A matemática secreta de Deus: por que suas maiores lutas trazem o maior consolo — Sermão sobre 2 Coríntios 1.5

2 Coríntios 1.5

Introdução

Você, que está abatido pela tristeza, busca descanso para suas aflições? Este é o lugar onde você pode aliviar seu fardo e deixar suas preocupações para trás. Filho da angústia, você gostaria de esquecer, por um momento, suas dores e seu luto?

A igreja é a nossa Betesda, a "casa de misericórdia". É aqui que Deus deseja animá-lo e interromper o fluxo incessante de suas angústias. Seus filhos amam estar aqui porque encontram consolo na tribulação, alegria na tristeza e conforto na aflição.

Até mesmo quem não crê admite que há algo extremamente consolador nas Escrituras e na nossa fé. Já ouvi pessoas dizerem que, depois de tentarem demolir o cristianismo com sua lógica, sentiram que haviam destruído uma ilusão maravilhosamente reconfortante. Elas quase choraram ao pensar que aquilo não era real.

E, de fato, se a nossa fé não fosse verdadeira, teríamos todos os motivos para chorar. Se a Bíblia não fosse a verdade de Deus, se não pudéssemos nos reunir diante de seu trono de misericórdia, então poderíamos andar por aí como quem está em dores de parto.

Se você não tivesse nada além da sua razão e dos prazeres passageiros deste mundo, se não tivesse uma esperança além do céu, um refúgio que fosse mais do que terreno, então você poderia chorar. Ah, chorar até seus olhos secarem e seu corpo se desfazer em uma lágrima perpétua.

Mas, bendito seja Deus, nós temos consolo! Temos alegria no Espírito Santo. Procuramos no mundo inteiro, mas não encontramos essa joia em nenhum outro lugar. Reviramos este mundo de ponta a cabeça mil vezes e não encontramos nada de valor duradouro.

Mas aqui, nesta Bíblia, na fé do bendito Jesus, nós, os filhos de Deus, encontramos conforto e alegria. E podemos dizer com toda a certeza: "assim como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação."

Existem quatro pontos neste texto: primeiro, os sofrimentos que devemos esperar; segundo, uma distinção a ser feita; terceiro, uma proporção a ser experimentada; e quarto, a pessoa a ser honrada.

1. Sofrimentos que devemos esperar

O apóstolo Paulo diz: “Os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós”. Antes de vestirmos a armadura cristã, precisamos saber que tipo de serviço nos espera.

Um recrutador do exército pode enganar um jovem, dizendo que a vida militar é fácil, cheia de glória e desfiles. Mas quem recruta soldados para Cristo nunca age assim. O próprio Jesus disse: “Calculem o custo”. Ele não queria discípulos que não estivessem preparados para ir até o fim e “suportar as dificuldades como um bom soldado”.

Às vezes, ouço a vida cristã ser descrita de uma forma tão colorida que me incomoda. É verdade que “os seus caminhos são caminhos de delícias”, mas não é verdade que um cristão nunca terá tristezas ou problemas. O cristianismo não é um escudo mágico contra as dificuldades da vida.

Na verdade, deveríamos dizer o contrário. Soldado de Cristo, se você se alistar, terá que lutar batalhas difíceis. Não há cama de penas para você, nem carruagem para o céu. O caminho é acidentado, montanhas precisam ser escaladas, rios atravessados, gigantes derrotados e grandes provações suportadas.

Acredite, não é uma estrada fácil para o céu. Mas é a mais agradável do mundo. Por quê? Por causa da companhia, por causa das doces promessas em que nos apoiamos e por causa do nosso Amado, que caminha conosco através deste vasto deserto.

Cristão, espere por problemas. Não se surpreenda com a provação de fogo, como se algo estranho estivesse acontecendo. Pois, tão certo como você é um filho de Deus, seu Salvador lhe deixou um legado: “No mundo tereis aflições, mas em mim tereis paz”.

Se eu não tivesse problemas, duvidaria que faço parte da família. Se eu nunca tivesse uma provação, não me consideraria um herdeiro do céu. Os pais terrenos podem mimar seus filhos, mas o Pai celestial jamais fará isso. “O Senhor corrige a quem ama”.

Portanto, cristão, espere pelo sofrimento. Quando ele vier, diga: “Ah, sofrimento, eu já esperava por você. Você não é um estranho. Você está marcado no mapa para o céu, e meu Mestre não me enganou.”

Mas por que devemos esperar por isso? Darei quatro razões. Olhe para cima, para baixo, ao seu redor e para dentro de si mesmo.

Primeiro, olhe para cima. Você vê seu Pai celestial, um ser puro e santo? Você sabe que um dia será como ele? Acha que será fácil ser conformado à sua imagem? Você não precisará do fogo da fornalha, da moagem no moinho da aflição?

Olhe de novo. Vê aqueles espíritos brilhantes vestidos de branco? Pergunte a eles de onde vieram. Alguns dirão que atravessaram mares de sangue. Eles lutaram e sofreram para reinar. E nós, reinaremos sem batalha? Não. Assim como eles sofreram, nós também devemos sofrer.

