Significado e simbolismo do batismo (2)


Resumo
  • O autor explica como o batismo com água é descrito no livro dos Atos dos Apóstolos, e como ele está relacionado com o batismo do Espírito Santo prometido por Jesus. 
  • O autor cita exemplos de batismos realizados no dia de Pentecostes, no batismo do eunuco etíope, no batismo de Cornélio e no batismo do carcereiro de Filipos. 
  • O autor defende que o batismo com água não regenera, mas é um sinal visível da obra interior do Espírito Santo que produz a fé, o arrependimento e a remissão dos pecados.

É no livro dos Atos dos Apóstolos que encontramos a descrição do batismo cristão com água. Notamos que esse batismo tem uma conexão íntima com o batismo do Espírito Santo prometido por Jesus.

Os batismos do dia de Pentecostes foram realizados depois da descida do Espírito Santo e como consequência das conversões por Ele produzidas. É doutrina aceita por todas as igrejas evangélicas que o batismo deve vir depois da regeneração, visto ser o sinal visível dessa realidade. A pessoa deve ser batizada por se julgar já regenerada e não para regenerá-la.

Na sua pregação do dia de Pentecostes, Pedro estabeleceu uma ligação íntima entre o dom do Espírito Santo, a remissão de pecados e o batismo com água.

"Arrependei-vos", disse ele, "e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos 2:38).

Nessa passagem, a remissão de pecados e o dom do Espírito Santo são mencionados depois do rito simbólico, como se fossem consequências deste.

Todavia, convém lembrar que Pedro está fazendo um discurso caloroso em que não se pode esperar a precisão de uma teologia sistemática, na definição da ordem cronológica dos acontecimentos na conversão de pecadores, mas tendo já notado sinais de compungimento nos corações dos seus ouvintes, recomendou-lhes o arrependimento e o batismo como provas práticas da sua fé no Cristo que lhes fora pregado.

Dando eles estas provas, Pedro lhes dá a certeza de que terão a remissão de pecados e o dom do Espírito Santo.

Pedro não está tratando da ordem em que devem vir o arrependimento, o batismo com água, a remissão de pecados e o dom do Espírito Santo, mas apenas indica que essas bênçãos vêem acompanhadas umas das outras.

Os próprios acontecimentos do dia de Pentecostes indicam que o Espírito Santo tocou nos corações dos ouvintes de Pedro; enquanto ele pregava, eles se arrependeram, creram em Jesus Cristo e receberam a remissão dos seus pecador



O batismo com água não regenera, mas é símbolo do batismo do Espírito Santo
Depois de assim convertidos, os apóstolos lhes administraram o batismo com água. Na ordem cronológica dos acontecimentos o que veio em primeiro lugar foi o toque do Espírito Santo que produziu neles o compungimento, o arrependimento e a fé.

Tendo sido regenerados pelo poder do Espírito Santo, receberam o batismo com água como sinal exterior da gloriosa realidade intima do seu novo nascimento.

No batismo de Cornélio temos uma prova bem patente do fato que Pedro considerava o batismo com água como símbolo do batismo com o Espírito Santo e que este devia preceder àquele.

O argumento de Pedro é que não seria admissível negar-se o rito exterior do batismo aos que já haviam recebido a graça interior representada por esse símbolo.

"Porventura", pergunta ele, "pode alguém negar a água, para que não sejam batizados estes que receberam o Espírito Santo como nós?" E, então, mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo (Atos 10:47,48).

Relatando ainda as suas experiências em casa de Cornélio, diz o apóstolo Pedro:

"Começando eu a falar, desceu o Espírito Santo sobre eles, como no princípio descera sobre nós. E lembrei-me da palavra do Senhor: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois se Deus lhes deu o mesmo dom que dera também a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?" (Atos 11:15-17).

Nada podia ser mais claro; as passagens citadas não deixam a menor duvida quanto ao simbolismo do batismo. Não podia o símbolo ser negado àqueles que haviam recebido o batismo do Espírito Santo que era a realidade a ser representada pelas águas batismais.

Conclui-se logicamente que o batismo feito com água, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, simboliza o batismo do Espírito Santo que produz a regeneração do pecador.

