A imagem que une toda a Bíblia: Por que a Igreja é a oliveira de Deus desde Abraão – Estudo Bíblico sobre a Continuidade da Igreja

Muitos de nós fomos ensinados a ver a Bíblia com uma grande divisão no meio. De um lado, o Antigo Testamento, a história de Israel. Do outro, o Novo Testamento, a história da Igreja. 

Parece que Deus tinha um povo, Israel, e quando eles falharam, Ele começou um projeto completamente novo e diferente, a Igreja. Mas será que é assim que a Bíblia se descreve?

Essa percepção de uma ruptura radical entre Israel e a Igreja tem implicações enormes, especialmente para como entendemos a inclusão das crianças na aliança de Deus. 

Se a Igreja é algo totalmente novo, sem conexão com o passado, então as promessas familiares do Antigo Testamento podem não se aplicar a nós. Mas, e se a Igreja não for um plano B? E se for a continuação e o cumprimento do plano original de Deus?

Neste estudo, vamos explorar uma das verdades mais unificadoras da Escritura: a de que há apenas um povo de Deus ao longo de toda a história. 

A pergunta que nos guiará é: Será que a Igreja do Novo Testamento é uma criação completamente nova, ou é a continuação e o florescimento do povo de Deus do Antigo Testamento? 

A resposta a essa pergunta é a pedra angular sobre a qual repousa o entendimento do batismo como um sinal da aliança para as nossas famílias.

1. A Oliveira de Deus: Um Só Povo, Uma Só Raiz (Romanos 11)

O apóstolo Paulo nos dá a imagem mais poderosa da unidade do povo de Deus em Romanos 11. Ele descreve a comunidade da aliança como uma oliveira. Esta não é uma árvore qualquer; o profeta Jeremias já havia chamado Israel de “oliveira verdejante, formosa de fruto e de aspecto” (Jeremias 11:16).

Nesta parábola, a raiz da árvore é o pacto feito com Abraão, a fonte da promessa e da vida espiritual. Os ramos naturais são o povo de Israel. Paulo explica que, por causa da incredulidade, alguns desses ramos naturais foram "quebrados" ou cortados.

Mas a árvore não morreu. 

Em vez disso, Deus fez algo milagroso: Ele pegou ramos de uma oliveira brava — os gentios, que estavam "fora" da aliança — e os enxertou no tronco da oliveira cultivada. 

Agora, esses novos ramos participam da mesma raiz e recebem a mesma seiva (a mesma vida espiritual do pacto) que os ramos originais.

A lição é impressionante. A Igreja do Novo Testamento não é uma nova árvore plantada ao lado da antiga. É a mesma e única árvore

Os crentes gentios não substituíram Israel; eles foram enxertados na mesma comunidade pactual que existe desde Abraão. A família de Deus foi expandida, mas sua identidade e sua raiz permanecem as mesmas. Somos um só povo, com uma só história da redenção.

Aplicação

  • Leia o Antigo Testamento como a história da sua família. Os patriarcas, profetas e santos do Antigo Testamento são seus antepassados na fé. Ao ser enxertado em Cristo, você foi adotado na linhagem de Abraão.
  • Cultive a humildade. Paulo adverte os ramos enxertados (nós, os gentios) a não se orgulharem contra os ramos naturais. Somos participantes da aliança pela pura graça. Nossa posição não é de mérito, mas de misericórdia.
  • Ore pela salvação de Israel. Paulo termina sua analogia com a promessa de que Deus é poderoso para enxertar os ramos naturais de volta em sua própria oliveira (Romanos 11:23-24). Como parte da mesma família, devemos compartilhar do anseio de Deus pela restauração de Seu povo original do pacto.

2. A Promessa Inabalável: Filhos de Abraão pela Fé (Gálatas 3)

Se a imagem da oliveira nos mostra a unidade orgânica do povo de Deus, a carta aos Gálatas nos mostra sua base legal: a promessa inabalável do pacto. Paulo argumenta vigorosamente que há um só caminho para a salvação em todas as épocas: a fé na promessa de Deus.

Ele faz declarações que conectam diretamente os crentes do Novo Testamento ao patriarca do Antigo:

Gálatas 3.7, 29
Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão... E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.

Nossa identidade não começa em Pentecostes; começa com a promessa feita a Abraão. Somos seus filhos espirituais e, portanto, herdeiros das mesmas bênçãos da aliança.

Paulo também esclarece que a Lei dada a Moisés, 430 anos depois, nunca teve o poder de anular ou alterar esta promessa original do Pacto da Graça (Gálatas 3:17). A Lei serviu a um propósito temporário, mas o fundamento da relação de Deus com Seu povo sempre foi a promessa recebida pela fé.

Isso significa que a essência do pacto é a mesma. Se no Antigo Testamento a promessa era para Abraão "e sua descendência", e nós, pela fé em Cristo, nos tornamos a descendência de Abraão, a estrutura familiar da promessa continua de pé. A continuidade da Igreja se baseia na continuidade do pacto.

Aplicação

  • Tenha confiança na Palavra de Deus. A promessa de Deus para Abraão permaneceu firme por milênios, através de leis, exílios e impérios. A mesma promessa de salvação pela graça através da fé em Cristo é a sua segurança hoje.
  • Reflita sobre sua herança. O que herdamos de Abraão? A promessa da justificação pela fé, a bênção de Deus e a promessa do Espírito Santo. Somos herdeiros de um tesouro espiritual imensurável.
  • Considere a implicação para seus filhos. Se somos herdeiros da promessa Abraâmica, como podemos ignorar que a própria promessa original incluía explicitamente os filhos? A unidade do pacto sugere fortemente a unidade da estrutura familiar da aliança.

