Na grande corrida da fé, os heróis mencionados em Hebreus 11 são como atletas veteranos cujas histórias nos inspiram. Eles correram com perseverança, superaram obstáculos imensos e terminaram bem a sua jornada.
Mas o autor de Hebreus nos instrui a não fixar nosso olhar apenas neles. Nosso foco principal deve estar em outro lugar: “olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2). Ele não é apenas mais um corredor na pista; Ele é o Guia Supremo, o treinador e o próprio percurso.
Jesus correu a corrida mais difícil de todas. Pela alegria que lhe estava proposta, Ele suportou a cruz, desprezando a vergonha, para se assentar à direita do trono de Deus.
Ele nos mostra que a jornada cristã não é um passeio agradável, mas uma batalha que exige resistência, sacrifício e um foco inabalável no prêmio final. Assim como Ele, somos chamados a carregar nossa cruz, enfrentar o desprezo do mundo e lutar contra o pecado “até ao sangue”.
Essa jornada, no entanto, não é feita por nossa própria força ou sabedoria. Seguir a Jesus é um processo de aprendizado contínuo, um crescimento diário no conhecimento do nosso Guia.
A pergunta que se impõe é: Como podemos, na prática, seguir os passos de Jesus e crescer em nosso conhecimento dEle, transformando nossa fé de uma mera crença em uma realidade viva e atuante?
O apóstolo Pedro nos oferece um roteiro prático, mostrando que o crescimento não é passivo, mas envolve um esforço intencional para “associar” à nossa fé as virtudes que refletem o caráter do nosso Mestre.
1. O crescimento em Cristo é um processo ativo, não passivo
A fé salvadora é um dom de Deus, mas ela é apenas o ponto de partida. Uma fé que não cresce, morre. O apóstolo Pedro, em sua segunda carta, nos exorta a não sermos “ociosos nem infrutuosos” no conhecimento de Cristo. Ele nos apresenta uma escada de crescimento espiritual:
2 Pedro 1:5-7
...e vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, associai com a vossa fé a virtude, e com a virtude, a ciência, e com a ciência, o domínio próprio, e com o domínio próprio, a perseverança, e com a perseverança, a piedade, e com a piedade, o amor fraternal, e com o amor fraternal, o amor.
Essa não é uma lista de verificação para alcançarmos a perfeição, mas um chamado para cultivarmos ativamente as qualidades que demonstram uma fé genuína.
Cada degrau se apoia no anterior: a fé nos leva à virtude (excelência moral), que busca o conhecimento (entendimento espiritual). Esse conhecimento nos capacita ao domínio próprio, que nos fortalece na perseverança (paciência nas provações).
A perseverança produz a piedade (reverência a Deus), que se expressa em amor fraternal e, finalmente, no amor ágape por todos.
Crescer no conhecimento de Cristo não é apenas acumular informações teológicas. É permitir que a verdade sobre Ele molde nosso caráter e nossas ações. É um processo dinâmico onde o Espírito Santo nos usa — e usa nossas circunstâncias — para nos conformar à imagem do nosso Guia.
Aplicação
- Avalie seu crescimento. Em que degrau dessa escada você precisa se concentrar hoje? Peça ao Espírito Santo que lhe mostre a próxima área de crescimento em sua vida.
- Veja seu trabalho e seus desafios como um ginásio espiritual. Deus usa as dificuldades e as responsabilidades do dia a dia para treinar você na perseverança, no domínio próprio e no amor.
- Não se contente com um conhecimento estagnado. Dedique-se ao estudo da Palavra com o objetivo de conhecer a Cristo mais profundamente, não apenas de saber mais *sobre* Ele.
2. O Guia Supremo nos ensina a submissão e a resistência
A vida de Jesus na terra foi marcada por um equilíbrio perfeito entre submissão e resistência.
Esse equilíbrio desafia nossa tendência humana de ir a um dos dois extremos: ou nos rebelamos contra toda autoridade, ou nos conformamos passivamente a tudo, mesmo ao que é errado. Jesus nos mostra um caminho melhor.
a) A Submissão de Cristo: Jesus, o Filho de Deus, submeteu-se a autoridades imperfeitas. Ele cresceu ouvindo os ensinamentos dos fariseus na sinagoga. Ele disse a Seus discípulos: “Na cadeira de Moisés, estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem” (Mateus 23:2-3).
Ele até pagou o imposto do templo, mesmo sabendo que, como Filho, estava isento, para “não os escandalizar” (Mateus 17:27). Ele nos ensinou que a verdadeira força não está na rebelião, mas em honrar as estruturas de autoridade que Deus instituiu, mesmo quando são falhas.
b) A Resistência de Cristo: A submissão de Jesus, no entanto, nunca foi cega. Quando a tradição dos homens se chocava com a Palavra de Deus, Ele a resistia com autoridade. Ele curou no sábado, desafiando a interpretação legalista dos fariseus.
Ele comeu com pecadores, quebrando as barreiras sociais. Ele denunciou a hipocrisia dos líderes religiosos com palavras duras: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!”. Sua resistência não era por rebeldia pessoal, mas por zelo pela verdade e pela glória de Seu Pai.
Fundamentação Bíblica
O apóstolo Paulo reflete esse equilíbrio. Ele instrui os cristãos a se submeterem às autoridades governamentais (Romanos 13:1).
No entanto, quando a autoridade humana exigia algo que contradizia a autoridade de Deus, sua resposta era clara: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29). E ele resistiu até mesmo ao apóstolo Pedro quando este agiu com hipocrisia, comprometendo o evangelho (Gálatas 2:11-14).
