Em Tietê, havia uma família, das mais queridas... Ganhei tanta confiança na família que visitava o Sr. João Madureira e sua esposa D. Mercedes - delicadeza em pessoa! D. Olívia morava com eles, após o tempo em que enviuvara.
Nestas visitas, eu orava pela família, e especificamente por ela. Ela sempre se referia aos meus artigos.
Um dia encontrei a D. Olívia e a família desesperada. Uma sua netinha, ou parente próxima, menininha inteligente e inquieta, falecera repentinamente.
Orei com eles, D. Olívia me falou:
-"O enterro será hoje às 14:00 horas, em Cerquilho, e eu queria que o Sr. falasse à saída. Eles são muito católicos, mas eu já obtive permissão para levar o pastor para pregar".
Aceitei o desafio. Família muito conceituada. Ao chegar, tive de pedir licença à multidão, ao aproximar-me do caixão em que jazia, afogado em flores, o corpinho da linda menina.
Eles rezavam o terço, num coro prolongado de "padres-nossos" e "aves-marias".
Terminada a reza, consultados os pais, que confirmaram o que me pedira a avó, tomei da palavra. Ao ler a Bíblia, de início, uma senhora grisalha, que acompanhara a reza, falou em alta voz:
-"Tirem o crucifixo e apaguem as velas".
Eu retruquei:
-"Não, minha senhora. As imagens e as velas podem continuar aqui. Elas são indiferentes".
A seguir, com o coração, falei ao coração daquela gente abalada. Meu discurso foi de uns 15 minutos, e todos bebiam o que eu falava.
O fato abalou muita gente. Acompanhei o caixãozinho branco, ajudando os que o transportavam até a entrada da matriz. No corpo foi aspergido água benta, por um jovem padre.
Eu ouvia falarem, murmurando: "Que diferença! Por que o padre não falou a tanta gente na matriz, como o pastor falou na saída?
Anos depois, muitos jovens da família Madureira se converteram, professando a fé em Jesus.
Se não me engano, D. Olívia ficou na mesma Igreja em que nasceu, talvez por respeito à família tradicionalmente católica. Tenho, porém, certeza que no interior da sua alma estava plantada a gloriosa semente da Palavra de Deus.
Autor: Lázaro Arruda
(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)