O perigo de ignorar a correção de Deus: como responder corretamente à disciplina de um Pai amoroso — Sermão sobre Hebreus 12.5

Hebreus 12.5
E vocês se esqueceram da palavra de encorajamento que ele lhes dirige como a filhos: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se desanime quando por ele for repreendido.”

Introdução

Uma coisa precisa ficar absolutamente clara desde o início: um filho de Deus, alguém que foi salvo por Jesus, jamais será punido por seus pecados no sentido judicial.

Deus já derramou toda a punição merecida sobre Cristo na cruz. Jesus, nosso substituto, pagou a conta completa. Por isso, nem a justiça nem o amor de Deus podem cobrar de nós uma dívida que já foi quitada.

No entanto, embora não possamos ser punidos, nós podemos e seremos disciplinados. Não somos mais criminosos diante de um juiz, mas nos tornamos filhos diante de um Pai. E como todo bom pai, ele nos corrige quando agimos de forma tola ou rebelde.

É crucial entender a diferença entre punição e disciplina. A dor pode ser a mesma. A dificuldade que um incrédulo enfrenta como punição pode parecer idêntica à que um crente enfrenta como disciplina. A diferença não está no sofrimento, mas na intenção do coração de Deus e na nossa posição diante dele.

Deus pune o pecador para satisfazer sua justiça e honrar sua lei. Mas ele disciplina o crente para o nosso próprio bem, para o nosso crescimento. A disciplina não é para vingar a Deus, mas para restaurar você. É para o nosso proveito.

Além disso, a punição é aplicada com ira. A disciplina, por outro lado, é aplicada com amor. Cada golpe da vara de Deus foi antes mergulhado em profunda afeição. Ele não nos aflige por prazer, mas porque nos ama demais para nos deixar continuar em um caminho que nos traria uma miséria ainda maior.

Portanto, guarde isto: seja qual for a sua luta, sua dor ou sua perda, não há nada de punitivo nela. Nunca diga: "Deus está me castigando pelo meu pecado". Você caiu da fé quando pensa assim. Deus já fez isso em Cristo. Ele não está punindo você, está disciplinando. Não é um golpe de ira, é a correção de um Pai.

Talvez hoje você esteja passando pela mão disciplinadora de Deus. Esta mensagem é para você. Mas se não estiver, guarde-a, pois um dia você precisará dela, e estas palavras serão como um bálsamo para sua alma.

O texto nos alerta sobre dois perigos extremos para quem está sendo disciplinado. O primeiro é: "não despreze a disciplina do Senhor". O segundo é: "nem se desanime quando por ele for repreendido". Um erro leva ao orgulho, o outro ao desespero. Nosso caminho é o equilíbrio entre esses dois abismos.

1. O perigo de desprezar a disciplina de Deus

Podemos desprezar a correção do Pai de várias maneiras, e vamos analisar cada uma delas.

A. Quando murmuramos contra ela

Quando um filho de Deus sente o primeiro toque da vara, sua reação inicial pode ser como a de um boi selvagem que nunca sentiu o peso do arado. Ele se debate, reclama, não consegue suportar.

Nós nos viramos para o nosso Pai e perguntamos: "Por que eu? O que eu fiz para merecer isso? Por que estou sofrendo tanto?". Podemos não dizer com os lábios, mas nosso coração grita. Olhamos ao redor com inveja, pensando: "A vida de todo mundo é mais fácil que a minha. Ninguém sofre como eu."

Sim, mesmo no meio do povo de Deus, existem murmuradores. Quando a disciplina vem, em vez de nos humilharmos, nós reclamamos. Uma pequena dor de cabeça e já achamos que o mundo está desabando. Uma perda financeira e já acusamos Deus de ser cruel. A perda de um ente querido e pensamos: "Deus tirou tudo de mim!".

Mas, ó murmurador, pense um pouco. Deus poderia tratá-lo com mais dureza do que você merece? Lembre-se do rebelde que você era antes de ele o perdoar. Se agora ele aplica a vara, por que reclamar? Os golpes dele não são muito menores que os seus pecados?

Pense na corrupção que ainda existe em seu coração. Você realmente acha que o fogo está quente demais para queimar tanta impureza? Se você murmura, é sinal de que a disciplina ainda não fez seu trabalho completo. Cuidado, pois Deus costuma disciplinar em dobro aqueles que não recebem a primeira correção com paciência.

