1 Coríntios 10.12
Introdução
É um fato curioso, mas verdadeiro: os vícios são as falsificações das virtudes. Sempre que Deus envia do céu uma moeda preciosa de metal genuíno, Satanás imita a impressão e lança uma produção vil e sem valor.
Deus nos dá o amor; Satanás o falsifica e chama de luxúria. Deus nos dá a coragem; Satanás a transforma em imprudência. Deus cria em nós o santo temor; Satanás o substitui pela incredulidade. O mesmo acontece com a melhor das virtudes: a fé.
Quando a fé atinge sua maturidade, ela se transforma em confiança e segurança. Não há nada mais desejável para um cristão do que a plena certeza da fé. Vendo essa boa moeda, Satanás imediatamente imita a imagem celestial e nos engana com a presunção.
É contra essa presunção que vamos falar hoje. Que fique claro: não direi uma palavra contra a fé forte ou a plena segurança. Desejo que todos que têm pouca fé se tornem fortes, que os medrosos se tornem corajosos e que os vacilantes corram com firmeza na obra do Mestre.
Falo contra aquela falsa confiança que pode se instalar no cristão como um sono gelado em uma montanha, do qual, se não for despertado, a consequência é desastrosa. "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia."
Vamos, então, identificar o personagem, mostrar o perigo e dar o conselho. O personagem é aquele que pensa estar de pé. O perigo é que ele pode cair. E o conselho é: "tenha cuidado".
1. O personagem: quem é o presunçoso?
O presunçoso não é apenas o empresário arrogante que, após um sucesso, arrisca tudo e perde. Ou a pessoa que, confiando em sua saúde, vive no pecado achando que é de ferro. Nosso foco hoje é a igreja.
Em toda igreja cristã, existem homens e mulheres que pensam estar de pé. São cristãos verdadeiros que, no entanto, permitiram que a segurança carnal crescesse como um gigante e esmagasse a doce flor da humildade. Vamos examinar as causas dessa presunção.
Prosperidade contínua
Dê a um homem riqueza ou sucesso ininterrupto. Deixe que seus projetos sempre deem certo. Dê a ele saúde contínua, sem doenças. Dê a ele um espírito sempre alegre, que ri das preocupações. O resultado para qualquer pessoa, mesmo o melhor cristão, será a presunção.
Ele começará a pensar: "Eu estou firme". Davi disse: "Na minha prosperidade, eu dizia: 'Jamais serei abalado'". Se Deus nos embalasse sempre no berço da prosperidade, sem nenhuma nuvem no céu, ficaríamos intoxicados de prazer e sonharíamos que estamos de pé.
Por isso, agradecemos a Deus por nossas aflições e perdas. Sentimos que, sem elas, poderíamos nos tornar seguros demais. A prosperidade contínua é uma prova de fogo.
Pensamentos leves sobre o pecado
Quando somos recém-convertidos, nossa consciência é tão sensível que tememos o menor pecado. Temos um santo temor de ofender a Deus. Mas, infelizmente, com o tempo, a aspereza do mundo desgasta essa sensibilidade.
É triste, mas um cristão pode se tornar tão acostumado com o pecado que aquilo que antes o assustava, hoje mal o alarma. Começamos a nos familiarizar com o mal. Primeiro, um pequeno pecado nos assusta. Logo dizemos: "Não é tão grave assim?". Depois vem outro, um pouco maior, até que começamos a vê-lo como algo trivial.
Então vem a presunção. Dizemos: "Eu não caí. Foi só uma coisinha. Não me desviei, apenas tropecei um pouco, mas permaneci de pé." Cristão, cuidado! Quando você começa a pensar que o pecado é pouca coisa, você se tornou presunçoso. Tenha cuidado para não cair.
Pecado, uma coisinha? Não foi uma "coisinha" que coroou a cabeça de Jesus com espinhos e o fez sofrer uma agonia indescritível? Fuja do pecado como de uma serpente e deteste até mesmo a sua aparência.
