Toda grande história precisa de uma resolução. Após a tempestade, anelamos pelo arco-íris. Após a batalha, esperamos pela paz. Após o inverno, aguardamos a primavera.
E após a provação esmagadora de Jó, uma história de dor, perda e confusão tão intensas, nosso coração anseia por um final feliz. E o livro de Jó nos dá exatamente isso, um epílogo glorioso de restauração e bênção.
No entanto, este "final feliz" vem carregado de perguntas para nós. O que significa a restauração de Jó para aqueles cujo sofrimento não termina deste lado da eternidade?
Que promessa este final contém para o crente que enfrenta uma doença crônica, uma perda irreparável ou uma vida de dificuldades? A prosperidade final de Jó é um modelo a ser esperado ou uma exceção notável?
Neste último estudo sobre o livro de Jó, exploraremos o belo e surpreendente desfecho de sua história.
Analisaremos o momento exato em que a maré virou, o significado profundo de sua restauração e, o mais importante, como o final feliz de Jó se torna um evangelho de esperança para todos nós, não importa quão sombrio nosso presente possa parecer.
A questão final que nos guiará é: como a restauração de um homem antigo pode se tornar a âncora de esperança para a alma de cada crente, em todas as eras?
1. O ponto de virada na prova é o amor abnegado
Jó havia orado muitas vezes por sua própria cura e alívio, e parecia que suas orações não eram ouvidas. O céu permaneceu em silêncio por um longo tempo.
Então, quando exatamente a maré virou? O texto é incrivelmente preciso e revelador: "E o SENHOR virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos" (42:10).
Este é um dos momentos mais profundos e instrutivos de todo o livro. A restauração de Jó não veio quando ele expressou sua fé pela primeira vez, nem quando ele declarou que seu Redentor vivia, nem mesmo quando ele se arrependeu em pó e cinzas.
A virada aconteceu no exato momento em que ele desviou o foco de seu próprio sofrimento e intercedeu abnegadamente por aqueles que o haviam ferido.
Por que o Senhor atribuiu tanto valor a esta oração? Porque ela foi a prova definitiva e irrefutável de que a acusação de Satanás era uma mentira. Satanás havia dito que a fé de Jó era puro egoísmo. Mas aqui estava Jó, ainda doente e em desgraça, orando pela felicidade de três homens saudáveis que o haviam atormentado. Isso exigia uma incrível abnegação.
Ele teve que renunciar a todo desejo de vingança. Ele teve que amar o seu próximo (mesmo um próximo difícil) como a si mesmo. Este ato provou que seu coração não estava mais preso em sua própria dor.
Mais do que isso, sua oração foi motivada pelo zelo pela honra de Deus. Ele não orou apenas, "Senhor, abençoe meus amigos", mas "Senhor, perdoe-os por terem Te representado mal".
Ele se importou mais com a ofensa ao nome de Deus do que com a ofensa à sua própria pessoa. Este amor puro por Deus e pelo próximo foi o testemunho final que silenciou a boca de Satanás para sempre. A prova estava encerrada. O amor desinteressado triunfou.
Aplicação
O momento da virada de Jó contém um princípio espiritual poderoso para nós em nossas próprias provações.
- Saia da prisão do "eu": O sofrimento tem a tendência de nos tornar introspectivos e egocêntricos. A dor nos consome. Uma das maneiras mais poderosas de combater isso é, paradoxalmente, focar nos outros. Quando você se sentir sobrecarregado por seus próprios problemas, pergunte: "Por quem posso orar hoje? Quem posso encorajar?". Mudar o foco de si mesmo para os outros pode ser o início de sua própria libertação.
- Pratique o perdão como um ato de obediência: Orar por aqueles que nos feriram é incrivelmente difícil, mas é um mandamento de Jesus. Jó teve que perdoar seus amigos para poder interceder por eles. O perdão não apenas libera a outra pessoa, mas quebra as correntes de amargura que nos prendem.
- Zele pela honra de Deus acima da sua: Em seus conflitos e dores, qual é a sua principal preocupação? Defender sua própria reputação ou defender a honra do nome de Deus? Quando nosso maior desejo é que Deus seja glorificado, mesmo em nossa fraqueza, encontramos uma liberdade e um propósito que transcendem nosso sofrimento pessoal.
2. A restauração final de Deus é completa e pessoal
Após a oração de Jó, a bênção de Deus flui abundantemente. Parece um conto de fadas. Sua saúde é restaurada. Sua família e amigos, que o haviam abandonado, retornam para consolá-lo e ajudá-lo com presentes (um capital inicial para recomeçar).
E o Senhor o abençoa com o dobro de tudo o que ele tinha antes: 14.000 ovelhas, 6.000 camelos, 1.000 juntas de bois e 1.000 jumentas.
