Humberto de Campos conta uma história: "O diálogo das caveiras".
A motivação do conto foi a notícia no jornal do dia: "As ondas que lavam as praias de Santos continuam arrastando para o alto mar os ossos arrancados ao antigo cemitério de Bertioga".
Um pescador viu boiando, ao lado de sua canoa, duas caveiras.
A caveira menos amarela e menos suja, perguntou à outra: - "você também estava enterrada em Bertioga?
Sim, respondeu a outra, há mais ou menos trezentos anos. E você também estava enterrada lá?
Você está muito bem conservada, não lhe falta nenhum dente, Como é o seu nome?
A outra respondeu: em vida meu nome era Antão Bermudes de Souza e Faria. Nunca ouviu falar em mim?
A caveira sujinha respondeu: - Como não? Eu fui seu escravo, eu Gonçalo, não se lembra de mim?
Depois de uma surra que vossmincê mandou dar em "mim, depois de terem, a seu mando, passado sal e pimenta nos ferimento eu morri.
Morri mais de raiva do que de dor. E agora estamos aqui os dois, como duas caixas de ossos que as ondas arrastam!
A caveira de Antão Bermudes então disse: - Sabe, Gonçalo, sempre diziam que isto ia acontecer e eu achava graça.
A culpa, porém, não é só minha. Todos os homens são assim como eu fui.
A quantos, hoje poderosos, não irá acontecer o mesmo? O nosso destino é uma lição aos vivos.
É pena que os vivos só venham a saber disso depois que morrem!"
Autor: Samuel Barbosa
(Extraído do livro “Pense Comigo – Meditações Evangélicas”, 1ª Edição – Rev. Samuel Barbosa)
