2 Coríntios 10.1-6
Esta lição responderá a oito questões que examinarão os aspectos do MME que são mais difundidos e merecem atenção.
1 - Como lidar com os casos mais complicados?
Os cristãos que se envolvem no MME (Ministério do Método Ecbalístico) , inevitavelmente, têm uma história para contar. E essas histórias têm várias características em comum.
Os praticantes do MME são orientados espiritualmente e, normalmente, respostas prontas não funcionaram. Essas situações frustrantes os levaram a questionar suas próprias práticas religiosas.
O papel das histórias no MME é tão decisivo que se torna difícil discutir essa questão. Afinal, baseados em quê podemos questionar a história de outra pessoa sem parecermos arrogantes ou céticos?
Posso eu presumir que a minha história, que teve uma conclusão diferente, é de alguma maneira superior?
Se a questão se mantém no nível de histórias que competem entre si, nós temos apenas duas opções: ou tudo é relativo ou um de nós está enganado. Todos nós precisamos da absoluta verdade bíblica para nos comprometermos com nossas histórias e com um processo de correção.
Vejamos as quatro observações seguintes para um equilíbrio entre a caridade e espírito crítico.
a) A verdade e o erro geralmente coexistem nos cristãos sinceros. Os defensores do MME acreditam num método clássico de batalha espiritual que atende bem às suas necessidades durante a maior parte da vida.
Porém, em certas situações, enfeitam o método clássico com a teoria do endemoninhamento causado pelo pecado. Ou acrescentam o MME ao método clássico sem diferenciar o que a Bíblia ensina sobre os propósitos e focos de cada um. Isso cria uma teologia que mistura ideias e práticas incompatíveis.
b) Concepções errôneas podem atuar como metáforas para verdades valiosas que não são apresentadas em um método mais ortodoxo. Isso não implica que o erro não seja sério, mas há erros mais bem intencionados que outros.
A maioria dos defensores do MME tem uma concepção pelagiana de pecado, isto é, acreditam que o pecado consiste na prática consciente e desejada de ações onde houve a possibilidade de escolha.
Isso é válido para alguns pecados, como o da arrogância (SI 19.13), mas é inadequado para se referir à "escravidão da vontade", as profundas compulsões e corrupções do homem (Gn 6.5; SI 19.12; Ec 9.3; Ef 4.17-22; Tg 3.14-4.12).
Já a concepção agostiniana de pecado considera seriamente tanto os pecados conscientes quanto aqueles ocultos ao nosso conhecimento. A visão do MME é inadequada para explicar as partes obscuras da alma humana.
c) Um exame daquilo contra o que os defensores do MME. reagem mostra um emprego empobrecido do método clássico de batalha espiritual. A prática do arrependimento, fé, amor e obediência se reduz a uma renúncia verbal dos pecados, como um exercício de força de vontade, a memorização de versículos bíblicos, um conhecimento racional das doutrinas e o envolvimento em ministérios de manutenção dos ensinos de Cristo.
Devido a essa minimização do problema e da prática religiosa, muitos se voltam para o MME. Descrições típicas das práticas apresentadas geralmente revelam uma falta de autocontrole genuíno e discernimento pastoral.
d) Os cristãos que se voltaram para a psicologia secular contavam as mesmas histórias. Aqueles que achavam explicações "mais profundas" na psicologia e em métodos de psicoterapias "mais poderosos" repetiam as histórias dos defensores do MME.
O entendimento deles acerca do pecado e do uso do método clássico de maneira similar revela a superficialidade. Também querem mais discernimento e poder para efetuar mudanças neles mesmos и nos outros.
Há também uma tendência de combinar a terapia com a expulsão demoníaca, unindo duas visões mal orientadas.
2 - Devemos nomear os demônios?
A abordagem terapêutica oferece uma série de explicações atraentes nas quais jargões da psicologia multiplicam síndromes e diagnósticos fingem oferecer um esclarecimento. A abordagem do MME caminha em uma direção oposta e dá nomes às supostas entidades demoníacas.
Em Marcos 5.9 Jesus perguntou ao endemoninhado geraseno: "Qual é o teu nome?"; pelo que este lhe respondeu: "Legião é o meu nome, porque somos muitos".
Praticantes do MME acreditam que esse versículo nos ensina a identificar os demônios pelo nome, o que nos leva a algumas identificações como: Ódio, Autopiedade, Luxúria, Incredulidade, Suicídio, Homossexualismo, etc. Eles também acham demônios conforme os nomes registrados na Bíblia: Lúcifer, Belzebu, Satanás, Apoliom.
Os ministros do MME empregam técnicas imensamente diferentes para identificar um demônio em particular. De um lado estão os terapeutas modernos, do outro estão aqueles que exercem os poderes de expulsão demoníaca.
Porém, por que Jesus fez aquela pergunta ao demônio? Será que ele estava nos ensinando a identificá-los? Nota-se que Jesus não recebeu um nome como resposta, mas um número.