Ele também recebe uma nova família: mais sete filhos e três filhas. É notável que o número de filhos não seja dobrado.
A teologia implícita aqui é bela: Jó havia perdido seu gado, mas não seus filhos. Eles estavam seguros com o Senhor, aguardando-o na eternidade. Ele agora tinha dez filhos no céu e dez filhos na terra. O capítulo termina descrevendo uma vida longa e feliz, vendo seus filhos e os filhos de seus filhos, até a quarta geração.
Essa riqueza material não deve ser espiritualizada ou minimizada. A Bíblia a descreve claramente como uma bênção de Deus. A boa saúde, a família, os amigos, um trabalho próspero – todas essas são dádivas da mão graciosa de Deus, destinadas a serem desfrutadas.
O Senhor sabe como fazer feliz um ser humano de carne e osso, e Ele se deleitou em abençoar Jó abundantemente.
Aplicação
Embora não tenhamos a promessa de uma restauração como a de Jó nesta vida, a natureza de sua restauração nos aponta para a nossa esperança final.
- Abrace as bênçãos da vida com gratidão: Não se sinta culpado por desfrutar das coisas boas da vida. Uma boa refeição, a companhia de amigos, a beleza da natureza, o sucesso no trabalho – reconheça tudo isso como um presente de Deus e agradeça a Ele por isso. O ascetismo não é necessariamente um sinal de espiritualidade.
- Nossa restauração final será ainda maior: A restauração de Jó é apenas uma sombra da glória que nos aguarda. Se o final de Jó parece um conto de fadas, o nosso será uma realidade eterna mil vezes mais surpreendente. Seremos perfeitamente felizes, em corpos ressurretos, em um novo céu e uma nova terra.
- A felicidade de Deus é personalizada: Deus sabe exatamente o que fará cada um de Seus filhos, de todas as culturas e eras, perfeitamente feliz. Sua restauração não será genérica, mas pessoalmente adaptada para nos dar a alegria mais profunda. E a fonte dessa alegria será a mesma que o desejo mais profundo de Jó: estar com Deus, face a face.
3. A misericórdia de Deus está presente tanto na prova quanto na restauração
Então, como conectamos o final feliz de Jó com nossas próprias histórias, que muitas vezes não têm um final tão nítido nesta vida?
O apóstolo Tiago nos dá a chave. Ele diz aos crentes que sofrem: "Ouvistes da paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e compassivo" (Tiago 5:11).
A conclusão de Tiago não é: "Sejam pacientes, porque vocês também terão tudo em dobro". A conclusão é muito mais rica: a história de Jó, do começo ao fim, revela que o Senhor é sempre rico em misericórdia e compaixão. Tendemos a ver a misericórdia de Deus apenas no momento da restauração, quando o sol volta a brilhar.
Mas Tiago nos diz que Deus foi misericordioso e compassivo *durante* todo o período amargo da vida de Jó. Sua misericórdia estava presente na provação tanto quanto na bênção. Foi essa misericórdia invisível que sustentou Jó quando ele cambaleou, que o impediu de cair completamente, que o encontrou no redemoinho.
Este é o evangelho final do livro de Jó. Não sabemos por que a tragédia atinge uma casa e não a outra. Não temos as respostas para todos os nossos "porquês".
Mas sabemos disto: a riqueza da misericórdia e da compaixão de Deus nos acompanha todos os dias, tanto nos dias alegres quanto nos dias tristes. E como podemos ter certeza disso, especialmente em um mundo pós-Auschwitz? Podemos ter certeza porque vivemos pós-Gólgota.
Ali, na cruz de Cristo, o amor, a misericórdia e a compaixão de Deus foram demonstrados de uma vez por todas, erguendo-se como um monumento inabalável acima de todos os horrores da vida.
Conclusão
Depois de todas as suas desgraças, Jó desfrutou de uma vida feliz. Na terra. Embora não sejamos garantidos da mesma experiência, a promessa contida em sua história é para todos nós. A promessa de que nosso Deus é um Deus de restauração.
A promessa de que Ele tem intenções de bem para nós. E, acima de tudo, a promessa de que Sua misericórdia e compaixão nunca nos abandonam, nem mesmo no vale mais escuro.
Podemos não ser "tão ricos como Jó" em bens terrenos. Mas, em Cristo, somos infinitamente mais ricos.
Somos ricos na certeza do perdão, na presença do Espírito Santo e na promessa inabalável de uma alegria eterna onde toda lágrima será enxugada. E essa é uma riqueza que nem o sofrimento, nem a morte, nem o próprio Satanás podem jamais tocar.
Lista de estudos da série
1. A Aposta no Céu: Descubra se sua fé é genuína ou apenas interesse – Estudo Bíblico sobre Jó 12. O Dia em que Tudo Desabou: O segredo de Jó para adorar em meio à ruína – Estudo Bíblico sobre Jó 1