1 Coríntios 15:56-57
A Bíblia é, sem dúvida, um dos livros mais poéticos que existem. Sua linguagem alcança uma beleza sublime, mas, ao mesmo tempo, ela se mantém incrivelmente fiel à realidade da vida, sem rodeios ou enfeites.
Se você ler este capítulo da carta de Paulo aos Coríntios, verá que ele fala sobre a vida após a morte com tanta glória e esperança que nos faz pensar: "Se morrer é isso, então seria bom partir logo!".
Nossos corações se enchem de um fogo santo ao ler frases como: “Num momento, num piscar de olhos, ao som da última trombeta; pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?”
No entanto, mesmo com toda essa linguagem majestosa e essa eloquência inspiradora, Paulo não finge que a morte não é algo sombrio. Ele a descreve como um monstro, uma criatura com um ferrão mortal. Ele nos confronta com a realidade de que a vitória sobre ela não vem de nossa própria força, mas de um presente divino.
Por isso, ele conclui: “Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”
Hoje, vamos refletir sobre três verdades essenciais contidas neste texto: primeiro, o ferrão da morte; segundo, a força do pecado; e terceiro, a vitória que vem da fé.
1. O ferrão da morte é o pecado
O apóstolo Paulo pinta a morte como um dragão terrível que todos nós, um dia, teremos que enfrentar. Não há desvios, pontes ou atalhos para evitar esse confronto. Cada um de nós, de forma pessoal e solitária, terá que encarar esse monstro.
Ele não nos dá a esperança de que podemos matar essa criatura. Ninguém pode colocar o pé sobre sua cabeça e esmagá-la. Mas ele nos revela algo crucial: embora não possamos destruir a morte, podemos arrancar o seu ferrão.
Sem o ferrão, o monstro se torna inofensivo. Ele se transforma de uma criatura temível em um anjo veloz, pronto para nos levar para a presença de Deus. E qual é esse ferrão? A Bíblia responde claramente: “O ferrão da morte é o pecado.”
Vamos entender por quê.
O pecado trouxe a morte ao mundo
Nós conseguiríamos encarar a morte com mais tranquilidade se ela não fosse uma punição. Se o pecado nunca tivesse entrado no mundo, provavelmente Deus teria providenciado uma maneira diferente de nos levar deste mundo para o próximo.
Talvez ele enviasse carruagens de fogo para cada um de nós, como fez com Elias. Ou talvez, como aconteceu com Enoque, simplesmente “desapareceríamos”, porque Deus nos levaria para junto dele.
Partir deste corpo para estar com Deus teria sido a maior honra, o ápice da nossa jornada espiritual. Em nossas orações mais profundas, pediríamos: “Ó Deus, apressa o dia da minha partida, para que eu possa estar contigo!”.
Mas, infelizmente, a realidade é outra. A morte hoje é o castigo pelo pecado. "No dia em que dele comeres, certamente morrerás", disse Deus a Adão. Por causa da desobediência de um homem, todos nós nos tornamos sujeitos à morte. Por isso ela tem um ferrão: sua origem está na nossa rebelião.
O pecado torna a morte assustadora
A lembrança dos nossos pecados não resolvidos é o que torna o momento da morte verdadeiramente terrível. Se não tivermos o perdão de Deus, nossas transgressões se tornam a ponta afiada do ferrão.
Imagine um poderoso CEO no seu leito de morte. Ele construiu um império, acumulou fortunas e alcançou o que o mundo chama de "sucesso". Mas ele fez isso de maneira impiedosa. Esmagou concorrentes, arruinou famílias, agiu com desonestidade e pisou em pessoas para chegar ao topo.
Agora, em seus últimos momentos, as memórias o assombram. Ele não teme deixar sua mansão ou seu status, mas teme encontrar as faces daqueles que ele prejudicou. Sua consciência se torna seu carrasco, e cada lembrança é uma pontada de dor. O ferrão da morte, para ele, são os pecados de uma vida inteira.
Agora, pense em outro cenário: um líder religioso que passou a vida no púlpito. Ele era famoso, eloquente e atraía multidões. As pessoas o admiravam. Mas ele nunca pregou a verdade. Ele ofereceu uma mensagem de autoajuda, prometeu prosperidade e evitou falar sobre pecado e arrependimento, para não ofender ninguém.
No seu leito de morte, ele se lembra das pessoas que o procuraram com o coração aflito, buscando uma resposta para sua angústia espiritual, e ele as enviou de volta com palavras vazias. Ele vê o rosto de cada pessoa que ele conduziu por um caminho largo, longe de Cristo.
Seu maior tormento não é a doença ou a dor física. O ferrão da morte é o peso esmagador de ter sido infiel e ter levado outros à perdição. Para ele, o ferrão da morte é o seu terrível pecado.
