A colheita fora muito boa. O bom tempo ajudara o labor dos dois irmãos. Um, casado, vivia com a família numa boa casa. O outro, solteiro, tinha sua pequena casa ali ao lado.
A divisão da abençoada colheita obedeceu à regra do meio-a-meio: em partes iguais. Cada um recolheu sua metade em seu celeiro. Alegres, despediram-se para o repouso da noite.
O travesseiro, enquanto o sono não chega, abre possibilidade à meditação. E o irmão solteiro pensou: "Meu irmão é casado, tem dois filhos e esposa... naturalmente sua necessidade é maior do que a minha."
Levantou-se, foi ao celeiro, encheu um saco de trigo e, sorridente, foi despejá-lo no monte de trigo do irmão. Sentiu-se alegre.
O irmão casado, mal se deitou, conversou com a esposa. Ambos concluíram que o solteiro havia trabalhado mais, livre dos compromissos familiares, e que precisava se preparar para formar sua própria família.
Logo o esposo deixou o leito, foi ao celeiro, encheu um saco de trigo e o despejou no monte do irmão. Isso deixou o casal mais feliz.
Por várias noites, o gesto foi repetido. Cada um se sentia bem pelo que fazia e ficava admirado pelo fato de seu próprio monte não diminuir! Seriam montes milagrosos? Ou seria o trigo que crescia?
Uma noite, o encontro aconteceu: os horários coincidiram. A meio caminho, ambos com um saco de trigo às costas, deram de frente um com o outro.
Abraçaram-se. Reuniram os montes de trigo num monte só. O amor fraternal ainda é capaz de maravilhosos milagres.
Autor: Amantino Adorno Vassão
(Este conto foi transcrito da revista Ultimato, conforme citado no livro “Pense Comigo – Meditações Evangélicas”, 1ª Edição – Rev. Samuel Barbosa)