Imagine uma criança pequena em um acesso de raiva, gritando com o pai: "Você não me ama! Você é injusto!". Ela está convencida de sua perspectiva limitada.
O pai, em sua sabedoria, poderia simplesmente explicar a situação: "Filho, não lhe dei o doce porque você já comeu demais e ficaria doente". Mas imagine se, em vez disso, o pai o levasse pela mão até o topo de uma montanha e dissesse: "Filho, você consegue contar as estrelas? Você sabe por que o sol nasce toda manhã? Você entende como as sementes crescem?".
A criança, confrontada com a vastidão e a complexidade de um mundo muito além de sua compreensão, ficaria em silêncio, não porque sua pergunta foi respondida, mas porque ela de repente percebeu o quão pequena é sua perspectiva e o quão grande e sábio é seu pai.
Essa é essencialmente a abordagem que Deus toma com Jó. Após longos capítulos de silêncio divino, onde os homens tentaram decifrar os céus com sua própria lógica, o próprio Deus finalmente fala, não de um livro de teologia, mas de dentro de um redemoinho.
A resposta que Ele dá, no entanto, não é a que Jó, ou nós, esperaríamos. Ela não resolve o mistério do sofrimento, mas redefine a relação entre o sofredor e o Deus soberano.
Neste estudo, chegamos ao clímax do livro de Jó. Testemunharemos o encontro face a face entre um homem quebrantado e seu Criador onipotente.
Analisaremos a surpreendente "não-resposta" de Deus e a profunda transformação que ela opera em Jó, levando-o do questionamento à adoração e ao arrependimento.
A questão final que enfrentaremos é: o que é mais importante para uma alma em sofrimento – ter todas as respostas ou ter um encontro transformador com Aquele que é a Resposta?
1. Deus responde à nossa arrogância não com uma explicação, mas com uma revelação de si mesmo
Após a conclusão dos debates humanos, Deus irrompe na cena. Do meio de uma tempestade, Ele se dirige a Jó. O momento é eletrizante.
Jó, que havia desejado ardentemente seu "dia no tribunal" para apresentar seu caso contra Deus, agora tem sua chance. Ele imaginava que chegaria diante de Deus como um príncipe, confiante em sua inocência (31:37).
Mas a realidade é avassaladora. Deus inverte os papéis. Não é Jó quem interroga, mas Deus. E a primeira pergunta é um golpe direto: "Quem é este que escurece o meu conselho com palavras sem conhecimento?" (38:2).
Deus acusa Jó de falar do que não sabe, de questionar a sabedoria divina a partir de uma posição de ignorância. Então vem a ordem: "Agora cinge os teus lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me responderás" (38:3).
O que se segue não é uma explicação sobre Satanás, sobre uma aposta celestial ou sobre o propósito do sofrimento. Em vez disso, Deus leva Jó a um tour cósmico pela criação.
Pergunta após pergunta, Deus confronta Jó com a imensidão de Seu poder e a profundidade de Sua sabedoria: "Onde você estava quando lancei os fundamentos da terra? Você já comandou a manhã? Você pode controlar as constelações? Você entende a mente de um cavalo de guerra, de uma águia ou de um avestruz?".
Para cada pergunta, a resposta implícita é um retumbante "Não, eu não sei. Não, eu não posso". O propósito de Deus não é humilhar Jó por sadismo, mas reajustar sua perspectiva.
Ele quer que Jó reconheça duas coisas: primeiro, o poder divino é imensamente maior do que ele imagina, e segundo, a sabedoria divina é insondável.
Se Jó não consegue compreender nem mesmo os mistérios do mundo natural que o cerca, como ele ousa julgar a sabedoria do Criador na condução do universo e de sua própria vida?
Aplicação
A resposta de Deus a Jó é, de muitas maneiras, Sua resposta a todos nós quando questionamos Seus caminhos.
- Troque a busca por explicações pela busca por Deus: Em seu sofrimento, sua maior necessidade não é entender o "porquê". Sua maior necessidade é encontrar-se com o "Quem". Muitas vezes, a paz não vem da resposta, mas da presença de Deus. Em vez de orar "Senhor, me explique", tente orar "Senhor, se revele a mim".
- Abrace a humildade intelectual: Nossa cultura valoriza o conhecimento e a compreensão. Mas a fé cristã nos chama a uma postura de humildade. Há coisas sobre Deus e Seus caminhos que simplesmente não podemos entender deste lado da eternidade. Reconhecer nossos limites não é um fracasso, é um ato de adoração.
- Deixe a criação pregar para você: Deus usou a criação para ensinar a Jó sobre Seu poder e sabedoria. Faça o mesmo. Quando se sentir pequeno e sua fé vacilar, olhe para as estrelas, contemple o oceano, observe a complexidade de um inseto. Deixe que a grandeza da criação o lembre da grandeza do Criador.
2. Deus não quer nossa resignação silenciosa, mas nossa confiança amorosa
Após a primeira torrente de perguntas, Jó fica atordoado. Ele percebe o quão presunçoso foi. Confrontado por Deus, ele põe a mão sobre a boca e diz: "Eis que sou vil; que te responderia eu? ... Falei uma vez, e não replicarei; sim, duas vezes, e não prosseguirei" (40:4-5). Ele se cala. Ele condena seu discurso anterior e se recusa a falar mais.