Aplicação
- Aprenda a discernir quando se submeter e quando resistir. Submeta-se em questões de preferência e ordem, para promover a paz. Resista firmemente em questões de verdade bíblica e justiça, para honrar a Deus.
- Respeite a posição, mesmo quando discordar da pessoa. Podemos discordar de líderes e autoridades, mas devemos fazê-lo com respeito, reconhecendo a posição que ocupam.
- Escolha suas batalhas com sabedoria. Não desperdice energia em conflitos por coisas pequenas. Concentre sua resistência naquilo que realmente importa: a defesa do Evangelho e a glória de Deus.
3. Nosso Guia não era pretensioso, mas poderoso em sua humildade
O mundo se impressiona com poder, prestígio e aparência. Jesus, no entanto, escolheu um caminho radicalmente diferente.
Ele era o Filho de Deus, mas se tornou conhecido como “o carpinteiro” (Marcos 6:3). Ele não buscou títulos, não exigiu honra e não fez propaganda de si mesmo. Sua vida foi um exemplo de poder despretensioso.
Quando Seus conterrâneos de Nazaré o rejeitaram, escandalizados por sua origem humilde, Ele não fez uma demonstração de poder para provar quem era. Ele simplesmente “passando pelo meio deles, retirou-se” (Lucas 4:30).
Quando Pedro, em um ato de amizade bem-intencionada, tentou dissuadi-lo do caminho da cruz, Jesus o repreendeu duramente: “Para trás de mim, Satanás!” (Mateus 16:23). Ele sabia que Seu chamado não era para a glória terrena, mas para o sofrimento sacrificial.
Essa humildade não era fraqueza. Era o poder de Deus operando de uma forma que o mundo não conseguia entender. O apóstolo Paulo capturou esse paradoxo:
1 Coríntios 1:23-24
Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
O poder do nosso Guia não estava em impor Sua vontade, mas em entregá-la. Sua glória não estava em ser servido, mas em servir e dar Sua vida em resgate por muitos.
Aplicação
- Busque a vocação, não o prestígio. Em seu trabalho e serviço, preocupe-se mais em ser fiel ao chamado de Deus do que em construir sua própria reputação.
- Não despreze os começos humildes. Deus se deleita em usar pessoas e coisas que o mundo considera fracas e insignificantes para realizar Seus maiores propósitos.
- Deixe que seu serviço fale mais alto que suas palavras. A verdadeira influência não vem da autopromoção, mas de uma vida de serviço humilde que aponta para a grandeza de Cristo.
Conclusão
Seguir o Guia Supremo é uma jornada de transformação contínua. Começa com uma fé simples, mas nos chama a crescer ativamente em virtude, conhecimento e amor.
Exige o difícil equilíbrio de saber quando se submeter com humildade e quando resistir com coragem. E nos convida a abandonar a busca por prestígio e abraçar o poder despretensioso da cruz.
A vida de Jesus é o nosso mapa. Seu caráter é o nosso destino. Seu Espírito é a nossa força para a jornada. Que possamos, a cada dia, fixar nossos olhos nEle, aprendendo com Seu exemplo, sendo fortalecidos por Sua graça e nos tornando mais parecidos com o nosso Guia, Mestre e Senhor.
Lista de estudos da série
1. Você Pecou de Novo?: O Segredo para Silenciar a Condenação e Abraçar a Graça – Estudo Bíblico sobre o Pecado do Justo2. A Felicidade Proibida: Descubra a Alegria Inabalável que Nasce no Meio do Sofrimento – Estudo Bíblico sobre as Bem-aventuranças
3. Justiça ou Hipocrisia?: Como Viver uma Fé que Impressiona a Deus, Não os Homens – Estudo Bíblico sobre a Verdadeira Justiça
4. Pare de Tentar Ser Bom: O Segredo para Cultivar o Fruto do Espírito sem Esforço – Estudo Bíblico sobre Gálatas 5
5. Obras que Ninguém Vê: O Poder Secreto das Ações que Garantem seu Tesouro no Céu – Estudo Bíblico sobre Boas Obras
6. A Oração que Deus Não Ignora: Como Falar com um Pai que Já Sabe o que Você Precisa – Estudo Bíblico sobre a Oração
7. Seus Filhos Pertencem a Deus?: O Status da Aliança que Transforma a Criação dos Filhos – Estudo Bíblico sobre Filhos da Aliança
8. O Deus que te Ama e te Assusta: Desvendando o Caráter Terrível e Maravilhoso de Deus – Estudo Bíblico sobre o Caráter de Deus
9. Cansado de Ser o Mesmo?: O Roteiro Prático de Pedro para Sair da Estagnação Espiritual – Estudo Bíblico sobre o Crescimento Cristão
10. Onde Está Jesus Agora?: Como Viver pela Fé em um Rei Ausente, Mas Presente – Estudo Bíblico sobre a Presença de Cristo
11. Seu Trabalho é Inútil?: Como Transformar a Vaidade Diária em um Legado Eterno – Estudo Bíblico sobre o Propósito do Trabalho
12. O Chão Sumiu?: O Fundamento Inabalável que te Mantém Firme na Crise e na Dúvida – Estudo Bíblico sobre a Firmeza da Fé
13. Mais Sábio que a Ciência: A Sabedoria Divina que Desmascara a Loucura do Mundo – Estudo Bíblico sobre a Sabedoria de Deus