A perspectiva do pecado eterno
Se o pecado do passado já é um ferrão, o que dizer da sua continuação no futuro? Nós vemos o pecado crescer em nossas vidas: começa com um desejo, torna-se um pensamento, depois uma ação. Mas ele não para com a morte.
No momento em que morremos, a justiça divina declara: “Quem é injusto, continue na injustiça; quem é impuro, continue na impureza”. A porta do perdão se fecha. Depois disso, uma pessoa sem Cristo continua a se afundar cada vez mais em seu próprio egoísmo e maldade, para sempre.
A morte congela nosso estado espiritual. Da maneira como a morte nos encontra, o juízo nos recebe. Se ela nos encontra louvando a Deus, continuaremos a louvá-lo no céu. Se nos encontra amargurados e rebeldes, essa será nossa condição na eternidade.
É para sempre, para sempre, para sempre. O pensamento da eternidade deveria nos fazer parar e refletir sobre quem somos e para onde estamos indo. Que Deus nos ajude para que, na nossa última hora, estejamos preparados.
Aplicação Prática
O que o "ferrão do pecado" significa para nós hoje, em meio à nossa rotina agitada?
- Pare de minimizar o pecado: No nosso dia a dia, tratamos o pecado como um "deslize" ou um "erro". Precisamos voltar a vê-lo como Deus o vê: uma rebelião que tem consequências eternas e que torna a morte assustadora.
- Faça um inventário da consciência: Quais pecados não confessados estão pesando sobre você? Aquela mentira, aquele ressentimento guardado, aquela impureza secreta. Essas são as coisas que formam o ferrão. Leve-as a Deus em arrependimento honesto.
- Entenda a raiz da sua ansiedade sobre a morte: Muitas vezes, o medo da morte não é apenas o medo do desconhecido, mas o medo de prestar contas. A paz com Deus é o único antídoto para esse medo.
2. A força do pecado é a Lei
Ok, então o ferrão é o pecado. O passo lógico seria tentar arrancá-lo com nossas próprias forças. "Vou me esforçar mais", "vou parar de errar", "vou compensar o mal com o bem". Mas o monstro da morte ri de nós, pois “a força do pecado é a Lei.”
Muitos pensam que o pecado é algo fraco, que pode ser vencido com uma simples decisão ou com boas obras. Mas a Lei de Deus dá ao pecado um poder imenso, tornando impossível para nós nos livrarmos dele sozinhos.
A Lei é espiritual e profunda
Se a Lei de Deus se preocupasse apenas com nossas ações externas, talvez tivéssemos alguma chance. Mas ela vai muito mais fundo. Quando a Lei diz "Não cobiçarás", ela está julgando o desejo do nosso coração.
Jesus explicou que olhar para alguém com desejo impuro já é cometer adultério no coração. Isso significa que nossos pensamentos e imaginações já são suficientes para nos condenar. Como podemos, então, nos livrar do pecado se até a nossa mente é um campo minado de transgressões?
A Lei exige perfeição absoluta
A Lei de Deus não negocia. Ela não aceita 99% de obediência. Ela exige 100%, o tempo todo. A Lei é como uma corrente com dez elos. Se você quebrar apenas um elo, a corrente inteira se torna inútil. Da mesma forma, um único pecado é suficiente para quebrar toda a Lei e nos condenar.
Se você quer ser salvo por suas boas obras, precisa ser tão perfeito quanto os anjos, tão puro quanto o próprio Jesus. Qualquer coisa menos que a perfeição é falha, e Deus, em sua justiça, não pode aceitar nada menos que a perfeição.
A Lei exige punição para cada pecado
A Lei não conhece a palavra "misericórdia". Para a Lei, a equação é simples: pecado gera punição. Eles estão ligados por correntes que não podem ser quebradas.
Imagine-se diante da Justiça, uma figura de olhos vendados segurando uma balança. Você diz: "Justiça, eu errei aqui, mas veja quantas coisas boas eu fiz!". A Justiça responde: "Eu não ignoro suas boas ações, mas cada pecado precisa ser pesado". E ela coloca na balança cada transgressão, uma por uma.
Você implora por misericórdia, mas a Justiça diz: "Misericórdia não mora aqui. Meu papel é aplicar a sentença. A Lei foi quebrada, e o preço precisa ser pago. A menos que alguém pague essa dívida por você, a punição é sua".
Com uma Lei tão espiritual, tão perfeita e tão severa, como podemos ter a esperança de remover o ferrão da morte por nós mesmos? É uma tarefa impossível.
Aplicação Prática
Como essa verdade sobre a Lei nos liberta da mentalidade de "autoajuda" espiritual?