Quando Paulo foi batizado, Ananias também ligou o poder do Espírito Santo com o rito do batismo. Disse Ananias: "Saulo, irmão, o Senhor Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo".

Logo em seguida, lhe caíram dos olhos umas como escamas, e recuperou a vista; e levantando-se foi batizado (Atos 9:17,18).

E, de passagem, notemos que, quando há referência ao modo de ter sido dado o Espírito Santo, esse modo é um derramar (Atos 2:33, 10:45), um descer sobre (Atos 1:8; 10:45 e 11:15), ou um repousar sobre (Atos 2:3).

Não há nenhuma referencia aos discípulos terem ficado envolvidos pelo Espírito Santo ou terem sido imersos nele. Sendo pois, o batismo com o Espírito Santo um derramar, um descer sobre ou um repousar sobre, o melhor modo de representá-lo simbolicamente deve ser pela aplicação de água da maneira indicada.

Em condições normais o sinal exterior deve vir depois de se ter realizado o novo nascimento.

O batismo do Espírito Santo deve preceder o batismo com água, como aconteceu no dia de Pentecostes e nos casos de Cornélio e de Paulo. Todavia, às vezes, acontece haver profissões de fé e batismos com água, sem que se tenha realizado o batismo com o Espírito Santo.

Há, infelizmente, muitos casos de pessoas que ingressam na Igreja visível e depois dão provas de nunca terem sido regeneradas pelo poder do Espírito Santo.

Há outros casos de pessoas que entram na Igreja visível, sem terem sido convertidas, e que, entretanto, se convertem depois de fazer parte dessa Igreja. No livro dos Atos encontramos dois casos anormais que merecem o nosso cuidadoso estudo, porque são muito instrutivos.



Dois casos instrutivos
Um dos referidos casos é narrado em Atos 19:1-7. Quando Paulo chegou pela primeira vez a Éfeso, encontrou ali alguns crentes que nem sequer sabiam que o Espírito Santo havia sido dado.

O apóstolo estranho isso como coisa anormal. Se tivessem sido crentes da nova dispensação inaugurada no dia de Pentecostes, com a descida do Espírito Santo, já teriam recebido o batismo do Espírito Santo e já teriam sido batizados com o batismo cristão.

O normal teria sido receber o Espírito Santo no momento em que creram, como aconteceu com Cornélio.

Esses crentes de Éfeso tinham recebido instruções imperfeitas e incompletas. O seu mestre religioso tinha sido Apoio, um homem eloqüente e versado nas Sagradas Escrituras do Velho Testamento. Tinha alguns conhecimentos a respeito de Jesus como o Messias prometido, mas conhecia somente o batismo de João (Atos 18:25).

Nada conhecia a respeito do batismo do Espírito Santo, vaticinado por João e dado por Jesus no dia de Pentecostes.

Devido a esses conhecimentos parciais de Apolo, Áquila e Priscila levaram-no à parte e "expuseram-lhe com mais precisão o caminho de Deus" (Atos 18:26).

Os discípulos de Apolo, em Éfeso, quando Paulo ali chegou, criam em Jesus, mas somente como os da antiga dispensação haviam crido, quando aceitaram o batismo de João. Estavam convencidos de que Jesus era o Messias e nele criam como tal, mas nenhum conhecimento tinham do Espírito Santo e não tinham ainda experimentado o seu batismo.

Viviam ainda na velha dispensação, como João Batista viveu.

Disse Jesus, com referência a João, que, apesar de ser ele o maior de todos os profetas até aquela data, o menor no reino dos céus, isto é, na nova dispensação, seria maior do que ele.

 E de fato, o crente mais humilde que conhece os benefícios trazidos pelo Espírito Santo na nova dispensação, é mais privilegiado do que ele e, portanto, maior do que ele.

Esses crentes de Éfeso não conheciam ainda os privilégios dos que haviam recebido o batismo do Espírito Santo, mas Paulo tratou logo de habilitá-los.

Esses discípulos de Apolo e de João Batista, que, caminhavam em meia luz, foram devidamente instruídos e batizados com água, em nome de Jesus e logo receberam o Espírito Santo. Receberam a realidade simbolizada pelas águas batismais.

