Após uma profunda jornada pela teologia dos pactos, pela identidade da Igreja e pela natureza dos sacramentos, chegamos agora à aplicação mais terna e prática de todas: e os nossos filhos?
Qual é, realisticamente, a capacidade de uma criança para receber a graça salvadora de Deus?
Muitas vezes, operamos sob a suposição de que a fé é um evento exclusivo para adultos, algo que acontece em um momento de crise ou decisão madura.
Mas e se a lógica da aliança nos apresentar uma visão diferente? E se a fé, para um filho da aliança, for menos como um interruptor que se liga e mais como uma semente que brota e cresce em um solo bem cuidado?
A Bíblia nos ensina que nossos filhos não são meramente projetos de evangelismo, mas herdeiros da promessa, capazes de conhecer e amar a Deus desde tenra idade.
Neste estudo, vamos explorar o que significa criar filhos dentro da realidade do Pacto de Graça. A pergunta que nos guiará é: Como a aliança de Deus molda nossa visão da vida espiritual de nossos filhos e define nossas responsabilidades como pais e como Igreja?
Esta é a aplicação vital, onde a teologia se torna discipulado diário.
1. Crescendo na Graça: A Fé como uma Semente, não um Interruptor
A vida cristã de um filho da aliança não precisa, necessariamente, começar com um momento dramático de conversão na adolescência ou na vida adulta. Pelo contrário, a norma bíblica é que ele pode "crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2 Pedro 3:18) desde o início.
Assim como Samuel "crescia... na presença do SENHOR" (1 Samuel 2:21), uma criança criada em um lar pactual pode aprender a confiar em seu Pai Celestial de forma tão natural quanto aprende a confiar em seus pais terrenos.
A fé pode crescer com o entendimento, de modo que nunca haja um dia em que ela não tenha conhecido e amado a Jesus, dentro de sua capacidade.
Isso não nega a realidade do pecado ou a necessidade de arrependimento e fé pessoais. Significa que, à medida que a criança se torna consciente de seu pecado, ela também se torna consciente de um Salvador que sempre lhe foi apresentado.
O arrependimento e a fé tornam-se uma resposta disciplinada e contínua, em vez de um evento único e isolado. É o cumprimento da promessa do Salmo:
Salmo 103.17-18
Mas a misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos; sobre aqueles que guardam o seu pacto e sobre os que se lembram dos seus mandamentos para os cumprirem.
A fidelidade de Deus se estende de geração em geração sobre aqueles que vivem dentro de Sua aliança.
Aplicação
- Ajuste suas expectativas. Em vez de esperar por uma crise de conversão, celebre os pequenos sinais da obra da graça no coração do seu filho: uma pergunta sincera sobre Deus, um ato de bondade, uma oração espontânea. Nutra a semente em vez de apenas esperar pela árvore adulta.
- Faça da fé a atmosfera da sua casa. A fé cresce melhor quando não está confinada a uma lição de escola dominical. Fale sobre Jesus no carro, ore sobre as preocupações do dia, peça perdão quando errar. Deixe que seus filhos respirem o evangelho.
- Ensine-os sobre o batismo deles. Lembre-os regularmente: "Deus colocou o sinal dEle em você. Ele o marcou como pertencente à Sua família. Ele o ama e o chama para confiar Nele." O batismo se torna um meio de graça contínuo, um ponto de referência para a identidade deles em Cristo.
2. O Privilégio Soberano de Deus: A Cidadania no Reino
Talvez nos sintamos desconfortáveis com a ideia de "incluir" uma criança na aliança antes que ela possa escolher. Mas Deus opera por um princípio soberano de graça. O autor usa duas analogias poderosas:
Assim como um pai dá o seu nome a um filho no nascimento, sem pedir permissão, Deus tem o direito de dar o Seu nome pactual aos filhos de Seu povo.
Assim como um país concede cidadania a um bebê nascido em seu território, colocando-o sob sua proteção e leis, Deus tem o direito de incluir as crianças dos crentes em Sua nação santa, a Igreja.
Isso não é um ato de coerção, mas a mais alta expressão de amor e graça. Deus não espera que nossos filhos o alcancem; Ele se inclina e os reivindica como Seus desde o início, oferecendo-lhes a maior bênção possível: pertencer a Ele.
Acusar Deus por isso seria como acusar pais amorosos por cuidarem de seus filhos antes que eles possam pedir. É a prerrogativa soberana do amor.
Aplicação
- Abandone o medo de "forçar" a fé. Você não está forçando, está presenteando. Você está dando a seus filhos o presente de uma identidade pactual, de uma cidadania celestial, de um nome de família. É o melhor começo que eles poderiam ter.
- Trate seus filhos como cidadãos, não como estrangeiros. Fale com eles sobre "nosso" Deus, "nossa" Igreja, "nossa" esperança. Inclua-os. Eles não são visitantes na casa de Deus; eles pertencem a ela por direito de nascença pactual.
- Descanse na iniciativa de Deus. A salvação de seus filhos não começa com a decisão deles, mas com a eleição e a graça de Deus. Isso deve tirar um peso de seus ombros e enchê-lo de esperança, sabendo que Deus está ativamente buscando seus filhos.
