Onde Está Jesus Agora?: Como Viver pela Fé em um Rei Ausente, Mas Presente – Estudo Bíblico sobre a Presença de Cristo

Para o cristão, a vida é vivida entre duas realidades: a memória de um Salvador que caminhou nesta terra e a esperança de um Rei que retornará em glória. Mas onde está Ele agora? 

A resposta das Escrituras é inequívoca: Ele está no céu, assentado à direita de Deus Pai, exercendo todo o poder e autoridade. Estamos, como disse o apóstolo Paulo, “ausentes do Senhor” (2 Coríntios 5:6) e “andamos por fé e não por vista” (2 Coríntios 5:7).

Essa ausência física, no entanto, não significa distância ou indiferença. O mesmo Cristo que está entronizado no céu também habita em Sua Igreja e no coração de cada crente pelo Espírito Santo. 

Ele é, simultaneamente, nossa Cabeça exaltada nos céus e nossa vida íntima na terra.

 Essa dupla verdade nos protege de dois erros comuns: de um lado, a tentação de criar um “Jesus” sentimental e imaginário que vive apenas em nossos corações, desconectado de Sua realidade histórica e celestial; do outro, a visão de um Deus tão transcendente que se torna irrelevante para nossas lutas diárias.

Nossa jornada de fé exige que abracemos essa tensão sagrada. Reconhecemos que estamos ausentes de Sua presença física, o que gera em nós uma santa saudade do céu. 

Ao mesmo tempo, experimentamos Sua presença espiritual, que nos fortalece e nos guia aqui e agora. Essa compreensão nos leva a uma questão central: Como a presença celestial de Cristo como nossa Cabeça deve informar e transformar nossa vida aqui na terra?

1. Nossa saudade do céu não é uma fuga, mas uma atração

A ideia de anelar pelo céu não é exclusiva do cristianismo. A filosofia grega, com sua visão dualista, via o corpo como uma prisão e a alma como uma cidadã do céu, ansiosa por se libertar de sua jaula terrena. Essa saudade, no entanto, nasce do desprezo pela criação material de Deus.

A saudade cristã do céu tem uma origem completamente diferente. Nós não desejamos o céu porque odiamos a terra, mas porque amamos o Rei que lá habita. Nosso anseio não é uma fuga do corpo, mas um desejo de estar plenamente presente com o Senhor. 

Como Paulo expressa, temos o desejo de “partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Filipenses 1:23). O céu é melhor não porque é um lugar etéreo, mas porque é onde Cristo está.

Esse anseio se intensifica em meio ao sofrimento. Quando enfrentamos perseguição, dor e injustiça por amor a Cristo, a esperança de estar com Ele se torna uma âncora para a nossa alma. 

Sabemos que lá, diante do Seu trono de justiça, toda lágrima será enxugada e toda injustiça será corrigida. É o lugar onde finalmente seremos revestidos de imortalidade e nossa caminhada pela fé se tornará em visão.

Fundamentação Bíblica

A visão de João em Patmos nos dá um vislumbre da majestade do Cristo celestial. Aquele que andou como um servo humilde na Galileia agora aparece com “olhos como chama de fogo” e uma “voz como a de muitas águas”. 

Diante de Sua glória, João, o discípulo amado, “caiu a seus pés como morto” (Apocalipse 1:14-17). É para este Rei glorificado que nosso coração anseia.

2 Coríntios 5:8-9
Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pelo que muito desejamos também, quer presentes, quer ausentes, ser-lhe agradáveis.

A saudade do céu, longe de nos tornar passivos, nos motiva a viver de forma agradável a Ele aqui e agora, sabendo que um dia compareceremos perante o Seu tribunal para receber a recompensa pelo que fizemos no corpo (2 Coríntios 5:10).

Aplicação

  • Cultive uma esperança celestial. Em meio às lutas, lembre-se de que este mundo não é o seu lar definitivo. Sua cidadania está nos céus (Filipenses 3:20).
  • Não despreze a vida presente. A esperança do céu não nos leva a negligenciar nossas responsabilidades na terra, mas a vivê-las com uma perspectiva eterna.
  • Ensine sobre o céu como um lugar de comunhão com Cristo. Apresente o céu não como nuvens e harpas, mas como o lugar onde veremos nosso Salvador face a face e desfrutaremos de Sua presença para sempre.

2. Cristo não vive em nossa imaginação, mas nós vivemos n'Ele pela fé

Como experimentamos a presença de um Cristo que está fisicamente ausente? O perigo é criar um "Jesus interior" — uma projeção de nossos próprios sentimentos e ideias, um amigo imaginário que se conforma aos nossos desejos. 