- Abandone a balança imaginária: Pare de tentar equilibrar suas falhas com suas boas ações. Diante da Lei de Deus, essa balança sempre pesará contra você. A salvação não é sobre merecimento, mas sobre perdão.
- Use a Lei como um espelho, não como uma escada: A Lei não foi dada para que subíssemos até Deus, mas para que víssemos o quão sujos estamos e o quanto precisamos de um Salvador. Use-a para diagnosticar sua condição, não para curá-la.
- Agradeça pela graça: Entender a severidade da Lei nos faz apreciar a beleza da graça de uma maneira muito mais profunda. A graça é o que Deus nos dá quando merecemos exatamente o oposto.
3. A vitória que vem da fé
O cristão é o único que pode olhar para o dragão da morte e sorrir. Não por sua própria força, mas porque ele pode declarar com gratidão: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!”
Como Cristo nos dá essa vitória? Ele removeu o ferrão (o pecado) ao anular a sua força (a Lei).
Primeiro, Cristo nos tirou de debaixo da Lei. Não somos mais escravos que obedecem por medo do castigo. Somos filhos que obedecem por amor e gratidão. Nossa motivação não é "faça isso ou será punido", mas "Deus fez tudo por mim, o que posso fazer por ele?".
Segundo, Cristo cumpriu a Lei perfeitamente em nosso lugar. Ele viveu a vida perfeita que nunca conseguiríamos viver. Na cruz, ele pagou a dívida completa que nós devíamos. A justiça de Deus foi completamente satisfeita. Foi como se Cristo se apresentasse ao tribunal e dissesse à Lei: "Você exigia perfeição? Aqui está. Você exigia punição? Eu já a recebi".
Por causa disso, o crente pode enfrentar a morte com uma confiança inabalável. Ele pode caminhar em direção ao seu último momento e gritar com ousadia as palavras de Romanos 8: "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?".
O diabo e o pecado podem tentar sussurrar acusações, mas não têm base legal. A dívida foi paga. O ferrão foi removido. A morte foi derrotada.
Por isso, podemos nos unir a Paulo e, em vez de temer a morte, provocá-la com um grito de triunfo: “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?”
Aplicação Prática
Como viver diariamente na realidade desta vitória?
- Pregue o Evangelho para si mesmo: Todos os dias, quando a culpa, a vergonha ou o medo da morte aparecerem, lembre-se ativamente: "Em Cristo, meus pecados estão perdoados, e a Lei não tem mais poder para me condenar".
- Encare o futuro sem medo: A vitória de Cristo não nos livra das dificuldades da vida, mas nos garante o resultado final. Podemos enfrentar doenças, perdas e até a nossa própria morte com a certeza de que o melhor ainda está por vir.
- Viva com a ousadia de um vencedor: Se a batalha final já foi ganha por Cristo, podemos viver com coragem e generosidade, sem o medo paralisante de errar ou de perder o controle. A vitória já é nossa.
Conclusão
Então, a pergunta final e mais importante é esta: você está preparado para morrer? O seu pecado foi perdoado? A Lei foi satisfeita em seu favor?
Você pode, neste momento, colocar a mão sobre o coração e dizer com sinceridade: "Eu não confio em minhas boas obras. Minha única esperança está no que Jesus fez por mim na cruz"? Se a sua resposta for sim, então, para você, uma morte súbita seria uma glória súbita.
Mas talvez você esteja aqui e, para ser honesto consigo mesmo, a resposta seja "não". Talvez você tenha evitado pensar sobre isso, achando que é um assunto muito pesado.
Jovem, não se engane. Você pode aproveitar a vida e buscar todos os prazeres, mas um dia Deus o chamará para prestar contas. O que você dirá quando ele perguntar como você usou o tempo, os talentos e a vida que ele lhe deu?
Você está vivendo como se estivesse em um banquete, sem perceber que sobre sua cabeça há uma espada afiada, suspensa pelo fio mais fino. Esse fio pode se romper a qualquer momento.
Se eu visse sua casa pegando fogo enquanto você dorme, eu não ficaria em silêncio por educação. Eu gritaria: "Acorde! O fogo está debaixo de você!". Da mesma forma, eu lhe imploro: acorde para a realidade da eternidade.
Mas a boa notícia do Evangelho ecoa hoje para você: “Todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo será salvo”. “Aquele que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora”. A água da vida é oferecida gratuitamente a todos que têm sede.
Aceite esse presente hoje. Renda-se a Cristo e troque o ferrão do medo pela certeza da vitória.
Adaptado do sermão "Thoughts on the Last Battle", pregado por C. H. Spurgeon em 13 de maio de 1855, no Exeter Hall, Strand, Londres.