Baixo valor da religião
Nenhum de nós valoriza nossa fé o suficiente. O entusiasmo religioso é ridicularizado, mas na verdade, não há como amar a Deus em excesso. Se considerarmos que esta vida é breve e que a eternidade é para sempre, como podemos valorizar demais nossa alma imortal?
É porque não entendemos o verdadeiro valor da nossa salvação que nos tornamos presunçosos. Quem ama ouro o deixa espalhado para que seja roubado? A mãe deixa seu bebê sozinho perto de um rio? Não! O que valorizamos, protegemos com o máximo cuidado.
Se os cristãos soubessem o valor de suas almas, nunca seriam presunçosos. Mas pensamentos baixos sobre Cristo, sobre Deus e sobre nosso destino eterno nos levam a uma segurança descuidada.
Ignorância sobre quem somos
Muitos cristãos ainda não aprenderam quem realmente são. As fontes do grande abismo em nossos corações não se rompem de uma só vez. Deus nos revela as abominações de nossa natureza aos poucos, ao longo da vida.
Alguns pensam que têm um bom coração. Um bom coração? Jeremias, um homem muito melhor que nós, disse: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?".
É a ignorância sobre a profundidade de nossa própria corrupção que nos torna presunçosos. Dizemos: "Eu tenho uma boa natureza. Não tenho as paixões explosivas de outras pessoas. Posso ficar seguro." Ah, você mal sabe que está sendo presunçoso ao falar assim! Você ainda tem uma natureza má. Vigie seu coração noite e dia.
O orgulho
O orgulho, em suas várias formas, é a causa mais fértil da presunção.
Pode ser o orgulho do talento. Deus deu dons a uma pessoa, e ela começa a pensar: "Os ignorantes podem cair, mas olhe para mim! Eu estou seguro." Quantos que brilharam como cometas no céu religioso se apagaram na escuridão por causa do orgulho?
Pode ser o orgulho da graça. É um fato curioso, mas é possível se orgulhar da própria graça. Alguém diz: "Eu tenho grande fé, não vou cair. Aquele de pouca fé talvez caia, mas eu não." Outro diz: "Tenho um amor fervoroso, estou seguro." Aquele que se orgulha de sua graça tem pouca graça da qual se orgulhar.
Pode ser o orgulho dos privilégios. "Eu participo da ceia. Frequento uma ótima igreja. Tenho um pastor excelente. Estou bem alimentado espiritualmente. Se eu fosse um daqueles que ouvem um falso evangelho, talvez pecasse, mas eu? Eu estou firme."
O orgulho vem antes da queda. Tenha cuidado, pois onde o orgulho entra, ele é como um verme na raiz da planta, fazendo-a murchar e morrer.
Aplicação Prática
- Identifique suas áreas de presunção: Qual dessas causas ressoa mais com você? É sua carreira bem-sucedida? Sua teologia "sólida"? Sua personalidade "controlada"? Peça a Deus para revelar onde a presunção pode estar se instalando.
- Aumente o valor do seu "tesouro": Medite ativamente sobre o valor da sua salvação e o preço que Cristo pagou. Quanto mais valioso algo é para nós, mais cuidadosamente o protegemos.
2. O perigo: a possibilidade da queda
Aquele que pensa estar de pé está em perigo de cair. Um verdadeiro cristão não pode sofrer uma queda final, que o leve à perdição, mas ele pode ter uma queda feia, que quebre seus ossos espirituais e traga grande miséria.
Por que o presunçoso está mais exposto? Primeiro, porque ele será descuidado. Em meio à tentação, ele deixará sua espada na bainha, pensando: "Meu braço é forte. Posso sacá-la a qualquer momento." O homem que se acha forte baixa a guarda, não está pronto para o golpe, e então o inimigo o atinge.
Segundo, ele não evitará a tentação, mas correrá para ela. Ele diz: "Posso ir àquela festa, posso assistir àquele conteúdo, posso entrar naquele ambiente. Sou forte, posso fazer isso com impunidade." O homem que diz ser tão bom, muitas vezes, é tão mau quanto pode ser.