A Bíblia também não registra nada com respeito àquele geraseno, sua ascendência, seus pecados ou costumes.
Porém, os ministros do MME gastaram longo tempo e dedicação sobre informações que a Bíblia não dá. Esses ministros geralmente lidam com os pecados costumeiros das pessoas. Estudos e resumos redefinem esses pecados rotineiros do coração como demônios dominadores: ódio, orgulho, rebelião, etc.
3 - Podemos herdar demônios de nossos ancestrais?
Demônios herdados têm sido foco de discussão em muitos círculos cristãos. Se o ancestral de alguém praticou adivinhação, bruxaria ou viveu uma vida imoral, essa pessoa pode ter adquirido os respectivos demônios que a mantém escrava do pecado.
O texto usado para comprovar que os demônios passam por gerações é Êxodo 20.5:
"...visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem".
Essa ameaça de julgamento é interpretada como uma autorização para que demônios que possuíram os pais também possuam os filhos. Porém o mandamento só quer dizer que todo pecado será julgado.
Mas em parte alguma das Escrituras há qualquer relação dos demônios com essa escravidão que passa por gerações. Essa noção de maldição hereditária nada mais é do que o ocultismo infiltrado na teologia do MME.
4 - Existem estágios de endemoninhamento?
Há muito ensino do MME sobre desenvolvimento de endemoninhamento. Nesta visão, a opressão (At 10.38) ganha espaço (Ef 4.27), leva ao estabelecimento (2Co 10.4), que leva ao endemoninhamento completo ou até a uma possessão. O resultado é a escravidão moral.
O problema é que esses textos utilizados para defender tal posição, em nada se relacionam com qualquer espécie de "estágio de endemoninhamento". Atos 10.38 se refere às curas de Jesus por oprimidos do diabo.
Ali Pedro mostra como o evangelho lida com o mal. Mas esse versículo atesta o poder divino de Jesus, sua autoridade sobre os demônios e sua bondade para com os homens. A tônica não é expulsar demônios, mas chamar o povo para um arrependimento.
A passagem de Efésios 4.27 traz a ideia de que o pecado abre espaço ou dá lugar ao diabo para que ele tenha domínio psicológico sobre o pecador. Porém, Efésios 4 trata sobre a igreja, de como suas partes funcionam e de que vários pecados são obstáculos para a edificação e aperfeiçoamento dela, como a mentira e a raiva (Ef 4.25-27, 29-31).
Assim a unidade do corpo de Cristo fica ameaçada com a prática do pecado. O diabo ganha espaço na igreja para consolidar seu objetivo: divisão. Falar a verdade com amor, fortalece a igreja, mas falar com falsidade, a enfraquece.
Mas não se encontra qualquer apoio em Efésios 4 para a teoria de que o diabo venha a possuir o psicológico dos crentes e que possa invadir a vida das pessoas. Mais uma vez, o texto bíblico reforça o método clássico da batalha espiritual, largar a vida antiga de pecado e crescer em santificação e arrependimento diante de Deus.
Em 2 Coríntios 10.4 Paulo ensina que as fortalezas, que são os falsos ensinos, são desencorajadas quando a verdade é proclamada. Essa passagem não tem nada a ver com demônios, diretamente, a não ser sua referência à serpente (2Co 11.3) e aos falsos apóstolos como servos de Satanás (2Co 11.13-15).
Mas Paulo fala aos coríntios para alertá-los sobre as ciladas dos espíritos malignos e dos inimigos humanos que os tornariam escravos da mentira. Esse texto, como os outros, não tem nenhuma relação com a psique dominada pelos demônios.
As causas de endemoninhamento são alguns dos muitos "silêncios" da Bíblia que despertam nossa curiosidade sobre o diabo e suas hostes, porém essa curiosidade não nos dá o direito de especular sobre aquilo que Deus não quis dar maiores esclarecimentos.
5 - Devemos amarrar os demônios?
A prática do MME é diferente não só quando nomeia demônios e descreve como nós os adquirimos, mas na maneira como procuram se livrar deles de forma decisiva.
Normalmente, o ministério de libertação "amarra" os espíritos por meio de vários comandos e orações. O texto usado para defender essa prática é Mateus 12.29. Complementa-se a essa passagem Mateus 16.19 e 18.18.
A interpretação dada por eles é que quando amarramos os poderes do mal, repudiamos o espaço que ocupavam e os expulsamos.
Porém, Mateus 12.29 foi tirado totalmente do contexto. Essa passagem não apresenta uma metodologia pastoral de expulsão demoníaca, mas a obra redentora de Cristo. A casa é o planeta Terra. O valente é Satanás. Os bens são as pessoas e Jesus foi quem saqueou esses bens. A amarração do diabo é uma obra exclusiva de Cristo e já está completa.
6 - Precisamos de contínuas autolibertações?
No MME, pessoas são instruídas a "manter sua libertação" contra o perigo de uma invasão. O texto de respaldo é Mateus 12.43-45.