Segundo, olhe para baixo. Você sabe que inimigos tem sob seus pés? O inferno e seus leões estão contra você. Você era um servo de Satanás, e nenhum rei perde seus súditos de bom grado. No momento em que você se converteu, Satanás convocou suas forças e ordenou: “Ataquem-no! Atormentem-no! Não lhe deem descanso! Ele nos traiu”. Ele sempre estará ao seu redor, "como um leão que ruge, procurando a quem possa devorar".

Terceiro, olhe ao seu redor. Onde você está? Em um país inimigo. Este é um mundo perverso. "Maldito o homem que confia no homem". Você está em uma terra de adversários, não de amigos. Quando dormir, pense que está dormindo em um campo de batalha. Quando caminhar, acredite que há uma emboscada em cada esquina. Espere por problemas.

E, por fim, olhe para dentro de si mesmo. Se não houvesse diabo para tentá-lo, você mesmo se tentaria. Você carrega dentro de si um câncer, uma víbora enrolada pronta para picá-lo. "O coração é enganoso, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto". Olhe para dentro e diga: "Com um coração assim, eu bem que mereço este sofrimento".

Não há como escapar. Então, o que faremos? Vamos suportar com alegria. Quanto mais flechas voam, mais o escudo da fé as detém. Somos "mais do que vencedores, por aquele que nos amou".

Aplicação Prática

  • Ajuste suas expectativas: Não peça a Deus uma vida sem problemas. Em vez disso, peça força para enfrentar os problemas que virão. Uma expectativa realista evita a decepção.
  • Identifique a fonte da luta: Seus problemas são consequências de seus próprios erros, ataques do inimigo ou a disciplina amorosa de Deus para moldar seu caráter? Entender a fonte ajuda a responder corretamente.
  • Lembre-se do seu destino: Compare suas aflições atuais com a glória que o espera. Paulo diz que nossos "leves e momentâneos sofrimentos" não se comparam ao peso eterno de glória.

2. Uma distinção a ser feita

Nossos sofrimentos são chamados de “sofrimentos de Cristo”. Sofrer, por si só, não é prova de que alguém é cristão. Muitos sofrem e não são filhos de Deus. Já ouvi pessoas dizerem: "Eu sei que sou um filho de Deus porque estou endividado e cheio de problemas". Ora, conheço muitos malfeitores na mesma situação.

É preciso fazer uma distinção. Estes são os sofrimentos de Cristo ou são seus próprios sofrimentos? Um homem é desonesto e vai para a cadeia. Um homem é covarde e é desprezado. Ele merece. Mas ele se consola dizendo que está sendo "perseguido". Perseguido? Não, está colhendo o que plantou.

Tome cuidado para que seus sofrimentos sejam os de Cristo, e não os seus. Pois, se forem seus, você não receberá consolo divino. "O que significa 'sofrimentos de Cristo'?", você pergunta. Significa que, como a cabeça (Cristo) sofreu, o corpo (a igreja) também deve sofrer.

Nossas aflições são os sofrimentos do corpo místico de Cristo. Embora nossa Cabeça esteja no céu e nós na terra, nossas dores são as dores de Cristo. As provações de um verdadeiro cristão são tanto os sofrimentos de Cristo quanto as agonias do Calvário.

Seus sofrimentos são os de Cristo se você sofre por causa de Cristo. Se você é maltratado por causa da verdade, então esses são os sofrimentos de Cristo. Você pergunta se ainda existe perseguição hoje. Sim! Eu poderia contar histórias de intolerância e preconceito.

Conheço pessoas que levam uma vida miserável em casa ou no trabalho simplesmente porque decidiram seguir a Cristo e frequentar uma igreja onde suas almas são alimentadas. Mas elas persistem.

Se você sofre por causa de Cristo, esses são os sofrimentos dele. Isso nos enobrece, nos faz felizes pensar que nossas provações são as provações de Jesus. Lembre-se, você luta ao lado de Cristo. Cada golpe contra você é um golpe contra ele. A batalha é do Senhor.

Lembro-me da história de um grande comandante que, cercado pelo inimigo, ouviu seus soldados desanimados contando as tropas. 

O comandante apareceu e perguntou: "E por quantos vocês me contam?". Cristão, por quanto você conta Cristo? Ele não é um, nem mil. Ele é o "principal entre dez mil". Ele é tudo em todos, e com ele a vitória é certa.

Aplicação Prática

  • Analise a causa: Antes de reivindicar a promessa de consolo, pergunte-se: "Estou sofrendo por minha fé ou por minha tolice?". A honestidade aqui é crucial.
  • Abrace a honra: Se você está sendo ridicularizado ou marginalizado por sua fé, veja isso como um privilégio. Você está compartilhando da experiência do seu Salvador.
  • Lembre-se do seu Comandante: Em meio à batalha, fixe seus olhos em Jesus. Sua presença e poder superam em muito a força de qualquer oposição.

