O homem sem Cristo vê o trabalho como autobenefício, autocrescimento e autoproteção. Tanto é assim que a justificativa do trabalho é bastante usada em algumas situações quando, por exemplo, se diz que “fulano é boa pessoa, pois é trabalhador".
Somente por serem trabalhadoras as pessoas estão livres de qualquer crítica ou defeito; isso mostra nossa tendência de reduzir as qualidades humanas à ação de trabalhar. Sobre isso o Salmo 127.2 diz:
"Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem.”
Qual o propósito, então, do trabalho? Como usar devidamente nossas profissões para a glória de Deus? E sobre isso que trataremos na presente lição: o propósito do trabalho.
Veremos que o trabalho é dado por Deus para o sustento, benefício e prazer da pessoa, mas também para servir ao próximo com os frutos da atividade profissional e assim honrar e testemunhar a respeito do Senhor.
I. Colocando vida no lugar da monotonia
É possível um trabalho que não seja monótono? Sim.
Dependendo da motivação e objetivos da pessoa no desempenho de sua função. Pessoas motivadas trabalham mais e melhor. Para o cristão não deveria ser diferente; ele deveria estar feliz em seu trabalho por causa da motivação e objetivos que Deus estabelece para o trabalho.
O texto básico da lição, Efésios 4.28, mostra que nossa atividade profissional tem um objetivo específico que é agradar a Deus e servir ao próximo.
A visão do cristão vai além de si mesmo; agora ele tem deveres para com o próximo. Por ser nova criatura, a visão do trabalho deve estimulá-lo a trabalhar mais e melhor.
É isto que a carta de Paulo aos Efésios ensina. O cristão tem duas fases na vida: a primeira antes de conhecer a Deus e a (Efésios 4.28) segunda depois que Deus tocou em seu coração.
- A primeira fase é conhecida como o homem natural, ou seja, está morto em seus delitos e pecados, procurando satisfazer a própria carne.
- A segunda fase representa a nova vida com Cristo.
Em Efésios 1.3, por exemplo, o apóstolo diz que o cristão foi escolhido por Deus, foi abençoado "com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestes”. Assim, Deus redimiu, desvendou o mistério de sua vontade e ainda o tornou herdeiro.
Em resumo, quando o poder redentor de Deus atinge o coração humano, tudo muda, tudo se faz novo. O crente em Cristo morre para este mundo com suas ideias e manias e recebe uma nova vida pela graça de Deus.
Assim sendo, você que é verdadeiro cristão, não vive mais para si mesmo como na primeira fase Romanos 14.7. É neste momento que entra o conceito cristão do trabalho, ou seja, há um propósito de Deus para o trabalho; há um plano estruturado que vai além da mera rotina de vida.
Este plano aponta primeiramente para a glória de Deus; em segundo lugar para o Reino de Deus e sua justiça (o cuidado dos outros) e, por último, o prazer e usufruto dos rendimentos do trabalho.
No momento em que empresas procuram incentivar seus empregados com programas de motivação, investindo grande soma de dinheiro nisto, o cristão recebe a motivação do Espírito Santo, pela graça, pois o trabalho dele é muito útil.
Assim, como cristão, toda obsessão e determinação em ganhar mais, ou qualquer desânimo que surge num trabalho aparentemente cansativo, rotineiro e sem propósitos, podem ser substituídos por um novo propósito: servir a Deus, servindo ao próximo, conforme o ensino de Efésios 4.28.
O objetivo anterior, egoísta e moralista que era, é trocado agora por uma vida dinâmica e cheia de desafios novos, justos e relevantes para hoje.
Como tem sido nossa visão sobre o trabalho? Temos sido pouco diferentes das pessoas que reclamam da rotina, do emprego, do chefe ou da luta? Em que base está nossa ambição, no “eu” ou em Deus? Talvez a pergunta que devemos fazer neste momento seja: Por que trabalhamos? Qual a nossa motivação? O que há em nossos corações?
Nos libertemos, portanto, daquele velho esquema, da visão de mundo e empenhemos nosso esforço profissional para agradar a Deus, servindo ao seu Reino. Medite em Efésios 6.5-8.
II. Vivendo o presente século com os pés nas nuvens
Zaqueu era um homem muito rico. Sua profissão não era das mais honrosas aos olhos do povo — cobrador de impostos. Ele, sendo judeu, cobrava dinheiro de seus próprios conterrâneos para remetê-los ao Império Romano.
