Salário Retido, Justiça Clamando: Como a Bíblia denuncia a opressão no trabalho – Estudo Bíblico sobre Justiça Social

Tiago 5.1-11

Uma pessoa, iniciando seu estudo da Escritura Sagrada, após verificar o que a mesma falava a respeito do homossexualismo, disse: “Nunca imaginei que a Bíblia falasse algo a respeito deste assunto”.

Será que a Bíblia tem algo a dizer sobre o trabalho e a exploração social?

É possível ver pela Bíblia que, normalmente, a opressão social, a exploração da mão de obra barata advém, entre outras coisas, de um coração ganancioso (1 Tm 6.10,11), procedendo do mesmo os maus desígnios da exploração (Mt 15.19).

Vale lembrar aqui, ainda que resumidamente, aquilo que a Escritura tem a dizer sobre a ganância e a exploração do trabalho humano.

I. Consequências da ganância

A. Querer crescer em detrimento dos menos favorecidos

Quando Tiago comenta sobre a realidade dos ricos ele o faz declarando que, em vez deles se alegrarem com o que tem, deveriam chorar lamentando (Tg 5.1) pois, haveria de vir sobre os ricos algumas desventuras.

Por que Tiago se dirige àqueles irmãos desta forma? Exatamente porque aquelas pessoas estavam crescendo financeiramente retendo o salário diário dos trabalhadores (Tg 5.4).

Desta forma, as próprias riquezas conquistadas de maneira ilícita serviriam de testemunha contra eles próprios (Tg 5.2,3). Impressionante são as palavras do profeta Miquéias descrevendo as riquezas adquiridas impropriamente chamando-as de "... tesouros da impiedade” (Mq 6.10).

Não há mal em querer crescer financeiramente através do trabalho (Ec 5.19, Dt 8.18, Ef 4.28), contudo, o problema é que a ganância faz com que as pessoas queiram crescer rápido demais, baixando assim seus padrões morais, e, por vezes, aproveitando-se dos mais fracos, oprimindo-os principalmente através da exploração de mão-de-obra barata.

B. Duvidar da ação sustentadora de Deus

Normalmente, é digno de nota que as pessoas semelhantes àqueles ricos que o irmão de Jesus denuncia têm um sério problema com a confiança em Deus para prover as necessidades humanas.

Por vezes, deixam-se dominar pela ansiedade exacerbada advinda deste sentimento (pessoas assim oram pouco ou nem um pouco), acabando por lançar mão de meios que, na prática, denunciam a dúvida interna que existe a respeito da ação sustentadora de Deus.

Pensam eles: “será mesmo que Deus vai sustentar minha vida, ou se importa com minhas necessidades? Não é melhor cuidar primeiro do meu sustento material?". Leia Lucas 12.13-21.

Este tipo de atitude é, na verdade, uma afronta à ação poderosa de Deus que provê tudo aquilo de que necessita o ser humano (Mt 6.25-34).

Geralmente o homem que oprime aos outros através do trabalho crê que pode conseguir tudo o que quer com suas próprias forças, esquecendo-se de que é o próprio Deus, que é dono de tudo (Sl 24.1), que lhe dá o sustento diário.

Deus orienta seus filhos a se lembrarem dele na medida em que prosperarem, pois, quem os fez crescer foi o próprio Senhor (Dt 8.11-18).

C. Duvidar do juízo de Deus sobre as ações humanas

É importante notar que a atitude daqueles homens ricos levou-os a viver uma vida regalada nos prazeres condenáveis por Deus (Tg 5.5). Eles ignoraram que existe um juiz que vai julgar as injustiças.

Viviam desconsiderando que havia um juiz a quem deveriam prestar contas. Em seus corações transbordou autoconfiança. Contudo, o próprio Tiago desmascara-os. No próprio texto em questão é possível perceber que, enquanto eles pensavam que estavam intocáveis, seguros, inabaláveis em virtude de suas riquezas, Tiago diz que eles estavam sendo preparados para o dia da matança. A atitude daqueles homens de oprimir os mais fracos, sem sofrer resistência, deu-lhes uma falsa sensação de segurança, mas Tiago procura corrigi-los.

A Escritura é muito clara sobre esta falsa segurança causada pelo poder. O próprio Salomão escreveu muito sobre isso (Pv 1.15-19; 6.16-18; 8.13; 15.3). Em Sofonias 1.12,17,18 também vemos o profeta demonstrando o erro de alguns em achar que podem escapar do juízo divino.

Nesta perspectiva é instrutivo perceber a linguagem do profeta Obadias a este respeito. Obadias usa linguagem hiperbólica (exagerada) para que seus leitores possam perceber como é inútil fugir do juízo divino.

O profeta conclama:

"A soberba do teu coração te enganou, ó tu que habitas nas fendas das rochas na tua alta morada, e dizes no teu coração: Quem me deitará por terra? Se te remontares como águia, e puseres o teu ninho entre as estrelas, de lá te derrubarei, diz o Senhor" (Ob 3,4).

II. Reações dos que sofrem opressão social

A. Paciência com base em uma consciência escatológica

Uma das reações exigidas por Tiago de seus leitores é exatamente a paciência diante de circunstâncias de exploração como era a que aqueles irmãos se encontravam.

Entretanto, Tiago coloca que o suporte para a paciência que seus ouvintes deveriam exercer seria advinda de uma consciência escatológica, isto é, uma compreensão quanto aos últimos dias (Tg 5.7,8).

