Depois de um dia cansativo, exaustivo, mesmo debaixo de um sol escaldante, com aquele cansaço gostoso de após banho de mar voltamos para o hotel.
Após o jantar o passeio faz bem. A noite estava quente e o carro corria velozmente, silencioso entre as árvores que marginavam a estrada.
De repente o motor começou a falhar até que parou de todo.
Aí então é que notei que não estava só. Ao lado da estrada, num descampado, estava a "coisa". Seria um disco voador? Só poderia ser, pois está na moda agora! Eles aparecem para qualquer um, bem que poderiam aparecer para mim, que também sou qualquer um.
Desceram uns homúnculos, roupas coloridas, pele clara, meio luminosa, malares salientes. Sem que dissessem uma só palavra eu entendia tudo o que eles "diziam".
Convidaram-me para entrar naquela geringonça. Entrei. Um salão espaçoso, luxuosamente mobiliado, dava a impressão de estar num transatlântico de luxo. Sentei-me e perguntei, meio tímido:
- De onde vocês são e o que querem de nós, simples mortais?
- Nós viemos da imaginação de vocês, simples mortais terráqueos. Vocês inventaram tantas histórias a respeito de discos voadores, que a imaginação de vocês se materializou e eis-nos aqui mais reais do que vocês próprios!
- Então vocês não existem, vocês não são habitantes de Venus ou de algum outro planeta perdido por aí?
- Que nada. Tem um cara aí (eles já usam gíria humana) que escreveu um livro chamado "Eram os Deuses Astronautas".
As pessoas se entusiasmaram tanto pelo livro que acabaram aceitando verdadeiras fantasias como realidade, ao mesmo tempo que passaram a encarar a realidade como fantasia!
Muita violência se tem feito até na exegese e tradução de textos bíblicos para ajeitá-los à teoria dos discos-voadores. Alguém escreveu alhures que a palavra "nuvem" que aparece várias vezes no velho testamento e que se compõe de três consoantes, Nu-Vav-Mu teve trocado o primeiro som vocálico que seria "a" e não "u". Então essa mágica permitiu que a palavra nuvem se transformasse em navem. Vocês, humanos, não têm jeito mesmo!
- Mas vocês têm aparecido para tanta gente, inclusive gente circunspecta, gente séria! Se vocês não existem, como é que toda essa gente os tem visto e conversado com vocês?
- Mas essa "gente" a quem você se refere tem alguma prova de que nos viu? De que falou conosco? Tudo o que essa "gente" tem para garantia de suas afirmações é a própria palavra que, diga-se de passagem, hoje em dia, está valendo quase nada, concorda comigo?
Então pensei cá comigo: Vou exigir uma prova deste encontro e deste diálogo.
- Gostaria que vocês me dessem uma prova mais concreta deste nosso diálogo para que pudessem acreditarem mim, sem precisarem acreditar apenas em minhas palavras! É possível?
- Como não? Respondeu-me um deles. Apanhe esse objeto aí no chão ao lado.
Abaixei-me para pegar o tal objeto e aí caí com a cara no assoalho. Eu havia adormecido depois do jantar. Creio que o camarão não estava muito bom. É, o mundo está cheio de sonhadores! Eram os deuses astronautas? Pois sim!
Autor: Samuel Barbosa
(Extraído do livro “Respingando – Crônicas e Memórias”, 1ª Edição – Rev. Samuel Barbosa)