Chega de super-heróis


Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um. Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento - 1 Coríntios 3:5-7 (NVI)

O último filme de super-herói que assisti foi o “Capitão América: o primeiro vingador” (2011). Detestei.

Não apenas por considerar o filme sonolento e sem originalidade alguma, mas principalmente pelo fato de que essa ideologia individualista em que uma só pessoa resolve tudo me irrita. 

A vida real não é assim. O pequeno e frágil ser humano ao nascer, se não tiver cuidado e supervisão de um adulto morrerá de fome. Depois, ao crescer, estudamos – o que aprendemos é fruto do trabalho de outros que partilharam.

Até um simples banho significa que dependemos de outras pessoas – que cuidam da água, da energia elétrica, etc. Ninguém está no topo dessa cadeia de dependência, somos parte de um processo de dependência mútua.


Quando o apóstolo Paulo trata das invejas presentes na igreja de Corinto ele percebe o foco errado daqueles crentes. Líderes não são super-homens ou super-mulheres.

São apenas pessoas chamadas por Deus que fazem a parte que lhes cabe. Líderes são servos e não devemos fazer ‘culto à personalidade’ pois “nem o que planta e o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento.” 

Paulo tinha consciência de sua pequenez como ser humano. Sua experiência em Atenas foi marcante neste sentido, pois ali diante da incredulidade dos sábios (Atos 17.32,33) aprendeu a depender mais do poder de Deus e menos das suas capacidades intelectuais. (1 Coríntios 2.1-5)

Mas esse ainda é um problema típico dos evangélicos de hoje: o complexo de Messias. A psicologia define esse complexo como a ideia de que sozinho se pode mudar o mundo.

Desta forma o pastor ao liderar uma igreja, alimenta algumas ilusões de que ele, sozinho, será a solução para aquele local. Ele, sozinho, vai evangelizar uma cidade de 100 mil habitantes. 

Ele, sozinho, vai conseguir atingir a todas as famílias, suprir todas as necessidades e fará um sucesso estrondoso.

E assim, nesse individualismo enganoso, o pastor se esquece de que ele é ‘uma parte’ no processo de crescimento do Reino de Deus.

Talvez ele esteja plantando para que outro colha. Talvez colha, mas não pode esquecer-se daquele que com dificuldade amoleceu a terra e plantou antes dele. 

Para piorar, as igrejas, também alimentam tal expectativa em relação ao pastor. Esperam uma espécie de Messias. Suas orações são consideradas mais fortes, sua palavra inquestionável. Se os filhos estão rebeldes, “chame o pastor”.



Se os pequenos não obedecem, “ameace” usando a pessoa do pastor. Aquele parente duro de coração que sempre resistiu ao evangelho – não tem problema, leve o pastor para uma visita e responsabilize-o para que visite semanalmente.

A consequência deste foco demasiado na pessoa do líder não tarda em vir – para o pastor e para a igreja. O pastor logo se frustra, pois com o tempo percebe que não é ‘aquilo tudo’ que imaginava.

Apesar dos seus esforços o campo não cresce como gostaria, as coisas não caminham como o desejado.

E por causa do complexo de Messias que alimenta, as dificuldades podem levá-lo a uma crise ministerial ou existencial. Corações duros e insucesso fazem parte do ministério – o pastor precisa estar consciente disso. (Isaías 6.9,10 – Mateus 13.1-9)

Por outro lado, a igreja que foca muito na pessoa do pastor como ‘solucionador geral’ não demora a procurar outro.

Afinal, se buscam o super-homem, nenhum pastor será bom o suficiente. Por isso algumas trocam de pastor como quem troca de roupa e ao invés de compartilharem palavras de edificação só sabem passar à frente fofocas e amarguras. (Efésios 4.29)

Igreja e pastor precisam se libertar desse conceito individualista de super-herói ou super-pastor. Precisamos restaurar a ideia de equipe, de grupo, de Corpo. (1 Coríntios 12.27).

Um piloto de avião só consegue exercer no céu sua responsabilidade de transportar com segurança centenas de passageiros se houver em terra praticamente um exército de pessoas ajudando. 

Disso aprendemos que se uma igreja quer crescer, se desenvolver, ela deve, juntamente com o seu pastor, se engajar no Reino de Deus.

Se o sucesso ocorrer, será fruto da ação de todos. Se o fracasso vier, a responsabilidade e divisão de fardos serão de ambos os lados.

Tenhamos mais humildade e saibamos que somos apenas parte de um processo. O resultado vem do nosso Pai. Chega de super-heróis, de super-humanos, de super-pastores. Dependamos mais um dos outros e de Deus.

Semeando Vida

Profundidade Teológica e Orientação Espiritual para Líderes e Estudiosos da Fé

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