Vigilância e esperança: Como viver aguardando a volta de Cristo – Estudo Bíblico sobre 1 Tessalonicenses

1 Tessalonicenses 1

Os estudiosos da igreja estão cada dia mais preocupados com a mesma. Em várias partes do mundo há igrejas que estão "morrendo". Templos que estão sendo vendidos, ou simplesmente transformados em um lugar de visitação, numa espécie de museus da fé.

Em contrapartida, no Brasil, há um crescimento fenomenal de várias comunidades cristãs. Supermercados, cinemas e teatros são vendidos e transformados em templos. Contudo, será que é só o crescimento que interessa? Vai tudo bem com a igreja cristã?

Muitos estudiosos falam de uma "crise de identidade", pelas quais passam hoje as igrejas cristãs. Perderam o referencial bíblico e histórico e, hoje, não sabem para que rumo estão caminhando. Algumas estão se desfigurando completamente do ideal bíblico e do ideal reformado.

O que envolve a vida de uma comunidade? Qual deve ser realmente o seu testemunho? E a sua ética, como deve ser? Existe diferença entre uma comunidade cristã e outras sociedades? O que envolve a construção de uma comunidade cristã sadia? São perguntas como estas que a reflexão do estudo da primeira carta aos cristãos de Tessalônica pretende responder. Vamos à reflexão.

A Epístola

A primeira epístola de Paulo aos cristãos de Tessalônica é, provavelmente, o primeiro documento escrito do Novo Testamento (entre 50 e 51 d.C.).

Após a perseguição em Filipos (At 16.19- 40), o apóstolo desembarca em Tessalônica, durante a sua segunda viagem missionária. A igreja dos tessalonicenses surge diante da proclamação feita por Paulo.

Os primeiros convertidos são alguns judeus, "bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres" (At 17.4). O labor do apóstolo durou pouco tempo em Tessalônica ("três sábados" - At 17.2), pois a perseguição também foi violenta, e ele foi obrigado a retirar-se às pressas.

Temendo um esvaziamento do seu esforço missionário naquela comunidade, o apóstolo, em Atenas, envia Silas e Timóteo para visitarem e trazerem notícias da igreja (3.1-3). O reencontro dos dois com Paulo acontece em Corinto (At 18.5). Trazem a notícia de que a comunidade de Tessalônica continuava dinâmica e fervorosa. A carta, então, é escrita com alegria, para motivá-los à perseverança.

Na epístola, o apóstolo também responde a algumas inquietações que preocupavam a igreja. Uma delas é a questão da segunda vinda de Cristo. Era pensamento comum entre os cristãos da época que essa vinda aconteceria logo. A preocupação era com os que estavam mortos.

Como seria a participação deles na segunda vinda de Cristo? Paulo orienta que por ocasião desse acontecimento, tanto os mortos quanto os vivos estarão reunidos para viverem eternamente com o Senhor Jesus.

Quanto à data desse evento, o apóstolo mostra a importância dos cristãos desenvolverem uma vida de vigilância, pois o "dia do Senhor vem como ladrão de noite" (5.2; Mc 13.32; At 1.7).

A epístola é encerrada com diversos conselhos apostólicos que, com certeza, serviram para a edificação e o fortalecimento da vida da comunidade (5.12-22). Paulo desejava que todos "fossem conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo".

1 - Testemunho da Comunidade Cristã

A comunidade cristã deve ter um testemunho vivo a respeito de Jesus Cristo. É exatamente isto que Paulo ressalta quando escreve a primeira carta aos cristãos de Tessalônica.

Este testemunho vivo deve estar presente nas igrejas de hoje. Baseado na experiência dos tessalonicenses, deve ser um testemunho que evidencia as realizações da fé. A fé não pode ser uma questão meramente do coração. Pelo contrário, a fé se expressa na ação (Gl 5.6, II Ts 1.11; Tg 2.17,18). Os tessalonicenses eram exemplo de uma fé que envolvia a totalidade da pessoa, levando-a a um novo modo de viver. Este continua a ser o desafio à igreja: mostrar ao mundo a sua fé pela atuação, pelo seu modo de agir.

