O que as nuvens nos ensinam sobre Deus: encontrando esperança e perspectiva no meio da tempestade — Sermão sobre Naum 1.3

Naum 1.3

Introdução

Vivemos na era da informação. Com alguns cliques, temos acesso a mais conhecimento do que todas as gerações anteriores somadas. Livros, artigos, vídeos, podcasts — é um oceano de dados ao nosso alcance. E isso é bom. O conhecimento, quando santificado por Deus, é uma ferramenta poderosa.

No entanto, existe o perigo de nos tornarmos tão dependentes do que os outros escreveram que nos esquecemos de ler os grandes livros que o próprio Deus nos deu. 

O primeiro, claro, é a sua Palavra, a Bíblia. Mas há outros dois que muitas vezes negligenciamos: o grande livro da natureza e o complexo livro do coração humano.

Podemos aprender muito sobre Deus observando sua criação. Seja lendo seu nome nas estrelas ou ouvindo sua voz no barulho das ondas, a natureza está cheia de lições. 

E podemos aprender ainda mais sobre a humanidade e a necessidade da graça ao estudar nosso próprio coração e ao conversar honestamente com as pessoas ao nosso redor.

Recentemente, tirei um tempo para simplesmente observar as nuvens. E enquanto elas se moviam pelo céu, grandiosas e em constante mudança, a Palavra de Deus me trouxe este versículo surpreendente: "as nuvens são a poeira dos seus pés". 

Uma imagem tão poderosa que nos força a repensar tudo. Hoje, quero compartilhar com vocês as lições que aprendi meditando nessa verdade.

1. O caminho oculto de Deus

O texto de Naum está inserido em um contexto de majestade e mistério: "O Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são a poeira dos seus pés". A primeira lição é clara: o modo como Deus age é, geralmente, um mistério para nós.

Se as nuvens, que para nós podem cobrir todo o céu e esconder o sol, são apenas a poeira levantada pelos pés de Deus, imagine a densa escuridão que encobre o próprio Deus! Seus movimentos são profundos, seus caminhos, insondáveis.

Pense na história da salvação. Por quatro mil anos, Deus escondeu o plano completo em sombras e profecias. O sacrifício de um cordeiro apontava para Cristo, mas também velava a clareza do evangelho. 

Os anjos desejavam entender, mas só no Calvário o mistério de como Deus podia ser justo e justificador do ímpio foi plenamente revelado. Deus sempre se move envolto em nuvens.

O mesmo acontece na providência, tanto na história mundial quanto em nossa vida pessoal. Estamos sempre querendo saber o que Deus está fazendo. Vemos uma crise econômica global, uma polarização política crescente, uma pandemia, e perguntamos: "Deus, qual é o plano aqui?".

É como olhar para dentro de um smartphone. Vemos o aparelho funcionar perfeitamente, mas se o abrirmos, encontramos uma rede complexa de circuitos, chips e códigos que não faz o menor sentido para nós. 

Cada peça tem uma função específica, e todas trabalham juntas para um propósito final, mas seria impossível explicar a função de cada microcomponente isoladamente. Deus é o engenheiro mestre, e "todas as coisas cooperam para o bem" daqueles que o amam, mas tentar entender cada peça do processo é inútil.

No entanto, nós insistimos. O filho morre no berço, e perguntamos "Por quê?". O emprego é perdido, e questionamos: "Onde o senhor estava?". O diagnóstico médico chega, e clamamos: "Isso não é justo!". 

Pedimos a Deus uma explicação, mas ele não nos dará um mapa detalhado, por uma simples razão: não teríamos capacidade para entendê-lo. É o suficiente saber que o engenheiro é bom e que seu projeto final é perfeito.