Os praticantes do MME usam essa passagem para avisar que as pessoas que não mantêm a sua libertação são propensas a cair em um estado pior de escravidão dos demônios do pecado.
A partir dessa ameaça constante, o MME desenvolveu técnicas de prevenção, como oração, estudo da Palavra, contrição, adoração e outras técnicas próprias do MME.
Porém, Mateus 12.43- 45 é uma parábola. Jesus não está ensinando sobre expulsão demoníaca, mas sobre o que acontecerá com quem rejeitar suas palavras (v. 45).
Antes, Jesus estava chamando as pessoas para que se arrependessem. Jesus chega, então, ao ápice mais enérgico da mensagem: quem não lhe der ouvidos, perecerá.
Os sete espíritos ainda piores representam o inferno e não alguma invasão temporária. Eles representam o julgamento de Deus sobre o pecado do Israel infiel.
Jesus usou os sinais de prenúncio do inferno, isto é, as possessões demoníacas de seu tempo, para demonstrar seu poder tangível de ministrar bênção de vida, saúde e liberdade.
Mas também apontava a grande ameaça: o problema do mal moral justifica as variadas formas de maldição sobre os pecadores, a não ser que se arrependam. A ideia de automanutenção do MME é substituída pelo autoexame, o arrependimento contínuo, a oração fervorosa e a adoração.
7 - Se isso está errado, como funcionou comigo?
E quando o MME muda pessoas? Como se explica os casos de sucesso? Até aqui, não negamos que Deus possa usar o MME para ajudar as pessoas, porque dentre os erros e enganos, há bons elementos.
Deus usa os meios conforme lhe apraz, até aqueles que não estão inteiramente dentro da sua vontade revelada. Dentre algumas vertentes do MME, encontramos práticas bíblicas que são ensinadas e incentivadas como a oração, a procura de falsas crenças, o arrependimento, santificação progressiva e compromisso com a obra de Deus.
De fato, o MME pode despertar as pessoas para a batalha espiritual. No entanto, a insistência na conceitualização de "endemoninhamento" moral é problemática.
8 - E os fenômenos de manifestação demoníaca?
"Mas eu vivenciei... eu vi... eu experimentei...". Essas palavras tornam a discussão mais complexa, porque a experiência se apresenta como uma inquestionável autoridade.
Damos aqui, três explicações possíveis para as "manifestações demoníacas" que ocorrem no contexto do MME.
Em primeiro lugar, muitas das manifestações demonícas são produzidas por expectativas altamente emocionais. Pessoas que "veem e vivenciam" crenças no demônio são como pessoas com crenças modernas que "veem e vivenciam" sintomas psicopatológicos.
Em segundo lugar, talvez o próprio diabo coopere com o erro de produzir efeitos especiais gerados pelos ensinamentos e práticas do MME.
As pesadas investidas e a cruel tirania do diabo não significam ter um espírito imundo. Se a visão de mundo do MME, na verdade, abrange e ensina pontos da teologia ocultista, quem ficaria mais feliz com isso do que o próprio pai da mentira?
Em terceiro lugar, o MME pode realmente invocar atividades demoníacas. "Vozes" na mente não são incomuns: zombarias, blasfêmias, tentações repentinas de comportamento e fantasias desprezíveis, marcas persuasivas de ceticismo.
A batalha espiritual clássica interpreta isso como algo vindo do diabo e promete que ele irá fugir quando enfrentado com a armadura da luz. Reconhece que o inquieto coração humano é a ponte entre a tentação e o pecado.
Mas o MME chama tais vozes de demônios enraizados no coração humano. As técnicas do MME induzem as pessoas a liberarem o controle do consciente.
Em confrontos de poder mais enérgicos, um autoritário ministro de libertação pode criar efeitos hipnóticos em pessoas problemáticas facilmente sugestionáveis que estejam sob o seu aconselhamento.
Essas explosões não acontecem apenas nos confrontos de poder. Ministros de libertação menos entusiásticos convidam logo o aconselhado a relaxar, perder o controle de si mesmo e deixar que as vozes falem por meio dele. Essa forma de sugestionamento não é menos mediúnica e manipuladora.
Conclusão
Em alguns confrontos de MME parece que algo de sobrenatural e maligno irá acontecer. Talvez os praticantes estejam contribuindo para a geração de um mal bizarro.
Esta lição mostrou que as características do MME estão erradas não só quando consideramos como um todo, mas também quando nos atemos a seus pequenos detalhes.
Vimos que as teorias e práticas do MME não têm fundamento bíblico. Estamos em meio à batalha espiritual, mas precisamos compreender e travar essa batalha nos métodos de Deus, revelados na Palavra.
Aplicação
Esteja atento contra as forças do mal que estão ao nosso redor e não subestime o poder do diabo, antes, resista-o e recorra a Deus em oração quando você vir que está sendo tentado e prestes a cair em pecado.
Autor: Mauro Filgueiras
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