Lucas 17.20-37
Por que Jesus usou o método extraordinário? Será que aquele método de expulsar os demônios já está ultrapassado como o maná que caía do céu?
Caso realmente seja, o que devemos fazer quando conhecermos alguém com experiências no ocultismo?
O que faremos quando encontrarmos um profundo, até mesmo sobrenatural, mal moral que escravize a vida interior de uma pessoa?
1 - Por que Jesus expulsou demônios?
Após uma primeira análise, pode-se dizer que Jesus fez bem às pessoas endemoninhadas. O menino que tinha convulsões provocadas pelo demônio encontrou alívio. O homem quase louco, continuamente atormentado, foi encontrado calmo, vestido e em sã consciência.
A mulher que andava curvada passou a andar ereta. A mulher cuja filha endemoninhada tinha sofrido cruelmente encontrou a cura para isso. O homem que era cego e não falava passou a falar e ver. Jesus mostrou que ele é aquele a quem os espíritos malignos devem obedecer.
Mas o método de expulsão de demônios não só fez o bem como revelou a identidade de Jesus e provocou debate animado sobre fé e incredulidade.
Alguns acreditaram e se regozijaram. Outros endureceram os seus corações, blasfemaram contra o poder do Espírito Santo e acusaram Jesus de ter parte com o diabo.
Assim, os confrontos de poder de Jesus são parábolas encenadas. Deram uma amostra do paraíso de maneira que as pessoas pudessem se arrepender de seus pecados e acreditar no Salvador.
Jesus usou um método adequado para despertar a fé de modo que pudesse sujeitar os mais fortes e derribar o reino de pecado. A concretização total do método de confronto de poder virá quando Cristo voltar para estabelecer seu reino no céu.
Isso explica por que a Bíblia não ordena nem nos instrui sobre a utilização do MME (Ministério do Método Ecbalístico) No evangelho de Lucas, há uma alternância entre as narrativas históricas, as poderosas obras e as palavras de Jesus.
Alguém poderia pensar que Jesus ensinaria como realizar obras pelo método de poder de mando, mas ele não o fez. Todo milagre ensina sobre quem Jesus é, desperta a fé ou provoca controvérsia.
Mas quando Jesus ensina, ele ensina sobre o método clássico da vida cristã e batalha espiritual: arrependimento, fé, compromisso com ele, amor, o uso da língua, vigilância, reconciliação, integridade, identificação de falsos mestres, correto uso do dinheiro, oração e assim por diante.
Jesus não diz nada sobre como operar milagres. Nada sobre demônios do pecado. Nada sobre os cristãos expulsarem demônios de si mesmos como meio de resolver problemas pessoais e crescer como crentes.
Nada sobre libertar novos convertidos por meio de algo mais profundo do que arrependimento e fé. Em vez disso, Jesus ensinou sobre as mesmas questões já tratadas anteriormente no Antigo Testamento e depois abordadas também nas epístolas.
Leia Mateus, Marcos, Lucas e Atos com essa perspectiva em mente. Note como constantemente a Bíblia inclui declarações e histórias que revelam o propósito do método de poder de mando.
Com quase todo milagre, somos levados a entender seu propósito, mas não nos é ensinado como fazê-lo. O método de libertação serviu para atestar, declarar, credenciar, prestar testemunho e confirmar (Lc 7.18-23). Mas também serviu para identificar os mensageiros autorizados por Jesus para estabelecer a sua igreja (At 2.43).
2 - O MME não nos é ordenado?
Não há nenhuma ordem direta da Bíblia para utilizarmos o MME, nem mesmo para aliviar o sofrimento. Mas o que dizer de aflições demoníacas que precisam de cura?
Haverá alguma razão para se esperar uma troca de método para o método clássico de enfrentar e lidar com o mal circunstancial? Algumas passagens da Bíblia dão alguma garantia para a continuidade de expulsão de demônios a fim de aliviar aflições causadas por demônios?
O texto de Marcos 16.17-18 é o que mais dá a entender a continuidade do método MME. O argumento dos que defendem a continuidade do método é: "Se o diabo e os demônios são fatores que não devem ser considerados, nós não precisamos expulsar demônios."
"Se o diabo e os demônios ainda são fatores a se considerar, precisamos expulsá-los". Só que se esquecem de levar em conta que o diabo e os demônios ainda podem ser um fator, mas que o MME não seria o método adequado a ser utilizado.
Na melhor das hipóteses, Marcos 16 é ambíguo em relação ao uso de métodos de expulsão de demônios. Poderia ser lido como se esses vários sinais fossem acompanhar todos que acreditassem na mensagem dos apóstolos.
Nesse caso, deveríamos realizar a expulsão de demônios para curar aflições causadas por espíritos.
Porém, pode ser interpretado para significar que os sinais vão acompanhar os apóstolos enquanto proclamarem que aquele Jesus é o Senhor. A fé e a incredulidade dos apóstolos são observadas ao longo do capítulo 16.9-20. E no v. 20, os apóstolos acabam de obter a confirmação de suas mensagens por meio dos sinais que se seguiram.
