O erro que nem o anjo Miguel cometeu - Estudo Bíblico sobre Batalha Espiritual

Judas 8-9

Abordemos agora outra questão relativa ao tema desta seção, que é o avanço da igreja no mundo. De que forma a igreja deve prosseguir, avançar e conquistar o mundo para Cristo?

A resposta é: da mesma maneira pela qual vem fazendo isso desde a sua fundação, ou seja, pregando o evangelho de Cristo.

1 - Não há outras armas de ataque?

Alguns irmãos perguntam: "Será que não posso repreender as doenças; os demônios e o próprio Satanás, quando estão perturbando? Será que não posso amarrar Satanás para impedi-lo?"

Mas a maior dificuldade é não encontrar, nas passagens da Escritura que tratam de batalha espiritual, uma ordem, uma orientação, ou mesmo um exemplo sugerindo que se adotem métodos semelhantes aos defendidos por alguns do movimento de "batalha espiritual".

2 - "Repreender" no Novo Testamento

Tomemos como exemplo a prática comum entre crentes de "determinar" as coisas. Será que não podemos, com a autoridade de Jesus, determinar que doenças nos deixem, que os demônios se retirem e parem de perturbar?

O problema é que não há qualquer exemplo no Novo Testamento de um crente dizendo: "Eu determino que isso aconteça desta forma em nome de Jesus".

Não há nenhum exemplo ou ordem para que os crentes enfrentem as dificuldades e oposições desta vida determinando vitória, sucesso, libertação, meramente pronunciando palavras de forma fervorosa. Nós não determinamos nada, quem determina é o General e nós cumprimos suas ordens.

Imagine se Paulo, quando o mensageiro satânico o estivesse esbofeteando, dissesse: "eu determino que essa dor vá embora", sem antes procurar saber qual era a vontade de Deus (2Co 12.7-10).

Paulo iria determinar de um jeito, e Deus de outro! Como ficaria tudo isso? Quem prevaleceria?

Será que Deus se veria obrigado a desistir do seu plano de fazer Paulo humilde através do espinho na carne, já que o apóstolo decretara que o mensageiro de Satanás fosse embora?

3 - As repreensões de Jesus

Alguém poderia argumentar que Cristo repreendeu doenças e demônios. De fato, nosso Salvador algumas vezes fez isto. Se fizermos um estudo no Novo Testamento da palavra "repreender", notaremos algo curioso.

As duas únicas pessoas, em toda a Bíblia, que repreenderam demônios, doenças ou qualquer obra contrária ou maligna, foram Jesus Cristo e seu Pai Celeste. Ninguém mais.

Estude a palavra "repreender", usando uma chave bíblica ou um software que permita fazer buscas no texto bíblico. Jesus repreendeu doenças somente uma vez, quando curou a febre da sogra de Pedro (Lc 4.39).

Repreendeu demônios para que não dissessem quem ele era (Mt 12.16; Mc 3.12) e em outras circunstâncias para que se calassem e saíssem de suas vítimas (Mt 17.18; Mc 1.25; 9.25).

Em outra oportunidade, durante uma tempestade, Jesus repreendeu os ventos e o mar, e imediatamente houve calmaria (Mt 8.26; Mc 4.39).

4 - Não biblicismo, mas princípios

Porém, não devemos ser "biblicistas". Certamente, podemos inferir da Escrituras, de modo legítimo, certas práticas e doutrinas que não são colocadas de forma explícita, como a doutrina da Trindade, por exemplo.

Mas há muito mais evidências na Bíblia para se inferir a doutrina da Trindade do que para se inferir grande parte das práticas de "batalha espiritual".

O problema do termo "repreender", usado pelos cristãos hoje para cercear a atuação demoníaca, não é somente a falta de evidência explícita. Existem razões teológicas.

Repreender os principados e potestades é prerrogativa de Cristo somente, pois foi ele quem os venceu por sua morte e ressurreição.

