Lá na minha cidade havia um negociante, o seu Manuel.
O jornal chegava de dois em dois dias, de sorte que, para quem tinha o hábito de ler, era necessário bem um meio dia para dar conta de tudo.
O seu Manuel, quando estava lendo o jornal, não permitia que nada o interrompesse.
Um dia, no melhor da leitura, chegou uma menina e perguntou: "Seu Manuel, tem bacalhau?"
Sem nem levantar os olhos do jornal, seu Manuel disse meio enfezado: "Vacalhau não tain."
"Ora, seu Manuel", disse a menina, "eu estou vendo o bacalhau ali em cima do balcão!"
"Olha cá, ó moçoila", respondeu seu Manuel, "quando digo que tain, tain. Quando digo que não tain, não tain."
E quando a menina ia se retirando, ele observou: "Volte cá daqui a pouco, que tain."
Autor: Samuel Barbosa
(Extraído do livro “Respingando – Crônicas e Memórias”, 1ª Edição – Rev. Samuel Barbosa)