Pode um crente comer alimentos sacrificados a demônios? - Estudo Bíblico sobre Batalha Espiritual

1 Coríntios 8-10

Examinemos, agora, 1 Coríntios 8 a 10. Nesses capítulos, o apóstolo Paulo trata da atitude dos cristãos para com a carne de animais sacrificados como oferendas aos deuses pagãos.

A questão que Paulo tratou nessa passagem era bem complexa. Os cristãos em Corinto sempre corriam o risco de comer esse tipo de carne. O sacrifício de animais e o consumo da sua carne faziam parte do ritual religioso nos templos pagãos da época.

1 - Alimentos "trabalhados"

Modernamente, podemos nos referir ao caso das comidas "trabalhadas" nos terreiros de umbanda. De acordo com as crenças do candomblé e umbanda, os orixás exigem comidas variadas, que devem ser preparadas de acordo com rituais apropriados.

Essas comidas são feitas de acordo com as indicações dos demônios e a eles oferecidas. Para muitos cristãos, é uma questão aguda se algum mal vai lhes ocorrer se acabarem por ingerir uma comida que foi "trabalhada".

Os coríntios estavam perturbados por um problema similar. Eles escreveram uma carta a Paulo com várias perguntas, entre elas, se era lícito comer carne de animais que haviam sido sacrificados.

Sacrifícios eram praticados nas religiões de quase todas as culturas antigas e, no geral, visavam honrar uma divindade, apaziguá-la ou santificar a oferta. Em algumas destas culturas, os sacrifícios estavam relacionados com o culto aos ancestrais, alimentar os deuses e mesmo "comer os deuses".

Paulo, ao discutir o assunto, em momento algum sugere que haveria o risco de demônios penetrarem mesmo naqueles que comessem carne consagrada aos demônios nos próprios templos dos deuses pagãos.

A questão que incomodava os coríntios não era se estariam comendo demônios, mas se não estariam participando direta ou indiretamente do culto ao ídolo. Note ainda que quem introduz o conceito de que os demônios estão por detrás da idolatria é Paulo.

Os crentes de Corinto estavam divididos quanto ao assunto. Um grupo deles estava passando por grande aflição. Eram ex-frequentadores dos templos, recém convertidos ao evangelho.

Por vezes, acabavam caindo no velho costume de comer carne, encorajados pelo exemplo dos que achavam que não havia nada de errado com isso. Como resultado, suas consciências os acusavam: eles haviam acabado de consumir carne espiritualmente contaminada, consagrada aos demônios em um templo pagão.

Paulo, no tratamento que faz do assunto, considera-os como "fracos", pois suas consciências eram "fracas" (ICo 8.7,9-12).

O grupo contrário, a quem Paulo chama de "dotados de saber" (ICo 8.10), ou "fortes", tinha já plena consciência de que os ídolos dos templos pagãos nada eram nesse mundo, e que os animais a eles ofertados, na verdade, continuavam a ser de Deus, o criador e Senhor de todas as coisas.

O problema parece que girava em torno de duas questões. Primeira, a relação entre os animais e os deuses, diante de cujas imagens os animais eram consagrados, oferecidos e sacrificados.

A carne desses animais continuava a "pertencer" aos deuses após o ritual no templo, quando estava pendurada no açougue público para ser vendida? Quem comesse dessa carne estaria, mesmo de forma inconsciente, fazendo um pacto com os deuses?

Segunda, comer essa carne não implicaria uma espécie de participação à distância dos crentes na adoração pagã e no culto aos deuses?

As respostas de Paulo são surpreendentes. O apóstolo concorda com os "fortes" quanto ao conhecimento de que Deus é o Senhor de tudo e que não há outros deuses ou senhores (ICo 8.4-6). Mas condena a falta de amor dos "fortes" para com os "fracos" (ICo 8.9-13).

Deveriam limitar sua liberdade pela consideração à consciência dos outros. Após dar o exemplo de como abriu mão dos seus direitos como apóstolo, de receber sustento por amor do evangelho (ICo 9), e após alertar os "fortes" contra a arrogância, usando o exemplo de Israel no deserto (ICo 10.1-15), Paulo responde às três principais indagações dos Coríntios já mencionadas acima.

2 - E o concílio de Jerusalém?

O fato de que Paulo não invoca aqui a decisão do concílio de Jerusalém (At 15) para resolver o assunto tem intrigado os estudiosos.

Conforme lemos no livro de Atos, o concílio havia se reunido para tratar das condições sob as quais os gentios poderiam ser salvos e ser recebidos na igreja.

A polêmica havia sido causada por alguns judeus cristãos da Judeia que foram até as igrejas gentílicas forçar os gentios a se circuncidarem, e a guardar as leis de Moisés (naquela época, as mais importantes eram as leis dietárias e o calendário religioso). O concílio resolveu incluir algumas condições éticas, entre elas, a de os gentios se absterem das coisas sacrificadas aos ídolos (At 15.29).

