Você o trata como uma força?: descubra o relacionamento profundo com o Espírito Santo como pessoa — Sermão sobre João 14.16-17

João 14.16-17

Você vai se surpreender ao me ouvir anunciar que não pretendo falar sobre o Espírito Santo como o Consolador. Proponho reservar isso para uma mensagem especial mais tarde. 

Neste discurso, buscarei explicar e reforçar outras doutrinas que acredito serem claramente ensinadas neste texto, e espero que Deus, o Espírito Santo, as torne proveitosas para nossas almas.

Um velho pregador, John Newton, disse uma vez que alguns livros eram bons, mas eram como livros de moedas de um centavo; você precisa de muitos para ter algum valor. 

Outros eram de prata ou de ouro, mas ele tinha um livro que era como um livro de notas bancárias, onde cada página tinha um valor imenso.

Foi assim que me senti com este texto. É uma nota de um valor tão grande que não consigo explicar tudo. Eu precisaria de horas para desdobrar toda a riqueza desta promessa preciosa, uma das últimas que Cristo deu ao seu povo.

Convido sua atenção para esta passagem, pois nela encontraremos instrução em quatro pontos: primeiro, sobre a verdadeira e própria personalidade do Espírito Santo. 

Segundo, sobre a ação conjunta das três gloriosas pessoas na obra de nossa salvação. 

Terceiro, encontraremos algo para estabelecer a doutrina da habitação do Espírito Santo nas almas de todos os crentes. E, quarto, descobriremos a razão pela qual a mente carnal rejeita o Espírito Santo.

1. A personalidade do Espírito Santo

Estamos tão acostumados a falar sobre a "influência" do Espírito Santo, suas operações e graças, que corremos o risco de esquecer que o Espírito Santo é verdadeira e realmente uma pessoa — uma existência, uma subsistência.

Tenho receio de que, sem perceber, tenhamos adquirido o hábito de considerar o Espírito Santo como uma emanação que flui do Pai e do Filho, e não como uma pessoa em si. Sei que não é fácil manter em mente a ideia do Espírito Santo como pessoa.

Eu consigo pensar no Pai como uma pessoa, pois seus atos são compreensíveis. Eu o vejo suspendendo o mundo no espaço e vestindo o mar recém-nascido com faixas de escuridão. 

Eu consigo imaginar Jesus, o Filho do Homem, como uma pessoa real, porque ele é osso do meu osso e carne da minha carne. Não exige muito da minha imaginação para retratar o bebê em Belém ou o "Homem de Dores".

Mas quando se trata do Espírito Santo, suas operações são tão misteriosas, seus atos tão secretos e distantes de tudo que é sensorial, que não consigo ter a mesma clareza sobre sua personalidade. 

Mas ele é uma pessoa. Deus, o Espírito Santo, não é uma influência ou uma corrente de algo que flui do Pai. Ele é uma pessoa tão real quanto Deus Filho ou Deus Pai.

A primeira prova vem da ordem do batismo. Lembre-se das palavras solenes: "Eu o batizo em nome" — note, "em nome", não "nos nomes" — "do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo". Como o Pai é mencionado e o Filho é mencionado, também o Espírito Santo é. O texto não fala "dos nomes", mas "do nome", o nome glorioso de Jeová, mostrando uma Trindade em unidade.

Um segundo argumento surge do fato de que o Espírito Santo já apareceu de diferentes formas na terra. Lembre-se do batismo de Jesus. 

Quando ele saiu da água, as portas do céu se abriram e, em um dilúvio de glória, desceu algo que você reconhece como uma pomba, pousando sobre sua cabeça. O Espírito Santo foi visto como uma pomba para marcar sua pureza e gentileza.

Outra vez, os discípulos estavam reunidos em um cenáculo. De repente, veio um som como de um vento impetuoso e surgiram línguas de fogo que pousaram sobre cada um deles. O que eram essas aparições de vento e chama senão uma manifestação do Espírito Santo como pessoa? Uma influência ou um atributo não poderiam aparecer de forma visível.

Além disso, qualidades pessoais são atribuídas ao Espírito Santo nas Escrituras. Ele tem entendimento. Em 1 Coríntios 2, está escrito que "o Espírito perscruta todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus".

Ele tem uma vontade. No capítulo 12 da mesma carta, lemos que o Espírito distribui os dons "a cada um como quer". E ele tem poder. Romanos 15.13 fala de "abundar em esperança pelo poder do Espírito Santo". Onde há entendimento, vontade e poder, deve haver uma pessoa.

Atos e ações também lhe são atribuídos. No Gênesis, lemos que "o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas", trazendo ordem ao caos. Foram "homens santos de Deus" que "falaram inspirados pelo Espírito Santo".