Aplicação Prática

  • Confie no engenheiro, não no manual: Em vez de exigir que Deus lhe mostre o "manual de instruções" da sua vida, escolha confiar no caráter do engenheiro. Lembre-se de sua bondade e soberania passadas para fortalecer sua fé no presente.
  • Pare de perguntar "por quê?" e comece a perguntar "para quê?": A pergunta "por quê?" muitas vezes nos prende ao passado e à confusão. A pergunta "para quê?" nos move para o futuro e para o propósito de Deus. Ore: "Senhor, não entendo isso, mas me mostre para que propósito o senhor pode usar essa situação em minha vida."
  • Abrace o mistério: É um ato de humildade e adoração admitir que não sabemos tudo. Liberte-se da necessidade de controlar e entender cada detalhe. A verdadeira paz não vem de ter todas as respostas, mas de confiar naquele que as tem.

2. Nossas grandezas são pequenas para Deus

A segunda lição é uma questão de perspectiva. O que é imenso para nós, é insignificante para Deus. As nuvens nos parecem gigantescas. Elas podem se transformar em tempestades aterrorizantes, que causam inundações e estragos. Para nós, uma tempestade é um grande evento.

Mas para Deus? A nuvem mais ameaçadora é apenas um grão de poeira levantado por seus pés. As montanhas que nos intimidam são para ele "o pó da balança". As nações poderosas, com seus exércitos e economias, são como "uma gota num balde". Tudo o que nos parece grande é minúsculo para ele.

Isso deveria transformar a maneira como lidamos com nossos problemas. Chegamos diante de Deus curvados sob o peso de uma "grande" preocupação. 

"Senhor, é um problema enorme!". E Deus, em sua graça, poderia sorrir como um pai que vê seu filho pequeno tentando carregar um brinquedo que, para a criança, parece pesadíssimo, mas que o pai poderia levantar com um dedo.

Amigo, não existem "grandes" problemas. Existem apenas um grande Deus e pequenos problemas. O segredo da paz não está em ter menos fardos, mas em saber quem os carrega. Um cristão se desespera com seus fardos porque tenta carregá-los sozinho. 

O outro vive em paz porque aprendeu a lançar sua ansiedade sobre o Senhor, sabendo que os ombros eternos de Deus podem sustentar um peso que esmagaria nossas costas frágeis.

Essa verdade também nos dá esperança para a Igreja e para o mundo. Vemos nuvens escuras sobre a nossa nação: apatia espiritual, frieza, igrejas mais preocupadas com programas do que com o poder do Espírito. Olhamos para o mundo e vemos nuvens de idolatria, injustiça e incredulidade. É fácil se desesperar.

Mas lembre-se: "as nuvens são a poeira dos seus pés". Deus pode dissipá-las em um instante. Ele pode levantar uma geração de crentes cheios do Espírito que despertem a Igreja de seu sono. 

Ele pode usar as coisas mais improváveis — um testemunho, uma oração, uma crise — para derrubar fortalezas que pareciam indestrutíveis.

Aplicação Prática

  • Redimensione seu problema: Pegue o problema que mais o aflige agora e coloque-o ao lado da imagem de um Deus cujos pés levantam as nuvens como poeira. Faça isso em oração. Veja como a perspectiva muda.
  • Pratique a entrega: Identifique um fardo que você está carregando sozinho. Em um ato consciente de fé, diga em voz alta: "Senhor, este fardo é grande demais para mim, mas é poeira para o senhor. Eu o entrego em suas mãos agora."
  • Ore com ousadia pela Igreja: Em vez de apenas lamentar o estado da Igreja, ore com a confiança de que Deus pode soprar para longe as nuvens da apatia. Peça por um avivamento, crendo que, para ele, não há impossíveis.

3. As coisas terríveis perdem o terror para os filhos de Deus

A terceira lição é sobre o medo. Para um filho de Deus, até as coisas mais assustadoras da natureza perdem seu terror. Para um marinheiro, nuvens escuras no horizonte são um sinal de perigo. Para muitos de nós, o som de uma tempestade se aproximando causa ansiedade.