B. Quando achamos que ela não tem utilidade

É engraçado como vemos a "providência" de Deus. Se um parente distante morre e nos deixa uma herança, que providência maravilhosa! Se fechamos um grande negócio, é a bênção de Deus! Se escapamos de um acidente, é um milagre!

Mas e se perdermos dinheiro? Isso não é providência? E se a empresa falir? E se, no acidente, quebrarmos uma perna? Também não é a mão de Deus agindo? A dificuldade é que só chamamos de providência o que nos agrada.

Você pode estar pensando: "De que adianta essa provação? Não vejo como isso pode me ajudar. Eu estava crescendo na fé, e agora essa dificuldade veio e jogou um balde de água fria em tudo. Eu estava no monte da confiança, e Deus me jogou no vale da humilhação. Como isso pode ser bom?".

Quando você diz isso, está desprezando a disciplina do Senhor. Nenhuma criança acha que a vara tem algum valor. Para ela, é o objeto mais inútil da casa. E é assim que vemos a provação. Mas quem é você, com sua sabedoria finita, para dizer a Deus que ele está sendo insensato? Aquele que é sábio demais para errar e bom demais para ser cruel?

Não diga isso. Curve-se diante da sabedoria dele e confie. Acredite que na escuridão, ele está produzindo luz. Nas minas profundas da dor, ele está formando diamantes. O caminho dele pode ser no meio do furacão, mas ele tem um caminho, e é um caminho bom e justo.

C. Quando a consideramos uma desonra

Muitos cristãos acham que ser perseguido por causa da fé é uma desonra. Um jovem está em um emprego onde os colegas zombam dele, chamando-o de "crente", "fanático" ou "careta". Por um tempo ele suporta, mas começa a sentir vergonha. Aos poucos, vencido pelos insultos, ele abandona sua fé, porque a reprovação de Cristo se tornou uma vergonha para ele.

Meu filho, se você faz isso, você despreza a disciplina do Senhor. A zombaria por causa de Cristo não é uma desonra, é a maior honra que um homem pode receber. Alguns de vocês acham a religião ótima enquanto ela permite que você ande em ambientes "respeitáveis". Mas quando ela atrai o riso do mundo, você a considera vergonhosa.

Eu lhe digo: o maior troféu de um homem é ser disciplinado por amor a Deus. Quando falam mal de nós, não anotamos no livro da vergonha, mas no memorial da glória. As zombarias deles são como medalhas para nós. Quem está no centro da batalha receberá a maior glória no final. Os grandes guerreiros não ficavam nas beiradas; eles avançavam para o centro, para o lugar mais perigoso.

Conte como uma honra estar na parte mais quente da batalha. Não tenha medo, seu escudo é Deus. Se você recuar, estará desprezando a cruz de Cristo.

D. Quando não buscamos mudar por meio dela

Muitas pessoas são corrigidas por Deus, mas a correção é em vão. Conheço cristãos que cometeram um erro, e Deus, com a vara da disciplina, mostrou-lhes esse erro. Eles sentiram o golpe, viram o pecado, mas nunca o corrigiram. Isso é desprezar a disciplina.

Quando um pai corrige um filho por algo que ele fez, e o menino vai e faz a mesma coisa de novo, ele está zombando da correção do pai. Assim, muitos de nós temos um erro em nossas vidas, somos disciplinados por causa dele, e ainda assim voltamos a cometê-lo.

Muitos de nós sofremos o dobro do necessário simplesmente porque não paramos para examinar a causa. É como caminhar por quilômetros mancando, com dor, porque há uma pedrinha dentro do sapato, mas nunca paramos para tirá-la. Muitos cristãos vivem a vida toda mancando por causa de "pedrinhas" que se recusam a remover. Qual é o pecado que está causando sua dor? Livre-se dele.

E. Quando desprezamos os que estão sendo disciplinados

Você olha para aquela irmã idosa, acamada há anos, e pensa: "De que adianta ela na igreja? Seria uma misericórdia se ela partisse". Ou talvez você veja aquele irmão que está sempre passando por lutas, sempre triste, e o evita, preferindo a companhia dos cristãos alegres e vitoriosos.

