Texto básico: Deuteronômio 8.1-10
Introdução
Todo fim de ano é uma oportunidade especial para reavaliar o passado e fazer planos para o futuro. Olhar para trás pode ser um exercício muito proveitoso a fim de tirar lições preciosas para o futuro.
O povo de Israel tinha como costume e ordem divina comemorar os grandes feitos do passado como uma forma de lembrar o que Deus havia feito. Por essa razão, havia festas religiosas que faziam o povo se lembrar da saída do Egito, da peregrinação no deserto, da provisão divina, etc.
Assim o povo sempre seria induzido a confiar que o Deus do passado é também o Deus do futuro, e o que Deus fez ontem, ele pode fazer novamente amanhã.
1. O sonho de Israel
Quais são seus maiores sonhos? O que você mais deseja conseguir? O povo de Israel tinha um grande sonho. Queria ter sua própria terra. Uma terra boa onde pudesse plantar e colher todas as coisas de que necessitasse para sua vida, e assim ter uma boa vida. Israel foi um povo sofrido desde os primórdios de sua existência. Nunca foi um povo muito numeroso, nunca foi muito poderoso.
Mas Israel tinha algo que o tornava o maior de todos os povos: o carinho de Deus e também a fidelidade de Deus. Por muito tempo, porém, parecia que Deus havia se esquecido do seu povo.
Às vezes, os planos de Deus são tão estranhos para nós. Deus deixou Israel ser escravo no Egito por quase 400 anos. Durante esse tempo, Israel praticamente se esqueceu do seu Deus. Tornou-se idolatra, supersticioso e profano.
Deus, porém, não se esqueceu de Israel e, um dia, chamou um homem cujo nome era Moisés para libertar o povo da escravidão. Mas Deus não tirou o povo sem ter um lugar para levá-lo.
Deus pretendia fazer o povo ingressar na terra que um dia havia prometido para o patriarca Abraão, que era a terra de Canaã. Com mão poderosa, operando grandes sinais e prodígios, Deus libertou o povo do Egito, fazendo-o passar a pé enxuto pelo meio do grande Mar Vermelho, onde Faraó, rei do Egito e todo o seu exército foi destruído.
Finalmente havia chegado o dia dos sonhos de Israel serem realizados. A belíssima terra de Canaã estava bem a sua frente. O grande dia havia chegado. Mas o povo se mostrou despreparado para possuir a herança que lhe pertencia. É claro que a terra de Canaã não estava deserta.
Ali moravam povos fortes e poderosos, e para Israel possuir aquela terra que lhe pertencia por doação divina, teria que expulsar aqueles povos dali. Mas como um pequeno povo, que até então não passava de escravo, expulsaria nações fortes e poderosas?
Da mesma forma como havia conseguido sair do Egito, não por seu poder, mas pelo poder e soberania de Deus. O problema é que os 400 anos não haviam deixado muito desta confiança.
Quando o povo escolheu doze espiões para entrar na terra e ver quão fortes eram os povos que ali habitavam, o coração do povo desanimou diante da descrição que os espias trouxeram:
Nm 13.27-33
"a terra é boa, mas os habitantes são gigantes. Não passamos de gafanhotos perto deles"
A Bíblia fala que o coração do povo se derreteu de medo. Foi, então, que Deus decidiu que aquele povo precisava passar por um discipulado que o fizesse aprender a confiar nele. Foram 40 anos de discipulado no deserto.
2. A provisão divina
A maneira como Deus discipulou seu povo foi providenciando tudo o que o povo precisava para sobreviver no deserto durante aqueles 40 anos, fazendo com que o povo aprendesse a depender exclusivamente dele.
Com isso, Deus tinha a intenção de tornar o povo humilde, prová-lo, e fazê-lo se conhecer a si mesmo. Agora, imaginemos uma coisa: como alguém sobrevive num deserto árido?
E por 40 anos? Não há água, não há como plantar ou produzir qualquer coisa. Onde se arranjam vestes? Para uma única pessoa a sobrevivência já seria quase impossível, agora imagine para dois milhões de pessoas.
No momento quando o povo estava finalmente para entrar na tão desejada terra, Deus convocou o povo para fazer com que se lembrasse do passado. Moisés dirigiu as seguintes palavras ao povo:
Dt 8.2,3
"Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem"
Podemos imaginar o trabalho que seria alimentar diariamente num deserto durante 40 anos cerca de dois milhões de pessoas.
Deus pôde fazer isso. Mandou o povo dormir, e no dia seguinte quando eles levantaram, havia uma fina camada de um estranho material sobre a terra que a cobria como se fosse orvalho.
O povo viu aquilo e perguntou: O que é isso? Era algo parecido com escamas, que, depois de cozido, tinha gosto de bolo de mel. Aquilo seria o alimento do povo durante os 40 anos. Como não tinha um nome, foi batizado de "que é isso?", pois esse é o significado de "maná".
Todas as manhãs "que é isso?" estava sobre a terra, e o povo podia se alimentar. Não podia ter dado um nome melhor para a provisão divina.
O espanto que o nome sugere é muito apropriado para aquela provisão. Todos os dias o povo teria a oportunidade de se admirar diante do poder de Deus.
