Imagine estar perdido em uma densa floresta à noite. Você não tem mapa nem bússola. Cada árvore se parece com a outra, e cada som parece uma ameaça.
Neste momento, o que você mais desejaria não é força ou coragem, mas sabedoria – o conhecimento do caminho certo a seguir, a compreensão de como sair daquela situação perigosa. Sem essa sabedoria, todos os seus esforços são em vão, talvez até o levem para mais fundo na escuridão.
O capítulo 28 de Jó é como uma pausa no drama doloroso. Após rodadas de debates infrutíferos, onde cada um tentava impor sua própria "sabedoria" para explicar o sofrimento, o texto se eleva a uma meditação poética sobre a natureza da verdadeira sabedoria.
A conversa entre Jó e seus amigos chegou a um impasse, porque eles operavam a partir de uma premissa errada: a de que a sabedoria humana poderia decifrar os propósitos de Deus.
Este capítulo, então, funciona como um interlúdio sábio que muda a própria natureza da pergunta. A questão deixa de ser "Por que Jó está sofrendo?" e se torna algo muito mais fundamental: "Onde, afinal, se encontra a sabedoria?".
Neste estudo, embarcaremos com o poeta em uma busca épica. Exploraremos os lugares mais profundos da terra e os cantos mais remotos da criação, apenas para descobrir onde a sabedoria *não* está.
E, finalmente, seremos levados à única Fonte que a possui e ao único caminho pelo qual podemos acessá-la. Prepare-se para uma jornada que redefine o que significa ser verdadeiramente sábio, especialmente em face do sofrimento.
1. A sabedoria não pode ser encontrada pela exploração humana
O capítulo começa com um hino impressionante às realizações da engenhosidade humana, especificamente no campo da mineração.
O poeta descreve com admiração como o homem "põe termo às trevas" (28:3), descendo a poços verticais, escavando túneis horizontais e arrancando tesouros das entranhas da terra.
Ele sabe onde encontrar prata, ouro, ferro e cobre. Ele desvia rios, perfura montanhas e traz à luz pedras preciosas que nenhum animal, nem mesmo o abutre de olhos penetrantes ou o leão poderoso, jamais viu.
Esta passagem é uma celebração da capacidade humana de investigar, descobrir e conquistar os segredos do mundo natural.
O homem pode mapear as estrelas, decifrar os oceanos e extrair riquezas dos lugares mais inóspitos. A mensagem é clara: no que diz respeito ao domínio do mundo físico, a habilidade humana é quase ilimitada.
No entanto, após exaltar essas conquistas, o poeta faz uma pergunta devastadora: "Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento?" (28:12). Todos esses tesouros – ouro, prata, safiras, rubis – não podem comprá-la.
Ela não está escondida nas profundezas da terra para ser minerada, nem nos abismos do mar para ser pescada. Mesmo a Morte e a Destruição, que conhecem os segredos finais da existência, admitem ter ouvido apenas um rumor sobre ela (28:22).
A lição é profunda. A humanidade pode acumular um vasto conhecimento sobre o como o universo funciona, mas permanece completamente ignorante sobre o porquê.
Podemos construir computadores que calculam o futuro, mas não podemos responder à pergunta mais simples e urgente de uma alma sofredora: "Por que isso está acontecendo comigo?".
A sabedoria que dá sentido à nossa existência não é um produto da pesquisa humana. Não está nos livros, nos laboratórios, nem no fundo das minas. É um tesouro de outra ordem.
Aplicação
Nossa era moderna é a apoteose da busca humana por conhecimento. Temos mais informações na ponta dos dedos do que qualquer geração anterior. No entanto, o vazio existencial e a confusão diante do sofrimento parecem maiores do que nunca.
- Diferencie conhecimento de sabedoria: Você pode ter diplomas, ler centenas de livros e acompanhar todas as notícias, mas isso não o torna sábio. A verdadeira sabedoria não é sobre acumular informações, mas sobre entender a vida da perspectiva de Deus. Busque a sabedoria de Deus na Sua Palavra mais do que busca o conhecimento do mundo em outras fontes.
- Humilhe-se diante do mistério: O progresso científico pode nos dar a ilusão de que somos capazes de explicar tudo. O capítulo 28 de Jó é um chamado à humildade. Há mistérios na direção de Deus que nossa mente finita nunca conseguirá desvendar. Aceitar isso não é um sinal de fraqueza, mas de verdadeira sabedoria.
- Não espere que o mundo responda às perguntas da sua alma: Pare de procurar em fontes humanas (psicologia, autoajuda, filosofia) a resposta para o significado último do seu sofrimento. Embora essas áreas possam oferecer algum alívio e insight, a verdadeira sabedoria que ancora a alma só pode ser encontrada em Deus.
2. A sabedoria é encontrada exclusivamente em Deus
Se a sabedoria não pode ser encontrada em nenhum lugar da criação, onde ela está? A resposta do poeta é direta e inequívoca: "Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar" (28:23).
A sabedoria não é um poder independente que Deus consulta; ela é um atributo intrínseco de Seu próprio ser. Ele não apenas conhece o caminho para a sabedoria; Ele *é* a fonte da sabedoria.
