É impressionante verificar a luta de determinadas pessoas ou grupos pelos seus ideais. Existem aqueles que perdem até a própria vida nesta luta, como, por exemplo, o Pr. Martin Luther King, o teólogo Dietrich Bonhoeffer, Tiradentes, Chico Mendes, e tantos outros.
Estes e muitos outros deixaram exemplos que ninguém pode negar ou ignorar. Realmente, dar a própria vida em defesa dos ideais, é algo muito desafiador.
Neste Estudo, o apóstolo Paulo fala de sua luta, a qual está chegando ao final, e conclama Timóteo para prosseguir neste mesmo caminho ideal, como bom soldado de Cristo, atleta e lavrador. A obra do Senhor não pode sofrer interrupções em sua caminhada.
A Epístola
A segunda carta a Timóteo foi escrita durante o segundo aprisionamento de Paulo, pouco antes do seu martírio, isso por volta do ano 67 d.C., sendo esta a última epístola escrita por ele. Paulo trata de quase todos os temas da primeira carta, mas é um escrito bem mais pessoal, mostrando a grande amizade entre ele e Timóteo.
Mas, ao mesmo tempo, apresenta a sua tristeza, pois estava só e desejava ver Timóteo. Paulo, naquele cárcere, sente-se só, vê que os seus dias estão contados e, então, escreve esta carta, a fim de encorajar a Timóteo na missão.
Desta vez. Paulo está na prisão, incomunicável, esperando a morte, de modo diferente da primeira vez, quando ficou preso em casa alugada (At 28.30). Segundo G. Hendriksen, "Paulo estava encarcerado em algum escuro calabouço subterrâneo, com um buraco no teto para passagem de luz e de ar". Onesíforo o encontrou depois de uma diligente busca (1.17).
Certamente, Paulo estava acorrentado (1.16), "sofrendo até algemas, como malfeitor" (2.9), e esta solidão o fazia sofrer (4.16,17). Paulo esteve na presença do Imperador Nero, e esperava comparecer novamente no inverno.
Paulo pede a Timóteo que venha logo, com Marcos, trazendo os objetos que deixara, e isso, antes do inverno (4.9,11,13 e 21). Este "vir antes do inverno" era por causa da navegação, que sofria solução de continuidade durante o inverno e, também, a sua execução poderia ocorrer antes disso.
A carta trata dos "últimos dias" em dois sentidos: os últimos tempos de Paulo, e os últimos tempos da igreja. É neste contexto que ele declara: "Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé" (4.6,7).
A carta foi escrita com os seguintes objetivos: 1) Para pedir a presença de Timóteo em Roma; 2) Para alertar Timóteo contra os falsos mestres; 3) Para animar Timóteo em seus deveres, preparando-o melhor para o ministério; 4) Para fortalecer Timóteo contra as perseguições vindouras.
Portanto, Paulo escreveu à sombra da sua execução, que lhe parecia iminente. Além de ser uma comunicação muito pessoal ao seu jovem amigo Timóteo, essa carta foi, também, o registro da sua última vontade; é o seu testamento à igreja.
1 - O Ministério Cristão não pode sofrer interrupções
Paulo estava vendo o seu fim chegar, e quem, pois, combateria pela verdade, depois de sua morte?
A situação era delicada a ponto do comentarista Moule afirmar que "o Cristianismo estremecia, humanamente falando, à beira da aniquilação". Assim sendo, Paulo escreve a Timóteo com o propósito de encorajá-lo e capacitá-lo para o exercício do ministério, a fim de que este não sofresse interrupções.
O apóstolo sabia que Timóteo precisava de ajuda para prosseguir, e que não estava devidamente preparado para assumir as pesadas responsabilidades de liderança na igreja. John R. W. Stott, em seu livro Tu Porém, apresenta claramente três aspectos deste despreparo:
Timóteo ainda era relativamente jovem - Foi por isso que Paulo disse a ele na primeira carta: "ninguém despreze a tua mocidade" (I Tm 4.12), e o recomendou a "fugir das paixões da mocidade" (2.22).