3. A Resposta da Aliança: Responsabilidade e Direitos Espirituais
Esse imenso privilégio vem acompanhado de uma grande responsabilidade. Um filho da aliança que, ao amadurecer, escolhe rejeitar a Cristo, não é um pagão neutro. Ele se torna um "quebrantador do pacto", alguém que desprezou sua herança. Maior privilégio acarreta maior responsabilidade.
Mas antes de falarmos da responsabilidade do filho, precisamos falar sobre seus direitos espirituais, que são selados em seu batismo. O batismo não é apenas um sinal da nossa dedicação, mas um sinal das obrigações que Deus coloca sobre os pais e a Igreja. Seu filho batizado tem direitos:
- O direito de ser ensinado sobre o Deus cujo nome ele carrega.
- O direito à comunhão com o povo de Deus, a Igreja.
- O direito de ser guiado à fé no Salvador, que o reivindicou como Seu.
- O direito às suas orações e ao seu exemplo de fidelidade pactual.
Negligenciar esses direitos é infringir a própria aliança. O batismo de uma criança é um chamado solene para que os pais e toda a congregação cumpram seu dever, confiando que Deus cumprirá Sua promessa.
Aplicação
- Para os Pais: Vejam a criação de filhos como o cumprimento de um voto sagrado. Vocês são os guardiões dos direitos espirituais de seus filhos. Estão vocês ensinando a Palavra diligentemente? Estão orando por eles fielmente? Estão modelando o arrependimento e a fé?
- Para a Igreja: A congregação é a "madrinha" espiritual da criança. A igreja tem a responsabilidade de criar um ambiente seguro e nutritivo, de apoiar os pais, de prover ensino de qualidade e de amar essas crianças como seus próprios membros valiosos.
- Para a Criança (ao crescer): O chamado para você não é criar uma fé do nada, mas confirmar a aliança na qual você nasceu. É abraçar pessoalmente o Salvador que o amou e o chamou pelo nome antes mesmo que você soubesse.
Conclusão
A visão pactual da fé transforma tudo. Ela nos tira da esteira de ansiedade e desempenho e nos coloca no terreno firme da promessa de Deus.
Ela nos ensina que nossos filhos são capazes de receber a graça de Deus e que Ele designou a família e a Igreja como o jardim onde essa fé deve florescer.
Longe de ser uma prática vazia, o batismo infantil é um dos atos mais cheios de esperança e significado da vida cristã. É a declaração de Deus de que Sua misericórdia se estende às nossas gerações.
É o nosso ato de fé, colocando nossos filhos nos braços de Jesus. E é o chamado para uma vida inteira de discipulado fiel, confiando que Aquele que começou a boa obra em nossa família é fiel para completá-la.
Lista de estudos da série
1. O erro que todos cometem sobre o batismo: Descubra por que os pactos de Deus são o alicerce de tudo – Estudo Bíblico sobre a Aliança2. Dentro ou fora do rebanho?: O padrão bíblico ininterrupto que inclui seus filhos na promessa – Estudo Bíblico sobre os Herdeiros da Aliança
3. O legado que você não escolheu: Como a graça transforma a família no canal da bênção de Deus – Estudo Bíblico sobre a Família na Aliança
4. A imagem que une toda a Bíblia: Por que a Igreja é a oliveira de Deus desde Abraão – Estudo Bíblico sobre a Continuidade da Igreja
5. O segredo das palavras visíveis de Deus: O que os sacramentos realmente são e por que eles fortalecem sua fé – Estudo Bíblico sobre Sacramentos
6. A pista escondida em Colossenses 2: Por que a circuncisão é o modelo para entender o batismo hoje – Estudo Bíblico sobre Circuncisão e Batismo
7. O que a Bíblia não diz (e por que isso muda tudo): Pistas apostólicas sobre o batismo de crianças no Novo Testamento – Estudo Bíblico sobre a Prática Neotestamentária
8. O interruptor que não existe: Por que a fé de uma criança pode crescer como uma semente (e sua responsabilidade nisso) – Estudo Bíblico sobre Discipulado Pactual
9. O código secreto da purificação: O que os rituais do Antigo Testamento revelam sobre o modo do batismo – Estudo Bíblico sobre Aspersão
10. A verdade sobre o batismo de João: Por que ele não é o modelo para o batismo cristão que você imaginava – Estudo Bíblico sobre João Batista
11. A palavra grega que engana a todos: O verdadeiro significado de "baptizo" e a liberdade que a Bíblia lhe dá – Estudo Bíblico sobre o Modo Cristão
12. Muito além de ser sepultado: A verdade chocante de Romanos 6 sobre o que realmente é o batismo – Estudo Bíblico sobre União com Cristo
13. O poder da dupla purificação: Como a água do batismo simboliza o Espírito e o sangue de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Simbolismo da Água
14. Detetives em Atos: Pistas práticas que revelam como os apóstolos realmente batizavam – Estudo Bíblico sobre as Evidências em Atos
15. Imersão ou aspersão? A pergunta errada: Por que a liberdade na forma revela a unidade da fé na aliança – Estudo Bíblico Final da Série