O que a Bíblia não diz (e por que isso muda tudo): Pistas apostólicas sobre o batismo de crianças no Novo Testamento – Estudo Bíblico sobre a Prática Neotestamentária

Até agora, nossa jornada tem sido uma de construir pontes. Construímos uma ponte da eternidade para o tempo, vendo o Pacto de Redenção se tornar o Pacto da Graça. 

Construímos uma ponte do Antigo para o Novo Testamento, vendo a continuidade do povo de Deus, a oliveira única. E construímos uma ponte da circuncisão para o batismo, vendo como um sinal sucede o outro dentro da mesma aliança.

Agora, chegamos à terra firme do Novo Testamento. É hora de perguntar: a prática da igreja primitiva confirma essa teologia pactual? 

Onde vemos a fé e a prática dos apóstolos refletindo essa compreensão de que as crianças dos crentes têm um lugar na aliança? Embora não haja um versículo que diga "batizai vossos filhos", as evidências, quando vistas através das lentes do pacto, são abundantes e poderosas.

Neste estudo final, examinaremos as evidências diretas e indiretas no Novo Testamento e na história da igreja primitiva. 

A pergunta que nos guiará é: Como as atitudes de Jesus, as práticas de batismo dos apóstolos e o silêncio da Escritura sobre a exclusão das crianças confirmam a continuidade da aliança familiar? 

1. Os Braços de Jesus: O Lugar das Crianças no Reino

Onde melhor começar do que com o próprio Senhor da aliança? Os três evangelhos sinóticos (Mateus 19, Marcos 10, Lucas 18) registram o famoso episódio em que pais trouxeram seus filhos a Jesus. Lucas usa a palavra grega específica brephe, que significa "bebês" ou "crianças de colo".

O que Jesus fez não foi um mero gesto sentimental. Ele os tomou nos braços, impôs as mãos sobre eles, orou e os abençoou. Cada um desses atos era carregado de significado pactual para um judeu do primeiro século. 

A imposição de mãos era um sinal solene de transmitir uma bênção divina e de separar alguém para Deus. Era o rito usado para ordenar líderes e, no livro de Atos, está associado ao recebimento do Espírito Santo.

Ao realizar este ato sobre bebês, Jesus estava afirmando publicamente o status deles dentro da comunidade da aliança. Ele estava confirmando o privilégio pactual que eles já possuíam como filhos de crentes. E então Ele proferiu as palavras decisivas:

Marcos 10.14
Deixai vir os meninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus.

Jesus não disse que o Reino é para aqueles "que se parecem" com crianças em humildade (embora essa seja uma aplicação secundária que Ele faz). 

Ele disse que o Reino pertence "aos tais" — a essas próprias crianças. Ele as declara membros de Seu Reino. Este é o endosso mais forte possível do princípio de que os filhos dos crentes são herdeiros legítimos das promessas do pacto.

Aplicação

  • Traga seus filhos a Jesus. Faça isso diariamente em oração. Faça isso semanalmente, trazendo-os à casa de Deus. Faça isso sacramentalmente, apresentando-os para o batismo. Acolha o convite de Cristo e não permita que nada os impeça de se aproximarem Dele.
  • Confie que seus filhos pertencem a Cristo. Baseado na promessa de Jesus, trate seus filhos não como pequenos estranhos, mas como membros do Reino. Ensine-os, discipline-os e ame-os com a confiança de que eles são preciosos para o Salvador e herdeiros de Sua promessa.

2. O Silêncio Eloquente: O que a Bíblia Não Diz

Um dos argumentos mais comuns contra o batismo infantil é o "argumento do silêncio": não há um mandamento explícito ou um exemplo claro de um bebê sendo batizado no Novo Testamento. 

No entanto, quando entendemos o contexto pactual, esse silêncio se torna uma das evidências mais fortes a favor da prática.

Pense nisso: por 2.000 anos, desde Abraão, o povo de Deus incluiu seus filhos na aliança e os marcou com o sinal do pacto. 

Era uma prática estabelecida, inquestionável e central para a identidade familiar e religiosa. Se, na nova administração do pacto, essa regra fundamental fosse subitamente revertida, excluindo as crianças, isso teria causado uma controvérsia teológica gigantesca.

Teríamos cartas de Paulo lidando com o tumulto de pais judeus-cristãos indignados por seus filhos terem perdido seu status pactual. Teríamos debates acalorados registrados no livro de Atos. Mas não há uma única palavra sobre isso. O silêncio é ensurdecedor.

A única conclusão lógica é que não houve mudança. O princípio permaneceu o mesmo; apenas o sinal mudou. O silêncio do Novo Testamento não é um vácuo, mas uma confirmação da continuidade.

Além disso, não há nenhum exemplo no Novo Testamento do batismo de um adulto que cresceu em um lar cristão. Todos os exemplos são de convertidos de primeira geração. Isso sugere que os filhos dos crentes eram integrados à comunidade de outra forma — presumivelmente, através do batismo na infância.

Aplicação

  • Aprenda a ler a Bíblia em seu contexto. O que não é dito pode ser tão importante quanto o que é dito, especialmente quando uma prática está sendo continuada, e não alterada.
  • Baseie sua fé em princípios bíblicos, não apenas em mandamentos explícitos. A doutrina do batismo infantil não se baseia em um único versículo, mas na dedução lógica de múltiplos princípios pactuais que permeiam toda a Escritura, como fez o autor cristão Andrew Murray.