Talvez tivesse, nesta época, trinta e poucos anos de idade. Deus quer usar todas as pessoas, independentemente de sua idade. Todos são importantes para o Senhor. Aquela desculpa de ser muito jovem para trabalhar na igreja não tem respaldo nas Escrituras.
Timóteo era propenso à doença - Na primeira carta de Paulo a Timóteo, o apóstolo referiu-se às suas frequentes enfermidades (I Tm 5.23). "Com" ou "sem" enfermidade, Deus quer que estejamos envolvidos em algum ministério. As enfermidades precisam nos levar mais para perto de Deus e de Sua igreja.
Timóteo era de temperamento tímido - Era uma pessoa introvertida. Paulo teve de abrir caminho para a sua missão (I Co 16.10,11) e, por várias vezes, exorta-o a tomar a sua parte no sofrimento, e não ter medo ou vergonha, já que Deus não nos deu espírito de covardia (1.1-8; 2.1-3; 3.12; 4.5).
Deus deseja que a sua obra e a sua igreja não parem. É o que se pode ver, também, com clareza, no Antigo Testamento, quando da morte de Moisés, que guiava o povo rumo a Canaã. Deus chamou, capacitou e encorajou a Josué para ocupar o lugar de Moisés, pois o povo não podia ir para a sua caminhada (Js 1.1-8).
Aqui é possível perguntar: você tem contribuído para o prosseguimento da obra do Senhor? De que forma?
2 - O Ministério Cristão precisa ser levado até às últimas consequências
São três as figuras (metáforas) utilizadas por Paulo, que enfatizam que a obra de Timóteo exigiria vigor, envolvendo tanto labuta, como sofrimento: soldado, atleta e lavrador (2.1-13).
Paulo, vendo os soldados romanos, pensa nos soldados de Cristo, que devem ser pessoas abnegadas, que mostram a sua dedicação, por se acharem dispostas a sofrer, e estando permanentemente em guarda. Os soldados em serviço não contam com segurança e facilidade.
Pelo contrário, dureza, riscos e sofrimento são aceitos sem contestação. Ainda, tanto o atleta quanto o lavrador alcançam vitórias com muito esforço " e, até mesmo, com sofrimentos. A vida dos atletas e dos lavradores não é tão fácil assim como muitos pensam. Mas, eles estão dispostos a levar as suas tarefas até o fim.
Mas, é o próprio exemplo de sofrimento que Paulo dá a Timóteo, que se constitui em lição de vida. Em II Timóteo 2.8-13, ele fala do exemplo de sofrimento de Cristo, depois da sua própria experiência e, em seguida, da experiência de todos os que creem em Cristo. Ainda, Paulo faz referência às suas perseguições e sofrimentos em Antioquia, Icônio e Listra, as quais ele suportou (3.10-13).
Vale a pena lembrar do primeiro mártir do Cristianismo, o diácono Estevão, e do casal Priscila e Áquila, cooperadores de Paulo, os quais arriscaram as suas próprias cabeças em favor da expansão ao evangelho (At 7.54-60; Rm 16.3,4).
Quantos estão hoje acomodados na vida cristã! Quantos vivem, hoje, uma vida religiosa de contemplação, apenas dentro das quatro paredes e completamente inertes. São pessoas que, provavelmente, não estão dispostas a honrar os seus compromissos com Deus até às últimas consequências.
3 - O Ministério Cristão precisa ser exercido através da fiel pregação do evangelho
No capítulo final da carta, o apóstolo Paulo exorta a Timóteo, no sentido de que o seu ministério fosse exercido através da pregação da Palavra de Deus: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (4.2).
Esta Palavra que deve ser pregada, são as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, inspiradas por Deus e proveitosas, as quais ele sabia desde a sua infância (3.10-14). Timóteo precisava pregar esta palavra e não apenas ouvi- la, obedecê-la e sofrer por ela.
