Texto da lição: Carta aos Colossenses
Introdução
Você é capaz de identificar alguns modismos evangélicos atuais? Talvez o primeiro possa ser qualquer grupo definir-se como evangélico. Não podemos ficar para trás! Temos de nos modernizar! Essa conversa não é nova, como o estudo de Colossenses revela.
Preste atenção. Vamos ver o que significa, na opinião de Deus, progredir na vida cristã.
I. As implicações da conversão dos colossenses ao Senhor (1.13-14)
O evangelho chegou aos colossenses por intermédio de Epafras (Cl 1.7). Ao ouvir o evangelho eles entenderam a graça de Deus (Cl 1.6). No texto de Colossenses 1.13-14, Paulo escreve sobre os atos salvíficos em favor de seus leitores (nós estamos incluídos):
A. Libertação do poder das trevas (1.13a)
Paulo utiliza aqui a linguagem do Êxodo. Como Deus libertou Israel da servidão do Egito, Deus agora nos liberta da escravidão das trevas. Nesse império o dominador é Satanás. Sua ação é descrita em Efésios 2.2. Satanás atua opressivamente nos filhos da desobediência.
Mas quando nos convertemos a Cristo seu poder sobre nós cessa. Fomos arrancados de seu domínio como Israel foi libertado das mãos do Egito. O ministério evangelístico de Paulo é considerado como o ato de chamar os gentios à conversão das trevas para a luz, da potestade de Satanás para Deus (At 26.16-18).
B. Transportados para o reino do Filho do seu amor (1.13b)
Aprendemos pelos evangelhos que Jesus é o Filho amado de Deus. Essa declaração é feita por ocasião de seu batismo (Mc 1.11). Com a declaração, vem a unção do Espírito Santo.
Assim, a medida que Jesus segue atuando, o seu reino vai se estabelecendo (A obra de Cristo se completou com sua morte e ressurreição). Cada exorcismo efetuado, mais Satanás é despojado.
Nas palavras de Jesus: "Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós" (Lc 11.20). O texto de Colossenses 1.13b expressa essa mesma realidade.
Na conversão o crente é transportado do império das trevas para o reino do Senhor. O termo transportar significa literalmente remover de um lugar para outro, e era usado para descrever a deportação de um grande grupo de homens para formar uma nova colônia. No caso, para formar a Igreja.
C. Tendo em Jesus Cristo a redenção (1.14a)
O que tornou possível a nossa transferência do império das trevas para o reino do Senhor foi a obra redentora de Jesus Cristo. O termo redenção significa libertação completa baseada no pagamento de um preço, liberdade por meio de resgate. Era a soma paga pela qual prisioneiros ou escravos eram postos em liberdade.
Esse uso do termo aparece em passagens como Êxodo 34.20; 13.13,16; Números 18.15, onde os primogênitos dos homens e dos animais, que pertencem a Deus, eram libertados desta obrigação pelo pagamento de um preço. O preço pago pela nossa redenção foi o sangue de Jesus (Rm 3.25; 1 Pe 1.17-21).
D. A remissão de pecados (1.14b)
Em Jesus Cristo é concedido aos crentes o perdão de pecados. Os pecados do ser humano o afastam da plena comunhão com Deus (Is 59.2).
O próprio Satanás utiliza-se dos pecados dos homens para os acusar diante do Senhor. Em Zacarias 3 o profeta relata uma visão em que aparecem o sumo sacerdote Josué diante do Anjo do Senhor e Satanás à sua direita o acusando (Zc 3.1).
A intenção satânica é desprestigiar Josué diante de Deus lembrando dos pecados cometidos por ele. O Senhor repreende Satanás e lava as vestes do sumo sacerdote Josué declarando que suas iniquidades foram retiradas (Zc 3.2-5). Deus torna assim sem efeito a acusação do inimigo.
Ao sermos transportados para o reino de Cristo temos também nossos pecados cancelados, neutralizando assim toda munição diabólica contra nós. Para confirmar os crentes, Paulo escreve: "...tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós..." (Cl 2.14a). Com isso Jesus nos torna santos e inculpáveis diante de Deus (Cl 1.22).
II. A permanência dos colossenses no evangelho do Senhor (2.6-7)
Podemos de certo modo dizer que no texto de Colossenses 1.1-23 temos o conteúdo e as implicações do evangelho apresentado aos colossenses por Epafras. Nós vimos apenas alguns elementos disso e assim pudemos vislumbrar as bênçãos contidas e decorrentes do evangelho. Mas a carta que Paulo escreve aos colossenses tem um forte apelo.
