Um jovem brincalhão e irreverente dizia que os adeptos dessa religiosidade teriam apenas três ou quatro meses por ano de trabalho. "Por isso é uma religião boa. Não exige muito".
Nos dias santos mais célebres, vinham as festividades.
Estes dias santos especiais eram o Dia de Santa Cruz, Santo Antonio, São João, São Pedro, São Roque, Nossa Senhora Aparecida, São Bom Jesus de Pirapora, Nossa Senhora da Conceição, Natal, Santos Reis Magos. Estes dias são início de uma lista interminável!
Os festejos do Divino eram proverbiais. Os "divineiros" - dizia o povo - saíam de bandeira em punho, de casa em casa, pedindo prendas.
Um dito popular corria que "o divino era mau e que poderia castigar os que se lhe fechassem a porta".
Certa ocasião, na festa de Santa Cruz, observamos o leilão explorador em que, exaltados pela competição, engalfinhavam-se entre si os fazendeiros, fomentados pela zombaria e torcida da massa humana; e, pelas altas doses de cachaça, adquiriam "prendas" insignificantes por peso de mil réis, moeda valiosa do tempo, em contraste com o "real" de hoje.
Numa dessas festas, presenciamos o drama de um pobre homem que teve a mão decepada por uma bomba de efeito retardado. Envolveram-lhe a mão ferida, ou apenas um toco de braço, com um pano ensopado de pinga.
O fazendeiro gritou para acalmar os ânimos tocados de emoção:
"Gente, dia de festa é dia de festa. Tudo é festa!"
Rompeu a música e o baile continuou até amanhecer. O homem sinistrado amanheceu encostado à parede do salão, cruciado pela terrível dor.
Era a orgia aberta, com jogatina, bebedeira e prostituição.
Autor: Lázaro Arruda
(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)