É possível perceber que a comparação tirada da agricultura é bastante pertinente (Tg 5.7). O agricultor, depois de fazer tudo o que foi possível para que a plantação se desenvolvesse, chega a um ponto em que ele precisa esperar pacientemente.

E isto ele faz com certeza. Da mesma forma, aqueles irmãos oprimidos deveriam esperar com paciência para que aquela situação fosse resolvida. A razão para determinada atitude somente pode ser encontrada em mentes regeneradas “... pois a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5.8).

A certeza da volta de Cristo é uma das convicções mais preciosas dos cristãos. É na segunda vinda de Cristo que ele virá com todo poder e glória para reinar e punir toda a injustiça acontecida até então (Mt 24.29-31). É neste momento que todos os atos maus serão julgados.

B. Consciência de que se pode passar de injustiçado a réu

Tiago continua aconselhando aqueles irmãos a serem prudentes no falar. Não é por menos. Um dos primeiros pecados a serem cometidos por quem está sofrendo, dentre outras coisas, com injustiças sociais, é exatamente o pecado da murmuração.

E o conselho para quem passa por uma circunstância assim é “... não vos queixeis uns dos outros..." (Tg 5.9). A razão é apresentada logo em seguida “... para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas” (Tg 5.9).

Isto significa que se aqueles irmãos que estavam sendo injustiçados começassem a murmurar, o mesmo juiz (por ter a característica de ser totalmente santo), que estava julgando a causa deles, passaria a julgá-los, ou seja, eles poderiam passar de injustiçados a réus.

Tiago já havia tratado do problema da língua anteriormente demonstrando o mal que a mesma pode causar (Tg 3.1-12).

Desta forma, o cuidado com a língua deve ser algo que ocupe a atenção de todo cristão, pois nem uma circunstância de opressão social pode ser justificativa para a prática da murmuração.

C. Imitação dos modelos humanos deixados por Deus na história

Por outro lado, vale lembrar que qualquer pessoa que passe por uma circunstância de opressão poderia imediatamente se perguntar: “Fácil falar quando se está fora da situação".

Tiago, com muita prudência, coloca nos versos 10 e 11 os modelos humanos que Deus deixou registrados na História. Isto para que os futuros filhos de Deus perseguidos pudessem olhar para trás e ver que:

  1. eles não são os primeiros a sofrerem e não serão os últimos;
  2. que outros que passaram por circunstâncias tão ruins, ou até mesmo piores, conseguiram resistir pacientemente sem murmuração;
  3. que Deus agiu, ainda que humanamente parecesse demorado. Deus no tempo dele interveio sobre a situação mudando todo o quadro, até então injusto.

O próprio Senhor Jesus falou a respeito de modelos a serem imitados em momentos de injustiça, e que isto era motivo de alegria e exultação, pois a recompensa viria (Mt 5.10-12).

Conclusão

É possível perceber que a exploração do trabalho humano leva o homem por caminhos que têm consequências terríveis, algumas delas enumeradas aqui. A exploração da mão de-obra barata é algo que não passa despercebido aos olhos de Deus (Sl 1.6; 2 Tm 2.19), e portanto, o cristão deve fugir de praticá-la.

Desafio

Quais são os modelos que você pode ver hoje que passaram com sucesso pelas perseguições? Como você pode procurar fugir da ganância que existe no coração humano? Até que ponto as pessoas praticam aquilo que Deus espera quando estão sofrendo exploração?

Autor: João Geraldo Neto Mattos


Lista de estudos da série

1. O Primeiro Trabalhador: Descubra a origem divina e o propósito do seu trabalho – Estudo Bíblico sobre a Teologia do Trabalho

2. Do Paraíso ao Suor: Entenda por que seu trabalho é tão difícil e como redimi-lo – Estudo Bíblico sobre a Queda

3. Além do Salário: Descubra o verdadeiro chefe a quem você serve todos os dias – Estudo Bíblico sobre Propósito

4. Chamado ou Capacidade?: O segredo para alinhar seus dons naturais ao plano de Deus – Estudo Bíblico sobre Vocação

5. Cristão no Comando (ou na Equipe): Um guia prático de ética para líderes e colaboradores – Estudo Bíblico sobre Liderança

6. Quando o Lucro Vira Ídolo: Os 3 perigos de amar o dinheiro mais do que a Deus – Estudo Bíblico sobre Ganância

7. Salário Retido, Justiça Clamando: Como a Bíblia denuncia a opressão no trabalho – Estudo Bíblico sobre Justiça Social

8. Provisão ou Presença?: O segredo para equilibrar carreira e família sem perder nenhum dos dois – Estudo Bíblico sobre Família

9. Da Sala de Reunião ao Lar: O plano de Deus para a mulher que trabalha – Estudo Bíblico sobre a Mulher na Sociedade

10. A Pausa Sagrada: Por que o descanso não é luxo, mas um mandamento divino – Estudo Bíblico sobre o Sábado

11. Deus Não Quer Seu Dinheiro: Descubra o que Ele realmente espera de suas finanças – Estudo Bíblico sobre Dízimos e Ofertas

12. A Verdadeira Riqueza: Aprenda a administrar seus bens como um fiel mordomo de Deus – Estudo Bíblico sobre Mordomia

13. Seu Talento, Sua Missão: Por que o voluntariado é uma das formas mais poderosas de trabalho – Estudo Bíblico sobre Serviço

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