Lembro-me do primo Luziano, um dos mais familiares primos de infância, da adolescência e da primeira idade.
Luziano tinha um irmãozinho, um dócil e amorável garoto de cinco anos. Numa tarde de verão, saíamos, tios e primos, para fazer um passeio de campo e visitar alguns conhecidos.
Minha tia recomendava cuidado, aconselhando o filho Hermínio que procurasse a sombra das árvores e não os lugares de sol.
É que o menino não havia passado bem durante a noite. Tivera vômito e um pouco de febre.
Era, porém, o menino que mais se expunha ao calor, correndo pelo campo, apanhando flores, montado numa vara de madeira, como se estivesse cavalgando um fogoso corcel.
Chegamos à casa da tia um pouco de tempo, saindo logo, distribuindo as crianças para diferentes rumos. Hermínio, em sua casa não entrou.
Ficou deitado em uma tábua, ainda com o feixe de ramos à mão. Minha tia o chamava, para que evitasse apanhar mais sol.
Ele ouvia o chamado da mãe, mas continuava deitado, resmungando e até gemendo, contava a tia.
Afinal, cansada de falar, sem ser atendida, tomou uma vara e, agarrando o menino pelas mãos, começou a arrastá-lo e ao mesmo tempo que o vergastava com a vara fina.
Contudo, em certo momento, observou que o menino estava com o corpo mole e sem aprumo. Quando já dentro de casa colocou o menino na cama, irrompeu num choro convulsivo.
Hermínio dava o derradeiro suspiro...
Noite trágica. O velório foi em minha casa. Em cada canto se ouviam suspiros e gemidos.
Tio João e tia Donária, os pais, estavam inconsoláveis!
Lá fora, um lampião aceso, preso a um mourão, derramava uma claridade solene, enquanto meu pai, com um serrote e um martelo, ia serrando e ajustando tábuas para fazer o caixãozinho para o Hermínio.
Sentia-se o cheiro da madeira enquanto o pó esvoaçava com o vai-e-vem da serra.
Lá no interior da sala, ouviam-se soluços e lamentos. Dentro de mim, vozes se erguiam da alma inocente com dolorosas indagações:
"Por que Hermínio morreu? O que é morrer? Por que morrer? Por quê? ... Por quê?...
Ninguém e nada me respondia. O caixão ficou lindo, enfeitado com fitas, cheio de flores. E o anjinho ficou deslumbrante com a grinalda.
Nenhuma palavra de esperança.
Meu avô tartamudeava, comovido a dizer o seu terço... só. A realidade era aquela que polarizava todo o sentimento: Hermínio está morto!
E eu na minha cogitação de criança, ao morrer um velho, pensava: "Já era velho. Teria de morrer".
Quando morria uma criança ou um jovenzinho, filosofava: "Por que morreu tão cedo? Tantos velhos por aí... e a morte levou um menino. Hermínio foi um dos que a morte não poderia levar agora!!!!"
Autor: Lázaro Arruda
(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)
