A humanidade está vivendo um período jamais visto em sua história. A tecnologia avança com tanta velocidade, que faz a ficção científica transformar-se em realidade. O universo é explorado por aparelhos cada vez mais sofisticados.
No campo religioso, está cada vez mais forte uma prática que mistura elementos de diferentes religiões. No meio evangélico, muitos não se preocupam com a reflexão em torno das verdades bíblicas e teológicas - antes, preocupam-se apenas com o que "funciona".
Diante de um quadro assim, alguém poderia perguntar sobre a razão de se estudar uma pequenina carta, enviada há quase dois mil anos, a uma igreja de uma pequenina cidade em uma região distante.
Há muitas razões para se estudar a carta que Paulo mandou aos colossenses. Esta carta é um documento que tem hoje o mesmo valor que tinha quando foi escrita.
A epístola apresenta toda a grandiosidade da pessoa e da obra de Cristo. Colossenses é uma epístola escrita com intenções pastorais (pois é um texto escrito por um pastor para orientar outro pastor a cuidar de uma igreja) e missionárias (pois foi escrita a partir de uma situação específica acontecida em um campo missionário).
É também um pequeno tratado de Cristologia - o estudo sobre a pessoa e a obra de Cristo -, pois fala a respeito de toda a beleza do Cristo de Deus. Estudá-la é mergulhar no conhecimento de Cristo. Felizes são os que refletem e meditam na preciosidade desta epístola e, assim, crescem em sua comunhão com o Senhor.
A Epístola
A comunidade cristã em Colossos não foi fundada por Paulo. O plantador daquela igreja foi um amigo de Paulo, chamado Epafras (1.7; 4.12). De fato, Paulo nem sequer conhecia aqueles crentes (1.4-8; 2.1).
Como era comum naquela época, os cristãos se reuniam em casas (4.15,17, cf. Fm 2). Os membros da igreja eram convertidos do paganismo (1.21,27; 2.13). Quando lhes enviou a carta, Paulo estava preso (4.3,10,18), provavelmente em Roma, por volta do ano 58 da era cristã.
Epafras, o pastor da igreja dos colossenses, estava enfrentando um sério problema. Os estudiosos chamam este problema de "heresia colossense". Um estranho ensinamento era ali ministrado. Era um sincretismo, pois misturava elementos do paganismo daquela região com elementos do judaísmo.
Os mestres da "heresia colossense" ensinavam que entre os homens e Deus havia uma série de espíritos intermediários. Ensinavam culto aos anjos. Era um ensino supersticioso, que estava minando a fé daqueles crentes. Paulo mostra, em sua epístola, como estes ensinos eram sem fundamento. Ao mesmo tempo, apresenta o ensinamento correto a respeito da pessoa de Cristo.
1 - A Glória de Cristo
A epístola aos Colossenses mostra, em cores vívidas, a beleza da glória de Cristo. A apresentação da glória de Cristo, nesta epístola, dá-se de diversas formas. Dentre tantas, destacam-se:
1.1. A glória de Cristo é ser o Revelador de Deus - O Senhor é apresentado por Paulo, na correspondência que enviou aos colossenses, como sendo a "imagem do Deus invisível" (1.15 a). Cristo Jesus é a imagem visível do Deus invisível. Nas palavras do Rev. Júlio Andrade Ferreira, Jesus Cristo é o "revelador de Deus". Isto está de acordo com o que Jesus mesmo disse, em João 14.9.
Aliás, o testemunho bíblico é unânime em apresentar a revelação de Deus providenciada por Cristo. O evangelista João afirma que "ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou" (Jo 1.18). Colossenses 2.9 ensina que em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da Divindade.
E o desconhecido autor da epístola aos Hebreus afirma que Jesus é a expressão exata do ser de Deus (Hb 1.3). Foi com razão que Tertuliano, um dos Pais da igreja, disse que "em Jesus, vemos a Deus como Ele é, e ao homem como deveria ser". Quem quer conhecer a Deus, deve ir a Jesus, o Cristo, o revelador de Deus. Não há outro meio de conhecer a Deus, a não ser por meio de Cristo (Jo 14.6). Aí está a glória de Cristo.
1.2. A glória de Cristo é ser o Primogênito da Criação - Paulo disse que Cristo é o "primogênito de toda a criação" (1.15b). O que o apóstolo quis dizer com isso? Algumas seitas heréticas fazem uma interpretação errada desta passagem, e pensam encontrar nela, base para ensinar que Cristo foi "criado", sendo, portanto, não divino. Só que não é isto que o texto bíblico ensina.
A palavra "primogênito" significa "o primeiro a ser gerado". Mas significa, também, "o principal", "o mais excelente", "o mais cheio de honra e dignidade". E esta segunda possibilidade de sentido da palavra é usada em Colossenses 1.15. Cristo tem mais excelência e glória que todo o universo. Ele é o "herdeiro de todas as coisas" (Hb 1.2).