Zaqueu representava o país invasor contra seu próprio país sendo dessa forma o oficial da Receita, enviando recursos do seu povo ao riquíssimo império. Este homem viveu na mesma época e lugar que Jesus. Certo dia, ambos se encontraram, Jesus e Zaqueu (Lc 19.1-10).
Até então, antes do grande encontro, Zaqueu era um homem cujo histórico parecia indicar uma certa participação relacionada à corrupção fiscal. Em resumo, aquele homem baixinho fazia uso egoístico do dinheiro que recebia e talvez até do que não recebia.
O fato é que no meio de uma grande multidão, Zaqueu foi escolhido pelo Mestre para recebê-lo em sua casa. Jesus não somente entrou na casa de Zaqueu como também tornou-se o Senhor de Zaqueu.
Observamos que depois deste maravilhoso encontro, a disposição daquele homem mudou completamente em relação ao dinheiro e ao próximo.
Decididamente ele entrega metade de seus bens aos pobres e procura saber se fraudou ou usou de má fé o dinheiro ou posse de outros, e por sua própria conta se propôs a indenizar quem desta forma prejudicou.
A história de Zaqueu, tão conhecida, nos ajuda a ter uma ideia mais precisa da transformação pela qual o crente passou ao entregar-se a Cristo. De fato, como diz Paulo, uma mudança da morte para a vida. Nesta nova vida, o foco deixa de ser o EU e passa a ser Deus.
Nesta mudança de foco há uma mudança de base também. Efésios 2.6 diz que Cristo nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais juntamente com ele; isto acontece no ato da conversão. Quando convertido, o cristão morre para este mundo e ressuscita com Cristo; ele está com o Senhor nos lugares celestiais.
Há então uma mudança. Seus pés não se encontram mais neste mundo, amparando-se nele, dependendo e seguindo suas filosofias ímpias, egoístas e vazias. Os pés do verdadeiro cristão estão sobre a rocha que é Cristo; estão firmados nos lugares celestiais.
Assim, estando nesta nova condição, o cristão sabe que depende exclusivamente do Senhor Deus e agora pode fazer do seu ganho um instrumento que honre o Nome do Senhor.
Seus pés estão nas nuvens, não porque está de férias do trabalho ou fora da realidade; sua mente está no Senhor, mas ao mesmo tempo direcionada para a necessidade humana, neste mundo em que há tantas oportunidades para colocar em prática o verdadeiro Cristianismo.
A transformação de Zaqueu foi dessa forma notória pelos frutos que ela gerou. E nós hoje, temos produzido frutos que demonstrem nosso desapego às coisas materiais? É possível haver cristãos que, apesar de serem membros da igreja, podem ser como Zaqueu antes de encontrar-se com Jesus? Medite em Tiago 2.26.
III. Esquecendo-se daquele velho ladrão
Em Efésios 4.28 o apóstolo Paulo mostra o lado prático de tudo o que Deus fez por seus filhos por meio de Cristo. Ele diz que esses filhos estavam espiritualmente mortos e receberam vida (Ef 2.1).
Depois diz que antes viviam no mundo sem esperança e sem Deus (Ef 2.12). Finalmente foram aproximados a Deus ao serem tocados pelo Espírito (Ef 2.13). Com isso Paulo está querendo dizer que a pessoa que encontra a Cristo passa a ser uma nova criatura.
Agora ele mostra qual é a atitude do crente na vida prática, depois que ele foi convertido, e dá um exemplo que envolve dinheiro, trabalho e ajuda aos necessitados.
A aplicação deste texto lembra o oitavo mandamento: “Não furtarás”. Em seguida, ele combina o mandamento com esta nova vida em Cristo e completa: “Aquele que furtava não furte mais”. A ideia pode ser traduzida da seguinte forma: “não continue furtando”; isto é uma ordem.
Ou seja, devem ser abandonadas todas as práticas que visam ganhar dinheiro ou benefícios pela exploração de outras pessoas, com má fé ou com aquele famoso "jeitinho". Furtar inclui tudo o que envolve fraude ou mentira, sejam elas grandes ou pequenas.
Vemos, portanto, que os filhos de Deus foram renovados e não podem mais viver como antigamente, burlando leis, transgredindo e mentindo nas grandes e pequenas coisas, ocupando o tempo de trabalho com atividades pessoais, como é próprio das pessoas que não confiam em Deus e não têm temor dele.
Paulo, entretanto, não fala apenas do aspecto negativo desta aplicação; ele não fala somente o que é proibido fazer, mas mostra o que deve ser feito, dando uma aplicação positiva para o mandamento divino.
