O significado da palavra batizar no Novo Testamento, à luz dos batismos tradicionais dos judeus



Resumo
  • O artigo aborda o tema do batismo cristão, que é uma ordenança simbólica que representa a regeneração do pecador pelo Espírito Santo. O autor analisa o significado da palavra batizar no Novo Testamento, à luz dos batismos tradicionais dos judeus. Entre os seus argumentos estão:
  • A palavra batizar no Novo Testamento não significa sempre e somente imergir, mas depende do contexto em que é empregada. 
  • Os judeus praticavam vários batismos por aspersão ou derramamento, e não por imersão. 
  • O batismo de João era um símbolo do batismo do Espírito Santo, que seria feito por Jesus Cristo. O autor mostra como João anunciou que ele batizava com água para arrependimento, mas que viria após ele aquele que batizaria com o Espírito Santo e com fogo (Mateus 3:11-12). 
  • Ele também mostra como João testemunhou que viu o Espírito Santo descer sobre Jesus em forma de pomba, confirmando-o como o Filho de Deus e o ungido para a sua missão (João 1:32-34).
O que interessa supremamente a quem deseja saber como se deve administrar o batismo cristão é o sentido da palavra batizar como Jesus a empregou no seu último mandamento.

Para chegar a uma conclusão justa, é necessário que estudemos o sentido da palavra grega baptizo, como Jesus a empregou e como foi empregada pelos apóstolos e pelos demais escritores do Novo Testamento.

O sentido etimológico da palavra batizar e como foi empregada no grego clássico são questões de importância muito secundária, visto como, a linguagem evolui e há muitos termos religiosos empregados no Novo Testamento em sentido bem diferente daquele que tinham no grego clássico. Tudo isso se tornará mais evidente com o progresso dos nossos estudos.

O que nos interessa agora é o emprego da palavra baptizein ou batizar no Novo Testamento.

Se fosse uma verdade provada, como afirmam alguns imersionistas, que a palavra baptizein significa sempre e somente imergir, estaria acabada toda a discussão sobre o assunto.

Nesse caso, o mandamento de Jesus, para batizar importaria em um mandamento para imergir, mas é justamente o contrário disso que provam os nossos estudos.

De passagem, devemos dizer que este estudo do significado da palavra baptizein no Novo Testamento não se limita às pessoas que estudaram o grego.

Mesmo quem nunca tenha estudado a língua grega pode verificar quais são as passagens do Novo Testamento onde se emprega esse vocábulo e pode, em seguida, estudar em português os textos, os contextos e as referências dessas passagens, para ver em que sentido se emprega a palavra.

Não é preciso, por exemplo, ter estudado o grego para compreender que o batismo com o Espírito Santo não foi uma imersão no Espírito Santo, porque o Novo Testamento nos diz que Jesus derramou o Espírito Santo.

Não é preciso também ter estudado o grego para compreender que os vários batismos cerimoniais do Velho Testamento mencionados na Carta aos Hebreus não eram exclusivamente imersões, visto como, as Escrituras nos dizem explicitamente que alguns deles eram administrados por aspersão e não há nenhum caso provado de um batismo cerimonial do Velho Testamento feito por imersão, como já tivemos ocasião de verificar.


Já se vê que nas passagens referentes ao batismo com o Espírito Santo e aos vários batismos cerimoniais do Velho Testamento, a palavra batizar não pode ter o significado exclusivo de imergir. Tudo isso pode ser verificado por quem não conhece o grego.

É de conveniência explicar aos que não estudaram o grego que baptizein é, na língua grega, o infinitivo do verbo batizar e baptizo a primeira pessoa do presente do indicativo do mesmo verbo. É costume, quando se nomeia um verbo grego, dar a primeira pessoa do presente do indicativo em preferência ao infinitivo.

Passemos a estudar os batismos tradicionais dos judeus explicados por Marcos (Marcos 7:2-4) e comentados por Jesus em Marcos 7:6-23, Lucas 11:38-41 e Mateus 23:25,26. O nosso intuito no estudo dessas passagens é descobrir em que sentido se emprega a palavra baptizo e como eram feitos os batismos a que se referem.

