Lucas 5.29-32
Nesta lição analisaremos 11 exemplos de obras de Jesus que somos chamados a realizar de modo diferente daquele realizado por nosso mestre.
Em cada um desses exemplos você poderá observar três características:
- Jesus se referiu a necessidades humanas genuínas que continuam até hoje;
- Jesus exerceu sua autoridade de maneira absoluta, com o poder do seu mando;
- houve uma mudança de método, ou seja, hoje realizamos as mesmas obras, mas mediante o ensino da fé e do arrependimento.
1 - Pagar impostos
Jesus e Pedro pagaram seus impostos de maneira pouco usual (Mt 17.24-27). Nesse exemplo, o método de poder de mando serviu a um propósito explícito de ensinamento.
O próprio Senhor não precisava pagar impostos em seu próprio templo, mesmo assim, para não ofender ninguém, ele pagou o imposto de uma maneira que revelava quem ele era.
Outras passagens das Escrituras nos ordenam a pagar nossos impostos pressupondo que usaremos métodos mais normais. Note que a ideia de uma mudança no método entre o que Jesus faz e o que nós devemos fazer realmente não é uma dedução proveniente do nada.
As Escrituras não nos dão nenhuma ordem para não controlar a natureza por meio da palavra de poder e conseguir o dinheiro para os nossos impostos. Mas é evidente que tal prática constitui um absurdo.
2 - Pescar peixes
Em outras duas ocasiões Jesus usou esse método autoritário de poder de mando para dirigir "as pescarias" dos apóstolos (Lc 5.4; Jo 21.3-6).
Em ambos os casos, os pescadores haviam trabalhado toda a noite, mas não conseguiram pegar nada. Jesus usou o seu poder para abençoar as pessoas aflitas, amenizando a desventura do trabalho infrutífero.
Em ambos os casos, a ordem de Jesus resultou numa pescaria tremenda. O reconhecimento de que só Jesus tinha tal poder trouxe reações variadas.
Pedro foi humilde no primeiro caso: "Afasta-te de mim, Senhor; eu sou um pecador". No segundo caso, jogou-se na água em grato e jubiloso reconhecimento.
Em ambos os casos, o método de Jesus tinha um propósito específico. No caso da pescaria, como no caso do pagamento de impostos, Jesus ordenou aos seus apóstolos que fizessem algo que revelava o seu controle sobre o mundo natural.
Devemos seguir seu método? Aqui não temos uma ordem direta, apenas o exemplo dos apóstolos. Quando Jesus não estava fisicamente presente, eles pescavam como sempre faziam.
Assim como no exemplo do pagamento de impostos com o dinheiro encontrado na boca do peixe os apóstolos pescaram utilizando o método de confronto de poder, sendo eles somente testemunhas e beneficiários do comando direto de Jesus.
3 - Caminhar sobre as águas
Os evangelhos registram que Jesus e Pedro caminharam sobre o Mar da Galileia (Mt 14.24- 33). Jesus caminhou sobre as águas porque ele era o criador dos céus e da terra, formador das águas.
Já Pedro caminhou sobre as águas por intermédio da fé em Jesus respondendo à ordem da fé. Jesus o salvou e então o repreendeu. Jesus usou esse evento como uma demonstração viva da natureza da fé. O confronto de poder também estimulou diretamente a fé (v. 33).
Atualmente questões similares de fé estão sempre presentes. Mas agora geralmente expressamos nossa fé quando estamos quase naufragando em meio ao sofrimento das águas profundas, em vez de caminhar sobre as águas.
4 - Alimentar os famintos e dar água aos que tem sede
Fome e sede estão abrigando males circunstanciais. Seca, espinhos, gafanhotos, injustiça social, invasão de inimigos e preguiça podem levar à provação e até mesmo à morte.
O Senhor Deus, como um juiz, fez-se conhecido trazendo esses males àqueles que se afastaram dele. Como Salvador, Deus se tornou conhecido suprindo as necessidades daqueles que se refugiaram nele.
Por vezes, ele usou confrontos de poder: o maná, as codornizes, as aves de rapina de Elias, as botijas de farinha de azeite da pobre viúva.
Outras vezes, usou demonstrações ordinárias de soberano poder: a terra que jorrava leite e mel, a notoriedade de José no Egito, a sincronia do tempo de aridez e chuva.
Em duas ocasiões, o modo de Jesus aliviar esse mal foi orar e então multiplicar pequenas quantidades de comida de forma que pudesse alimentar vastas multidões.
E, certa vez, ele transformou água em vinho para abençoar uma celebração. Jesus usou esse modo para realizar três coisas: revelar-se como o Senhor, fazer o bem tangível às pessoas e fazer um convite à fé.
O milagre do vinho em Caná, por exemplo, levou as testemunhas a ponderarem sobre o Salmo 104.15, o Senhor produziu "o vinho que alegra o coração do homem". Jesus manifestou seu divino poder de forma espetacular.