Essa não é a comunhão bíblica. A verdadeira conexão com Cristo não é baseada em representações sentimentais, mas em fatos históricos e realidades espirituais.

Paulo declara: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). O que isso significa? Não significa que Jesus se mudou para dentro do corpo de Paulo como um espírito. Significa que, através do batismo, Paulo foi unido à morte e ressurreição históricas de Cristo. 

Seu "velho homem" morreu com Cristo na cruz. Sua "nova vida" é a própria vida ressurreta de Cristo, operando nele pelo Espírito Santo. Ele vive em Cristo como um ramo vive na videira. A vida não está no ramo, mas flui da videira para o ramo. A fé é o elo que mantém essa conexão vital.

Fundamentação Bíblica

O apóstolo João usa uma linguagem semelhante, falando de "ter" o Filho:

1 João 5:11-12
E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.

“Ter” o Filho não é uma posse subjetiva, como ter uma ideia ou um sentimento. É uma união objetiva, como um corpo “tem” sua cabeça. Estamos vitalmente conectados a Ele. E a evidência dessa união é permanecer em Sua doutrina e andar como Ele andou (1 João 2:6).

Aplicação

  • Fundamente sua fé em fatos, não em sentimentos. Sua segurança não está em sentir a presença de Jesus, mas em crer no fato histórico de Sua morte e ressurreição por você.
  • Entenda o batismo como seu funeral e sua ressurreição. Veja seu batismo não como um mero ritual, mas como o momento em que você foi unido a Cristo em Sua morte para o pecado e em Sua ressurreição para uma nova vida (Romanos 6:4).
  • Viva como um membro do Corpo de Cristo. Lembre-se de que sua vida não é sua. Você está conectado à Cabeça, Jesus, e aos outros membros, seus irmãos na fé. Viva em dependência d'Ele e em comunhão com eles.

3. Cristo está no meio de Sua Igreja, exercendo Sua autoridade

Se a presença íntima de Cristo é experimentada através da fé individual, Sua presença corporativa é manifestada na comunhão da Igreja. Jesus fez uma promessa extraordinária que se tornou um pilar de esperança para os crentes ao longo dos séculos:

Mateus 18:20
Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.

No contexto de Mateus 18, essa promessa está ligada à disciplina da igreja. Jesus está garantindo que, quando Sua igreja se reúne para exercer a autoridade que Ele lhe deu — seja para perdoar, para disciplinar ou para orar em concordância —, Ele está presente, ratificando suas decisões. 

A presença de Cristo na igreja não é uma sensação mística, mas o exercício real de Sua autoridade como Cabeça através de Seu corpo.

Fundamentação Bíblica

A Grande Comissão termina com essa mesma garantia de presença contínua: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mateus 28:20). Cristo está com Sua Igreja enquanto ela cumpre Sua missão de fazer discípulos. 

Sua presença é o poder por trás da pregação, a autoridade por trás dos sacramentos e a sabedoria por trás da disciplina. Ele não deixou Sua igreja órfã; Ele a governa ativamente do céu através de Sua Palavra e Espírito.

Aplicação

  • Valorize a reunião da igreja. O culto corporativo não é opcional. É o lugar designado por Cristo para manifestar Sua presença e autoridade entre Seu povo.
  • Submeta-se à autoridade da igreja local. Leve a sério a disciplina e o ensino da sua igreja, reconhecendo que Cristo opera através das estruturas que Ele instituiu.
  • Espere experimentar o poder de Cristo na comunhão. É na reunião dos santos que somos encorajados, corrigidos e fortalecidos para a jornada. A presença de Cristo entre nós é uma realidade poderosa e transformadora.

Conclusão

A Cabeça dos justos está no céu, mas Sua presença e poder estão inegavelmente conosco na terra. Nós O experimentamos como o Rei glorificado por quem nosso coração anseia, enchendo-nos de uma esperança que transcende este mundo. 

Nós O conhecemos como a Videira da qual recebemos vida, habitando Ele em nós pela fé, não por sentimentos. E nós O encontramos no meio da Sua Igreja, onde Ele exerce Sua autoridade e nos fortalece para a missão.

Viver com essa consciência nos liberta. Não precisamos mais buscar experiências místicas ou nos basear em imagens sentimentais. Podemos descansar na realidade objetiva de nossa união com Cristo. Embora estejamos "ausentes" d'Ele em corpo, estamos mais próximos do que nunca em espírito. Ele é a nossa vida, a nossa esperança e o nosso Rei, ontem, hoje e para sempre.


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