Um estudo cuidadoso de Lucas 11:38 e de Marcos 7:2-4 torna bem patente o fato que as purificações corporais dos judeus, antes de comer, eram feitas por aspersão e que essa aspersão era um batismo.

Estudemos as provas.

A tradução de Lucas 11:38 na Versão Brasileira é esta: "Vendo isto o fariseu, estranhou não se ter ele lavado antes de almoçar". Jesus aceitara um convite para almoçar em casa de um fariseu, e esse fariseu estranho que Jesus, antes de comer, não se lavara para efetuar a sua purificação cerimonial. A palavra que se traduz, "se ter ele lavado", no original é ebaptisthe.

O fariseu estranho que Jesus não se batizara, antes de comer.

E como era feito esse batismo pelos judeus? Marcos nos dá uma informação precisa sobre esse ponto. Diz ele dos "fariseus e de todos os judeus": "E quando voltam da rua não comem sem se aspergir". A palavra traduzida aspergir é, nos melhores manuscritos, a palavra rantizo que os próprios imersionistas admitem significar aspergir.

Do exposto, torna-se patente que o batismo que o fariseu esperava que Jesus fizesse era uma aspersão. Bastaria somente este caso para provar, sem possibilidade de refutação, que a palavra baptizo nem sempre significa imergir.

Lucas afirma que um fariseu se admirara de que Jesus não se batizara, antes de comer, e Marcos nos informa que era costume entre os fariseus e entre todos os judeus, quando vinham da rua, não comerem, enquanto não se aspergiam. Esse batismo era, portanto, feito por aspersão, e está provado que batizar não é sempre imergir.

Seria um absurdo supor que os judeus, todas as vezes que viessem da rua, e antes de comer se mergulhassem em algum tanque.

E além disso, os vasos usados para as purificações dos judeus, conforme a informação que nos dá João, eram umas talhas que comportavam cada uma delas, umas duas ou três metrétas (João 2:6). Ora, a metréta era uma medida de trinta litros. Quem poderia se mergulhar em uma talha contendo noventa litros d'água? Essas purificações não podiam ser feitas por imersão.


Alguns manuscritos antigos, mas não os melhores, trazem a palavra baptizo em vez de rantizo, em Marcos 7:4, o que prova que os escribas copistas dos textos sagrados trocaram um termo pelo outro, tendo-os como descritivos do mesmo ato. Para eles, as purificações dos judeus tanto eram batismos como aspersões.

Ainda mais, alguns manuscritos antigos, mas não os melhores, acrescentam à lista das coisas batizadas pelos judeus, antes de comerem, os leitos em que reclinavam para comer.

É por isso que se encontra essa palavra nas traduções de Almeida e de Figueiredo, em Marcos 7:4. Embora não se encontre esse vocábulo (provavelmente um acréscimo de um copista) nos melhores manuscritos, e embora não seja considerado parte do texto inspirado, a sua presença em alguns manuscritos antigos é prova de que os escribas que o introduziram e copiaram sabiam que era costume entre os judeus batizar os leitos ou divãs em que se reclinavam, antes de comer.

Se não fosse esse um costume judaico, não se atreveriam os copistas a introduzir essa palavra no texto do Novo Testamento.

Podemos, portanto, concluir que era, de fato, um costume dos judeus batizar os leitos, antes de comer, quando voltavam da rua.

Ora, seria impossível que, todas as vezes que viessem da rua, imergissem os copos, jarros, vasos de metal e leitos. O batismo desses vários objetos de seu uso não podia ser uma imersão; podia ser somente uma aspersão.

Do estudo que acabamos de fazer dos dois textos citados, e da interpolação feita em Marcos 7:4, torna-se bem evidente que os fariseus e todos os judeus faziam as suas purificações, lavando as mãos, aspergindo os corpos com água e também aspergindo os copos, jarros, vasos de metal e leitos.

Essas aspersões são chamadas batismos e, com referência à aspersão corporal que faziam antes de comer, emprega-se o verbo baptizo em Lucas 11:38. Não é, pois, possível que, nestes casos, a palavra baptizo signifique imergir.