Ele diz que além de não furtar o cristão deve fazer o que é bom com o propósito de ajudar as pessoas mais necessitadas. Portanto, a palavra de Deus nos exorta que, além de não roubar, devemos dar. Isso significa: “Faça o que é bom”; “ajude ao necessitado”.
Muitos cristãos não chegam à aplicação prática. Com isso, esquecem-se de aplicar no viver diário as doutrinas aprendidas na palavra e na igreja. Se não houve prática, há grande possibilidade de não ter havido verdadeira aprendizagem.
Como cristãos resgatados que somos, devemos deixar morrer a velha natureza, aquele "ladrãozinho” que mora em nosso coração e que de vez em quando se manifesta com suas "mentirinhas”. Façamos, pois, morrer esta natureza pecaminosa e procuremos usar nossos recursos para o bem do próximo e para a glória de Deus.
Não se trata de querer uma sociedade sem pessoas carentes, mas se cada cristão cumprir de fato os mandamentos do Senhor, a igreja estará glorificando a Deus, ajudando as pessoas necessitadas e fornecendo um grande testemunho ao mundo.
Conclusão
Vimos que o trabalho é normalmente usado para o benefício financeiro, social e moral da pessoa, mas depois da conversão o trabalho passa a ser visto como uma bênção de Deus, usado para glorificar a Deus e ajudar aos mais necessitados. Podemos entender, portanto, que a partir do momento em que a pessoa se tornou nova criatura Deus mudou também a forma dela ver o mundo inclusive o trabalho.
Como cristãos hoje temos plena convicção de que é Deus quem nos sustenta e não o trabalho. Coloquemos toda nossa confiança e dependência nas mãos santas do Senhor de modo que não vivamos mais para o trabalho.
Pelo contrário, o trabalho foi dado por Deus para que reconheçamos que ele é o dono de todas as coisas para que sejamos usados para abençoar os outros por meio dos recursos de que dispomos, fruto do nosso talento. Trabalhemos, pois. Utilizemos nossa atividade profissional para fazer o que é bom, para ter com que ajudar aos mais necessitados (Ef 4.28).
Desafio
Imagine se no início de cada expediente de trabalho os crentes dedicassem em oração ao Senhor aquele dia de trabalho e que conscientemente trabalhassem para a glória de Deus.
Além disso, imagine se cada um procurasse dedicar parte dos talentos, do tempo livre e do orçamento para atender ensinar e ajudar pessoas mais necessitadas dentro e fora da igreja. Mas não fique apenas imaginando, mãos ao trabalho.
Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves
Lista de estudos da série
1. O Primeiro Trabalhador: Descubra a origem divina e o propósito do seu trabalho – Estudo Bíblico sobre a Teologia do Trabalho2. Do Paraíso ao Suor: Entenda por que seu trabalho é tão difícil e como redimi-lo – Estudo Bíblico sobre a Queda
3. Além do Salário: Descubra o verdadeiro chefe a quem você serve todos os dias – Estudo Bíblico sobre Propósito
4. Chamado ou Capacidade?: O segredo para alinhar seus dons naturais ao plano de Deus – Estudo Bíblico sobre Vocação
5. Cristão no Comando (ou na Equipe): Um guia prático de ética para líderes e colaboradores – Estudo Bíblico sobre Liderança
6. Quando o Lucro Vira Ídolo: Os 3 perigos de amar o dinheiro mais do que a Deus – Estudo Bíblico sobre Ganância
7. Salário Retido, Justiça Clamando: Como a Bíblia denuncia a opressão no trabalho – Estudo Bíblico sobre Justiça Social
8. Provisão ou Presença?: O segredo para equilibrar carreira e família sem perder nenhum dos dois – Estudo Bíblico sobre Família
9. Da Sala de Reunião ao Lar: O plano de Deus para a mulher que trabalha – Estudo Bíblico sobre a Mulher na Sociedade
10. A Pausa Sagrada: Por que o descanso não é luxo, mas um mandamento divino – Estudo Bíblico sobre o Sábado
11. Deus Não Quer Seu Dinheiro: Descubra o que Ele realmente espera de suas finanças – Estudo Bíblico sobre Dízimos e Ofertas
12. A Verdadeira Riqueza: Aprenda a administrar seus bens como um fiel mordomo de Deus – Estudo Bíblico sobre Mordomia
13. Seu Talento, Sua Missão: Por que o voluntariado é uma das formas mais poderosas de trabalho – Estudo Bíblico sobre Serviço