Poderíamos pensar que essa seria a resposta que Deus queria. Mas não é. Deus não está satisfeito com um silêncio resignado. Um servo que se cala por medo diante de um tirano não é o que Ele deseja. Deus não quer que nos curvemos à Sua vontade com um fatalismo apático.
Ele insiste em um relacionamento baseado em amor e confiança, mesmo em meio à dor incompreensível. O silêncio de Jó é fraco demais. Ele parou de acusar, mas em seu coração, as dúvidas e o desejo de "consertar" o mundo ainda permaneciam.
Por isso, Deus o desafia uma segunda vez. Ele ironicamente convida Jó a executar seu próprio plano de justiça: "Adorna-te, pois, de excelência e grandeza... derrama as inundações da tua ira e atenta para todo soberbo e abate-o... e também eu te confessarei que a tua mão direita te poderá salvar" (40:10-14).
Deus expõe a loucura do sonho de Jó de que, se tivesse o poder, ele poderia governar o mundo melhor do que Deus. Aquele homem doente e frágil, que não conseguia nem entender um avestruz, se atrevia a criticar a providência do Criador?
Para encerrar, Deus apresenta duas de Suas criaturas mais misteriosas e poderosas: o Beemote (provavelmente o hipopótamo) e o Leviatã (o crocodilo).
Se Jó não consegue nem mesmo dominar ou compreender essas criaturas, como ele ousa criticar ou tentar compreender seu Criador? A lição é esmagadora: a crítica humana à direção de Deus nasce de um orgulho mesquinho e de uma profunda ignorância.
Aplicação
Deus nos chama a um relacionamento mais profundo do que a mera submissão. Ele deseja nossa confiança ativa.
- Examine seu silêncio: Quando você se cala diante de Deus em seu sofrimento, é um silêncio de confiança reverente ou de resignação amarga? Deus não quer que você apenas "engula" sua dor. Ele quer que você a entregue a Ele em confiança, crendo que Seus caminhos são perfeitos, mesmo quando são dolorosos.
- Abandone seu desejo de controle: Grande parte de nossa angústia vem da ilusão de que estamos, ou deveríamos estar, no controle. O discurso de Deus a Jó é um lembrete libertador de que não estamos no controle – e isso é uma boa notícia! O universo está nas mãos de Alguém infinitamente mais sábio e poderoso do que nós.
- Confiança é maior que compreensão: A meta da vida cristã em meio ao sofrimento não é chegar a um ponto de compreensão total, mas a um ponto de confiança total. Deus não pediu a Jó que entendesse, mas que confiasse.
3. O encontro com Deus leva ao arrependimento e à verdadeira paz
Finalmente, Jó entende. As palavras de Deus o quebrantaram, não para destruí-lo, mas para curá-lo de seu orgulho. Sua resposta final é uma das mais belas declarações de arrependimento da Bíblia.
Ele reconhece o poder de Deus ("Bem sei eu que tudo podes") e confessa sua própria ignorância ("falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não conhecia").
E então vem a frase-chave que explica toda a sua transformação: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem" (42:5). Antes, Jó conhecia a Deus de forma indireta, através da tradição e da teologia.
Era um conhecimento real, mas distante. Agora, através da tempestade de seu sofrimento e do encontro no redemoinho, ele conheceu a Deus de forma direta, pessoal e avassaladora. Ele viu a majestade, o poder e a sabedoria de Deus de uma maneira que nunca tinha visto antes.
Esse encontro não lhe deu as respostas que ele procurava, mas lhe deu algo infinitamente melhor: deu-lhe Deus. E na presença de um Deus tão grande, suas perguntas e queixas se dissolveram. Sua perspectiva mudou. Ele não precisava mais entender o porquê, porque ele tinha visto o Quem.
E essa visão o levou à sua conclusão final: "Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (42:6). Ele não se arrepende de pecados específicos que causaram seu sofrimento, mas do orgulho de seu coração que o levou a julgar a Deus. E nesse arrependimento, ele finalmente encontra paz, mesmo antes de sua situação mudar.
Conclusão
A resposta de Deus a Jó não resolveu o enigma intelectual do sofrimento, mas curou a ferida relacional em seu coração. Jó não aprendeu a compreender a providência de Deus, mas aprendeu a confiar no Deus da providência. E essa é a lição final e mais profunda do livro.
Para nós, que vivemos na era da informação, a tentação é sempre buscar mais conhecimento, mais explicações.
Mas a história de Jó nos chama para um caminho mais excelente. A resposta para a dor mais profunda não está em um livro, em uma palestra ou em uma fórmula teológica. A resposta está em um encontro pessoal com o Deus vivo.
Um encontro que, como o de Jó, pode não nos dar as respostas que pensávamos querer, mas nos dará a Presença que desesperadamente precisamos. E nessa Presença, encontramos a força não apenas para suportar o sofrimento, mas para adorar em meio a ele.
Lista de estudos da série
1. A Aposta no Céu: Descubra se sua fé é genuína ou apenas interesse – Estudo Bíblico sobre Jó 12. O Dia em que Tudo Desabou: O segredo de Jó para adorar em meio à ruína – Estudo Bíblico sobre Jó 1