Em João 6, temos a discussão mais longa sobre os propósitos do método de confronto de poder. Dar dinheiro aos pobres também poderia alimentar as pessoas famintas, um método que Jesus evidentemente usava como rotina.
Mas alimentar os famintos a uma ordem sua era um ato de amor em si, provendo sustento para essa vida temporal.
E o milagre também oferecia uma oportunidade para ensinar sobre necessidades humanas mais profundas. O pão que sustentava a vida temporal por um dia apontava para o verdadeiro pão que garantia a vida eterna.
O que Jesus fez alimentando as cinco mil pessoas tipifica outros exemplos. O método de poder de mando atraiu grande atenção, revelando que Jesus era, no mínimo, um profeta do Senhor e talvez fosse o próprio Senhor.
Assim como Deus havia enviado maná aos israelitas no deserto, assim agora as pessoas comiam pão obtido de maneira extraordinária.
O método de Jesus de ataque ao mal circunstancial tinha sempre o foco triplo de ser um ato de amor genuíno às pessoas necessitadas, de revelar que ele era Deus e o Cristo encarnado e de inspirar a fé que as pessoas devem ter.
5 - Falar com a autoridade de Deus
Como os humanos expressam a autoridade de Deus? Jesus falou com autoridade própria и direta, dizendo "Eu te ordeno". Ele não falou "como os escribas e fariseus" ou como nós falamos.
Embora tenhamos autoridade, não falamos da mesma maneira que Jesus fazia. Nossa autoridade se fundamenta basicamente em "A Bíblia diz...", "o Senhor diz...".
Essa atitude não é de fraqueza nem impessoal, podemos acrescentar a essas palavras um pouco de seriedade e urgência: "No nome de Jesus, eu solenemente te ordeno, te declaro...".
A autoridade do Senhor pode até mesmo estar encoberta: "Você está se matando com o que você crê e com o modo como vive. Arrependa-se ou você morrerá". Em qualquer caso, a nossa autoridade é derivada, não é nossa.
Jesus falou com autoridade de primeira pessoa, mas nós não devemos ousar falar daquela maneira, caso contrário estaremos pecando.
6 - Chamar ao ministério
Como Jesus chamou as pessoas ao ministério? Ele localizou o futuro discípulo e disse: "Deixe os seus impostos, deixe suas redes, venha comigo".
Jesus falou, os apóstolos obedeceram. Mais tarde, um confronto de poder de Jesus cegou a Saulo e o derrubou no chão: "Levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer" (At 9.6).
Jesus usou o método de poder, de mando com autoridade irrestrita. Nós também devemos chamar as pessoas e ouvir o chamado ao ministério. Não usamos o método de poder, de mando, mas atendemos para as diretrizes bíblicas (lTm 3).
7 - Perdoar os pecados
Há semelhanças e divergências notáveis entre Jesus e nós no que se refere a lidar com pecados. A semelhança está na questão da necessidade: sempre há pessoas a serem perdoadas.
Mas Jesus lida com os pecados dos outros de forma bem diferente da que nós lidamos.
Ele providencia uma reconciliação substitutiva; ele, na realidade, perdoa em favor deles. Ele pode dizer "Pai, perdoa-os" com autoridade porque fala como o único que ganhou direito de perdoar as pessoas, derramando seu próprio sangue por eles.
O exorcismo derradeiro e fundamental ocorreu na cruz (Jo 12.31-32), quando o poder de Satanás para nos manter em escravidão ao pecado e à morte foi destruído. A divergência entre o método de Jesus e o nosso é que nós não morremos pelo pecado.
Nós não criamos as condições objetivas para o perdão. Mas o ponto da semelhança é que, nós perdoamos as pessoas como Deus tem nos perdoado (Ef 4.32).
8 - Combater e amaldiçoar o pecado
O outro lado de lidar com o pecado também exemplifica a mudança de método. Jesus e os apóstolos introduziram a ira, que se espalhou imediatamente. Por exemplo, Jesus disse à figueira: "Nunca mais dê frutos!".
A árvore secou e morreu instantaneamente. Pedro citou os pecados de Ananias e Safira, que imediatamente caíram mortos. Esse confronto de poder lida com o mal moral, trazendo à tona o mal circunstancial como consequência imediata.
Jesus fala diretamente com sua autoridade própria; nossa autoridade é limitada e derivada.
9 - Ressuscitar os mortos
Ressuscitar os mortos é o supremo ataque ao mal circunstancial, pois a morte é a consequência final de todos os outros males.
Jesus ressuscitou os mortos tanto pelo extraordinário método de poder de mando como pelo método normal de dependência na fé.
Em sua batalha de compaixão contra o derradeiro mal circunstancial, ele ordenou, "jovem eu te ordeno, levanta-te" e "menina, levanta-te" e "Lázaro, vem para fora!".
Mas ao encarar o seu próprio chamado moral à obediência até à morte, ele creu (Lc 9.22) e se entregou àquele que julga com retidão.