Realizou-se o que João Batista predissera: "Eu, em verdade, vos batizo com água; Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo". Os crentes de Éfeso receberam, ao mesmo tempo, o símbolo e a coisa simbolizada.

Mais uma vez, torna-se evidente a íntima ligação que há, no livro dos Atos, entre o batismo em nome de Jesus e o batismo com o Espírito Santo, levando-nos irresistivelmente à conclusão de que o primeiro é o símbolo do segundo, e, que, sendo derramado o Espírito Santo, devem ser derramadas as águas batismais sobre o batizando.

Em casos normais o batismo com o Espírito Santo precede o batismo cristão com água, pois, como já vimos, as águas batismais representam a ação purificadora e regeneradora operada em nós quando nos convertemos.

Há, todavia, casos anormais em que a pessoa é batizada sem estar convertida. Parece que foi isso o que se deu com os samaritanos cuja história nos é narrada em Atos 8:1-24. O seu caso é um tanto diferente daquele dos Efésios que não conheciam a doutrina do Espírito Santo.



Os crentes de Samaria tinham sido evangelizados e instruídos por um crente esclarecido que tinha pleno conhecimento dos acontecimentos extraordinários de Pentecostes. Felipe era mesmo diácono da Igreja de Jerusalém e havia batizado os crentes samaritanos em nome de Jesus, (Atos 8:16).

Porque, então, não haviam eles recebido o Espírito Santo? Percebe-se da narrativa que esse foi um fato anormal que Pedro e João trataram logo de corrigir. Oraram pelos samaritanos, pedindo para eles o dom do Espírito Santo, o que lhes foi concedido.

Não é preciso procurar fora da narrativa bíblica a razão porque esses crentes samaritanos não haviam recebido o Espírito Santo. Felipe fizera entre eles prodígios e milagres. "A multidão unânime estava atenta às coisas, que Felipe lhe dizia, ouvindo-o e vendo os milagres que estava fazendo.

Pois os espíritos imundos de muitos paralíticos e coxos foram curados. E houve muito regozijo naquela cidade" (Atos 8: 6-8).

A multidão deslumbrada aderiu às doutrinas que Felipe pregava. Foi um movimento popular naquela cidade que arrastou até mesmo a Simão, o mago, que junto com outros foi batizado por Felipe.

O desfecho desse movimento popular mostra que Simão não estava convertido e, portanto, estava servindo de embaraço para a livre atuação do Espírito Santo naquele meio.

Ele tinha os milagres de Felipe apenas como uma mais alta magia do que a sua. "Admirava-se, vendo os milagres e grandes prodígios que se faziam". A sua atenção estava presa por aquilo que supunha serem poderes mágicos possuídos por Felipe e pelos apóstolos.

É muito provável que naquela multidão de novos crentes a maioria não compreendesse ainda a significação espiritual do evangelho. Foram levados pelos prodígios e pela onda popular a aceitar intelectualmente as doutrinas evangélicas, mas ainda não tinham submetido as vontades a Deus para que pudessem receber o Espírito Santo e experimentar as suas influencias regeneradoras.

O embaraço no seu caso foi a falta de submissão à vontade de Deus, pois o Espírito Santo é dado àqueles que obedecem a Deus (Atos 5:32). A oração dos apóstolos veio remover o embaraço para alguns e o hipócrita que estava servindo de empecilho para a manifestação do poder do Espírito Santo foi desmascarado.

Ainda hoje em dia, há muitos que entram nas igrejas evangélicas, pelo batismo, que depois dão provas de nunca terem sido convertidos. Já ouvimos contar de um crente batizado que não dava bom testemunho e de quem se disse, muito apropriadamente, que "ele entrou para o evangelho, mas o evangelho não entrou nele".

Parece-nos que os samaritanos estavam neste caso. Tinham entrado no movimento pró-evangelho, mas não tinham ainda experimentado o poder regenerador do evangelho. Não estavam ainda submissos à vontade de Deus e, por isso, o Espírito Santo não tinha descido sobre eles.

