Impressões



Há cenas que a gente não consegue esquecer. Na minha vida de acompanhamento de várias agonias, como pastor, já presenciei cenas de que jamais vou esquecer.


Ele tinha oitenta anos e vivia seus últimos momentos. Eu estava bem próximo sentado à cabeceira de sua cama. Os familiares à espera do desenlace. Percebi um leve movimento em seus lábios e um tênue fio de voz. 

Aproximei-me para ouvir o que ele queria falar e percebi que não falava comigo - balbuciava estes versos: "Tu que sobre a amarga cruz, revelaste teu amor, tu que vives ó Jesus, vivifica-me, Senhor". Parou por aí, creio que o final da poesia ele declamou diretamente na presença de seu Senhor e Mestre.

Outra vez fui chamado a dar assistência a uma senhora em seus últimos instantes de vida. No quarto simples, uma cama simples, como simples era tudo que se relacionava com o casal de anciãos, com mais de cinquenta anos de vida conjugal.

Ele segurava delicadamente as mãos já descarnadas de sua querida esposa. Depois de uma prece ela abriu os olhos, já embaciados pela morte, fechou-os suavemente.

O marido que acompanhava todos os movimentos, olhou para cima e disse: - Senhor Deus, cuide bem dela aí pra mim até que chegue a minha vez.



O casal ainda jovem, recém-casados, na alegria da espera de seu primeiro filho, foram surpreendidos com o pior. Ela abortou o seu filhinho depois de seis meses de gestação.

Cheguei ao hospital. Todos muito tristes, mas ela já fora de perigo. Ela me disse: que bom que o senhor veio Rev, eu quero que o senhor faça uma oração por mim, por nós. 

Pensei comigo mesmo, agradecer o quê se ela acaba de perder seu filhinho? Aí eu perguntei se ela tinha algum motivo específico de oração, algum pedido especial a Deus. Ela me disse: eu quero que o senhor agradeça a Deus a minha alegria por poder ser mãe. Nós ainda teremos outros filhos, se Deus quiser! 

Ela aprendeu com o apóstolo que recomenda: - "em tudo dai graças". E Deus lhe concedeu a graça da maternidade em mais quatro ocasiões.

Há dias encontrei-me com uma menina que eu batizei, recebi em profissão de fé, de quem fiz também o casamento. Ela me disse: Rev. eu quero que o senhor batize meu filhinho. Eu estranhei, eu sabia que eles ainda não tinham nenhum filho. 

Expressei minha surpresa: mas vocês não têm filhos! Ela respondeu: tenho sim, tá aqui, ó. E pôs a mão na barriga. Aquela semana ficou sabendo que estava grávida. Mas o que me impressionou foi a alegria com que ela disse isso. Ela merece e Deus vai lhe dar essa graça.

Chegou à minha casa uma senhora muito pobrezinha. Morava na periferia da cidade. Depois que conversamos um pouco minha esposa serviu o almoço. Ela, muito acanhada, serviu-se e pediu para minha esposa cortar o bife pelo meio. 

Depois perguntou: - eu posso levar um pedaço pro meu "véio"? Não, respondeu minha esposa. A senhora não vai levar um pedaço do seu bife pro seu "véio", vai levar um bife inteiro. Eu vi uma gotinha de lágrima no seu "Deus lhe pague"

Lembrei-me então de uma história que li sobre refugiados de guerra, depois da segunda guerra mundial. Uma família inglesa adotou uma menina, filha de refugiados. Na primeira manhã que passou na casa de seus novos pais, à mesa durante o café da manhã, a mãe, a nova mãe, serviu-lhe um copo de leite. 

Todos continuaram tomando o café a menina tomou apenas um gole de leite. A mãe então perguntou por que ela não estava bebendo o leite, se ela não gostava de lei. A menina então com os olhos arregalados de surpresa, perguntou: - mas eu posso beber todo o leite"?

E pensar que há tanta gente desperdiçando tanto "leite", todos os dias!

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