Como nós ressuscitamos os mortos? Usamos o segundo método, dizendo: "Creia no Senhor Jesus Cristo, que é a ressurreição e a vida. Se você crer nele, viverá mesmo se morrer. E se você viver e crer nele, nunca morrerá".
Semelhantemente, entregamos nossas almas ao criador fiel.
Os três confrontos de poder de Jesus com a morte deram amostras de amor e sinais de poder divino que foram surpreendentes, mas temporais. Quanto a nós, devemos ressuscitar todos os que acreditam em Cristo com a pregação de seu evangelho.
10 - Controlar as condições meteorológicas
Os dois exemplos finais são os mais enfatizados porque a Bíblia os relaciona intimamente com o ministério da expulsão de demônios.
Como não dependemos diretamente das condições meteorológicas, a sociedade moderna não se preocupa muito com a meteorologia, a não ser que o tempo lhe traga transtornos. Mas devíamos nos importar, porque ele afeta a vida humana e Deus diz repetidamente que ele o controla.
Jesus realizou um confronto de poder com o mal circunstancial quando lidou com o tempo (Mc 4.35-41). Ele estava dormindo num barco quando uma forte tempestade o acordou. Jesus falou ao vento e ao mar: "Acalma-te, emudece!". Sua ordem acalmou a tempestade imediatamente.
Nós aprendemos o modo de lidar com o tempo por meio de muitas passagens que nos mostram como Deus controla as condições climáticas e como o povo de Deus intercede por isso.
Jesus, no episódio do barco que afundava, utilizou o método de poder de mando; nós utilizamos o método de dependência de um pedido, rogando ao nosso Pai que opere com poder. Eles são diferentes, mas têm efeitos igualmente fortes.
Uma comparação de Marcos 4.35-41 com Marcos 1.23-28 demonstra como o poder de Jesus sobre o tempo se relaciona explicitamente com o seu poder sobre os demônios.
As passagens são virtualmente idênticas no tema e nas palavras. Há, pelo menos, sete paralelos.
- Primeiro, ambos os males perturbam a Jesus, tanto o espírito como a ventania.
- Segundo, Jesus deu ordens e os repreendeu diretamente.
- Terceiro, Jesus ordenou a mesma coisa em ambos os casos: "Cala-te" e "emudece".
- Quarto, tanto o demônio quanto a ventania obedeceram instantaneamente a ordem de Jesus.
- Quinto, as testemunhas ficaram surpresas e espantadas.
- Sexto, em ambos os textos o povo disse: "Quem tem essa autoridade? Quem é esse homem?".
- E sétimo, as testemunhas comentavam o que viam.
O método de mando, do poder de Jesus, é igual em ambos os casos, porque tanto os demônios como os ventos são prejudiciais.
11 - Curar doentes
A cura de doentes e a expulsão de demônios são repetidamente colocadas na mesma categoria. A doença é um grave mal, um prenúncio de morte.
Jesus foi movido pela compaixão para aliviar o sofrimento físico. Ele trouxe tanto o alívio quanto a alegria aos aflitos.
As curas eram repetidamente relacionadas ao chamado de Jesus para depositar fé nele como aquele que é capaz de sarar as feridas. O método de poder, de mando compeliu muitos à fé; também fortaleceu a incredulidade de outros, crescendo a intenção de matá-lo.
Nós também devemos usar o método de mando para curar? A Bíblia nos instrui a fazer o contrário. O método normal de cura sempre é apresentado pela oração, depositando total confiança em Deus e então utilizar os recursos médicos.
A fé piedosa em Deus, aquele que cura, é a base de tudo. Um bom exemplo é a situação vivida pelo rei Ezequias (Is 38). Quando ele estava à porta da morte, orou e pediu a Deus misericórdia.
Deus, então, lhe concedeu mais 15 anos de vida. Da promessa seguiu-se um tratamento médico ordinário, a aplicação de pasta de figo com emplasto sobre a úlcera (38.21). Em contrapartida, o rei Asa ficou gravemente enfermo dos pés e não buscou a ajuda de Deus, mas só confiou nos médicos (2Cr 16.12-13).
Conclusão
O método de lidar com os sofrimentos causados pelos demônios volta ao método clássico: viver uma vida de fé, digna de aceitação e de zelosa obediência em meio aos sofrimentos da vida.
Mas, atualmente, os ministérios de libertação de demônios estão baseados em dois erros.
Primeiro, interpretam mal os textos bíblicos e falham em distinguir entre o mal moral e o mal circunstancial. Expulsam "demônios" de mal moral, um método que não se encontra em parte alguma das Escrituras.
Segundo, não levam em conta a alternância do método comum de poder de mando para o método clássico.
Nos 11 exemplos listados acima pudemos observar a grande diferença de um combate espiritual verdadeiramente bíblico e um fictício, conforme ensinado pelas libertações demoníacas da atualidade.
Aplicação
Medite no poder soberano de Jesus, o qual transformou o seu coração. Seja um cristão mais agradecido a Deus e desenvolva cada vez mais uma fé que se deposita somente no poder de Jesus.
Autor: Mauro Filgueiras
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