INTRODUÇÃO
Quando era adolescente, eu me esforcei, certa vez, por evangelizar um colega materialista, muito mais velho do que eu. Usei de todos os recursos conhecidos, ao meu alcance, para convencê-lo da verdade cristã.
Um dia, ele me disse: "Não me fale mais nessas coisas. Elas não me interessam. Religião não enche estômago".
Parece ser essa a filosofia de nossa época: só interessa ao homem de hoje aquilo que possa satisfazer seus apetites. Por causa disso, estuda, trabalha, luta, compete e se une aos outros. Tem-se a impressão de que o seu estômago está no lugar do coração.
Essa filosofia de vida tem influenciado os cristãos, especialmente os jovens. A lição de hoje procura mostrar que o mundo inteiro não vale a nossa alma, e que sustentá-la deve ser nossa primeira preocupação.
1 - QUE É ESPIRITUALIDADE?
Existe muita confusão quanto ao que deva ser espiritualidade. Para que o assunto fique bem esclarecido, mostraremos algumas ideias falsas e, depois, o conceito cristão.
a) O que parece, mas não é
1. Manifestações esquisitas.
Algumas pessoas acham que o crente espiritual tem de, necessariamente, agir de modo estranho e esquisito, como: dizer muito amém e aleluia, nas orações e cultos: falar coisas sem sentido e sem compreensão, quando fizer oração: ver sentido espiritual em sonhos; praticar constantes jejuns.
Em Is 1.11-15 e 58.5,6 se vê que Deus não se agrada dessas coisas, se forem meras manifestações exteriores.
2. Cara de santo.
Espiritualidade, para muita gente, é ficar com aparência séria, quase alienada, com jeito de quem está sempre na igreja, com aspecto de santo. Os fariseus eram especialistas nisso. Jesus os chamava de hipócritas, pois tinham falsa aparência de santidade.
3. Um uniforme.
Para alguns, a espiritualidade é vestir-se de certa forma, falar de certa forma, comportar-se de certa forma, não fazer isto ou aquilo.
É como numa sessão de ginástica: todos fazem o mesmo movimento, ao mesmo tempo, seguindo a mesma música; ou, como um pelotão em marcha, todos vestidos da mesma forma, no mesmo passo, ao som da mesma banda.
Nada disso é espiritualidade, é só aparência, casca, verniz. Jesus comparava isso com "sepulcros caiados" — Mt 23.27.
b) O que é
Espiritualidade vem de "espírito", que, na Bíblia, vem de uma raiz, que significa: ar, vento, atmosfera. Espiritualidade é o viver na atmosfera do Espírito de Deus.
Quando a pessoa se converte, o Espírito Santo passa a "morar" nela — Rm 8.6-16. Quando o Espírito vem morar em nossa vida, vem para dirigi-la; ele não é apenas o hóspede, o convidado.
Espiritualidade é aquele consentimento submisso que damos ao Espírito Santo para dirigir a nossa vida. E essa direção reflete-se em todos os nossos atos, em nosso viver diário.
Às vezes, acontece que agimos para com Deus, como agimos quando recebemos uma visita, a quem costumamos dizer: "Entre, que a casa é sua". Essa expressão é apenas um ato de cortesia.
Ninguém dá a sua casa para a direção do visitante. Muitos cristãos convidam o Espírito Santo para morar em sua vida e lhe dizem: a casa é sua. Mas não é essa, na verdade, a sua vontade.
Quando ocorre, na realidade, entregarmos nossa vida ao Espírito Santo, ela se reveste de real espiritualidade.
2 - QUAIS AS EVIDÊNCIAS DA ESPIRITUALIDADE?
No texto de Gl 5.22, 23, com o nome de "fruto do Espírito", Paulo mostra quais são na verdade, as evidências da vida espiritual. Ele aponta nove virtudes, que formam um conjunto só. Vejamos:
a) Amor — no seu sentido mais elevado, que é amar como Deus nos ama; não com o desejo de receber retribuição nem porque o objeto amado o mereça, mas porque o amor é a essência de Deus e daquele que é verdadeiramente convertido.
b) Alegria — a espiritualidade não torna a pessoa triste, antes, a faz alegre, de uma alegria que vem do coração, gerada na certeza da salvação e alimentada na comunhão com Deus. As pessoas espirituais irradiam alegria, porque têm a companhia de Jesus.
c) Paz — que é o esforço por manter, com todos, e entre todos, o bom relacionamento. O crente é pacífico e pacificador. Ele segue aquela recomendação de Paulo: "Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens" — Rm 12.18.
d) Longanimidade — significa ter muita paciência com as pessoas, mesmo aquelas que nos ofendem, ou nos parecem erradas. Há alguns, que se dizem espirituais, que são precipitados no julgar os outros, acusando-os, criticando-os. O crente espiritual mostra sempre muita paciência com todos.
e) Benignidade — é a bondade natural e espontânea, que não procura ver maldade nos outros: é a atitude gentil para com todos. O crente espiritual é afável e bondoso para com todos.
f) Bondade — é o senso de generosidade, de liberalidade, especialmente para com os necessitados, os menos afortunados, os subalternos. É a verdadeira caridade.
g) Fidelidade — é a lealdade aos princípios adotados, à fé abraçada, ao Salvador. É uma das principais qualidades do crente espiritual. Ele é fiel em qualquer circunstância, mesmo nas horas de dificuldade.
h) Mansidão — é ser humilde e compreensivo diante de todos, mostrando-se modesto. O crente espiritual não se deixa levar pela provocação, mantendo-se, mesmo quando provocado, tranquilo, pela graça de Deus.
i) Domínio próprio — somente uma pessoa que viva na atmosfera criada pelo Espírito Santo tem condição de ter controle sobre seus impulsos,- especialmente aqueles que possam ferir ou atingir outras pessoas.
