Entrava no cemitério para oficiar um enterro. Entraram dois simultaneamente.
Os acompanhamentos fundiram-se num só, pois, dentro de um "campo santo", todos são iguais...
Ao chegar à quadra, com a diferença de alguns metros, estavam as duas sepulturas abertas.
No entanto, notei certo constrangimento. Os de cá olhavam para os de lá, pouco atentos, e os de lá me ouviam com evangélica atenção.
Tinha acabado de ler, quando alguém me avisou:
-"Pastor, o Sr. está fazendo ofício para um enterro católico".
Não me desconsertei, contudo. Estava para pregar e introduzi o assunto, explicando o equívoco:
-"Estamos em tempo do 'ecumenismo', proposto pelo Papa João XXIIi, e não seria agora o momento de estarmos separados".
A seguir, exortei a todos sobre o risco de partir desta vida sem Deus. Concluí impetrando a bênção sobre todos.
Eles saíram satisfeitos e vieram até me agradecer, não rezando o terço naquele dia. Esgotei o tempo.
Agora, os coveiros deveriam entrar em ação.
De uma só vez, solenizei, com a gafe, dois enterros ao mesmo tempo. Muito serviço, não? Eu sou um ministro trabalhador...
Autor: Lázaro Arruda
(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)