O concílio havia acontecido um pouco antes de Paulo escrever 1 Coríntios. O apóstolo estava perfeitamente consciente do conteúdo da sua decisão. A pergunta é, por que não invocou aquela decisão para acabar de vez com o problema em Corinto?

A resposta é que as condições éticas requeridas pelo concílio eram para ser observadas num ambiente onde houvesse judeus e gentios. A situação de Corinto era diferente.

O problema não era os escrúpulos de judeus cristãos ofendidos pela atitude liberal de crentes gentios quanto à comida oferecida aos ídolos. Portanto, a solução de Jerusalém não servia para Corinto.

É provavelmente por esse motivo que o apóstolo não invoca o decreto de Jerusalém. Antes, procura responder às questões que preocupavam os coríntios de acordo com o princípio fundamental de que só há um Deus vivo e verdadeiro, o qual fez todas as coisas; que o ídolo nada é nesse mundo; e que fora do ambiente do culto pagão, somos livres para comer até mesmo coisas que ali foram sacrificadas.

3 - Três perguntas que podem ser levantadas

  1. A primeira pergunta dos coríntios provavelmente havia sido: era lícito participar de um festival religioso num templo pagão e ali comer a carne dos animais sacrificados aos deuses?
    Não, responde Paulo. Isso significaria participar diretamente no culto aos demônios onde o animal foi sacrificado (ICo 10.16-24). O princípio fundamental é que o homem não regenerado, ao quebrar as leis de Deus, mesmo não tendo a intenção de servir a Satanás, acaba obedecendo ao adversário de Deus e fazendo sua vontade.
  2. Era lícito comer carne comprada no mercado público?
    Sim, responde Paulo. Compre e coma, sem nada perguntar (ICo 10.25). A carne já não está no ambiente de culto pagão. Não mantém nenhuma relação especial com os demônios, depois que saiu de lá.
  3. Era lícito comer carne na casa de um amigo idólatra?
    Sim e não, responde Paulo. Sim, caso não haja, entre os convidados, algum crente "fraco" que alerte sobre a procedência da carne (ICo 10.27). Não, quando isso ocorrer (1 Co 10.28-30).

4 - Culto pagão e culto cristão

Não há como justificar hoje a prática no culto cristão de ungir e abençoar objetos, quaisquer que forem os propósitos.

Também, não há como provar biblicamente que objetos usados e consagrados aos demônios nos cultos idólatras e ocultistas têm algum poder especial de "amaldiçoar" os que os tocam, ingerem, usam ou acabam por possuí-los fora do contexto de adoração e devoção a essas entidades.

Devemos sempre nos lembrar da diferença fundamental entre o conceito pagão e o conceito cristão quanto ao emprego de "coisas" com sentido religioso. As religiões empregam objetos e utensílios em seus cultos ou práticas como símbolos de realidades espirituais ou portadores de poderes mágicos.

O culto cristão, em contraste, emprega apenas dois símbolos materiais, a água do batismo e os elementos da Ceia (pão e vinho). A atitude do paganismo para com esses objetos é também diferente da atitude dos evangélicos para com seus símbolos (batismo e Ceia).

Enquanto que para os evangélicos a água, o pão e o vinho são símbolos que têm seu valor e sua função apenas no momento da ministração dos sacramentos, na prática da magia, no ocultismo, nas religiões afrobrasileiras e no catolicismo popular, os objetos cúlticos continuam a manter uma relação vital para com as entidades e realidades espirituais aos quais estão associados, mesmo após a sua consagração durante os rituais.

Por exemplo, para eles, uma rosa que foi ungida continua a emanar forças positivas após o ritual de consagração. Uma comida que foi "trabalhada" por uma mãe de santo num terreiro de umbanda vai afetar quem a comer, fora do terreiro. Para os evangélicos, em contraste, uma vez encerrada a Ceia, o pão é pão comum e o vinho, vinho comum.

Conclusão

Novos convertidos egressos da idolatria e cultos afrobrasileiros poderão ser tentados a retornar às práticas antigas, estimulados pelos símbolos do seu passado religioso (ICo 10.31- 33).

Devemos evitar esses objetos se eles evocam lembranças do nosso passado. Devemos evitá-los se eles servirem de estímulo a outros para que façam o mesmo, sem que estejam firmes em suas consciências de que tais objetos, em si, nenhum mal têm.

Aplicação

Procure forjar sua consciência com dois aspectos importantes.

Primeiro, lembre-se de que tudo provém de Deus e que todo alimento, recebido com ações de graças, o glorifica.

Segundo, preocupe-se com o próximo e abstenha-se de comer ou beber o que o escandaliza.

Autor: Mauro Filgueiras


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