Vaidade (2)


Já escrevemos sobre a vaidade, como ela é contra os ensinamentos de Cristo que recomendava: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração".

- Diz ainda Jesus Cristo: "vós sereis meus discípulos se fizerdes o que eu vos mando", ou então este outro conselho que deu aos discípulos após ter lavado os pés aos apóstolos: "assim como me vistes fazer, fazei vós também".

Alguém já afirmou, muito acertadamente, que ser cristão é praticar os ensinos de Cristo vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana.

Então qualquer procedimento incompatível com o evangelho não é próprio do cristão. Dai se deduz que não pode existir cristão vaidoso, pois ele jamais poderia ter aprendido isso com Cristo.

Além do mais, todo o vaidoso é antipático. Há pessoas que mudam de atitudes, de procedimentos, depois de galgar certas posições sociais ou mesmo profissionais.



Jovens que eram modestos, simpáticos, alguns até medíocres quando estudantes, de repente a gente se encontra com eles aí pelas ruas, todos vestidos de branco da cabeça aos pés, com um ar de superioridade, como se pertencessem a um mundo diferente; não cumprimentam ninguém, nem os antigos colegas de escola! 

Quando eu vejo um caso assim eu fico imaginando o que é que eles devem ter na cabeça! Foi só conseguir um diploma e já se tornou um super-homem? Isso não existe, tudo é pura fantasia.

Uma vez um indivíduo foi tirar um documento numa repartição. Na hora de assinar disse que não sabia escrever. O funcionário disse que bastava ele colocar uma cruz no lugar do nome. Daí ele colocou duas cruzes e explicou que seu nome era Tereziano Silva. 

Após alguns anos ele voltou à mesma repartição, e na hora de assinar colocou três cruzes no lugar da assinatura. O funcionário, que se lembrava do que tinha acontecido anos atrás, perguntou porque agora ele havia colocado três cruzes.

Ele explicou "sabe, depois daquele dia eu fiz o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e agora eu já se formei. Já tenho meu diploma. Agora eu assino Doutor Tereziano Silva". Ali estava a explicação das três cruzes, uma era para o "doutor". 

Brincadeira à parte há procedimentos que nos fazem lembrar dessa história. Por mais que a pessoa se sinta valorizada por títulos ou posições, a pessoa continua sendo a mesma, um ser frágil dependente de outros seres humanos que, por sua vez dependem de outros e assim por diante.

A relação entre os seres humanos é uma relação sucessiva de dependências, de sorte que, onde quer que você esteja, nunca você é a ponta dessa dependência.

A gente sempre está no interior dessa relação. Ajuda um, recebe ajuda de outro, mas todos no mesmo nível. No fim todos vão se igualar, as diferenças ficam aqui.

Humberto de Campos conta uma história: "O diálogo das caveiras". A motivação do conto foi a notícia no jornal do dia: "As ondas que lavam as praias de Santos continuam arrastando para o alto mar os ossos arrancados ao antigo cemitério de Bertioga".

"Um pescador viu boiando, ao lado de sua canoa, duas caveiras. A caveira menos amarela e menos suja, perguntou à outra: 

- Você também estava enterrada em Bertioga? 

- Sim, respondeu a outra, há mais ou menos trezentos anos. E você também estava enterrada lá? Você está muito bem conservada, não lhe falta nenhum dente, Como é o seu nome?



A outra respondeu: 

- Em vida meu nome era Antão Bermudes de Souza e Faria. Nunca ouviu falar em mim?

A caveira sujinha respondeu: 

- Como não? Eu fui seu escravo, eu fui o Gonçalo, não se lembra de mim? Depois de uma surra que vossmincê mandou dar em mim, depois de terem, a seu mando, passado sal e pimenta nos ferimentos, eu morri. Morri mais de raiva do que de dor. E agora estamos aqui os dois, como duas caixas de ossos que as ondas arrastam!

A caveira de Antão Bermudes então disse: 

- Sabe, Gonçalo, sempre diziam que isto ia acontecer e eu achava graça. A culpa, porém, não é só minha. Todos os homens são assim como eu fui. A quantos, hoje poderosos, não irá acontecer o mesmo? O nosso destino é uma lição aos vivos. É pena que os vivos só venham a saber disso depois que morrem!"

A história continua, mas isso já deu para ilustrar o que queríamos dizer. Nas cidades do interior existia, nos cemitérios, um poço onde eram depositados os ossos depois de certo tempo dos sepultamentos. 

Eram jogados pernas, braços, crânios, costelas, tudo misturado, uns sobre os outros, sem a menor preocupação de identificação dos donos das ossadas, se eram barbosas, silvas, oliveiras, pereiras, santos, sousas, etc. Todos misturados agora na maior camaradagem, como nunca experimentaram enquanto vivos.

Por que vaidade? Atentemos para o que diz o apóstolo Paulo: 

"de sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que subsistindo em forma de Deus não teve por usurpação o ser igual a Deus, antes a si mesmo se humilhou tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em figura humana a si mesmo se humilhou tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus Cristo se dobre todo o joelho dos que estão nos céus e na terra e debaixo da terra e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai". (Filipenses 2: 6-11).

Por Samuel Barbosa 

Semeando Vida

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