Foi o Espírito Santo quem disse: "Separai-me Barnabé e Saulo". Foi ele quem arrebatou Filipe e proibiu Paulo de pregar em certos lugares. Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo. E é ele quem nos regenera, nos convence do pecado e nos guia a Cristo. Tudo isso só pode ser obra de uma pessoa.

Finalmente, sentimentos lhe são atribuídos. Efésios 4.30 diz que o Espírito pode ser entristecido: "Não entristeçais o Espírito Santo de Deus". Em Isaías 63.10, diz que ele pode ser afligido. E em Atos 7.51, lemos que ele pode ser resistido. Emoções como essas só podem pertencer a uma pessoa.

Um evangelho sem a Trindade é uma pirâmide construída sobre seu vértice, uma corda de areia que não se sustenta. Entender as três pessoas em um só Deus é a chave de ouro para os segredos da divindade.

Aplicação Prática

  • Ajuste sua linguagem e oração: Comece a se dirigir ao Espírito Santo em suas orações como uma pessoa, e não como uma "força" ou "influência". Agradeça a ele, peça sua orientação e confesse quando o entristecer.
  • Reconheça sua obra em sua vida: Reflita sobre sua jornada de fé. Em que momentos você percebeu a convicção, o consolo ou a direção do Espírito? Reconhecer sua ação pessoal fortalece seu relacionamento com ele.
  • Estude os nomes e símbolos do Espírito: Assim como a pomba simboliza pureza, estude outros símbolos bíblicos (fogo, vento, água, óleo) para entender melhor a profundidade de sua personalidade e obra.

2. A ação conjunta das três pessoas na salvação

Olhe para o texto e você encontrará as três pessoas mencionadas. "Eu" — o Filho — "rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador". Todas elas estão fazendo algo por nossa salvação. "Eu rogarei", diz o Filho. "Eu enviarei", diz o Pai. "Eu consolarei", diz o Espírito Santo.

Quando Deus criou o homem, ele disse: "Façamos o homem", e não "farei o homem". Os três agiram juntos. Da mesma forma, na eternidade, eles disseram: "Salvemos o homem". Não foi apenas uma pessoa da Trindade que se comprometeu com a sua salvação, mas um glorioso trio de seres divinos.

Observe que cada pessoa desempenha uma função distinta. O Filho intercede. O Pai doa. O Espírito Santo influencia sobrenaturalmente. Se pudéssemos ver a cena celestial, veríamos Jesus, nosso intercessor, diante do trono, apresentando nossas tristezas.

Não veríamos o Pai como um espectador indiferente, mas com o ouvido atento, concedendo cada petição de Jesus. E o Espírito Santo? Ele não está ocioso. Ele está na terra, dizendo às almas cansadas: "Venham a Jesus". Ele enxuga as lágrimas, acalma as tempestades da alma e cura os corações partidos.

Não diga apenas: "Sou grato ao Filho". Você deve ser, mas o Filho não o salva mais do que o Pai. Não imagine o Pai como um tirano que precisou ser apaziguado pela morte do Filho. O Pai, o Filho e o Espírito amam igualmente e estão unidos no grande propósito de resgatar os eleitos da condenação.

Veja como eles prometem um pelo outro. O Filho diz: "Eu rogarei", e acrescenta: "E ele (o Pai) vos dará". E promete em nome do Espírito: "Ele ficará convosco para sempre". Uma pessoa fala pela outra, pois não há desacordo entre elas. O Pai ouve o que o Filho diz. O Espírito realiza o que o Pai promete.

Aplicação Prática

  • Adore a Trindade: Em seu tempo de louvor, agradeça intencionalmente a cada pessoa da Trindade por sua função específica em sua salvação: ao Pai por eleger e enviar, ao Filho por interceder e se sacrificar, e ao Espírito por selar e santificar.
  • Encontre segurança na unidade divina: Quando se sentir inseguro em sua fé, lembre-se de que sua salvação não depende de uma única promessa, mas de um pacto feito entre as três pessoas da Trindade. Sua segurança está firmada na própria natureza de Deus.
  • Evite visões distorcidas de Deus: Rejeite a ideia de um Pai irado e um Filho relutante. Abrace a verdade bíblica de que o plano da salvação fluiu do coração amoroso de um Deus triúno, agindo em perfeita harmonia.

3. A habitação do Espírito Santo nos crentes

Agora passamos da doutrina para a experiência. A habitação do Espírito Santo é um assunto tão profundo, tão ligado ao homem interior, que nenhuma alma poderá compreendê-lo verdadeiramente, a menos que tenha sido ensinada por Deus.

O texto nos diz que Jesus enviaria o Consolador, que habitaria nos santos para sempre. O mártir Inácio se autodenominava Theophorus, ou "portador de Deus", porque carregava consigo o Espírito Santo. E, verdadeiramente, todo cristão é um portador de Deus.