O testemunho da comunidade cristã também se manifesta num amor capaz de sacrifícios (1.3). O professor Howard Marshall, comentando o texto, diz que "Paulo emprega uma palavra (abnegação) que indica labuta laboriosa, o trabalho pesado que uma pessoa está disposta a realizar por devoção e afeição a outra pessoa". Numa outra ocasião, Paulo elogia o casal Priscila e Áquila, porque foram capazes deste amor sacrificial em favor de seu ministério (Rm 16.3,4).

Nos tempos de hoje, a igreja cristã precisa estar atenta ao seu testemunho, colocando em prática um amor que leva às últimas consequências a solidariedade cristã.

O testemunho vivo da comunidade cristã, o qual Paulo recorda com alegria (1.2,3), é, também, o resultado "da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo". Igreja é comunidade de esperança para levar ânimo aos desesperados.

É esta esperança que produz determinação e firmeza nas pessoas, fazendo-as perseverantes em meio às lutas da comunidade e da vida cristã e possibilitando um testemunho agradável ao Senhor Jesus Cristo. A igreja de Tessalônica, em seu testemunho, era comunidade de esperança. A igreja cristã deve ser comunidade que comunica esperança no Senhor Jesus Cristo. Tem sido este o testemunho de sua comunidade?

Paulo relata sua atividade missionária em Tessalônica, mostrando atitudes que a comunidade deve imitar:

A primeira atitude que a comunidade precisa ter em seu comportamento, é a coragem para cumprir plenamente a proclamação do evangelho (2.2). Ela não pode ser medrosa no anúncio das boas-novas. Não pode se intimidar diante dos obstáculos (At 19.29,30). Paulo mostra que ele não se acovardou, mesmo com as muitas perseguições.

A segunda atitude no comportamento da comunidade cristã é o seu compromisso com Deus e sua Palavra (2.4-6). Ela "não tem que agir com segundas intenções, à moda de espertalhões que aproveitam de sua função para se promoverem à custa de bajulações" (nota da Bíblia Sagrada Edição Pastoral). Muitas comunidades, hoje, acabam-se tornando cúmplices de governos, políticos e de injustiças, porque agem por motivos interesseiros, e não dentro de um compromisso com o Deus da Palavra.

A terceira atitude no comportamento é não abusar de sua autoridade de ser comunidade; antes, deve desenvolver um profundo amor pela vida das pessoas (2.10-12; I Pe 5.3). A história é testemunha dos pecados da igreja, sempre que agiu abusando de sua autoridade de ser igreja. Não podemos cometer o mesmo erro.

A quarta atitude é não colocar o dinheiro como motivação para a missão (2.9; II Co 2.17; I Pe 5.2). Muitas comunidades, no Brasil de hoje, perderam completamente a identidade de igreja cristã, porque só pensam em dinheiro, e só falam em dinheiro.

Por último, o comportamento da comunidade cristã deve ser uma atitude que faça com que a vida da comunidade seja testemunha da presença do Reino de Deus no mundo. Paulo agiu assim em Tessalônica, e queria ser imitado pela igreja dos tessalonicenses. Também a igreja "cristã atual precisa ter estas atitudes em seu comportamento. Elas estão presentes na vida de sua igreja?

2. A Santificação da Comunidade Cristã

Como deve viver a comunidade cristã? Qual deve ser sua ética? O apóstolo sabia que aqueles cristãos viviam numa cidade extremamente pagã, num ambiente depravado e tolerante, "especialmente no que se refere à vida sexual" (Bíblia Sagrada Edição Pastoral). O ensino apostólico mostra a necessidade da comunidade viver a santificação.

A santificação ensinada pelo apóstolo envolve três áreas:

A primeira tem a ver com o respeito ao próprio corpo (4.3-8). O propósito de Deus é tornar a comunidade cristã santa, e isso implica num rompimento total com a imoralidade sexual. Cada um deve aprender a controlar seu corpo, mantendo-o puro e tratando-o com respeito. Vale lembrar que o corpo é templo do Espírito Santo (I Co 6.12-20).

A segunda área na santificação da comunidade cristã tem a ver com a prática do amor entre os irmãos (4.9,10). Na prática do amor está a santificação das nossas vidas. Não existe vida santificada, sem vida de amor. O amor é o caminho sobremodo excelente (I Co 13). É esse amor que constitui a santidade da comunidade, e Paulo orava para que a comunidade de Tessalônica tivesse um amor transbordante uns para os outros e para com todos os homens (3.12).