Mas o povo logo enjoou do "que é isso?". Já não achava mais grande novidade. Logo começou a chamar de "pão vil". Eles queriam coisas diferentes. Diziam uns aos outros:
Nm 11.5
"Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos"
Mas Deus dava a mesma coisa para que o povo aprendesse três ensinos: a serem humildes, a confiarem na provisão divina e a serem agradecidos. Deus repetia o mesmo cardápio todos os dias para que o povo entendesse que "não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR", ou seja, da Palavra do Senhor.
O que aprendemos disso?
Em primeiro lugar, que Deus quer nos ensinar e, por isso, enfrentamos tantas situações que nem sempre entendemos.
Em segundo lugar, que o nosso sustento depende inteiramente de Deus. Como ele sustentou o povo no deserto aqueles 40 anos, também nos sustenta hoje. A forma como ele nos sustenta deve nos levar a dizer "que é isso?".
Mas aprendemos também que nem sempre este sustento é o que nós desejávamos. Muitas vezes nos tornamos enjoados e reclamamos. O maná do crente é a Palavra de Deus. Não é o pão físico que nos sustenta, embora mesmo esse, certamente, vem de Deus.
Mas o que realmente nos sustenta, e era o que Deus queria que o povo entendesse, é a Palavra que procede da boca de Deus. O problema é que muitas vezes enjoamos dela. Queremos ter outras experiências. E daí que surgem as heresias, os erros doutrinários, os desvios teológicos. Do desejo do homem de ir além da Palavra de Deus.
A maioria dos crentes atuais não se satisfaz mais em guiar sua vida pela Palavra, deseja ter outras experiências místicas, precisam ver o capim brilhando, gente caindo, a congregação toda gritando, rindo descontroladamente, chorando e até mesmo vomitando. Tudo isso numa suposta manifestação espiritual.
Ninguém deseja ser humilhado, ninguém deseja ser provado, ninguém quer saber o que realmente se passa em seu coração. Todos querem emoção, divertimento, já não se surpreendem, nem se satisfazem com o maná.
Durante os 40 anos o povo também teve o que vestir. E não foram roupas comuns. Eram roupas que não se envelheciam, bem como sandálias que não se consumiam (Dt 29.5). Imagine que maravilhosa provisão. Você gostaria de uma roupa assim? Já pensou num tênis que nunca se estraga? Dá pra jogar futebol todo dia e ele está sempre novinho?
Mas por trás disso também havia uma lição de humildade. Não dava para estar na última moda. Viveram 40 anos com a mesma roupa e com os mesmos calçados. Você ainda gostaria de uma roupa assim?
Há algo que o crente precisa aprender: vida cristã é vida de disciplina. Como um pai disciplina seu filho, assim o Senhor disciplina o crente. Para quê?
Para que seja humilde. Para que seja não apenas provado, mas aprovado. Para que se conheça a si mesmo. Mais do que isso, para que aprenda a confiar nele e somente nele, e entenda que a salvação depende inteiramente dele, e que o sustento diário depende inteiramente dele.
Depois de 40 anos de aula no deserto, o povo finalmente possuiu a terra. Veja que descrição belíssima da terra que está entre os versos 7-10. Mas isso foi somente após os 40 anos. O que Deus tem preparado para nós no Reino dos Céus. Deus é maravilhoso. Mas agora é o tempo do deserto.
3. O futuro nas mãos de Deus
A maior certeza que o crente pode ter nessa vida é que seu futuro está nas mãos de Deus. Israel deveria se lembrar de tudo o que Deus fez no passado para que entendesse que seu futuro estava assegurado por Deus.
Deus os sustentou e ensinou no deserto por 40 anos para que não mais olhassem para os adversários e dissessem: "somos como gafanhotos diante deles".
Deus queria que o povo entendesse que não há impossíveis para Deus. Nesse fim de ano, devemos lembrar de todas as lições que Deus nos ensinou durante o ano. As provações e as vitórias servem para o mesmo objetivo: aprender a depender e confiar em Deus.
O novo ano que está se iniciando deve ser encarado com a perspectiva de que Deus é o Deus do ontem e do amanhã, e que, enquanto ele for servido em nos manter com vida, devemos esperar nele e humildemente viver para seu louvor e serviço.
Conclusão
Assim como Israel comemorava datas especiais que faziam com que se lembrasse dos feitos de Deus, também podemos comemorar o fim do ano e o começo do novo ano, mas nossa perspectiva não deve ser a mesma do mundo. Nossa comemoração deve ser diferente, pois devemos nos lembrar de tudo o que Deus nos ensinou nesse ano e, assim, olharmos para o futuro com fé no Deus do ontem e do amanhã.
Aplicação
Medite em tudo o que Deus ensinou te nesse ano. Relembre as vitórias, as provações, as tribulações, e procure entender o que Deus quis ensiná-lo com tudo isso.
Autor: Leandro Antônio de Lima
Lista de sermões da série
1. Ano Novo, Maturidade Nova: Deixe a infantilidade espiritual para trás – Sermão sobre Crescimento
2. Balanço de Ano Novo: O segredo de Salomão para não correr atrás do vento – Sermão sobre Propósito
3. Reflexão de Ano Novo: Entenda por que o fim é melhor que o começo – Sermão sobre Sabedoria
4. O Deus do Ano Novo: Confie no Senhor do ontem para o seu amanhã – Sermão sobre Confiança em Deus