Terceiro, ele negligenciará os meios de graça. Algumas pessoas, sentindo-se "avançadas" na fé, deixam de ir à igreja, de orar ou de ler a Bíblia. Elas pensam que essas coisas são para os cristãos mais fracos. Elas imaginam que a comida que receberam anos atrás as sustentará agora. Nesse pântano da negligência, muitos professos orgulhosos foram sufocados.
Por fim, o maior perigo: o Espírito de Deus sempre abandona o orgulhoso. A pomba santa não descansa nos cedros do orgulho, mas nos humildes murtos ao pé da montanha. O Espírito Santo ama a humildade. Quando o orgulho entra, a pomba se vai. Almas orgulhosas, vocês entristecem o Espírito Santo. Ele não habita com o espírito de Lúcifer.
Aplicação Prática
- Crie barreiras de proteção: Em vez de testar sua força, identifique lugares, pessoas ou hábitos que são "zonas de perigo" para você e crie barreiras intencionais para se manter longe deles.
- Redescubra os meios de graça: Comprometa-se novamente com as práticas espirituais básicas. Não as veja como obrigações, mas como a comida, a água e o treinamento necessários para se manter forte na batalha.
3. O conselho: "Tenha cuidado"
Meu irmão, minha irmã, o conselho das Escrituras é: "Tenha cuidado".
Primeiro, tenha cuidado porque muitos já caíram. Se eu pudesse levá-lo a um hospital de cristãos feridos, você tremeria. Eu lhe mostraria pessoas brilhantes que, por causa de um único pecado, vivem uma vida de miséria contínua. A dor daqueles que caem é imensa.
Você não quer ser salvo "como que através do fogo", escapando por pouco, com cheiro de fumaça. Você quer entrar no céu cantando canções de vitória, glorificando a Deus até o último suspiro. Se é isso que você deseja, não seja presunçoso.
Segundo, tenha cuidado porque uma queda prejudicará imensamente a causa de Cristo. Nada machucou mais o evangelho do que a queda do povo de Deus. Quando um crente verdadeiro peca, o mundo aponta e diz: "Veja, ele era líder na igreja, mas sabe cobrar preços abusivos. Ele era um cristão, mas trapaceia como todo mundo."
O mundo se alegra com nossos pecados. Eles nos observam e, por causa de um hipócrita, condenam a todos. Que nossa conduta seja o som do ouro verdadeiro. Que nossa vida seja digna do evangelho, para que o inimigo não tenha do que nos acusar e o nome de Jesus não seja caluniado.
Especialmente para aqueles que, como eu, acreditam na soberania da graça, precisamos ser cuidadosos. Nossos inimigos odeiam essa doutrina e, se um de nós cair, eles dirão: "Vejam a consequência de seus princípios!" Mostremos, com nossas vidas santas, que a graça de Deus não leva à libertinagem, mas à mais profunda devoção.
Conclusão
Meus amados irmãos, não pensem que estão de pé, para que não caiam. Estamos marchando juntos nesta jornada. Andem com cuidado, com santo temor e tremor. Mas andem também com fé e confiança, pois o Senhor não permitirá que sejam tentados além do que podem suportar.
Para aqueles que ainda não creram em Cristo: se você morresse agora, não teria esperança. Se seu coração pudesse falar, ele diria que você está sem Deus e sem Cristo. O caminho da salvação é este: "Quem crer e for batizado será salvo". Suas obras não podem salvá-lo.
Creia no Senhor Jesus Cristo, e você será salvo. Quem quer que se lance agora, como um pecador culpado, nos braços do amor eterno, será aceito. Ele sairá por esta porta justificado e perdoado. É tudo através da fé em Cristo.
Por que você há de morrer? O inferno é tão doce que você abriria mão das glórias do céu? Você viverá para sempre. Não deseja viver em um estado de felicidade? Que Deus lhe dê a graça de se voltar para ele de todo o coração. Venha, pecador culpado, venha!
Adaptado do sermão "A Caution to the Presumptuous", pregado por C. H. Spurgeon em 13 de maio de 1855, no Exeter Hall, Strand.