3. As Casas Batizadas: A Prática Apostólica

Embora não haja um registro detalhado, o livro de Atos menciona o batismo de "casas" ou "famílias" inteiras em pelo menos três ocasiões: a casa de Lídia (Atos 16:15), a do carcereiro de Filipos (Atos 16:33) e a de Estéfanas (1 Coríntios 1:16).

O ponto crucial nesses relatos é a ênfase na unidade familiar. O texto diz que Lídia creu, e então "foi batizada, ela e a sua casa". 

O texto diz que o carcereiro creu (o verbo está no singular no grego em algumas passagens-chave) e "logo foi batizado, ele e todos os seus". A fé do chefe da família é o gatilho para o batismo de toda a casa.

Argumentar que todas essas casas convenientemente não tinham crianças pequenas é estatisticamente improvável e ignora o ponto teológico. 

Para um leitor do primeiro século, imerso na teologia pactual do Antigo Testamento, a conclusão seria óbvia: assim como na circuncisão, a família inteira, incluindo as crianças, estava sendo marcada como pertencente à comunidade da aliança com base na fé do chefe da casa.

A única referência direta de Paulo ao status das crianças reforça isso. Em 1 Coríntios 7:14, ele diz que os filhos de um crente (mesmo que o cônjuge seja incrédulo) são "santos", ou seja, "separados para Deus". Eles não são "impuros" como os filhos de incrédulos. 

Eles têm um status pactual, pertencem à esfera da aliança por causa da fé de pelo menos um dos pais.

Aplicação

  • Celebre a unidade da sua família em Cristo. A fé de um dos pais traz toda a família para a esfera da bênção da aliança. Ore para que essa bênção pactual se torne uma realidade salvadora no coração de cada membro.
  • Confie no testemunho da Igreja Primitiva. Líderes da igreja dos primeiros séculos, como Irineu (discípulo de Policarpo, que foi discípulo do apóstolo João), Orígenes e Agostinho, testemunharam que o batismo infantil era a prática recebida desde os apóstolos.

Conclusão

Vimos que o batismo infantil não é uma invenção tardia ou uma tradição sem base, mas a conclusão lógica e bela da teologia pactual de Deus.

Começa com a promessa eterna de Deus de salvar um povo. Continua com a aliança familiar feita com Abraão, marcada pela circuncisão de pais e filhos.

Flui através da história de Israel, é endossada pelos braços abertos de Jesus, confirmada pelo silêncio dos apóstolos, praticada nos batismos de "casas inteiras" e testemunhada pela igreja primitiva.

Batizar nossos filhos não é um ato que lhes confere salvação mágica. É um ato de fé da nossa parte. É apresentar nossos filhos a Deus, colocando-os visivelmente sob a promessa da Sua aliança e nos comprometendo a criá-los no conhecimento de que pertencem a Ele. 

É o selo de Deus sobre eles, uma palavra visível que diz: "Você é um filho da aliança. A promessa é para você. Venha e a receba pela fé." 

Que possamos abraçar este privilégio com gratidão e cumprir nossa responsabilidade com fidelidade.


Lista de estudos da série

1. O erro que todos cometem sobre o batismo: Descubra por que os pactos de Deus são o alicerce de tudo – Estudo Bíblico sobre a Aliança

2. Dentro ou fora do rebanho?: O padrão bíblico ininterrupto que inclui seus filhos na promessa – Estudo Bíblico sobre os Herdeiros da Aliança

3. O legado que você não escolheu: Como a graça transforma a família no canal da bênção de Deus – Estudo Bíblico sobre a Família na Aliança

4. A imagem que une toda a Bíblia: Por que a Igreja é a oliveira de Deus desde Abraão – Estudo Bíblico sobre a Continuidade da Igreja

5. O segredo das palavras visíveis de Deus: O que os sacramentos realmente são e por que eles fortalecem sua fé – Estudo Bíblico sobre Sacramentos

6. A pista escondida em Colossenses 2: Por que a circuncisão é o modelo para entender o batismo hoje – Estudo Bíblico sobre Circuncisão e Batismo

7. O que a Bíblia não diz (e por que isso muda tudo): Pistas apostólicas sobre o batismo de crianças no Novo Testamento – Estudo Bíblico sobre a Prática Neotestamentária

8. O interruptor que não existe: Por que a fé de uma criança pode crescer como uma semente (e sua responsabilidade nisso) – Estudo Bíblico sobre Discipulado Pactual

9. O código secreto da purificação: O que os rituais do Antigo Testamento revelam sobre o modo do batismo – Estudo Bíblico sobre Aspersão

10. A verdade sobre o batismo de João: Por que ele não é o modelo para o batismo cristão que você imaginava – Estudo Bíblico sobre João Batista

11. A palavra grega que engana a todos: O verdadeiro significado de "baptizo" e a liberdade que a Bíblia lhe dá – Estudo Bíblico sobre o Modo Cristão

12. Muito além de ser sepultado: A verdade chocante de Romanos 6 sobre o que realmente é o batismo – Estudo Bíblico sobre União com Cristo

13. O poder da dupla purificação: Como a água do batismo simboliza o Espírito e o sangue de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Simbolismo da Água

14. Detetives em Atos: Pistas práticas que revelam como os apóstolos realmente batizavam – Estudo Bíblico sobre as Evidências em Atos

15. Imersão ou aspersão? A pergunta errada: Por que a liberdade na forma revela a unidade da fé na aliança – Estudo Bíblico Final da Série

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