois o próprio Deus as alinhou em nosso caminho para que nelas andássemos. Andar em boas obras. Viver produzindo boas obras.

A lista delas será enunciada pelo apóstolo principalmente nos capítulos 4 a 6 da carta. E a confiança que temos é promessa de que Deus nos tem provisionado com a habitação do Espírito Santo em nossos corações (Ef 1.13-14; 5.18). Em suma, somos homens e mulheres regenerados que formam agora a nova humanidade criada por Deus, para o louvor de sua glória.

Aplicações

  • O ser humano, no momento em que se converte ao evangelho, está sendo objeto da maravilhosa ação de Deus. É ressuscitado em Cristo Jesus e se assenta nos lugares celestiais com ele. Portanto, a Igreja de Deus é uma assembleia em que se reúnem os regenerados pelo poder do Senhor.
  • No nosso trato passado éramos levados a pecar cada vez mais. Estávamos envolvidos pelo modo de pensar deste mundo, conduzidos pelo príncipe da potestade do ar e andando segundo as inclinações de nossa própria carne. Agora, convertidos ao Senhor Jesus, somos libertos dessa tríplice escravidão. Isso nos proporciona uma nova vida, com novas perspectivas. Ser nova criatura significa que somos chamados para uma missão altamente gloriosa, somos chamados para mostrar ao mundo que Deus agiu em nossa vida e que age na vida daquele que inicia caminhada em Cristo. Somos novas criaturas. Formamos uma nova humanidade.
  • Paulo, orando pelos seus leitores, pede a Deus que eles tenham os olhos iluminados para compreender a riqueza do chamamento divino. Quando entendemos a profundidade da nossa vocação, nos tornamos aptos para viver de maneira correta as implicações espirituais colocadas diante de nós pelo Senhor. Para apreciar melhor isso, devemos ler com muito vagar e meditação a carta aos Efésios.
  • O Senhor coloca boas obras diante de nós. Sob a orientação e capacitação do Espírito Santo realizamos a vontade do Senhor. O rebelar-se contra Deus faz parte da vida daqueles não conhecem o Senhor Jesus, mas boas obras é algo inerente ao cristão.

Autor: Rev. José Roberto Corrêa Cardoso


Lista de estudos da série

1. Arrependei-vos e Crede: Entendendo o Chamado Original de Jesus – Estudo Bíblico sobre a Conversão

2. Que Tipo de Solo é o Seu Coração?: A Chave para uma Conversão que Dá Frutos – Estudo Bíblico sobre a Parábola do Semeador

3. Muito Além do Filho Pródigo: Descobrindo o Coração do Pai para os Perdidos – Estudo Bíblico sobre a Graça Divina

4. O Segredo que Nicodemos Não Entendeu: Como Funciona o Novo Nascimento – Estudo Bíblico sobre a Regeneração

5. A Sede que a Água não Mata: A Transformação da Mulher Samaritana – Estudo Bíblico sobre a Adoração Verdadeira

6. De Um Carro no Deserto ao Coração do Reino: A Conversão do Eunuco Etíope – Estudo Bíblico sobre a Ação de Deus

7. Deus Abre Portas e Corações: A Conversão de Lídia e o Poder do Evangelho – Estudo Bíblico sobre Hospitalidade e Missão

8. Do Império das Trevas para o Reino da Luz: A Anatomia da Sua Conversão – Estudo Bíblico sobre o Antes e o Depois

9. Cuidado com o "Algo a Mais": Como se Manter Fiel ao Evangelho Original – Estudo Bíblico sobre a Suficiência de Cristo

10. Convertidos para Esperar: O Retorno de Jesus como Foco da Nova Vida – Estudo Bíblico sobre a Esperança Cristã

11. De Escravo a Irmão: Como o Evangelho Derruba Barreiras Sociais – Estudo Bíblico na Carta a Filemom

12. Você Tem Certeza?: Os Sinais Inconfundíveis da Verdadeira Conversão – Estudo Bíblico sobre a Vida Eterna

13. Quando a Conversão Acontece de Verdade: As Evidências Práticas na Vida e nas Finanças – Estudo Bíblico sobre a Transformação Real

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