Em um dos escritos de Clemente de Alexandria, considerado o escritor de mais renome do segundo século, temos uma interessante e significativa confirmação do costume judaico de batizar tanto os corpos como os leitos em que reclinavam.

No quarto livro do seu Stromateis, Clemente de Alexandria dá-nos a seguinte informação: "Este era o costume dos judeus, o serem batizados muitas vezes nos leitos" (epi koite baptizesthai). Está claro que esses freqüentes batismos administrados aos judeus, quando estavam reclinados nos leitos, não podiam ser imersões.

E, no entanto, a mais cabal confirmação da tese que defendemos encontra-se nos comentários de Jesus sobre os batismos tradicionais dos judeus, como passamos a demonstrar.

Quando se faz um estudo qualquer da Bíblia e se descobre a verdade com relação ao assunto estudado, todas as passagens examinadas confirmam, de uma maneira maravilhosa, a descoberta feita. Assim aconteceu com os nossos estudos bíblicos sobre o batismo.


Quanto mais estudamos o assunto, tanto mais se confirmaram os primeiros resultados dos nossos estudos e verificamos uma maravilhosa harmonia em todos os textos estudados.

Nos próprios ensinos de Jesus, em Lucas 11:37-41, descobrimos uma extraordinária confirmação da primeira asserção que fizemos com referência à palavra baptizo, isto é, que essa palavra nem sempre significa imergir.

O ensino do divino Mestre na aludida passagem é que os fariseus tinham grande escrúpulo nas suas purificações exteriores e superficiais, mas os seus corações não eram retos para com Deus. Invalidavam os mandamentos de Deus com as suas tradições cerimoniais.

Disse Jesus:

"Agora vos, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Insensatos, porventura quem fez o exterior, não fez também o interior? Dai, porém, em esmolas o que está no copo e no prato, e eis que todas as coisas vos são limpas."

Comentando essa passagem, diz Mathew Henry:

"Aqui há uma clara alusão à lei de Moisés, cujos preceitos mandavam que se desse certas porções dos produtos da terra ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva: e quando se tivesse assim procedido, o que restava para o uso próprio do dono estaria purificado e poder-se-ia com fé pedir sobre ele a benção de Deus, Deuteronômio 26:12-15.

Então podemos comodamente nos deleitar nas dádivas generosas de Deus, quando tivermos mandado quinhões aos que nada têm, Neemias 8:10. Jó não comia o seu bocado sozinho, mas o órfão dele participava e assim lhe era puro o bocado, (Jó 31:17); puro no sentido de lhe ser permitido comer dele e só assim podia comer com consciência tranqüila". (Henry's Commentary, vol. VII, pág. 702).

Jesus faz ver que a melhor purificação das comidas que devia ser feita pelos judeus era a obediência à lei mosaica, que mandava dar uma parte aos pobres.

Aqui o argumento de Jesus é semelhante àquele que encontramos em Marcos 7:8-13, onde censura os judeus por invalidarem o quarto mandamento com referência ao que chamavam Corban. Tanto em um caso como no outro, os judeus seguiam uma tradição sua e com ela invalidavam um mandamento expresso da Lei de Deus.

Em Marcos 7:4 as purificações ou lavagens cerimoniais dos judeus são chamadas batismos. Diz essa passagem que os judeus observavam tradições, como batismos de copos, jarros e vasos de metal.

Alguns manuscritos antigos também acrescentam a esta lista a palavra leitos. Há imersionistas que julgam que todas estas coisas podiam ter sido diariamente imersas pelos judeus, mas as próprias palavras de Jesus vão de encontro a esse conceito.

"Agora vós, os fariseus", disse Jesus, "limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade" (Lucas 11:39). A água da purificação cerimonial atingia somente o exterior das vasilhas, mas não penetrava dentro delas para efetuar a sua purificação interna.


Toda a repreensão de Jesus se baseia nesse fato da purificação ser somente exterior. Isso se evidencia ainda mais claramente pela leitura de Mateus 23:25 e 26:

"Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior se torne limpo".

