Fogo amigo


Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras - 2 Timóteo 4.14-15

Em 10 anos de pastorado nunca enfrentei séria perseguição vinda de fora da igreja. Para dizer a verdade, poucas vezes me lembro de perder uma noite de sono por alguém de fora da comunidade - sempre fui tratado com respeito.

É claro que isso tem a ver como nosso contexto brasileiro, uma vez que moramos num país sem perseguição religiosa física e sistemática, um privilégio que devemos agradecer todos os dias tendo em vista a Igreja Perseguida no mundo.

Por outro lado, a ausência de problemas que tenho com “os de fora” foram infelizmente compensados “pelos de dentro”. E aí vem a pergunta: O que é pior? Enfrentar perseguição e problemas com pessoas descrentes ou com pessoas dentro das igrejas?

Creio que a frustração maior reside nos problemas que enfrentamos com as pessoas de dentro das igrejas, pois há todo um ensino, um modo de vida e prática estabelecido pela Palavra de Deus, que faz com que aumentemos nossas expectativas em relação a estas pessoas e elas em relação a nós. 



Isso me lembra uma expressão usada no meio militar, “fogo amigo”. Ou seja, quando um aliado fere outro aliado na guerra. Aconteceu com alguns soldados brasileiros na 2ª Guerra Mundial, que por possuírem uniformes parecidos com os dos alemães, foram abatidos pelos aliados.

Infelizmente existe muito fogo amigo nas igrejas. O apóstolo Paulo enfrentou esse tipo de coisa e sofreu muito. Um sujeito chamado Alexandre lhe causou muitos males (2 Timóteo 4.14).

Havia também os judaizantes penetrando nas igrejas com a intenção de distorcer o cristianismo (Gálatas 1.6,7). A igreja de Corinto mantinha uma briga interna onde cada grupo escolhia seu líder preferido (1 Coríntios 1.12,13).

Ali também Paulo teve que enfrentar oposição dos próprios cristãos que duvidavam de seu chamado apostólico, uma das coisas que motivou a segunda carta aos Coríntios.

Pensando nos dias de hoje, um infeliz exemplo de fogo amigo são aqueles que semeiam discórdias dentro de nossas igrejas.

Muito dessa atitude vem camuflada e recheada de pessimismo, amargura, negativismo, a manutenção de uma opinião em que “nada está suficientemente bom”. 

Quando uma igreja é formada por muita gente assim ela acaba virando um “cemitério de pastores”. Nessas igrejas o pastor é mais um bombeiro apagando fogo, resolvendo conflitos internos, não consegue ter paz para planejar ou sonhar o futuro da igreja. 

Outro fogo amigo muito praticado nas igrejas é a manutenção de uma rivalidade pré-existente ou externa à vida da comunidade.

 Isso mostra a visão secular de nosso tempo, na qual as pessoas vão dividindo suas vidas entre “área religiosa”, “área profissional”, “área pessoal”, onde uma área não mistura com outra.

O problema é que quando uma pessoa fala mal de outra dentro da igreja ou para os de fora, não está prejudicando o seu “alvo” apenas. Está prejudicando toda a comunidade.



Já vi muita gente se afastando de igreja por causa disso, de um comentário maldoso. Fofoca e espírito revanchista destroem enfraquecem a comunidade.

É momento de olharmos para a nossa vida com sinceridade e analisarmos nossas atitudes. Se o fato de sermos convertidos a Jesus não mudar nossas atitudes, provavelmente fomos apenas “convencidos” de que a mensagem do Evangelho é a verdade, mas não fomos transformados por ela. 

E a Bíblia é clara e taxativa quanto a isso: é cegueira espiritual - “Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas.”; “Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.” (1 João 2.9,11).

Paulo afirma que Alexandre lhe causava muitos males. E você, o que tem gerado para sua igreja e seu pastor? Coisas boas ou males?

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