Sua igreja é um clube ou um farol?: o chamado para ser uma bênção para o mundo ao seu redor — Sermão sobre Ezequiel 34.26

 

Ezequiel 34.26
"Eu as abençoarei e abençoarei os lugares em torno da minha colina. Na estação própria farei descer chuva; haverá chuvas de bênção."

Introdução

O que torna uma igreja verdadeiramente viva? O que a transforma de um simples prédio onde pessoas se reúnem em um lugar de impacto, uma força de transformação para a comunidade ao redor?

Muitas vezes, medimos a saúde de uma igreja por seus números, pela qualidade de sua música ou pela eloquência de suas mensagens. Mas a Bíblia nos dá um padrão diferente, um propósito muito mais profundo.

No texto de hoje, o profeta Ezequiel fala em nome de Deus a um povo que estava desanimado, liderado por pastores egoístas que cuidavam de si mesmos em vez de cuidarem do rebanho. 

No meio dessa situação de desolação, Deus faz uma promessa poderosa, que ecoa até hoje em nossos corações: ele mesmo cuidaria de seu povo e os transformaria em uma fonte de vida.

Essa promessa se divide em duas verdades essenciais que vamos explorar: primeiro, que a igreja de Cristo foi chamada para ser uma bênção; e segundo, que a igreja de Cristo precisa constantemente ser abençoada por Deus.

1. Uma igreja chamada para ser bênção

A primeira parte da promessa é ativa, um chamado à ação: “Eu as farei... uma bênção”. O plano de Deus nunca foi criar uma comunidade fechada em si mesma, um clube exclusivo para pessoas salvas. Desde o início, a intenção divina era que seu povo fosse um canal de sua graça para o mundo.

Quando Deus nos salva, ele não está apenas nos dando um ingresso para o céu. Ele está nos recrutando para uma missão aqui na terra. Somos chamados para ser o sal que dá sabor e a luz que ilumina a escuridão. Vamos entender como isso funciona na prática.

a) É uma obra divina

O texto é claro: “Eu farei delas uma bênção”. A capacidade de abençoar os outros não vem de nossa própria força, talento ou bondade. É uma obra de Deus em nós e através de nós. Ele nos usa de duas maneiras: nos capacitando e, por vezes, nos impulsionando.

Deus nos capacita. O que podemos fazer sem a ajuda dele? Um professor de escola dominical pode preparar a melhor aula, mas sem o Espírito Santo tocando o coração da criança, serão apenas palavras. Um músico pode ter a técnica perfeita, mas é Deus quem usa a melodia para trazer consolo a uma alma aflita.

Pense em um simples gesto. Um senhor de idade levou um menino até uma árvore e disse: “Vamos nos ajoelhar aqui. Vou orar para que Deus salve sua alma”. Anos se passaram, e o jovem, já distante de Deus, passou por aquele mesmo campo.

A visão da árvore trouxe a memória da oração, e ali mesmo, ele se ajoelhou e entregou sua vida a Cristo. Um ato simples, capacitado por Deus, tornou-se uma bênção eterna.

Mas Deus também nos impulsiona. Muitas vezes, ele nos coloca em situações onde não temos escolha a não ser agir. 

Sentimos um impulso, uma convicção interna que não podemos ignorar. Alguém que é tímido de repente se vê tendo que liderar uma oração. Alguém que pensava não ter nada a oferecer se vê consolando um colega de trabalho em crise. Deus nos move para sermos bênção.

b) É uma responsabilidade pessoal

A promessa diz: “Eu farei delas uma bênção”. É no plural, mas se refere a cada indivíduo que compõe a igreja. É muito fácil nos escondermos atrás do pronome “nós”.

Nós temos um trabalho social incrível na igreja!”. Mas a pergunta é: você já serviu um prato de comida ou doou uma peça de roupa? “Nós temos uma escola dominical grande!”. Mas você já dedicou uma manhã de domingo para ensinar uma criança sobre Jesus?

Muitos de nós escrevemos o “nós” sem nos incluirmos nele. A construção de uma igreja relevante começa quando cada pessoa assume sua parte. Quando Jerusalém foi reconstruída, cada família trabalhou no muro que ficava em frente à sua própria casa.

Você pode pensar: “Mas o que eu posso fazer? Sou apenas uma pessoa, ocupada com trabalho e família”. Será que você não tem nada a oferecer? 

A aranha tece sua teia em palácios. A pequena estrela no céu guia o marinheiro. Uma simples conversa no elevador, um versículo compartilhado no WhatsApp, uma oração por um vizinho. Deus não cria coisas inúteis. Ele te fez com um propósito, e parte dele é ser uma bênção onde você está.

c) É um impacto que se expande

A bênção não para em nós. O texto continua: “...e os lugares em torno da minha colina”. A fé genuína é como uma pedra jogada em um lago: ela cria ondas que se espalham e alcançam lugares distantes.

Quais são os “lugares em torno da nossa colina” hoje? São nossos círculos de influência. Começa com nossa família. Depois, se expande para nossa vizinhança e nosso local de trabalho. Inclui também as outras igrejas e a cidade em que vivemos.

Nossa missão não é apenas cuidar de quem está dentro das quatro paredes do templo. É levar a esperança para o lado de fora. É sermos conhecidos em nosso bairro não apenas como “o pessoal daquela igreja barulhenta”, mas como as pessoas que se importam, que ajudam, que oram, que vivem o que pregam.

Se há uma luz acesa em nossa igreja, que outras pessoas possam vir e acender suas velas aqui. Que a nossa paixão por Jesus seja contagiante, inspirando outros a buscarem a mesma alegria e propósito.