Assim, tendo por objetivo os apóstolos, Marcos 16.17 simplesmente se enquadra dentro da noção de que houve uma mudança geral no método de Jesus e dos apóstolos.
Confrontos com os demônios provaram que Jesus é o Cristo e que os apóstolos eram os representantes de Cristo. Não há nenhum argumento convincente para dizer que Marcos 16.17 concorda que devamos fazer o que os apóstolos fizeram.
Além da ambiguidade e do fato de que talvez essa interpretação mais provável seja coerente com a troca de método, Marcos 16.17 tem outras características que estão causando problemas para uma interpretação do MME.
Temos de considerar essa passagem como um todo e não como um conjunto de nossos versículos favoritos. Porém, o que dizer das questões carismáticas: línguas e curas?
Muitos dos principais defensores do MME são anticarismáticos. Um de seus líderes chegou até mesmo a dizer que o dom de línguas é uma fraude demoníaca e que os espíritos de línguas tinham que ser expulsos.
Quanto aos carismáticos e aos não carismáticos, o que pensam eles sobre serpentes e venenos mortais? O apóstolo Paulo foi picado por uma víbora venenosa e não sofreu mal algum (At 28.3-6). Esse fato se tornou um incentivo à proclamação do evangelho em Malta.
Outras cinco passagens nos evangelhos e em Atos descrevem práticas de expulsão demoníaca dos discípulos de Jesus e de outras pessoas, mas nunca nos dizem para fazer o mesmo.
A questão ensinada nessas passagens, brevemente descrita abaixo, ocupa um lugar diferente que frequentemente reduz a importância do movimento MME.
A primeira delas está em Mateus 7.20-23 e faz menção às atividades de expulsão demoníaca dos malditos como algo que os desviou das questões morais e do método clássico que Jesus ensinou no sermão do monte.
A segunda, em Marcos 9.38-40 descreve um homem que não era discípulo e que expelia demônios. Jesus usou essa oportunidade para repreender o orgulho dos discípulos e encorajar as pessoas a lidarem com seus pecados.
A terceira, em Lucas 9.1-6, descreve as curas feitas pelos apóstolos, e a quarta, em Lucas 10.1-24, descreve curas executadas pelos 72 enviados de Jesus.
Ambas as passagens são coerentes com os propósitos dos métodos de poder de mando: alívio tremendo e temporal do sofrimento; revelação da presença do Senhor Jesus; incentivo à fé; uma lição objetiva das bênçãos vindouras do reino para todo aquele que se arrepender e crer.
Na segunda passagem mencionada acima, Jesus insiste em desviar a atenção dos discípulos das curas fantásticas. E a última passagem, em Atos 8.5-13, descreve as curas realizadas pelo diácono Filipe. O ponto mais importante dessa passagem é que tais obras assinalaram a expansão do evangelho às nações.
Concluindo, podemos destacar dois pontos.
O primeiro é que a Bíblia rejeita enfaticamente a aplicação de métodos de expulsão demoníaca para classificar a nossa batalha com o pecado. Os evangelhos estão em completa harmonia com o Antigo Testamento e as epístolas.
O que correntemente deveria ser chamado de batalha espiritual sempre é administrado no método clássico. Os defensores do MME, ao contrário, redefinem radicalmente os propósitos da libertação demoníaca sem autorização bíblica.
O segundo ponto é que a Bíblia não nos ordena diretamente a realizar expulsão de demônios, conforme o MME, nem nos ensina como fazer isso de modo que pudéssemos presumir que isso deva ser uma atividade permanente.
3 - O que dizer do envolvimento com o ocultismo?
Professores do MME enfatizam várias causas para escravidão moral do endemoninhado que eles acreditam credenciarem o MME.
Fontes comumente citadas de demônios incluem práticas ocultistas ou satânicas, pecados enraizados e frequentes, pecados de antepassados e envolvimento deles com a prática do ocultismo, experiências de sacrifícios hediondos, como depravados rituais satânicos ou sexuais.
Na visão habitual do MME, o mal moral, realizado ou experimentado, permite aos agentes demoníacos se infiltrarem desapercebidos em frestas da personalidade humana.
O "endemoninhamento" é praticamente tido como certo em alguém com um passado de envolvimento com o ocultismo ou o culto a Satanás.
O MME é usado para purificar "redutos demoníacos" remanescentes que continuam escravizando uma pessoa ao pecado, à incredulidade e a pensamentos blasfemos.
A prática do ocultismo parece ser o argumento forte para a visão de mal moral do endemoninhamento e para a importância de uma metodologia de expulsão de demônios para santificação.
Em Atos 8 encontramos um caso impressionante. O texto narra o "pentecoste samaritano" conforme o evangelho era difundido a partir de Jerusalém em direção a todas as nações. No caminho (v. 5-24), encontramos o relato de Simão, o mágico, que era um praticante do ocultismo da ordem mais alta.
Mas quando Simão ouviu o evangelho, ele creu e foi batizado.
Ele teve uma reação típica de espanto quando viu Filipe expulsando demônios e curando. Quando Simão viu Pedro e João com poder de impor as mãos e ministrar o Espírito Santo aos samaritanos, ele quis o mesmo poder. Ele até mesmo ofereceu dinheiro para isso.
