"Eu robô" ou "Eu crente"?



“Eu, robô” foi um filme lançado em 2004 com o ator Will Smith que interpreta o detetive Del Spooner no ano de 2035, onde os robôs se misturavam as pessoas por toda parte. 

Isso incomoda muito ao detetive, robôs na vida corriqueira dos humanos, só que acaba descobrindo que... bem, assista o filme, não quero tirar a graça dele se você por um acaso ainda não o assistiu.

Mas amados, o fato é que às vezes me pego questionando até que ponto nossa humanidade ainda permanece em nós ou se esvaziou para entrar o robô e assumir o controle hermético de tudo. 

Uma sociedade onde muitas pessoas checam o e-mail antes mesmo de lembrar da bênção de Deus de se levantar mais uma vez e tomar o café gracioso que Ele o concedeu.

Um mundo de tecnologia onde o pseudo-centro é o homem, enquanto a máquina avança tirando seu lugar e nós permanecemos no mesmo erro de achar que isso dá-nos mais tempo para usufruir da vida, quando na verdade nossa capacidade de atenção tem sido reduzida pela vida “online full time”(excesso de informação prejudica o cérebro, segundo pesquisas recentes).

Quando nossa afetividade, cordialidade e amabilidade secam-se na frieza do “vil metal” e dos microchips.

Hoje os relacionamentos estão se tornando cada vez mais superficiais, de fato “virtuais”, pois enquanto se tem algum interesse em comum, os canais de comunicação na internet se multiplicam, mas quando se tem algum problema, é só bloquear, cancelar a conta, criar outra e por aí vai.

Uma pessoa não é um número, um e-mail, um código binário, uma máquina, é a imagem da glória de Deus, por mais que esteja deturpada pelo pecado e suscetível a erros, leva a imagem e semelhança de Deus.

Mas isso se agrava quando a robotização adentra a igreja, pois até então a superficialidade e mecanicidade são em relação à criatura, agora temos a replica dessas atitudes em relação ao Criador. É o passar do cartão magnético no sistema de ponto da igreja para contabilizar nosso tempo ali empregue.

Ao sentar-se, a preocupação e ansiedade por terminar logo, por não ultrapassar o contrato silencioso entre pastor e ovelhas, a falta de atenção exclusiva ao louvor e adoração a Deus, mesmo a mensagem dEle para suas vidas, afinal, o microchip de sua mente não consegue mais se concentrar em apenas uma coisa de cada vez, é como a bateria “viciada” do seu celular, que perdeu a capacidade de receber 100% de carga, sempre carrega até a metade ou menos.



Então passa pelo culto com funções básicas: pede-se para levantar, levanta, pede-se para sentar, senta-se. Diz o dirigente: oremos.

Então fecha o olho, ignora o teor da oração e na palavra chave “amém”, desperta para abrir o olho novamente.

Os cânticos que deveriam expressar nossa adoração a Deus, bem... vamos escolher os mais fáceis, os conhecidos. Aprender novo cântico? Melhor não, todos os novos são difíceis. Eu robô, ou eu crente?

Afinal o que nos diferencia de máquinas quando nos achegamos até Deus? Precisamos neste ponto listar palavras importantes:

Atitude - É a forma com que nos apresentamos diante do Rei dos Reis, do Senhor dos Senhores, daquele que nos fez para Ele mesmo, para louvar o esplendor da Sua glória. A questão aqui é modo, é “como” nos achegamos a Ele. Respeitosamente e reverentemente? Ou Desrespeitosamente e irreverentemente? Para cumprir a vontade dEle, ou para bater ponto apenas?

Atenção – Ela regula a qualidade da nossa atitude, você pode ter até uma atitude correta perante Deus, mas qual o nível de atenção que tem dado a Ele, não somente no culto, mas na vida como um todo? Concentramo-nos naquele que deve ser o verdadeiro centro de nossas vidas?

Afinco – É a persistência em fazer o melhor para Deus. Isso tem preço, gera fadiga, cansaço mesmo. Dá trabalho ser zeloso pelo serviço ao Senhor. Pode ser que tenha de dispor de muito do seu curto tempo livre dos trabalhos seculares. Mas deve ser uma de nossas metas.



No começo do livro do profeta Isaías, Deus mostra sua insatisfação pela robotização de seu culto. Diz Ele através do seu servo:

- Quem obrigou vocês a virem até a minha casa? De que me vale vocês virem aqui, apresentarem sacrifícios abundantes, solenidades das mais diversas, se vocês estão carregados de pecado? Quando vocês estendem as mãos em oração eu nem as ouço, porque estão cheias de sangue.

Israel batia ponto, seguia a programação das leis litúrgicas e de sacrifício, mas pecava no fundamental, na atitude em relação a Deus, que exigia um cuidado com o que se faz também fora dos átrios do Senhor.

Uma vida mergulhada no pecado inviabiliza uma verdadeira adoração e torna todo culto num gesto meramente mecânico e profundamente desagradável a Deus.

Mas o mesmo Deus que julga as atitudes de seu povo, dá oportunidades de arrependimento, que é “mudança de mente”, no próprio texto de Isaías o Senhor diz a eles: - venham bater um papo comigo, confessem suas falhas e mudem de atitude, e ainda que o pecado de vocês seja gravíssimo, eu os deixarei totalmente limpos e comereis o melhor desta terra. Mas se forem rebeldes, serão devorados a espada.

Hoje nós somos o Israel de Deus, hoje eu sou Israel de Deus. Eu robô, ou eu crente? Que Deus nos ajude a vivermos com a atitude correta diante dele, com a atenção que lhe é de direito e com afinco no Seu serviço.

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Danilo Cassemiro de Campos é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul em 2010. Ordenado em 2011. Bacharel em Design (Projeto do Produto) pela Faculdade Asseta de Tatuí (2008), além de Técnio em Processamento de Dados e Hardware (1998 e 2002). É fundador e editor do site www.desimax.com.br

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