Aplicação Prática

  • Reconheça o impulso de Deus: Onde Deus tem te “empurrado” para agir? Não ignore aquela voz interior que te incentiva a ligar para um amigo, ajudar um vizinho ou iniciar uma conversa sobre fé.
  • Assuma sua parte: Pare de se esconder no “nós”. Pergunte a si mesmo: “Qual é a minha contribuição pessoal para que minha igreja seja uma bênção?”. Encontre um ministério, por menor que seja, e sirva com excelência.
  • Mapeie sua influência: Pense nos “lugares ao redor da sua colina”. Quem são as pessoas em sua família, trabalho ou vizinhança que precisam experimentar o amor de Deus através de você? Comece orando por uma delas esta semana.

2. Uma igreja que precisa ser abençoada

Não podemos dar aquilo que não temos. Uma igreja só pode ser uma bênção se ela mesma for constantemente abençoada por Deus. A segunda parte do versículo nos lembra disso: “...farei descer chuva a seu tempo; haverá chuvas de bênção”.

Essa imagem da chuva é poderosa. Ela fala de algo que não controlamos, mas do qual dependemos totalmente. Vamos analisar o que essas “chuvas de bênção” significam para nós.

a) É uma graça soberana

O texto diz: “Eu farei descer a chuva”. Somente Deus pode enviar chuva. Nenhum líder, por mais carismático que seja, nenhum programa, por mais bem elaborado, pode produzir a verdadeira bênção espiritual. Ela vem do alto.

A graça de Deus não é algo que possamos fabricar ou comprar. É um presente que vem diretamente de suas mãos. Nossa parte é nos posicionarmos debaixo das nuvens, com o coração aberto e sedento, prontos para receber.

b) É uma graça necessária

O que acontece com um campo sem chuva? Você pode arar a terra, semear as melhores sementes, mas sem água, nada brota. A terra fica seca, rachada e sem vida. Assim é a igreja sem a bênção de Deus.

Podemos ter os melhores músicos, os pregadores mais eloquentes e os projetos mais organizados, mas se o poder de Deus não estiver presente, tudo será em vão. Seremos apenas um clube social, um evento religioso vazio. Precisamos desesperadamente das chuvas do céu.

c) É uma graça abundante

Deus não promete gotas, mas “chuvas”. No plural. Quando Deus decide abençoar, ele o faz com generosidade, a ponto de não termos onde guardar. A graça dele é mais do que suficiente para cada desafio que enfrentamos.

Precisamos de chuvas de graça para nos manter humildes quando as coisas vão bem. Precisamos de chuvas de graça para nos dar força na provação. Precisamos de chuvas de graça para sermos santos, ousados e cheios de amor. Nossa necessidade é grande, mas a provisão de Deus é ainda maior.

d) É uma graça na hora certa

A promessa é de uma chuva “na estação própria”. A graça de Deus é sempre pontual. Às vezes, enfrentamos uma situação difícil, uma conversa tensa, e reagimos mal. Dez minutos depois, a calma vem, e pensamos: “Por que não tive essa paciência antes?”. É porque precisamos da graça de Deus no momento exato da necessidade.

Sua estação hoje é de seca espiritual? Então é a estação para a chuva. É um tempo de nuvens escuras e tempestades na vida? Então é a estação para as chuvas de bênção. A noite da aflição é o momento perfeito para que o orvalho do consolo de Deus caia sobre nós.

e) É uma graça variada

A promessa fala em “chuvas de bênção”, no plural. As bênçãos de Deus nunca vêm sozinhas; elas andam juntas. Se ele envia uma chuva de conversões, ele também envia uma chuva de consolo para os que já creem. Se ele nos desafia com a verdade do evangelho, ele também nos fortalece com sua santidade.

Deus nos dá graça para perdoar e graça para pedir perdão. Ele nos dá alegria nos momentos de celebração e paz nos momentos de luto. Ele envia todo tipo de bênção de que sua igreja precisa para ser completa e saudável.

Aplicação Prática

  • Posicione-se para receber: Você tem buscado a bênção de Deus com a mesma intensidade com que busca o sucesso profissional ou o entretenimento? Dedique tempo para orar e buscar a face de Deus, pedindo por suas “chuvas”.
  • Peça a graça certa para hoje: Identifique qual é a sua “estação”. Você precisa de paciência, sabedoria, força ou esperança? Peça a Deus a graça específica para o desafio que você está enfrentando agora.
  • Abra o guarda-chuva do orgulho: Muitas vezes, as chuvas de Deus estão caindo, mas nós nos escondemos debaixo do guarda-chuva do preconceito, do orgulho ou da autossuficiência. Confesse sua necessidade e deixe a graça dele te encharcar.

Conclusão

A promessa de Deus para a sua igreja é dupla: sermos um canal de bênçãos e sermos um campo regado por elas. Um não funciona sem o outro. 

Se apenas recebemos e não compartilhamos, nos tornamos um pântano de água parada. Se apenas tentamos fazer sem receber, nos esgotamos em um deserto de esforço próprio.

Guerreiro, vista sua armadura! Cristão, desperte do seu sono! O Capitão nos chama para a batalha. Jesus fez tanto por você, como não viver inteiramente para ele?

O momento é agora, a oportunidade é única. As nuvens estão se formando. Que, a partir deste lugar, comece a primeira gota de uma onda, que moverá outra, e outra, até que a grande onda final da graça de Deus varra o mundo, e sua maré alta invada as praias da eternidade, ecoando em sua queda:

“Aleluia! Aleluia! Aleluia! O Senhor Deus Onipotente reina!”


Adaptado do sermão "The Church of Christ" (#28), pregado por C. H. Spurgeon em 3 de junho de 1855, em New Park Chapel, Southwark.

Semeando Vida

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