1.3. A glória de Cristo é ser o Criador e Sustentador do universo - Colossenses 1.16,17 declara que Cristo criou todas as coisas do universo, as visíveis e as invisíveis. O Novo Testamento ensina, também, que Cristo "sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder" (Hb 1.3.). Todos os elementos do universo, do mais simples ao mais complexo, são criados e sustentados por Cristo. Da menor partícula à estrela de maior grandeza, tudo foi criado e é sustentado por Cristo. As leis físicas e biológicas que regem o universo e a vida, estão todas debaixo da soberania de Cristo.
1.4. A glória de Cristo é ser o Cabeça da Igreja - O texto de Colossenses 1.15-20 é provavelmente um hino de louvor a Cristo, cantado nas igrejas da Ásia Menor no primeiro século da nossa era. Nesta poesia, Cristo é apresentado como sendo o Cabeça, isto é, o líder supremo da igreja.
Não raro acontece que algumas pessoas pensem que são donas da igreja. Pensam que a igreja não sobrevive sem elas. Tais pessoas se esquecem que, acima delas, está a pessoa gloriosa do Senhor Jesus Cristo.
No nosso mundo, muitas pessoas são adoradas como se fossem deuses. É preciso que os seguidores de Cristo vivam de acordo com a sua vontade, e proclamem que, acima de tudo e de todos, está o glorioso Senhor Jesus Cristo.
2 - A Suficiência de Cristo
A Cristologia de Colossenses ensina, também, a suficiência de Cristo, em outro hino cantado pelos cristãos daquele tempo. Esta suficiência é apresentada da seguinte maneira:
2.1. Cristo é suficiente para nossa salvação - Colossenses 2.13,14 mostra que, em Cristo, homens e mulheres têm acesso ao perdão completo e absoluto. Nestes versículos, Paulo usa uma linguagem comercial, comparando o pecado a uma dívida. E diz que Jesus pagou completamente esta dívida, na cruz. O ensino da plena e absoluta suficiência de Cristo precisa ser (re)aprendido por muitos em nosso tempo. Lamentavelmente, muitos não acreditam que a obra de Cristo na cruz seja plenamente suficiente para nossa salvação.
Pensam que para a salvação é preciso, por exemplo, Cristo, e a quebra de supostas maldições provenientes de pecados cometidos pelos antepassados da pessoa - são os que ensinam que, sem esta "quebra de maldição", a obra de Cristo na cruz é insuficiente para a salvação.
Há, também, o ensino que diz ser necessário para a salvação, Cristo, e a entrega dos dízimos. Este ensino vincula a obra de Cristo ao "pagamento" de dízimos, e afirma que só a obra de Cristo na cruz não é capaz de salvar.
Tudo que o ser humano jamais será capaz de fazer, Jesus Cristo fez na cruz. Cristo é suficiente para nossa salvação.
2.2. Cristo é suficiente para derrotar todas as forças do mal - Em Colossenses 2.15 (o último versículo do hino iniciado em 2.13), é dito que Cristo despojou os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, e os venceu na cruz.
A expressão "principados e potestades" é muito usada por Paulo. Aparece aqui, e também em Romanos 8.38, Efésios 3.10, 6.12 e Colossenses 1.16. É usada para fazer referência aos demônios, criaturas espirituais a serviço de Satanás, e rebeldes em relação a Deus. As notas de rodapé da Bíblia de Genebra comentam Colossenses 2.15, dizendo que "a cruz foi a carruagem de triunfo" de Cristo em sua vitória sobre Satanás e os demônios.
É muito interessante que Paulo diz que, na cruz, Cristo expôs ao desprezo as forças do mal. Martinho Lutero lembra que "o diabo é o espírito orgulhoso, que não suporta a caçoada".
Este é o paradoxo da cruz: na aparente derrota e fraqueza do sacrifício de Jesus, está a vitória, que vence Satanás e os demônios. Recentemente, tem-se visto em algumas comunidades evangélicas uma verdadeira obsessão por demônios. Há crentes tão preocupados (e ocupados) com demônios, que os enxergam em todos os cantos. Só pensam em "amarrá-los".
Há até casos de igrejas que invocam os demônios, para depois expulsá-los. Agindo assim, acabam dando aos demônios a atenção que eles não merecem. A suficiência de Cristo é expressa na sua superioridade e domínio totais sobre os demônios.
3 - A Vida em Cristo
Como é comum nos escritos de Paulo, após a saudação inicial, há uma parte doutrinal, na qual o apóstolo ensina teologia de modo pastoral. Esta parte é seguida por outra, em que são mostradas as implicações práticas da fé. Nas epístolas, a teologia é a base da ética, e a ética é a encarnação da teologia.
Este equilíbrio saudável é visto na epístola aos Colossenses. Após falar sobre a pessoa de Cristo, fala-se, a seguir, a respeito da vida em Cristo. Esta vida é apresentada da seguinte maneira:
3.1. A vida em Cristo é livre de pressões legalistas - Os mestres da "heresia colossense" ensinavam que é preciso obedecer a uma série de mandamentos humanos, ligados a proibições de alguns alimentos, ou à guarda de festas judaicas (2.16).