3. Uma proporção a ser experimentada

“Assim como os sofrimentos... transbordam, também... transborda a nossa consolação”. Aqui está uma proporção abençoada. Deus sempre mantém uma balança: de um lado, ele coloca as provações de seu povo; do outro, suas consolações.

Quando o prato da provação está cheio, você descobrirá que o prato da consolação está igualmente pesado. É uma questão de experiência. Quando as nuvens negras se adensam, a luz interior se torna mais brilhante. Quando a tempestade se aproxima, o Capitão celestial está sempre mais perto de sua tripulação.

Por que isso acontece?

Primeiro, porque as provações abrem mais espaço para o consolo. Nada aumenta o coração de um homem como uma grande provação. Pessoas que nunca sofreram muito geralmente têm corações pequenos e pouca simpatia pelos outros. 

A pá da dificuldade cava mais fundo o reservatório do conforto. Deus esvazia nosso coração de outras coisas para que haja mais espaço para a sua graça.

Segundo, porque o sofrimento exercita nossas virtudes. Onde as chuvas mais caem, a grama é mais verde. Onde há névoas de tristeza, encontramos corações verdejantes, cheios do conforto e do amor de Deus. Não diga que as flores morreram no inverno; elas voltarão na primavera. Não diga que Deus o esqueceu quando ele esconde seu rosto; ele está apenas fazendo você amá-lo mais.

Terceiro, porque nos problemas temos um contato mais íntimo com Deus. Nós nunca estamos tão perto de Deus como quando estamos na tribulação. Quando o celeiro está cheio, o homem pode viver sem Deus. 

Quando a carteira está cheia, a oração diminui. Mas tire seus confortos, e você precisará do seu Deus. É um dia ensolarado, e o filho caminha longe do pai. Mas se um leão aparece na estrada, ele corre para a mão do pai. É assim com o cristão.

Deixe tudo ficar bem, e ele se esquece de Deus. Mas tire suas esperanças, quebre seus sonhos, e então Deus se torna Deus de verdade. O melhor clamor é aquele que vem do fundo do poço.

Aplicação Prática

  • Acolha o processo: Quando Deus permitir que seu coração seja "esvaziado" pela dor, não resista. Entenda que ele está criando espaço para enchê-lo com algo muito melhor: ele mesmo.
  • Exercite sua fé: A tribulação é a academia da alma. Use-a para fortalecer sua confiança, sua paciência e seu amor, sabendo que Deus está produzindo frutos em você.
  • Aproxime-se, não se afaste: Sua reação instintiva à dor pode ser se isolar. Faça o oposto. Corra para Deus em oração. Ele está mais perto do que você imagina.

4. A pessoa a ser honrada

É um fato que os cristãos podem se alegrar em profunda angústia. Na prisão, eles cantam. Sob as ondas, eles não afundam. Mas a quem daremos a honra por isso? A Jesus! O texto diz que tudo é por meio de Cristo.

Não é porque sou cristão que tenho alegria na tribulação. É porque Cristo vem a mim. Estou doente no meu quarto; Cristo sobe as escadas, senta-se ao meu lado e me fala palavras doces.

Estou morrendo; as águas frias do Jordão tocam meus pés. Cristo me abraça e diz: "Não tenha medo, amado. As águas da morte têm sua nascente no céu".

Atravesso o rio, e a mesma voz está em meus ouvidos: "Não temas, eu estou contigo". Chego à fronteira do desconhecido, e uma doce voz diz: "Eu estarei com você onde quer que você vá".

Ah, você que não conhece o nome incomparável de Jesus, perdeu a nota mais doce da vida. O cristão pode se alegrar, pois Cristo nunca o abandonará.

Uma palavra final para alguns de vocês.

Para você que teme problemas futuros: nunca atravesse uma ponte antes de chegar a ela. Não antecipe suas tristezas. Se e quando o problema vier, a força virá com ele.

Para você que está em apuros agora: irmão, sua consolação será proporcional à sua tribulação. Não pendure sua harpa nos salgueiros. Em vez de se angustiar, regozije-se em seu sofrimento. Você honrará a Deus e glorificará a Cristo.

Para você que está quase em desespero: você caiu no mar, as águas o cercam. O que fazer? Pare de se debater. Fique quieto, flutue no mar da dificuldade e saiba que Deus é Deus. O barco salva-vidas está vindo. Cristo está vindo em seu socorro.

Por fim, alguns de vocês não têm parte neste sermão. Existem duas classes de pessoas: os filhos de Deus e os filhos do diabo. A pergunta que ecoa é: "Onde estou? O tirano sombrio é meu rei? Ou o Senhor Jesus é minha força e meu Salvador?". Responda em seu coração.

Adaptado do sermão "Consolation Proportionate to Spiritual Sufferings", pregado por C. H. Spurgeon em 11 de março de 1855, no Exeter Hall, Strand.

Semeando Vida

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