Além disso, ele é Deus e Senhor sobre os elementos, podendo, por isso, repreender os ventos, o mar, as tempestades.

Ele é o criador e o Senhor e por isso diz ao demônio, "cala-te, sai dele, vai para tal lugar...!" Ele é Deus!

Se as pessoas vão usar o Senhor Jesus como modelo para "repreender" demônios e doenças, deveriam também passar a repreender tempestades e a fúria dos elementos — mas até onde sei, ninguém tem reivindicado ser capaz de fazer isso com sucesso.

5 - Miguel e Satanás

Este ponto fica claro na narrativa que Judas nos dá acerca do incidente entre o anjo Miguel e Satanás (Judas 9). 

Nós estamos falando do arcanjo Miguel, que é o mais poderoso dos anjos de Deus. Lemos isso no Antigo e no Novo Testamento. E o chefe das hostes espirituais angélicas de Cristo.

Esse ser perfeito, sem pecado, muito mais poderoso do que os humanos e que assiste na presença de Deus, em certa ocasião, quando disputava o corpo de Moisés com Satanás (parece que Satanás queria tomar o corpo de Moisés para, talvez, levar Israel a pecar, idolatrando o seu corpo morto), não se atreveu a pronunciar juízo infamatório contra Satanás.

Isso é o oposto do que muita gente hoje está fazendo (e não se comparam nem de longe com Miguel em poder). Miguel se limitou a dizer:

"O Senhor te repreenda".

Assim, não se vê nas Escrituras que foi dada autoridade aos crentes para repreender as hostes malignas, pois isso é prerrogativa de Cristo e do Pai.

Entretanto, podemos orar e dizer: "O Senhor, repreende a Satanás, que procura perturbar a tua obra entre nós, afasta suas tentações, tem misericórdia, livra-nos do mal...".

Não há problemas em orarmos assim. Na realidade, esta oração parece bem mais bíblica do que decretos e determinações por parte de alguns.

Quando os crentes da igreja do período apostólico se viram encurralados pelos líderes religiosos em Jerusalém, simplesmente se dirigiram a Deus e suplicaram que o Senhor olhasse para aquelas ameaças. Entregaram- se ao Senhor e Juiz de todos, esperando que ele fizesse justiça e juízo na terra (At 4.29).

6 - Podemos expulsar demônios hoje?

Mas e quanto a ordenar aos demônios que saiam da vida de uma pessoa? Será que podemos expelir demônios de alguém? Vejamos o que a Bíblia nos diz a este respeito.

Afora os inúmeros encontros com endemoninhados, Jesus defrontou-se com duas tentativas diretas de Satanás para afastá-lo da cruz: uma no deserto, que foi repelida pela Palavra, e outra em Cesareia de Filipe, quando através das palavras precipitadas de Pedro, Satanás procurou dissuadir a Jesus de morrer na cruz (Mc 8.31- 32). Em todas as ocasiões, Satanás foi rechaçado, apenas pela Palavra do Senhor.

1. O Senhor Jesus deu autoridade aos seus discípulos para expelirem demônios à medida que fossem pregando o evangelho, não só aos doze apóstolos, como aos 70 (Mc 3.14-16; 6.13; Lc 10.1-16). 

Em suas instruções o Senhor Jesus não os ensinou a identificar as entidades malignas pelo nome, suas regiões geográficas, nem os autorizou a que se engajassem em diálogo com esses espíritos. Eles deveriam ser sumariamente expelidos sem mais palavras. 

Foi assim que o próprio Jesus procedeu ao expelir demônios. Em vez de apelar para truques, fórmulas mágicas, talismãs e elaborado ritual — como era a prática dos exorcistas da época — Jesus expelia os demônios meramente com a sua palavra. E os discípulos fizeram o mesmo.

