Balanço de Ano Novo: O segredo de Salomão para não correr atrás do vento – Sermão sobre Propósito

Textos básicos: Eclesiastes 3.1-15; 12.13-14

Introdução

Um senhor chamou seu servo e disse:

— Servo, obedeça-me.

— Sim, Senhor, sim.

— Prepare a carruagem, pois vou ao palácio.

— Vá meu Senhor, o rei será benevolente...

— Pensando bem, servo, não vou mais ao palácio.

— Não vá meu Senhor, não vá. O rei pode enviá-lo a algum lugar longínquo, e o Senhor não terá mais um momento de paz.

— Servo, vou jantar.

— Claro meu Senhor, muitíssimo conveniente, não há nada mais confortador.

— Não, eu não quero mais jantar.

— O Senhor tem toda a razão. Existe algo mais vulgar do que comer?!

— Prepare meus equipamentos, eu vou caçar.

— Perfeitamente Senhor, será um ótimo exercício para mostrar sua pontaria perfeita.

— Não, mas eu acho que não estou com muita vontade.

— Muito conveniente Senhor, por que gastar suas forças numa tarefa inútil?

— Servo, traga-me algumas mulheres para me satisfazer.

— Certamente Senhor, não há nada melhor do que isso para espairecer.

— Não, agora não. Estou sem ânimo.

— Ó que atitude sábia, Senhor. As mulheres são uma armadilha, uma faca na garganta...

— O que você acha de eu me tornar um filantropo?

— Excelente ideia, Senhor, poderá mostrar toda a sua generosidade e ser reconhecido ainda mais pelos homens.

— Mas eu acho que não vale a pena.

— O Senhor tem toda razão. Não adiantaria nada. Pergunte aos esqueletos no cemitério...

Será que alguma coisa vale a pena? Pela conversa dos dois acima parece que não.

Quantas vezes nós dizemos que "isso" ou "aquilo" não valem a pena. O homem que escreveu o Eclesiastes se dispôs a esquadrinhar para saber se havia alguma coisa que valia a pena fazer nessa vida.

Ele diz:

Eclesiastes 1.12-13
Eu, o Pregador, venho sendo rei de Israel, em Jerusalém. Apliquei o coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; este enfadonho trabalho impôs Deus aos filhos dos homens, para nele os afligir.

1. Um homem em busca de relevância

A história de Salomão é muito interessante. Ele foi presenteado por Deus com sabedoria sem igual. Salomão demonstrou essa sabedoria em seu reinado, pois, de certa forma, Salomão foi ainda maior que seu pai Davi, porém, não precisou ir à guerra para isso. Salomão fez uso da diplomacia. Entretanto, a força de Salomão foi também sua fraqueza. Casando-se com princesas de outras terras para garantir acordos, Salomão não previa que essas mesmas mulheres lhe perverteriam o coração (1Rs 11.3,4).

Fazendo uso da sabedoria que Deus havia lhe dado, Salomão se dispôs a buscar entendimento do sentido da vida. Suas conclusões, a princípio, foram bastante negativas.

O desabafo dele foi:

Eclesiastes 1.2
Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.

Ele entendeu que o trabalho árduo dos homens não tinha nenhum sentido (Ec 1.3). Entendeu que mesmo na sabedoria há enfado (Ec 1.18). Ele conclui que o máximo que o homem pode fazer é aproveitar os poucos bens que consegue conquistar durante sua vida (Ec 3.11-22).

A vida é cheia de maldades, ilusões, transitoriedade e "acasos". Ou seja, a vida é a coisa mais insegura e incerta que existe:

Eclesiastes 9.11
Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes a vitória, nem tão pouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso.

Realmente, não se poderia chegar a conclusão mais negativa. Tudo é tolice, é correr atrás do vento, é fútil, não traz qualquer resultado.

2. Tempo demais para nada

Sua famosa frase "há tempo para tudo debaixo do céu" apenas reflete isso. Poucos gostam da rotina. Que bom que a vida é cheia de surpresas, de mudanças, de renovações. Que bom que não é um inverno constante. Mas, e se fosse uma primavera constante, seria de todo bom?

Nesse sentido, agrada-nos ler as palavras de Salomão:

Eclesiastes 3.1-3
tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de se arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar...

Salomão descreve a vida como sendo um constante fluxo e refluxo, passando de uma atividade para outra e, por fim, voltando à primeira. A descrição é alegre, surpreendente, e cativante, como sem sombra de dúvida é a própria vida. Mas, será que Salomão está descrevendo isso de uma perspectiva positiva? Será que ele está querendo nos ensinar que é bom que a vida seja desse jeito?

Parece que não. Ele está mais uma vez querendo mostrar que a vida humana (sem Deus) não tem sentido algum debaixo do céu. O tom do capítulo 3 não é em nada diferente do tom do capítulo 1.

O simples fato de o homem ter tempo para tudo não traz qualquer significado para ele, ao contrário, coloca-o num círculo vicioso. Quanto tempo estaremos apegados a uma mesma atividade? Será que amanhã não estaremos destruindo o que hoje estamos construindo?

Um dia guardamos o dinheiro no banco, no dia seguinte vamos lá e o tiramos todo. Um dia o pastor cuida da ovelha, protege dos lobos, mas no dia seguinte é ele mesmo quem a mata para comer sua carne.