A última área na santificação da comunidade tem a ver com o trabalho (4.11,12). O cristão não pode ser preguiçoso. Ele precisa trabalhar. É conhecido o ditado popular que "quem não trabalha, dá trabalho", e isto estava acontecendo em Tessalônica (II Ts 3.6-12). O trabalho é questão de santidade e honra para o cristão. Sabemos que, hoje, no Brasil, muitos sofrem pela falta de trabalho.

O desemprego atinge milhões de pessoas. Infelizmente, esta é uma dolorosa realidade. Contudo, é válida a orientação apostólica: "ocupem-se com seus negócios e façam seu trabalho com as próprias mãos, conforme os instruímos. Então o mundo exterior respeitará a vida de vocês, e jamais passarão necessidade" (4.11,12).

3 - A Convivência da Comunidade Cristã

Não é fácil viver em comunidade. Existem sempre muitos problemas e dificuldades a serem superados. O apóstolo, então, depois de dar instruções quanto à situação dos que já morreram e alertar sobre a vinda repentina de nosso Senhor, dá diversas orientações para a convivência da comunidade cristã:

A primeira orientação é a de respeitar os líderes da comunidade (5.12). Muitas comunidades não valorizam devidamente seus líderes, e isto acaba prejudicando a convivência de uma comunidade sadia e agradável. A mesma orientação é dada à igreja de Filipos, com respeito à pessoa de Epafrodito (Fp 2.28,29; I Tm 5.17).

A segunda orientação é no sentido de auxiliar os irmãos que estão em dificuldade (5.14,15). Uma comunidade não pode ter convivência sem solidariedade. Às vezes, é preciso levar "as cargas uns dos outros" (Gl 6.1.2).

A terceira orientação é para se desenvolver uma vida em clima de alegria, oração e gratidão, sem murmuração, com muita fé, e aceitando o desafio da gratidão (5.16-20).

A última orientação para a convivência da comunidade cristã alerta para a necessidade dos cristãos desenvolverem o discernimento e o espírito crítico (5.19-22). É importante estar aberto diante da operação do Espírito Santo, mas, também, é importante ter discernimento e espírito crítico a respeito das atividades atribuídas ao Espírito Santo. Principalmente nos dias de hoje, onde se busca forçosamente um avivamento, esta orientação é relevante para a vida da igreja cristã brasileira.

Autor: Aílton Gonçalves Dias Filhos


Lista de estudos da série

1. Romanos - O poder do evangelho: Entenda a justificação pela fé de A a Z – Estudo Bíblico sobre Romanos

2. 1 Coríntios - Ordem no caos: Soluções bíblicas para os problemas reais da igreja – Estudo Bíblico sobre 1 Coríntios

3. 2 Coríntios - Força na fraqueza: O poder do ministério em meio ao sofrimento – Estudo Bíblico sobre 2 Coríntios

4. Gálatas - O único evangelho verdadeiro: Por que a liberdade em Cristo é inegociável – Estudo Bíblico sobre Gálatas

5. Efésios - O plano cósmico de Deus: Descubra sua identidade no Corpo de Cristo – Estudo Bíblico sobre Efésios

6. Filipenses - O segredo da verdadeira alegria: Como viver contente em qualquer circunstância – Estudo Bíblico sobre Filipenses

7. Colossenses - Cristo acima de tudo: A prova definitiva da supremacia de Jesus – Estudo Bíblico sobre Colossenses

8. 1 Tessalonicenses - Vigilância e esperança: Como viver aguardando a volta de Cristo – Estudo Bíblico sobre 1 Tessalonicenses

9. 2 Tessalonicenses - Firme até o fim: A verdade sobre o Dia do Senhor e como perseverar – Estudo Bíblico sobre 2 Tessalonicenses

10. 1 Timóteo - Liderança que inspira: O manual de Paulo para uma igreja saudável – Estudo Bíblico sobre 1 Timóteo

11. 2 Timóteo - Combati o bom combate: As palavras finais de Paulo para perseverar no ministério – Estudo Bíblico sobre 2 Timóteo

12. Tito - Doutrina em prática: Como organizar a igreja para as boas obras – Estudo Bíblico sobre Tito

13. Filemon - Do escravo ao irmão: A lição revolucionária sobre perdão e reconciliação – Estudo Bíblico sobre Filemon

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