O apelo é para que seus leitores não se deixem afastar das verdades expressas no evangelho. Deve ficar bem claro em nossa mente que os colossenses não estavam abandonando a vida espiritual para se tornarem devassos ou qualquer coisa do tipo.
Não, a preocupação deles era a de acrescentar "algo mais" à fé recebida e confessada. Desejavam crescer mais. Experimentar novas dimensões baseadas em "visões de anjos" (Cl 2.18). Desejavam ser superespirituais.
Querer ser mais consagrado ao Senhor não é uma coisa ruim. Mas isso deve ser feito com base no evangelho puro e sem distorções. O anseio pelo "algo mais" abria a possibilidade de fazer os colossenses se afastarem do evangelho.
Com essa preocupação diante de si, Paulo escreve: "...mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes..." (Cl 1.22-23).
Notemos que a verdadeira espiritualidade se expressa não por aderir às novidades, mas em permanecer no evangelho simples que um dia foi por nós recebido.
Paulo usa três metáforas para enfatizar a necessidade dos crentes permanecerem firmes no Senhor.
A primeira, "radicados", é tirada do mundo vegetal. Estarmos "enraizados" é estarmos firmemente fixados. Como uma árvore cujas raízes estão bem fundas na terra. O termo sugere um estado presente resultante de uma ação no passado. Uma vez plantado continua plantado.
A segunda, "edificados", é tirada do mundo da arquitetura. Trata-se de uma construção cujo fundamento não pode ser outro além de Jesus Cristo. Essa construção também continua a ser edificada (1 Co 3.10,12).
A terceira, "confirmados", é um termo do âmbito forense que significa "fazer firmes" ou "estáveis". Em outras palavras, o que uma vez foi ratificado em nada deve ser mudado. Além disso, os crentes são encorajados a levar uma vida cheia de ação de graças, característica do ensino de Paulo sobre a vida cristã (Cl 1.3,12; 3.15b,16,17; 1 Ts 5.13; Fp 4.6).
Em tal ensino nada há de novo ("como fostes instruídos"). E só manutenção do que foi recebido. Isso é andar no Senhor.
III. A vida digna dos convertidos ao Senhor (1.10)
O anseio de todo verdadeiro convertido é levar uma vida que agrade a Deus. É o próprio Deus que faz brotar isso no coração de seus filhos (Fp 2.12-13). Ao escrever aos colossenses, Paulo sabe de seus anseios. Mas quer direcionar corretamente esse entusiasmo. Daí as suas orientações práticas de como viver uma vida cristã aprazível a Deus.
De início deve ficar bem claro que regrinhas humanas e ênfase no ascetismo não funcionam. Em Colossenses 2.16-17 Paulo relativiza o que muita gente achava indispensável para se alcançar as alturas na vida cristã.
Vai além, ninguém tem o direito de julgar os outros "por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados..." (Cl 2.16). Toda essa preocupação com comensalidades e calendário não ajuda. Essas coisas não passam de sombras das vindouras, que são muito superiores.
Não adianta também fazer um programa detalhado disso e daquilo em nível ascético, o que pode ser tocado e o que não (Cl 2.20-23).
No momento de se enfrentar a sensualidade, esse tipo de atitude em nada ajuda: "...todavia, não têm valor algum contra a sensualidade" (Cl 2.23). Para o apóstolo isso tudo tem somente aparência de piedade, mas no fundo não é (Veja novamente Cl 2.23).
O que tem valor como verdadeira prática de vida cristã é enunciado nos capítulo 3 e 4 da epístola aos Colossenses. O trecho de Colossenses 3.1-4 nos ensina o modo correto de pensar. Uma transformação radical deve acontecer na mente do convertido a Cristo.
Ele deve refazer sua maneira de pensar. A seguir vem uma lista de vícios que devem ser abandonados. A lista inicia com pecados sexuais e se encerra com pecados da língua.
Os primeiros acabam merecendo muito mais atenção que os últimos em nossas igrejas (Cl 3.5-11). Mas estes são tão danosos quanto aqueles.
Os que cometem pecados contra a pureza sexual são, em geral, logo disciplinados, mas os que cometem os pecados da maledicência são tolerados; no entanto, estes acabam sendo uma constante erva daninha a infestar as igrejas. Para todos esses vícios só existe uma solução: "Fazer morrer a 'nossa' natureza terrena" (Cl 3.5).