Primeiramente, observe que Simão ainda estava amarrado à mentalidade oculta.
Ele cobiçou poder espiritual, ambicionou ter poder para controlar outros com o objetivo de obter lucro pessoal. Simão era um crente confesso, mas os pecados latentes característicos de sua vida passada ainda o mantinham em escravidão.
Segundo, note que temos a descrição dos sinais e prodígios que estavam sendo feitos do mesmo modo que Jesus havia feito. Jesus estava expulsando demônios e curando, causando grande alvoroço (vs. 6,7,13).
Se os espíritos imundos são senhores que se alojam no coração humano para escravizar moralmente os crentes, deveríamos esperar que Filipe ou os apóstolos aplicassem esse método em Simão.
Se uma pessoa como Simão ou qualquer outra convertida, após ter experimentado tantos anos no ocultismo, ainda assim necessitasse constantemente do MME, teríamos uma prova espetacular para a teoria de que o ocultismo leva o demônio a fazer morada e que o ministério eficaz precisa ultrapassar o desejo humano para entrar em contato mais profundo com os espíritos que nele habitam.
Porém, Pedro responde ao pedido de Simão por poder (vs. 21-22). O coração de Simão não era reto.
Ele tinha que se arrepender e orar. Essa passagem destrói a hipótese de que o envolvimento com o ocultismo acarreta, necessariamente, o alojamento de demônios e a consequente necessidade do MME. Em Atos 13.4-12, Paulo condenou duramente Barjesus, o mágico.
Não havia nenhum espírito imundo que necessitasse do MME, simplesmente condenação para esse feiticeiro do mal. Apocalipse 9.20-21 fala do julgamento dos adoradores de demônios e dos ídolos e de feiticeiros.
A passagem fala por duas vezes que eles não se arrependeram. Embora essas práticas os escravizassem a Satanás, elas não permitiam que espíritos se infiltrassem em seus corações. O MME não foi necessário.
Conforme Apocalipse 18, Deus julgou duramente Babilônia por usar feitiçaria para enganar as nações. Espíritos malignos estão na mesma categoria dos abutres, dos flagelos, dos tormentos, do pranto, da pestilência, da fome, do incêndio (vs. 4-9).
Por fim, Gálatas 5.20 descreve a feitiçaria como obra da carne, resultante da concupiscência da carne e não como algo proveniente do "demônio da feitiçaria". E um pecado que deve ser combatido tal como a lascívia, a bebedeira ou a discórdia.
4 - O que dizer do poder de Satanás de elaborar internamente o mal moral?
Durante toda a história da igreja, servos de Deus que ensinaram o método clássico da batalha espiritual estiveram atentos à capacidade do diabo de induzir ao pecado e à incredulidade.
Thomas Brooks retratou Satanás insinuando doces mentiras à alma, e João Calvino escreveu sobre o estado da humanidade:
O diabo tem o seu trono dentro de nós, faz morada em nosso corpo e em nossa alma! Isso torna a misericórdia de Deus mais maravilhosa, porque ele nos tira dos chiqueiros imundos de Satanás para seu próprio templo e nos consagra como uma habitação espiritual.
A tentação pode vir do exterior, a revista pornográfica do jornaleiro, o consumismo que caracteriza a nossa sociedade, a bebedeira.
As intrigas não procedem, necessariamente, do interior de nossa alma, mas Satanás tem seus meios de dirigir essas coisas à nossa alma e nos tentar para que cedamos diante delas.
Isso nos ensina duas coisas importantes: mostra-nos que Satanás influencia e escraviza a alma à mentira, e também que o método clássico de ministério é a única solução, sem a necessidade do MME.
Conclusão
A intimidade de Satanás com o mal é tão imediata que não nos surpreende que algumas pessoas possam parecer endemoninhadas. O homem exibe escravidão ao pecado e ao seu nefasto mestre.
A Bíblia apresenta repetidamente uma mensagem de responsabilidade pessoal e o método clássico de batalha espiritual.
Ao falar dos pecados dos homens, ela sempre se refere ao nosso mal moral, a nossa incredulidade, ao nosso orgulho, aos nossos medos e a nossa maldade. A escravidão moral do diabo é uma escravidão ao poder do pecado.
A Bíblia fala frequentemente sobre nossa responsabilidade sem mencionar o diabo, mas nunca fala sobre o diabo sem mencionar a nossa responsabilidade. A Bíblia não retrata o mal moral como um "endemoninhamento" a ser expulso.
Nós ministramos para escravos cegos com toda a força da oração, do amor, travando uma batalha espiritual com o método clássico, isto é, por intermédio do arrependimento e santificação.
Satanás está ativo como mentiroso e tirano moral, mas isso não significa que devamos utilizar o MME, pois se Satanás está envolvido com o mal moral do homem, devemos buscar o arrependimento e a obediência perante Deus.
Aplicação
Confesse a Deus os seus pecados e abandone-os para que eles não venham a escravizá-lo.
Autor: Mauro Filgueiras
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