Você não sabe que é templo do Espírito Santo? Aquele que não é objeto da habitação do Espírito não é cristão. Ele pode entender teologia, ser um calvinista ortodoxo, ter um intelecto gigantesco, mas se não tiver o Espírito, ele é apenas "um filho da natureza finamente vestido, mas não o filho vivo".

Alguns chamam isso de fanatismo. Dizem: "Você é um Quaker? Segue George Fox?". Seguiríamos qualquer um que seguisse o Espírito Santo. O Espírito de Deus em uma alma cristã reconhece o Espírito em outra. O Espírito dentro de mim salta ao ouvir o Espírito dentro de outro, e sentimos que somos um.

Lembro-me de conversar com um bom homem que insistia que era impossível saber se tínhamos o Espírito Santo dentro de nós. Eu gostaria que ele estivesse aqui para ler este versículo: "mas vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós".

Você acha que não pode saber se tem o Espírito Santo? Eu posso saber se estou vivo? Se eu fosse tocado por eletricidade, não saberia? Da mesma forma, se tenho Deus dentro de mim, se a Divindade habita em meu peito, você acha que eu não saberia?

Quando temos dificuldades, pedimos a direção do Espírito. Quando não entendemos as Escrituras, pedimos que ele nos ilumine. Quando estamos deprimidos, ele nos conforta. Ele nos refreia do pecado, firma nossos pés e guarda nosso coração.

E há uma pequena palavra neste ponto que me agrada muito: "para sempre". Uma vez que recebo o Espírito Santo, nunca o perderei, até que o "para sempre" se esgote.

Aplicação Prática

  • Avalie sua experiência: Você conhece o Espírito Santo apenas como uma doutrina ou como uma pessoa que habita em você? Você busca sua orientação nas decisões, seu consolo na tristeza e seu poder na fraqueza?
  • Cultive a sensibilidade ao Espírito: A habitação do Espírito não é uma experiência única, mas uma comunhão contínua. Reserve tempo para silêncio e oração, pedindo para ouvir sua voz suave e não entristecê-lo com suas ações.
  • Viva como um templo: A consciência de que seu corpo é o templo do Espírito Santo deve transformar a maneira como você vive, o que assiste, o que ouve e como trata sua saúde. Honre o divino Hóspede que mora em você.

4. Por que o mundo rejeita o Espírito Santo?

Está escrito: "a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece". Por "mundo", entendemos todos aqueles que estão em um estado carnal. Eles desprezam o Espírito Santo porque "não o veem".

Este é o grande segredo pelo qual muitos zombam da ideia da existência do Espírito Santo. Você diz ao mundano: "Tenho o Espírito Santo dentro de mim", e ele responde: "Não consigo ver". Ele quer algo tangível, algo que possa reconhecer com seus sentidos.

A discussão é parecida com a de um velho cristão e um médico ateu. O médico disse que não havia alma e perguntou: "Você já viu uma alma? Ouviu, cheirou, provou?". "Não", respondeu o cristão. "Você já sentiu uma alma?". "Sim", disse ele, "sinto que tenho uma dentro de mim".

"Bem", disse o médico, "são quatro sentidos contra um". O cristão então perguntou: "Doutor, você já viu uma dor? Ouviu, cheirou, provou?". "Não". "Você já sentiu uma dor?". "Sim". "E isso é o suficiente para provar que a dor existe, não é?".

O mundano diz que não há Espírito Santo porque não pode vê-lo. Mas nós o sentimos. Existem muitas coisas na natureza que não vemos. Você já viu o vento? Não, mas você sabe que ele existe quando vê um furacão ou sente a brisa suave. Você já viu a eletricidade? Não, mas sabe que ela existe quando ela viaja pelos fios e leva nossas mensagens. Assim é o Espírito Santo.

A razão final pela qual o mundo zomba é porque "não o conhece". Se conhecessem por experiência própria, se já tivessem sido tocados por ele, levados a tremer sob o peso do pecado ou a ter o coração derretido pela graça, nunca duvidariam de sua existência.

Conclusão

Santos do Senhor, vocês ouviram que o Espírito Santo é uma pessoa. O que se segue disso? Que vocês devem ser fervorosos em orar *ao* Espírito Santo, assim como *pelo* Espírito Santo.

E aos que não são convertidos, uma palavra final. Tenha muito cuidado ao falar do Espírito Santo. Não sei exatamente o que é o pecado imperdoável, mas a Bíblia diz: "Aquele que falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado". Isso é um sinal de perigo. Pare!

Se você zombou das suas revelações ou desprezou o que os cristãos chamam de sua influência, eu lhe imploro, pare. Não brinque com as palavras ou os atos de Deus, o Espírito Santo.


Adaptado do sermão "The Personality of the Holy Ghost", pregado por C. H. Spurgeon em 21 de janeiro de 1855, na New Park Street Chapel, Southwark.

Semeando Vida

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