Esta proclamação da palavra possui as seguintes características, à luz do texto citado (4.2):
Anúncio insistente - O verbo "instar" significa "assistir", "estar de prontidão", "estar disponível". Mas, aqui, a ideia é de insistência e urgência. É preciso saber que o anúncio do evangelho é questão de vida ou morte. A Bíblia na Linguagem de Hoje diz assim: "pregue a mensagem e insista em anunciá-la, no tempo certo ou não". Após a sua conversão, Paulo logo pregava nas sinagogas que Jesus era o Filho de Deus (At 9.20), o que demonstra a sua visão de urgência.
Anúncio personalizado - O versículo fala que se deve corrigir, repreender e exortar. Isso mostra diferentes maneiras de se ministrar a Palavra, e pessoas em situações diferentes. As pessoas atormentadas por dúvidas, precisam ser consoladas; as vitimadas pelas injustiças, precisam ser encorajadas. E preciso aplicar a Palavra contextualmente.
Anúncio paciente - Este anúncio deve ser acompanhado de "longanimidade". Nunca se deve valer do uso de técnicas humanas de pressão, ou tentar forçar uma decisão. O pregador anuncia o evangelho, mas os resultados vêm por obra do Espírito Santo. Em toda a maneira de ser, o cristão é convocado a ser longânimo (2.24,25). A urgência do anúncio não exclui a paciência.
Anúncio sábio - A pregação deve ser com "doutrina", cuja palavra original é "didaquê", ou seja, pregação com ensino e inteligência. O anúncio deve conter a sabedoria, pois só assim os resultados virão.
Paulo, quando pregou em Atenas, usou de sabedoria, referindo-se aos atenienses da seguinte forma: "Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos e o Deus desconhecido que adorais, é este que vos anuncio". Com esta sabedoria, ele conseguiu ganhar alguns para Cristo (At 17.22,23; 34).
Portanto, a pregação deve ser transmitida com um sentido de urgência. Deve ser aplicada à realidade das pessoas e de modo paciente e inteligente.
Autor: Anderson Sathler
Lista de estudos da série
1. Romanos - O poder do evangelho: Entenda a justificação pela fé de A a Z – Estudo Bíblico sobre Romanos2. 1 Coríntios - Ordem no caos: Soluções bíblicas para os problemas reais da igreja – Estudo Bíblico sobre 1 Coríntios
3. 2 Coríntios - Força na fraqueza: O poder do ministério em meio ao sofrimento – Estudo Bíblico sobre 2 Coríntios
4. Gálatas - O único evangelho verdadeiro: Por que a liberdade em Cristo é inegociável – Estudo Bíblico sobre Gálatas
5. Efésios - O plano cósmico de Deus: Descubra sua identidade no Corpo de Cristo – Estudo Bíblico sobre Efésios
6. Filipenses - O segredo da verdadeira alegria: Como viver contente em qualquer circunstância – Estudo Bíblico sobre Filipenses
7. Colossenses - Cristo acima de tudo: A prova definitiva da supremacia de Jesus – Estudo Bíblico sobre Colossenses
8. 1 Tessalonicenses - Vigilância e esperança: Como viver aguardando a volta de Cristo – Estudo Bíblico sobre 1 Tessalonicenses
9. 2 Tessalonicenses - Firme até o fim: A verdade sobre o Dia do Senhor e como perseverar – Estudo Bíblico sobre 2 Tessalonicenses
10. 1 Timóteo - Liderança que inspira: O manual de Paulo para uma igreja saudável – Estudo Bíblico sobre 1 Timóteo
11. 2 Timóteo - Combati o bom combate: As palavras finais de Paulo para perseverar no ministério – Estudo Bíblico sobre 2 Timóteo
12. Tito - Doutrina em prática: Como organizar a igreja para as boas obras – Estudo Bíblico sobre Tito
13. Filemon - Do escravo ao irmão: A lição revolucionária sobre perdão e reconciliação – Estudo Bíblico sobre Filemon