Se você pensa assim, meu filho, você está desprezando os disciplinados do Senhor e, por consequência, o próprio Deus que os disciplina. Aquela pessoa que está sofrendo carrega uma sabedoria que você nem imagina. Por trás das roupas de luto, ela veste uma armadura de luz. Aprendi mais com os filhos de Deus mais provados do que com qualquer outra pessoa.

Um homem simples do campo, que passou por muitas lutas, me disse algo genial. Ele estava sendo atormentado por Satanás, que listava todos os seus pecados. Finalmente, ele disse ao diabo: "Escute aqui, seu malandro! Eu não transferi todo o meu negócio para Jesus Cristo há muito tempo, com todas as dívidas incobráveis e tudo? Que direito você tem de vir me cobrar? Eu entreguei tudo a ele. Vá falar com o meu Mestre sobre isso, não venha me incomodar!".

Essa é a verdade! Nós transferimos tudo para Cristo. Todas as nossas dívidas, todo o nosso passado. Então, quando Satanás ou a consciência vierem nos acusar, podemos simplesmente dizer: "Vá falar com meu Advogado. Ele resolve essa conta". Não se envergonhe de andar com os que sofrem.

Aplicação Prática

  • Examine seu coração: Você tem reclamado de Deus ou se comparado com outros? Peça perdão pela murmuração e adote uma postura de gratidão, mesmo na dor.
  • Busque o propósito: Em vez de perguntar "Por que eu?", pergunte "O que o senhor quer me ensinar com isso?". Faça uma lista das possíveis lições que Deus pode estar lhe dando nesta fase.
  • Encare a perseguição como uma honra: Se você está sendo zombado por sua fé, agradeça a Deus. Você está compartilhando uma pequena parte do que Cristo sofreu. Isso é um sinal de que você está no caminho certo.
  • Tire a pedra do sapato: Qual pecado ou atitude Deus tem apontado em sua vida através desta dificuldade? Tome uma decisão prática e imediata para abandoná-lo.
  • Aproxime-se dos que sofrem: Identifique alguém em sua comunidade que está passando por uma grande provação. Em vez de evitá-lo, procure-o, ouça-o e ofereça seu apoio.

2. O perigo de desmaiar sob a disciplina de Deus

Se por um lado não devemos ser orgulhosos e dizer "não me importo com a vara", por outro, não devemos desmaiar e desistir de tudo porque o Senhor nos corrige.

A. Quando paralisamos e desistimos de tudo

Você já viu isso acontecer. Havia uma irmã que servia a Deus com alegria. Era ativa na igreja, ensinava as crianças, evangelizava. De repente, ela perdeu a certeza da salvação. Sua fé vacilou. E o que ela fez? Parou de ir à igreja, abandonou seus ministérios, não faz mais nada para Deus.

Se você pergunta o porquê, ela diz que a mão de Deus está pesada sobre ela e que não consegue fazer mais nada. Ela está como alguém que desmaiou: imóvel, paralisada. Muitos de nós, por não sentirmos o conforto que gostaríamos, simplesmente paramos de agir.

Isso se parece muito com filhos birrentos. Porque Deus não está fazendo as coisas do nosso jeito, cruzamos os braços e dizemos: "Então não brinco mais". 

Porque não podemos estar sempre na frente, liderando e recebendo os aplausos, nos recusamos a servir nos bastidores. Quando a disciplina vier, em vez de parar, deveríamos acelerar, buscando fazer a vontade do Pai ainda com mais dedicação.

B. Quando duvidamos que somos filhos de Deus

Este é um erro muito comum. Assim que o Pai levanta a vara, nós concluímos: "Ele não é meu Pai. Se eu fosse realmente um filho, isso não estaria acontecendo comigo".

Esquecemos que "é por meio de muitas tribulações que devemos entrar no Reino de Deus" e que não há um único filho a quem o Pai não discipline. 

Você está dizendo hoje: "Não posso ser um filho de Deus, ou eu não estaria nesta situação de miséria". Não fale tolices! A provação é mais uma prova da sua adoção do que o contrário. Lembre-se do que a Bíblia diz: se não somos disciplinados, somos bastardos, e não filhos.

O pastor Cecil foi visitar seu amigo, Williams, que passava por uma grande tribulação. Ao chegar, Cecil o encontrou com o coração partido, pois seu filho estava morrendo. 