Mas o texto transforma essa imagem: "as nuvens são a poeira de *seus* pés" — os pés de Deus. E se Deus é nosso Pai, a perspectiva muda completamente. 

Você já viu um filho pequeno ter medo da poeira levantada pelos sapatos do pai que está voltando para casa? Claro que não! A poeira é um sinal de que o pai está perto, e o filho corre para encontrá-lo com alegria.

É assim que o crente pode encarar as tempestades da vida. Os raios que cortam o céu? São apenas o brilho da espada do nosso Pai, que ele usa para nos proteger. O trovão que abala a terra? É o som da voz poderosa do nosso Pai, e uma criança não teme a voz de quem a ama.

A pandemia que abala o mundo? É um servo sob as ordens do nosso Pai. A crise econômica que ameaça nosso sustento? É administrada pelas mãos do nosso Pai. 

O mesmo evento que aterroriza o mundo pode se tornar, para o filho de Deus, um lembrete da proximidade e do poder do seu Pai celestial. Ele não nos prometeu ausência de tempestades, mas sua presença nelas.

Aplicação Prática

  • Mude sua narrativa do medo: Da próxima vez que você se sentir amedrontado por uma notícia, um evento natural ou uma crise pessoal, pare e diga a si mesmo: "Esta é a poeira dos pés do meu Pai. Ele está aqui. Ele está no controle."
  • Adore em meio à tempestade: Em vez de se encolher de medo, use os momentos de caos como uma oportunidade para adorar a majestade de Deus. Cante um hino de louvor quando se sentir ansioso. Declare sua confiança quando o mundo estiver em pânico.

4. O terror da natureza para o inimigo de Deus

A última lição é o outro lado da moeda. Se tudo na natureza pode ser um consolo para o filho de Deus, então tudo na natureza é um motivo de terror para aquele que vive em inimizade com Deus.

Se você vive de costas para Deus, em rebelião contra ele, então pense no que este texto significa. Se as nuvens são apenas a poeira de seus pés, quem é ele? E que loucura é estar em guerra contra um ser de tal poder?

Cada tempestade, cada furacão, cada terremoto se torna um lembrete aterrorizante do poder daquele a quem você ofendeu. 

Se a poeira de seus pés é tão assustadora, como será o peso de sua mão? Como você poderá se esconder de sua presença quando as montanhas derreterem diante dele?

Você pode rir disso agora, mas a hora está chegando quando a mão de ferro do Todo-Poderoso se fechará sobre você, e não haverá escape. O Deus da Bíblia é um Deus de amor, mas também é um fogo consumidor para aqueles que rejeitam sua graça.

Mas por que falamos dessas coisas? Para assustar? Não, para avisar. É como o anjo que disse a : "Fuja para as montanhas! Não olhe para trás, para que você não pereça!". Apontamos para o perigo que vem de trás para que você corra para o lugar de segurança que está à frente.

E qual é essa montanha de segurança? É a fenda na Rocha Eterna, onde o maior dos pecadores pode se esconder. 

O nome dessa rocha é Jesus Cristo. Ele veio ao mundo para nos salvar. E hoje, o convite é para você que se reconhece como pecador, que sabe que não tem como enfrentar esse Deus por conta própria.

Ser um pecador é seu único título de entrada. Se você confessar seu pecado, Cristo morreu por você. Se você confiar nele, ele o salvará. Seus méritos não servem para nada. Suas boas obras são insuficientes. 

Venha para Jesus. Confie nele. E ele lhe dará uma nova vida e um novo propósito, e as nuvens que antes o aterrorizavam se tornarão um lembrete constante do poder e da majestade do seu Pai.


Adaptado do sermão "What are the Clouds?" (O que são as nuvens?), pregado por C. H. Spurgeon em 19 de agosto de 1855, na New Park Street Chapel, Southwark, Londres.

Semeando Vida

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