Dentro dessas vasilhas purificadas exteriormente pelos batismos dos judeus havia comidas ou bebidas, como se vê de Lucas 11:41, onde Jesus diz: "Dai, porém, em esmolas o que está no copo e no prato, e eis que todas as coisas vos serão limpas". A expressão significativa, é esta: "Dai em esmolas o que está dentro ou as coisas dentro.

O grego diz: ta enonta. Temos nesta expressão o particípio presente do verbo ser ou estar em, empregado como substantivo, no neutro plural. O equivalente português é, as coisas que estão dentro. Nada podia ser mais claro; as vasilhas purificadas exteriormente continham bebidas ou comidas e as águas purificadoras não penetravam nelas.

Sabemos, portanto, que nas purificações judaicas denominadas batismos em Marcos 7:4, não havia nenhum mergulho em água dos vasos purificados. Se tivessem sido mergulhados, a água teria penetrado no seu interior. Isso Jesus nega, dizendo que a purificação era somente externa. Ademais, se a água penetrasse no interior das vasilhas, estragaria as bebidas e as comidas nelas contidas.

Os comentários de Jesus mostram bem claramente que as purificações tradicionais dos judeus atingiam somente o exterior dos copos, pratos, jarros e vasos de metal mencionados nas passagens estudadas e, por isso, não podiam ser imersões. Logo, os batismos de Marcos 7:4 não eram imersões e a palavra baptizo nem sempre tem o sentido de imergir.

A lição preciosa que Jesus ensina na sua condenação do procedimento dos fariseus é que a verdadeira religião não consiste na pratica de formalidades cerimoniais, mas antes na retidão do coração para com Deus.

Nada adiantam batismos, crismas, aspergimento de água benta, genuflexões, persignações, bendições, unções extremas e outras tantas exterioridades, se a pessoa que pratica essas cerimônias não tenha sido regenerada pelo batismo com o Espírito Santo.

Uma pessoa poderia ter sido batizada mil vezes, e, no entretanto, se não tivesse nascido de novo, isso nada lhe adiantaria. Enfim, o que vale não sãos os ritos externos, como o batismo, a circuncisão ou a incircuncisão, mas o ser uma nova criação (Gálatas 6:15).

Pelo que já ficou exposto, torna-se evidente que as Escrituras Sagradas mencionam diversos ritos religiosos que são denominados batismos, a saber:

1 - Os vários batismos cerimoniais do Velho Testamento a que se refere Hebreus 9:10. Esses batismos eram feitos por aspersão, como se pôde verificar das seguintes passagens: Números 8:6 e 7; Números 19:18-21; Levítico 14:17 e 51 e Hebreus 9:13,20,21.

Ainda outra confirmação se encontra em Eclesiástico 34:30 que se refere à purificação da contaminação de um cadáver, feita por aspersão, como um batismo.


2 - O batismo administrado por João Batista para o arrependimento, que era um rito preparatório para o advento do Cristo, como se depreende dos seguintes passos: Marcos 1:5 e 5; Lucas 3:3-6: 7:29; Atos 1:22; 10:37; 13:24; 18:25 e 19:3 e 4. João de certo adotou o modo do batismo do Velho Testamento.

3 - O batismo de Jesus que não era para o arrependimento, mas para satisfazer toda a justiça (Mateus 3:15). Esse batismo fazia parte do rito pelo qual Jesus foi consagrado sacerdote como já tivemos ocasião de verificar.

4 - Os batismos tradicionais dos judeus mencionados em Marcos 7:1-4; João 2:6 e Lucas 11:37-39. A passagem em Marcos demonstra que esses batismos eram feitos por aspersão e isso é confirmado por Clemente de Alexandria que se refere ao costume dos judeus de se batizarem muitas vezes no leito.

5 - O batismo cristão instituído por Jesus a que se referem as seguintes e muitas outras passagens: Mateus 28:19; Atos 2:38,41; 8:38,39; 9:18; 10:47,48; 16:15,33; e 19:5. Conquanto tenham diferentes significações os vários batismos do Velho e do Novo Testamento, não há motivo algum para supor que fossem praticados de modos diferentes.

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