Cecil disse: "Graças a Deus! Eu estava preocupado com você. Sua vida tem sido tão próspera que eu temi que meu Pai tivesse se esquecido de você. Agora sei que ele se lembra". 

Embora parecesse duro no momento, Williams entendeu depois que aquilo era uma prova do amor de Deus.

C. Quando pensamos que a provação nunca vai acabar

Alguém diz: "Há três meses estou lutando contra este problema, e não consigo sair". Outro pensa: "Há um ano que oro por livramento, mas ele não vem. Acho que vou desistir. Deus não cumpre suas promessas".

Que absurdo! Falar assim do seu Pai! Só porque ele o disciplinou por um tempo, você acha que ele nunca vai parar? Pelo contrário, diga: "Já que durou tanto, o livramento deve estar perto!". 

Quando alguém está perdido em uma floresta escura, o que ele faz? Continua andando, porque sabe que uma hora a floresta vai acabar. E, se for sábio, ele sobe na árvore mais alta para tentar ver a saída.

É isso que você deve fazer. Suba na árvore de uma promessa de Deus. De lá, você verá os campos verdes do outro lado da floresta. As correntes que prendem suas mãos podem não ser quebradas por seus dedos fracos, mas o martelo do Todo-Poderoso pode esmigalhá-las em um instante.

Aplicação Prática

  • Continue em movimento: Se a dor fez você parar de servir, orar ou ler a Bíblia, dê um passo de fé hoje. Mesmo que seja pequeno. Cante um louvor, mesmo sem vontade. Faça uma oração, mesmo que curta. Não deixe a paralisia vencer.
  • Reafirme sua identidade: Memorize Hebreus 12.8: "Se vocês não são disciplinados, ... então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos". Escreva este versículo e coloque-o onde você possa vê-lo todos os dias. Sua dor é uma prova do seu pertencimento.
  • Agarre-se a uma promessa: Encontre na Bíblia uma promessa que se aplique diretamente à sua situação de desespero. Escreva-a, medite nela e ore com base nela até que a esperança renasça em seu coração.

Conclusão

Que filho há a quem o Pai não discipline? Perguntem aos profetas, aos homens que falaram a Palavra de Deus: algum de vocês escapou da correção? Isaías, Jeremias, Daniel... todos responderão em uníssono: "Nenhum de nós!".

Perguntem aos reis, aos homens segundo o coração de Deus, como Davi: você escapou da disciplina? Ele responderá sobre como teve que fugir e chorar por seus próprios pecados.

Perguntem à multidão de salvos que já estão na glória: algum de vocês chegou aí sem uma cicatriz da vara do Pai? E todos dirão que não.

Finalmente, perguntemos ao Filho por excelência, o Primogênito de toda a família. Você, Jesus, o Filho sem pecado, escapou da disciplina? E os céus e a terra respondem: "O castigo que nos trouxe a paz estava sobre ele, e por suas feridas fomos curados". Ele, o Filho perfeito, sofreu mais do que todos nós juntos.

Por isso, "meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem desmaie quando por ele for repreendido".

E para você que está sofrendo e não tem um relacionamento com Deus, eu pergunto: onde você encontra consolo? O cristão o encontra no fato de que é um filho amado, e que a aflição coopera para o seu bem. Mas e você?

Sempre me perguntei como as pessoas sem fé sobrevivem às tragédias da vida. O que faz uma pessoa sem Deus quando perde um filho, quando recebe um diagnóstico terminal, quando o casamento acaba? 

Meu amigo, mesmo que não houvesse céu ou inferno, eu lhe recomendaria a fé em Cristo. Só pela felicidade e pela força que ela nos dá nesta vida, já valeria a pena. O que quebraria suas costas, para nós é um fardo leve. O que destruiria seu espírito, para nós é uma "leve e momentânea tribulação". 

Na sua escuridão, nós temos luz. Entregue-se a Cristo, e você descobrirá que a vara da disciplina de um Pai é infinitamente mais doce do que a espada da justiça de um Juiz.


Adaptado do sermão "Chastisement" (nº 48), pregado por C. H. Spurgeon em 28 de Outubro de 1855, na Capela de New Park Street, Southwark.

Semeando Vida

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