3 - QUAIS AS ARMAS ESPIRITUAIS?
Não são certas práticas exageradas, como o constante jejum, as compridas orações e o afastamento do mundo. Paulo mostra, em linguagem figurada (no texto de Ef 6.10-18), quais são os recursos que nos ajudam a alcançar e a manter nossa espiritualidade. Ele chama o conjunto desses recursos de "armadura de Deus" (v. 11 e 13).
Vejamos quais são nossas armas espirituais:
1. Cinta da verdade (v. 14)
Cingir é apertar com a cinta. Quando falta a verdade, afrouxam-se todos os atos do crente. A espiritualidade exige que vivamos às claras, sejamos sinceros e verdadeiros em nossas palavras e honestos em nosso comportamento.
2. Couraça da justiça (v. 14)
O soldado colocava por baixo da armadura uma roupa de couro, para proteger-se. A justiça é a nossa proteção.
Na linguagem bíblica, justiça é a forma correta de fazer as coisas, é agir de acordo com os princípios divinos. Hoje, quem age corretamente é tido por esquisito. Mas o crente não se importa com isso. Todos os seus atos são revestidos de retidão.
3. Calçados do Evangelho da paz (v. 15)
Evangelho significa "boas notícias"; o crente espiritual procura divulgar as verdades do Evangelho, porque este promove a paz pessoal e a paz entre os homens. Evangelizando o cristão mantém-se alerta espiritualmente.
4. Escudo da fé (v. 18)
O escudo era usado para proteger o soldado das armas inimigas. A fé em Deus nos protege contra as investidas do adversário. Não existe espiritualidade sem fé. A fé é para as horas de provação, para os momentos de luta, para o sustento e desenvolvimento da vida cristã.
5. Capacete da salvação (v. 17)
Era o capacete muito importante, na proteção da vida do soldado, porque cobria sua cabeça. A certeza da salvação é vital para que possamos manter a espiritualidade de nossa vida. Quem não tem a certeza de que está salvo se sente inseguro. Mas quem a tem, não necessita de recear perigo algum.
6. Espada do Espírito (v. 17)
É a única arma de ataque. Com a Palavra de Deus, o crente está em condições de avançar, sabendo que conta com a mais poderosa arma, não só para se defender, como para ajudar outras pessoas na luta contra o inimigo. A leitura e constante uso da Palavra de Deus são recursos indispensáveis para se manter a vida espiritual.
7. Oração (v. 18)
É uma arma tão importante, que não precisa de comparação. A oração vence os inimigos e os obstáculos, move a mão de Deus em nosso favor, ajuda-nos a manter-nos despertos e fortalece o nosso ânimo.
Nenhuma arma tem utilidade se não for usada por pessoa bem preparada. É a oração que nos dá condições de usarmos as demais armas, na luta para manter e desenvolver a nossa vida espiritual.
CONCLUSÃO
Em resumo, espiritualidade é a vida mais próxima de Deus, pela ação do Espírito Santo em nossa vida, que nos dá condições de vencer o mundo, e de ajudar os outros ao nosso redor, tendo, como objetivo dominante, a maior glória de nosso Deus.
Autor: Thiago Rocha
Lista de estudos da série
1. O segredo dos sábios: por que temer a Deus é o início de tudo – Estudo Bíblico sobre o Temor do Senhor2. Força de gigante: como ativar o poder espiritual que já existe em você – Estudo Bíblico sobre a Força do Jovem Crente
3. Medo de quê?: o guia para ser inabalável diante da pressão do mundo – Estudo Bíblico sobre a Coragem Cristã
4. Coração blindado: 5 estratégias bíblicas para proteger sua mente e emoções – Estudo Bíblico sobre Guardar o Coração
5. A encruzilhada da sua vida: o passo a passo da decisão mais importante que você tomará – Estudo Bíblico sobre a Conversão
6. Você é um gerente de Deus: como administrar os tesouros que Ele lhe confiou – Estudo Bíblico sobre Mordomia Cristã
7. Sua maior missão começa agora: como compartilhar sua fé sem medo e com naturalidade – Estudo Bíblico sobre Evangelismo Pessoal
8. Cidadão dos céus, com os pés na terra: o que a Bíblia realmente diz sobre política e deveres – Estudo Bíblico sobre Civismo
9. O antídoto contra o egoísmo: como pensar nos outros pode revolucionar sua vida – Estudo Bíblico sobre Altruísmo
10. Religião ou relacionamento?: os 9 sinais da verdadeira espiritualidade bíblica – Estudo Bíblico sobre a Vida no Espírito
11. Diga 'não' para viver o 'sim': como abandonar o que te prende para a liberdade em Cristo – Estudo Bíblico sobre a Nova Vida
12. Não é só um prédio: 4 razões pelas quais a igreja é o melhor lugar para você crescer – Estudo Bíblico sobre a Igreja