Essa sabedoria divina não é abstrata. Ela é visível na criação. Deus estabeleceu "peso para o vento" e "medida para as águas" (28:25). Ele decretou uma lei para a chuva e um caminho para o relâmpago (28:26).
A ordem, o equilíbrio e a precisão do mundo natural são uma demonstração da inteligência incompreensível do Criador. O mesmo Deus que projetou o ciclo da chuva com perfeição é o Deus que está dirigindo os detalhes de nossas vidas.
Esta é uma verdade fundamental: se Deus é infinitamente sábio em Sua criação, podemos confiar que Ele também é infinitamente sábio em Sua providência. Tudo o que Ele faz – mesmo os eventos dolorosos e confusos em nossas vidas – está fundamentado nessa mesma sabedoria perfeita, mesmo que não possamos compreendê-la.
O problema de Jó e seus amigos é que eles estavam tentando acessar diretamente essa sabedoria secreta de Deus, um feito impossível para a mente humana.
Aplicação
Saber que a sabedoria pertence a Deus deve mudar a maneira como enfrentamos as dificuldades.
- Descanse na soberania sábia de Deus: Quando você não entender o "porquê" do seu sofrimento, lembre-se do "Quem" está no controle. Confie que o mesmo Deus que sustenta as galáxias em seus cursos também está tecendo os fios da sua vida com um propósito sábio, mesmo que o padrão seja invisível para você agora.
- Pare de tentar ser Deus: Tentar decifrar os motivos secretos de Deus para cada evento é uma tentativa de se colocar no lugar d'Ele. Isso leva à frustração (se você não conseguir) ou à arrogância (se você achar que conseguiu, como os amigos de Jó). A verdadeira paz vem quando você entrega a necessidade de entender e simplesmente confia.
- Procure a sabedoria de Deus na criação: Quando sua vida parecer caótica, dê um passeio na natureza. Observe a ordem das estações, a complexidade de uma flor, a vastidão do céu noturno. Deixe que a sabedoria visível de Deus na criação fortaleça sua confiança em Sua sabedoria invisível em sua vida.
3. A sabedoria de Deus é acessada não pela razão, mas pela reverência
Então, estamos fadados a viver em ignorância, submetendo-nos cegamente a uma sabedoria divina que nunca poderemos tocar?
O capítulo termina com uma reviravolta surpreendente. Após declarar que a sabedoria é um segredo de Deus, o texto conclui: "E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é o entendimento" (28:28).
Aqui está a chave de todo o capítulo. Deus não nos transfere Sua sabedoria para que possamos entender tudo o que Ele entende. Isso seria impossível.
Em vez disso, Ele nos dá o "cabo" da Sua sabedoria, algo em que podemos nos segurar. A sabedoria para nós não é *compreender* os planos secretos de Deus, mas *confiar* no caráter revelado de Deus.
A ilustração da ovelha e do pastor é perfeita. Uma ovelha não compreende o mapa que o pastor tem em sua mente. Ela não sabe por que ele a está levando por um vale escuro e perigoso.
Tentar entender a estratégia do pastor está além de sua capacidade. A sabedoria da ovelha consiste em uma coisa simples: confiar na voz do pastor e segui-lo.
Ela se submete à sabedoria superior do pastor, sabendo que ele a está guiando para pastos verdes. É melhor estar em um vale perigoso *com* o pastor do que em um campo aparentemente seguro *sem* ele.
Da mesma forma, nossa sabedoria não é decifrar o enigma do nosso sofrimento. Nossa sabedoria é temer ao Senhor – isto é, reverenciá-Lo, respeitar Sua autoridade e confiar em Sua bondade – e nos afastar do mal.
É ouvir Sua voz em Sua Palavra e segui-Lo em obediência, mesmo quando o caminho é escuro. É significativo que essas duas expressões – temer a Deus e se afastar do mal – sejam as mesmas usadas para descrever Jó no início do livro. A sabedoria que Deus requer de nós na aflição é a mesma que Ele requer de nós em todas as circunstâncias.
Conclusão
O capítulo 28 não responde à pergunta de Jó sobre o porquê de seu sofrimento. Em vez disso, ele declara que essa é a pergunta errada.
A busca para decifrar os motivos secretos de Deus é uma busca fútil que leva à arrogância ou ao desespero. A verdadeira busca é pela sabedoria, e essa sabedoria não é encontrada na mente, mas no coração rendido.
A sabedoria não é saber todas as respostas. A sabedoria é confiar n'Aquele que tem todas as respostas. É deixar de lado nossa necessidade de entender e abraçar nossa necessidade de confiar.
É trocar a arrogância de nossos próprios raciocínios pela humildade do temor do Senhor. Este é o caminho que Jó, em seus melhores momentos, seguiu.
E este é o único caminho que nos levará através dos vales escuros de nossas próprias vidas, não com todas as respostas em nossas mentes, mas com a mão segura do Pastor em nossa mão.
Lista de estudos da série
1. A Aposta no Céu: Descubra se sua fé é genuína ou apenas interesse – Estudo Bíblico sobre Jó 12. O Dia em que Tudo Desabou: O segredo de Jó para adorar em meio à ruína – Estudo Bíblico sobre Jó 1