Que esses crentes samaritanos não estavam realmente convertidos, torna-se ainda mais evidente pelo fato de Lucas dizer que creram em Felipe (Atos 8:12). Parece que a sua crença foi mais em Felipe, como extraordinário milagreiro, do que em Jesus Cristo como Salvador.

É esse o defeito de muita crença moderna; acredita-se mais no grande líder humano, por causa das suas qualidades populares, do que no próprio Salvador.

Repete-se hoje o que se deu na Samaria. Se um missionário anuncia o evangelho, em uma localidade onde ainda não tenha sido pregado, muitos afluem, por curiosidade e por outros motivos, para ouvir o que o recém-chegado vai dizer.



E se é um ex-padre que vai falar, a multidão será ainda maior. Se for feito um convite para os que querem se colocar ao lado de Cristo se manifestarem, é bem provável que grande parte do auditório se manifeste num gesto de solidariedade com o pregador.

No entanto, quem julgasse que os manifestantes estivessem convertidos, estaria muito enganado. E mesmo quando alguns desses manifestantes fossem constantes na frequência aos cultos, por algum tempo, e pedissem o batismo, não seria isso prova da sua conversão.

As igrejas evangélicas fazem bem em demorar o batismo de tais manifestantes, e mesmo com as demoras exigidas, há ainda muitos que penetram na Igreja visível, sem terem sido regenerados, isto é, sem terem recebido o batismo do Espírito Santo.

Na Samaria houve ingressões na Igreja visível, sem que os batizandos tivessem ingressado na Igreja, invisível. Mas, felizmente, como havia a fé intelectual e a boa vontade da parte de muitos dos samaritanos, Deus lhes concedeu o poder regenerador do seu Espírito Santo, pelas orações dos apóstolos.

 Receberam a graça que lhes faltava. A realidade da conversão veio para eles, como ainda hoje, às vezes, vem para os crentes evangélicos, depois de já terem ingressado no seio da Igreja visível pelo rito do batismo.

São crentes cuja crença foi apenas intelectual, porém que, depois se transformou em uma fé viva e salvadora. Experimentaram, então, as influencias regeneradoras do Espírito Santo.

Pelo que acabamos de expor, percebe-se que, até mesmo nos casos anormais em que o batismo com água precede o batismo com o Espírito Santo, o primeiro deve ser tido como o símbolo do segundo, visto como, era considerado um fato de se estranhar que os batizados não tivessem ainda recebido o Espírito Santo.

Deviam tê-lo recebido, pois já possuíam o sinal exterior dessa realidade.

Concluímos, portanto, que, sendo o batismo com água o símbolo da ação regeneradora do Espírito Santo que sobre nós é derramado, o modo bíblico de batizar é aquele que melhor condiz com essa preciosa realidade, isto é; o batismo por afusão.

Percebemos, pelos estudos feitos até agora, que o batismo, ao aspecto simbólico, é um lavar com água que representa o lavatório da regeneração operada em nós pelo Espírito Santo (Tito 3:5,6).

Nessa regeneração, somos unidos com Cristo, como a vara é unida à videira (João 15:1-5) e começa para nós uma nova vida, ou, então, empregando outra figura bíblica, despimo-nos do velho homem e revestimo-nos de Cristo (Gálatas 3:26-29; Romanos 13:14).



Em vista do exposto, julgamos ser bíblica a seguinte definição dos teólogos da Assembléia de Westminster:

"O batismo é o sacramento no qual o lavar com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa e sela a nossa união com Cristo, a participação das bênçãos do pacto da graça, e a promessa de pertencermos ao Senhor".

Teria sido mais completa essa definição, se tivesse indicado o Espírito Santo como o Agente divino que efetua a nossa regeneração, conferindo-nos destarte, as bênçãos do pacto da graça, bênçãos essas que nos foram adquiridas pela obra redentora de Jesus.

Ao terminar este segundo estudo, sugerimos a seguinte definição mais completa:

"O batismo é o sacramento no qual o lavar com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo simboliza o lavar da regeneração efetuada no pecador, pela instrumentalidade do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, significa e sela a união do regenerado com Cristo, a sua participação das bênçãos do pacto da graça e a sua promessa de pertencer ao Senhor".

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