3. Trigo e Joio: Acolhendo na Igreja com Fé e Caridade

Se a Igreja é a comunidade visível do pacto na terra, quem tem o direito de ser membro? Esta é uma questão prática crucial. 

Aqui, precisamos entender a distinção entre a Igreja invisível (o conjunto de todos os verdadeiros eleitos, conhecidos apenas por Deus) e a Igreja visível (a comunidade organizada na terra, que inclui crentes genuínos e outros que apenas professam a fé).

Jesus nos ensinou na parábola do trigo e do joio que a Igreja visível sempre será uma comunidade mista. Nossa tarefa não é tentar "arrancar o joio", pois não temos a capacidade de julgar o coração. Deus não nos deu essa tarefa impossível.

Portanto, como administramos a entrada na Igreja visível? Fazemo-lo com base no que o teólogo B.B. Warfield chamou de "presunção caridosa".

Quando um adulto se converte, nós o acolhemos e batizamos com base em sua profissão de fé. Não sabemos com certeza infalível se ele é regenerado, mas presumimos caridosamente que sua confissão é genuína. Nós o tratamos como um membro do pacto.

O mesmo princípio se aplica aos filhos dos crentes. Nós os acolhemos e batizamos não porque sabemos que eles serão salvos, mas com base na presunção caridosa de que a promessa de Deus para eles é verdadeira. 

Eles nasceram na comunidade do pacto e são herdeiros da promessa. Nós os tratamos como aquilo que Deus diz que eles são: parte do Seu povo.

Aplicação

  • Pratique a caridade e a humildade. A realidade da Igreja visível nos chama a ser pacientes e graciosos uns com os outros, sabendo que todos nós estamos em uma jornada de crescimento e que não nos cabe fazer julgamentos finais sobre a salvação de alguém.
  • Entenda o propósito da membresia da igreja. Ser membro da igreja visível é um privilégio que nos coloca sob o cuidado pastoral, a instrução da Palavra e os meios de graça. É o lugar onde nossa fé (e a de nossos filhos) é nutrida.
  • Reconheça a consistência da lógica. Se batizamos adultos com base na presunção de sua fé, é perfeitamente consistente batizar os filhos dos crentes com base na presunção da promessa de Deus para eles. Ambos os atos são um acolhimento na família visível de Deus, feito com fé e esperança.

Conclusão

A Igreja não é um plano B. É a continuação da única e eterna família de Deus, a oliveira que tem suas raízes no pacto com Abraão. Crentes de todas as nações foram enxertados nesta mesma árvore, tornando-se herdeiros da mesma promessa.

Dentro desta comunidade visível, acolhemos os outros com uma presunção caridosa: os adultos por sua profissão de fé e as crianças pela promessa de Deus.

Esta visão unificada da Bíblia nos dá o contexto para entender os sacramentos. Eles não são rituais vazios, mas sinais e selos da pertença a esta gloriosa comunidade pactual.

Com esta compreensão da identidade da Igreja, estamos agora prontos para examinar mais de perto a natureza e o propósito destes sinais da aliança — a circuncisão e o batismo — e como eles se aplicam a nós e aos nossos filhos hoje.


Lista de estudos da série

1. O erro que todos cometem sobre o batismo: Descubra por que os pactos de Deus são o alicerce de tudo – Estudo Bíblico sobre a Aliança

2. Dentro ou fora do rebanho?: O padrão bíblico ininterrupto que inclui seus filhos na promessa – Estudo Bíblico sobre os Herdeiros da Aliança

3. O legado que você não escolheu: Como a graça transforma a família no canal da bênção de Deus – Estudo Bíblico sobre a Família na Aliança

4. A imagem que une toda a Bíblia: Por que a Igreja é a oliveira de Deus desde Abraão – Estudo Bíblico sobre a Continuidade da Igreja

5. O segredo das palavras visíveis de Deus: O que os sacramentos realmente são e por que eles fortalecem sua fé – Estudo Bíblico sobre Sacramentos

6. A pista escondida em Colossenses 2: Por que a circuncisão é o modelo para entender o batismo hoje – Estudo Bíblico sobre Circuncisão e Batismo

7. O que a Bíblia não diz (e por que isso muda tudo): Pistas apostólicas sobre o batismo de crianças no Novo Testamento – Estudo Bíblico sobre a Prática Neotestamentária

8. O interruptor que não existe: Por que a fé de uma criança pode crescer como uma semente (e sua responsabilidade nisso) – Estudo Bíblico sobre Discipulado Pactual

9. O código secreto da purificação: O que os rituais do Antigo Testamento revelam sobre o modo do batismo – Estudo Bíblico sobre Aspersão

10. A verdade sobre o batismo de João: Por que ele não é o modelo para o batismo cristão que você imaginava – Estudo Bíblico sobre João Batista

11. A palavra grega que engana a todos: O verdadeiro significado de "baptizo" e a liberdade que a Bíblia lhe dá – Estudo Bíblico sobre o Modo Cristão

12. Muito além de ser sepultado: A verdade chocante de Romanos 6 sobre o que realmente é o batismo – Estudo Bíblico sobre União com Cristo

13. O poder da dupla purificação: Como a água do batismo simboliza o Espírito e o sangue de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Simbolismo da Água

14. Detetives em Atos: Pistas práticas que revelam como os apóstolos realmente batizavam – Estudo Bíblico sobre as Evidências em Atos

15. Imersão ou aspersão? A pergunta errada: Por que a liberdade na forma revela a unidade da fé na aliança – Estudo Bíblico Final da Série

Semeando Vida

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