Mas a prática da vida cristã não é só formada de aspectos negativos. Existem virtudes a serem exercitadas e desenvolvidas. Paulo faz uma lista em Colossenses 3.12-17. São atitudes e sentimentos que devem permear a nossa vida. E cada vez que exercitamos, mais capacitados nos tornamos para repetir e crescer nessas virtudes.
Note que todas essas virtudes dizem respeito ao âmbito comunitário. Devemos expressá-las uns com os outros: "...suportai-vos uns aos outros... perdoai-vos... instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente...".
Vida espiritual não é para ser vivida somente no particular dos momentos devocionais, mas também em comunidade. Essa lista de virtudes se encerra com uma explosão de ação de graças, ingrediente que funciona como sal, realçando o sabor da existência cristã (Cl 3.17).
Da prática comunitária, Paulo passa aos deveres em família (Cl 3.18-21). E o âmbito dos relacionamentos. Esposas e maridos; maridos e esposas; filhos e pais; pais e filhos. A nota contínua dessa melodia é que cada qual deve respeitar o outro em sua posição. Deve fazer isso diante do Senhor (Cl 3.20b).
As diferenças sociais ("servos e senhores") na comunidade cristã são relativizadas (Cl 3.22-4.1). O servo já não age somente sob as vistas de seu senhor. Ele agora serve a Deus. Por outro lado, o senhor não deve ser dominador e opressor, pois também tem Senhor no céu.
O cristianismo ainda nascente não possuía força política para pôr abaixo essa instituição, mas dentro da igreja podia transformá-la, e foi o que fez. Em Cristo já "não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos" (Cl 3.11).
As últimas disposições práticas se referem ao âmbito devocional e de missão. Aí são incluídas a oração e a intercessão, bem como o incentivo ao testemunhar do cristão (Cl 4.2-6). Fazer isso é viver uma vida de verdadeira conversão.
Aplicação
- Quando nos convertemos a Jesus Cristo, fomos transportados do império das trevas para o reino de seu Filho amado. Fomos libertados das garras do inimigo para servir com alegria ao Senhor. Todo e qualquer pacto anterior a isso foi quebrado. Por isso não precisamos quebrar maldições remanescentes. Elas foram extintas por Deus em Jesus Cristo no momento de nossa conversão. As nossas vestes sujas foram lavadas e nossos pecados perdoados. O que deve brotar de nosso coração é o jorrar de ação de graças porque Deus faz tudo por completo. Não fica devendo nada em termos de salvação.
- O anseio por uma maior consagração espiritual pode ser uma armadilha para cairmos nas ciladas humanas que criam doutrinas estranhas ao evangelho. Muita gente procurando "algo mais" acabou por se desviar do caminho que uma vez iniciaram. Nunca devemos trocar o certo pelo duvidoso em matéria de espiritualidade. Paulo orou ao Senhor para que seus leitores tivessem "pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor" (Cl 1.9-10). A vontade de Deus para uma vida digna reside de maneira clara nos capítulos 3 e 4 da carta. Não há necessidade de êxtases e aprofundamentos misteriosos.
- No seio evangélico, de tempos em tempos surgem modismos que procuram "santificar" melhor os crentes. Práticas estranhas são recitadas nos corredores das igrejas. Coisas sem fundamentos. Quem não se lembra da prática de rodar discos ao contrário nos anos 80? Diziam que fazendo assim poderia se ouvir palavras blasfemas e outras do mesmo nível. Hoje isso se tornou mais difícil com o uso de CD player. Mas outras modas podem surgir. Tudo isso acaba desviando do essencial e prioritário para o que é relativo e sem muito valor. Paulo nos adverte dizendo: "Ninguém, pois, vos julgue..." (Cl 2.16; veja ainda Cl 2.20-23).
- Viver como convertido é viver de modo digno do Senhor. Devemos fazer morrer nossa natureza terrena e dar pleno lugar à nova vida que temos como "eleitos de Deus, santos e amados". Em tudo devemos mostrar que Jesus Cristo é o Senhor. E consequentemente, Deus é glorificado.
Autor: Rev. José Roberto Corrêa Cardoso
Lista de estudos da série
1. Arrependei-vos e Crede: Entendendo o Chamado Original de Jesus – Estudo Bíblico sobre a Conversão
11. De Escravo a Irmão: Como o Evangelho Derruba Barreiras Sociais – Estudo Bíblico na Carta a Filemom