Na verdade, nossos atos estão completamente condicionados ao tempo em que vivemos. Tornamo-nos como que escravos do tempo.

Mudamos de atitude não segundo nossa própria vontade, mas de acordo com a pressão das circunstâncias externas. Assim, se toda a nossa vida é conduzida nessa mesmice (plantar e arrancar; matar e curar; derribar e edificar; chorar e rir...), estamos outra vez correndo "atrás do vento" (2.17), ou seja, não há sentido algum em nossa vida.

E exatamente isso o que o sábio escritor do Eclesiastes quer que entendamos: que a vida não tem sentido algum se a vivemos meramente condicionados pelo tempo.

Se estamos limitados a essa vida apenas, então não faz diferença alguma se matamos ou curamos, rimos ou choramos, ajuntamos pedras ou espalhamos, rasgamos ou cosemos, calamos ou falamos, amamos ou aborrecemos, guerreamos ou fazemos paz. Temos muito tempo, mas nada relevante para fazer.

3. Tempo de Deus

Mas a grande notícia do livro do Eclesiastes é que as coisas não precisam ser exatamente assim. Não precisamos ser escravos da rotina e das contradições do tempo.

A chave para o entendimento de como pode e deve ser nossa vida está nos versos 11-13:

Eclesiastes 3.11-13
tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim. Sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e levar vida regalada; e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.

Mais do que ser um escravo do tempo, o homem tem a própria eternidade dentro de si. Nada do que Deus fez é vazio, ao contrário, tudo é formoso, pois tudo tem um propósito definido, tudo faz sentido.

A grande notícia deste livro é que podemos participar de tudo isso. De alguma forma, podemos participar do grande projeto de Deus. A própria eternidade foi colocada dentro de nós.

O que quer que seja que isso signifique, certamente nos traz a ideia de que nascer e morrer não resume nossa existência. Deus está nos chamando para que nos elevemos de nossa mesmice cotidiana e participemos ativamente de seu plano que se estende desde o início até ao infinito, e envolve todas as coisas.

Mas, então, devemos ser ascetas? Será que, uma vez que a eternidade foi posta dentro de nós, então, devemos nos desapegar de todas as coisas dessa vida? De acordo com o Eclesiastes, isso não é necessário. Ao contrário, podemos aproveitar as coisas boas da vida, pois elas também são dons de Deus. Não há nada de errado em comer, beber e se regozijar com tudo o que Deus nos dá. O erro está em fazer disso a razão da nossa vida.

O erro está em gastar todo o nosso tempo correndo atrás dessas coisas, pois aí estaríamos correndo atrás do vento. Quando entendemos que tudo o que fazemos faz parte de um projeto de Deus, então, tudo tem significado, cada ação, por menor ou insignificante que possa parecer se torna valiosa.

4. A conclusão das conclusões

Os dois últimos versos desse livro nos falam mais sobre a vida que faz sentido do que o livro todo. Salomão diz:

Eclesiastes 12.13-14
De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.

Salomão tinha buscado o sentido da vida em vão entre as coisas das quais a maioria dos homens ansiosamente persegue, mas não conseguiu. Mas ele encontrou em Deus. Literalmente, ele disse: "o fim de toda palavra ouvida é: teme a Deus e guarda os mandamentos dele". Esse foi o resultado de sua procura diligente, foi a conclusão que chegou depois de uma vida de observação e de sabedoria.

Temer ao Senhor significa dar-lhe a honra que é devida ao seu nome. O temor envolve um conhecimento verdadeiro de Deus, e um conhecimento correto de nós mesmos. Temer a Deus é uma ordem que nos coloca em nosso próprio lugar, bem como mostra o devido lugar de Deus. Temor e obediência são dois lados da mesma moeda. O temor diz mais respeito a uma condição interna, a obediência é o resultado externo desse temor. Nisto se resume a verdadeira sabedoria para o Eclesiastes: Temor e Obediência. Esta é a sua resposta para todos os porquês da existência humana.

Conclusão

Sem Deus, sem conhecer seu plano, sem viver uma vida de proximidade com o Salvador, nossa vida não tem sentido. Corremos atrás do vento em nosso próprio círculo vicioso e jamais chegamos a lugar algum. Devemos viver aqui em humildade demonstrando temor e obediência. Nada mais poderá satisfazer nossa vida. Nesse fim de ano, convém que paremos para pensar e meditar em tudo o que já vivemos. Devemos fazer um balanço da nossa vida, a fim de não ficarmos correndo atrás do vento.

Aplicação

Você tem vivido para Deus? Como gasta seu tempo, correndo atrás do vazio, ou fazendo coisas significativas por causa do Senhor?

Autor: Leandro Antônio de Lima


Lista de sermões da série

1. Ano Novo, Maturidade Nova: Deixe a infantilidade espiritual para trás – Sermão sobre Crescimento

2. Balanço de Ano Novo: O segredo de Salomão para não correr atrás do vento – Sermão sobre Propósito

3. Reflexão de Ano Novo: Entenda por que o fim é melhor que o começo – Sermão sobre Sabedoria

4. O Deus do Ano Novo: Confie no Senhor do ontem para o seu amanhã – Sermão sobre Confiança em Deus

5. Metas para o Ano Novo: Como definir alvos que levam ao prêmio celestial – Sermão sobre Alvos Espirituais

Semeando Vida

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