2. A igreja apostólica entendeu claramente isso. 

Os apóstolos, e gente associada com eles, expeliram demônios em nome de Jesus, em seus labores missionários: Pedro e os apóstolos em Jerusalém (At 5.16), Filipe (At 8.7) e Paulo (At 16.18; 19.12). 

Quando exorcistas judeus ambulantes tentaram fazer isso em nome de Jesus, fracassaram dramaticamente (At 19.13-17). Em seus encontros com pessoas endemoninhadas, à semelhança de Jesus, os apóstolos e Filipe se limitaram a expelir delas os espíritos que as haviam invadido. 

Mesmo que Jesus em uma ocasião tinha indagado o nome dos espíritos malignos que se haviam apossado do gadareno, os apóstolos não seguiram esse procedimento nem o ensinaram à igreja. 

Aliás, em lugar algum das suas cartas às igrejas os apóstolos instruem os crentes a expelir demônios ou a entrar em diálogo direto com eles.

3. Não há registro nos Evangelhos de que discípulos realizaram expulsões de demônios. 

A mesma coisa ocorre no livro de Atos. Apesar da passagem de Marcos 16.17 ter sido usada hoje como uma autorização para a prática de exorcismos por cada crente, não foi assim que a igreja apostólica a entendeu: nos relatos históricos que temos, expulsão de demônios foi feita apenas pelos apóstolos. 

A única exceção é Filipe, que se explica pelo fato de ter recebido diretamente das mãos dos apóstolos a sua ordenação. 

Embora Jesus tenha dito aos 70 que lhes havia dado poder para pisar serpentes e escorpiões — algo que se verificou no ministério apostólico (Lc 10.18-19), Paulo emprega o ensinamento de Jesus num sentido escatológico ao dizer aos crentes de Roma que o próprio Deus haveria de, em breve, esmagar a Satanás sob os pés deles — uma referência clara à vinda de Cristo e ao juízo final sobre Satanás (Rm 16.20).

4. Em nenhuma destas passagens narra-se que um verdadeiro discípulo de Cristo tenha sido libertado de demônios por meio de algum apóstolo ou evangelista. 

A luz destas observações, podemos dizer que pastores e presbíteros, devidamente ordenados e em pleno exercício de suas atividades, poderão, em se deparando com pessoas genuinamente endemoninhadas, orar pela libertação da pessoa e, em nome de Jesus, ordenar que os espíritos malignos se retirem de suas vidas.

Mas isto, não sem antes averiguarem cuidadosamente se a causa real para o comportamento estranho e bizarro da pessoa supostamente endemoninhada é de fato a atuação de espíritos malignos. 

Devem ser seriamente levadas em conta possibilidades como problemas psicológicos ou mentais, bem como a possibilidade de farsa deliberada, ou mesmo simples imitação de comportamento (coisa comum em contextos onde "possessão demoníaca" e seus efeitos mais populares — tremer, cair no chão, revirar os olhos, falar com voz diferente — ocorrem frequentemente). 

A autoridade que procede do Cristo exaltado fará com que os demônios se retirem sumariamente, como lemos no livro de Atos. Não há base bíblica para questionamento dos nomes e atividade destas entidades.

Conclusão

Todo esse procedimento, mesmo se bem sucedido, será de pouca valia para a pessoa assim liberta se não for seguido de sua conversão genuína.

Evidentemente, não há base bíblica para ministérios de "libertação" ou "cultos de libertação" cujo clímax é a expulsão de demônios. A expulsão de demônios jamais é contemplada no Novo Testamento como sendo alvo de ministérios ou cultos por parte da igreja de Cristo.

Aplicação

Toda a sua capacidade de pensar, falar, praticar esportes ou qualquer outra coisa provém de Deus. Da mesma maneira pelo poder dele o maligno não pode te tocar.

Medite nisso e considere seriamente o fato de ele não permitir que Satanás te destrua com gratidão em seu coração e vigiando contra seus dardos.

Autor: Mauro Filgueiras


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