Havia, ainda, ordens do tipo "não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquilo outro" (2.21). William Hendriksen lembra que as pressões legalistas, como as ensinadas em Colossos, são perigosas, porque desviam quem se submete a elas, para longe de Cristo, o único Salvador (Gl 5.1-12). Cristo Jesus dá liberdade aos seus seguidores. Esta liberdade é vivida em santidade, não em legalismo. O legalismo é doentio e mortal. A santidade é saudável e libertadora.
3.2. A vida em Cristo é livre de idolatrias de qualquer natureza - Outro sério erro defendido e praticado pelos professores da "heresia colossense" era o culto aos anjos e visões diversas (2.18). Vários comentaristas antigos diziam que, na região do vale do rio Lico, havia a prática de culto a anjos. O apóstolo Paulo é enfático em ensinar que Cristo é superior a todas as criaturas espirituais. Toda a adoração cristã deve ser dirigida única e exclusivamente a Cristo.
Em nosso tempo, tem-se visto muitas pessoas darem uma ênfase exagerada a anjos. Em qualquer banca de jornais, podem-se comprar revistas, livros, fitas de vídeo, fitas cassete, e até CD-Roms, a respeito de anjos. Este material não usa a Bíblia como fonte de consulta, e ensina invocação a anjos. Esta ênfase é antibíblica. Cristo é o Senhor do universo. Os anjos são conservos dos homens e mulheres que são fiéis a Deus (Ap 19.9,10; 22.9).
3.3. A vida em Cristo é marcada por santidade - Nos versículos 5 a 11 do capítulo 3 da carta aos Colossenses, Paulo ensina as consequências práticas da vida em Cristo. Primeiramente, é apresentada uma lista de vícios que devem ser abandonados: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno, avareza (que é comparada à idolatria), ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena, mentira, preconceito de qualquer natureza, seja religioso, cultural ou social.
Mas como a santidade cristã é também positiva, nos versículos 12 a 17 é feita a apresentação de virtudes cristãs, que devem estar presentes na vida dos filhos e filhas de Deus: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, perdão, instrução e aconselhamento comunitário, gratidão e louvor a Deus.
E em 4.2-6, é ensinada a importância da oração e da atitude dos crentes em relação aos que não são crentes. A santidade é apresentada em termos individuais - coisas que cada crente deve ser ou fazer - e coletivo - atitudes que devem ser vividas na comunidade cristã.
3.4. A vida em Cristo é caracterizada por relacionamentos de qualidade - As consequências práticas da vida em Cristo são apresentadas também no texto de 3.18-4.1. Fala-se aí sobre como as esposas devem tratar seus maridos, e como estes devem tratar suas esposas.
Os filhos aprendem sobre como devem tratar seus pais, e estes aprendem sobre como devem educar seus filhos.
Os empregados aprendem a se relacionar com seus patrões, enquanto estes aprendem a tratar seus empregados. Assim, de modo prático e simples, os cristãos vão viver, em seus relacionamentos, as marcas da vida em Cristo.
Autor: Carlos Ribeiro Caldas Filho
Lista de estudos da série
1. Romanos - O poder do evangelho: Entenda a justificação pela fé de A a Z – Estudo Bíblico sobre Romanos2. 1 Coríntios - Ordem no caos: Soluções bíblicas para os problemas reais da igreja – Estudo Bíblico sobre 1 Coríntios
3. 2 Coríntios - Força na fraqueza: O poder do ministério em meio ao sofrimento – Estudo Bíblico sobre 2 Coríntios
4. Gálatas - O único evangelho verdadeiro: Por que a liberdade em Cristo é inegociável – Estudo Bíblico sobre Gálatas
5. Efésios - O plano cósmico de Deus: Descubra sua identidade no Corpo de Cristo – Estudo Bíblico sobre Efésios
6. Filipenses - O segredo da verdadeira alegria: Como viver contente em qualquer circunstância – Estudo Bíblico sobre Filipenses
7. Colossenses - Cristo acima de tudo: A prova definitiva da supremacia de Jesus – Estudo Bíblico sobre Colossenses
8. 1 Tessalonicenses - Vigilância e esperança: Como viver aguardando a volta de Cristo – Estudo Bíblico sobre 1 Tessalonicenses
9. 2 Tessalonicenses - Firme até o fim: A verdade sobre o Dia do Senhor e como perseverar – Estudo Bíblico sobre 2 Tessalonicenses
10. 1 Timóteo - Liderança que inspira: O manual de Paulo para uma igreja saudável – Estudo Bíblico sobre 1 Timóteo
11. 2 Timóteo - Combati o bom combate: As palavras finais de Paulo para perseverar no ministério – Estudo Bíblico sobre 2 Timóteo
12. Tito - Doutrina em prática: Como organizar a igreja para as boas obras – Estudo Bíblico sobre Tito
13. Filemon - Do escravo ao irmão: A lição revolucionária sobre perdão e reconciliação – Estudo Bíblico sobre Filemon